terça-feira, 27 de junho de 2017

DESCULPE - ME, SOU POLICIAL MILITAR!


   O título desse ensaio reflete o encolhimento da autoestima do profissional em segurança pública na última década. Ser policial, especialmente militar, é uma missão árdua, em razão das características das suas atividades, da visibilidade proporcionada pela uniformização, da formalidade com que se apresenta e pela atuação próxima à comunidade, o que deveria ser fator agregador de qualidade e simpatia, mas que se transformou em motivo de rejeição e hostilidade. 
   O que causou essa inversão de valores? Por que chegamos a esse ponto? Difícil responder, mas podemos num primeiro momento supor que é simplesmente porque os bandidos estão mais ousados e temem menos a polícia por deterem armais mais potentes; que a desordem imperou de vez em razão da baixa qualidade da educação, crise econômica, miséria, desemprego, etc. Tudo isso ter a ver com o fenômeno, mas podemos buscar origens mais profundas para essa análise que, longe de serem verdades absolutas, contribuem para fundamentar nosso raciocínio. 
   A formação histórica da instituição Polícia Militar como a conhecemos hoje se deu no ano de 1967 no governo militar instalado três anos antes. Nasceu como uma versão de polícia subordinada ao Exército, embora administrativamente vinculada aos Estados. É aqui que começamos a entender a situação atual, pois sabemos que a resistência ao governo militar cresceu a partir dos anos setenta, colocando na berlinda, por analogia semântica, as polícias militares, condição inflamada pelo fato de muitas unidades terem sido comandadas por oficiais do Executivo nos primeiros tempos. 
   Sem adentrarmos em pormenores sobre esse período, lembremos apenas que foram duas décadas de lutas sociais e esforços políticos para a reconquista da democracia. O Exército voltou-se às atividades inerentes à caserna, enquanto nas ruas a PM continuou sua missão no dia a dia, iniciando aí uma luta sem precedentes na tentativa de construir uma identidade própria depois de um longo período associada à ditadura. Os esforços de reaproximação – ou aproximação – com a comunidade, que já marchavam em passos lentos, praticamente sucumbiu após a ascensão de líderes políticos declaradamente opositores do regime militar. 
   Para significativa parcela da sociedade, o próprio termo “militar” ainda soa de forma pejorativa e a corporação passou a ser vista com desconfiança. Sepultou-se aí a era do “garbo varonil” e os servidores da instituição foram relegados a um peso social, necessários, mas “suspeitos”. Nesse contexto conturbado, o policial está sozinho e desamparado quando em situação de confronto nas ruas. O Estado, ao contrário do que se espera, mina seus recursos e só está presente através dos símbolos estampados nas viaturas. 
   No enfrentamento nas ruas está um homem, um pai acuado, pronto para reagir, ou até executar os suspeitos, colocando em prova sua braveza, ou melhor, seus medos diante dos assassinatos brutais praticados contra seus pares. Não tenham dúvidas de que qualquer cidadão nas mesmas condições agiria de forma semelhante. É o instinto de defesa que prevalece e não cabe mais invocar o preparo técnico/psicológico do policial, pois não passam de ficções midiáticas. 
   Não há mais razão para insistir em formação militar a servidores cujo papel se restringe à ação preventiva/ostensiva, já que a repressão deve ser limitada a casos pontuais e não são atividades típicas do militarismo. 
   Reflitamos sobre essa realidade ou iremos nos acostumar com PMs pedindo desculpas e licença para abordarem um suspeito, enquanto as facções criminosas seguirão impondo suas leis. (FONTE: JAIR QUEIROZ, psicólogo pós-graduado em Segurança Pública em Londrina. * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, terça-feira, 27 de junho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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