segunda-feira, 30 de março de 2015

OSUEL ABRE TEMPORADA OURO VERDE 2015


               Concerto realizado ontem de manhã na Capela do Colégio Mãe de Deus atraiu público bastante variado

   A Capela do Colégio Mãe de Deus ficou lotada ontem,  durante a apresentação do concerto de abertura da Temporada Ouro Verde 2015 da Orquestra Sinfônica da UEL) Osuel).  Na plateia bastante variada, muitas crianças deram o tom um pouco diferente do público costumeiramente esperado neste tipo de evento, o que deixou satisfeito  o  maestro Alessandro Sangiorgi, regente convidado que deve o posto de titular no próximo mês.
   Italiano, Sangiorgi foi maestro residente pelo Teatro Municipal de São Paulo e regeu diversas orquestras no Brasil, como a Orquestra Sinfônica Brasileira e a orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No Paraná, foi regente titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica do Paraná de 2002 a 2010.
   “Domingo de manhã é o melhor horário para determinado público, que é diferente de quem vai ao concerto realizado à noite. É algo para as pessoas apreciarem e poderem almoçar com calma depois. É algo mais curto, sem intervalos. Por isso queremos os concertos para o domingo pela manhã e outros para as  quinta-feiras   à noite”, explicou.
      No repertório deste domingo, “Andante Festivo”. De Jean Sibelius, em comemoração aos 150 anos de nascimento do compositor. “Concerto para Orquestras de Cordas e Percussão”, de Camargo Guarnieri, que encantou o público com seu ritmo de coco, originário do litoral pernambucano, e a “Sinfonia nº 36 em Dó Maior (Linz) “, de Wolfgang Amadeus Mozart, escrita em apenas seis dias.
   “Pode ser que façamos concertos um pouco mais longos para as manhãs. Dependerá de diversos fatores. Outra idéia é levarmos os concertos noturnos para o anfiteatro da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Será algo especial para os alunos, já que hoje (ontem) não deve ter ninguém por lá. Estamos estudando essa possibilidade”, destacou.
   O concerto também abriu as comemorações dos 70 anos da Escola de Música do Colégio Mãe de Deus. “É uma honra recebermos a Osuel , Vários músicos que estão na orquestra foram alunos ou professores da nossa Escola de Música e hoje estão voltando para casa. Com esse concerto também abrimos as comemorações dos 80 anos do Colégio , que serão completados no próximo ano, quando esperamos inaugurar também nosso teatro!, afirmou Shamir Jean Giupato, diretor da Escola de Música.
   Entre os espectadores, o pequeno Afonso, 7 anos, estava bastante animado. Acompanhado da mãe, a técnica administrativa Ana Maria da Silva, o estudante de flauta contou que pretende seguir os passos do pai – Afonso de Jesus Mesquita Barro, integrante da Osuel, e também se tornar músico. “Além da flauta gosto de violino, que é o que meu pai  toca”, explicou. Segundo Ana Maria, o menino é acostumado a freqüentar as apresentações da orquestra desde pequeno, além de ouvir música em casa e acompanhar as apresentações da mãe, que cantava em coral.
   Já o aposentado Ricardo Oliveira, que está visitando Londrina, aproveitou o fato de estar hospedado em um hotel  em frente ao colégio para conferir a apresentação. “Gosto de música clássica, por acaso fiquei sabendo do concerto e vim ver, disse.  ( Reportagem  Local escrita por  ÉRIKA GONÇALVES, página 5, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, segunda-feira, 30 de março de 2015). 

sábado, 28 de março de 2015

LEMBRANÇAS DA RUA TRAPICHEIRO



   Minha vó sempre conta com alegria sobre a infância dela na casa da família na Rua Trapicheiro no bairro do Carrão, zona leste de São Paulo. Ela diz que a nonna – que teve 12 filhos e perdeu alguns  ainda crianças – era uma cozinheira de mão cheia. E tinha mesmo que ser porque precisava alimentar a filharada, quatro meninos e quatro meninas, com o pouco que conseguia comprar na venda do bairro. Às vezes ela precisava apelar para o fiado, mas quase sempre tinha na mesa e macarronada preparada pela matriarca com as próprias mãos. E o cuscuz que até hoje é lembrado pelas netas e reproduzido pela minha avó.
   Italiana, a nonna mudou-se para o Brasil já adolescente, acompanhando o pai. Eram só os dois. A vó conta que os padrinhos dela a colocaram no navio sem que ela soubesse que faria a viagem  e quando ela se deu conta, estava atravessando o oceano rumo a terras desconhecidas.
   Chegando aqui, no começo do século passado, com os pertences guardados em baús, o bisnonno e a filha foram trabalhar numa fazenda de café no interior paulista. A filha, linda como ela só, chamava a atenção da homarada, então o pai teve que fugir do campo para proteger a honra da filha.
   Na capital paulista, a nonna já adulta, foi trabalhar de cozinheira na casa  de um rico português que morava em uma mansão na Avenida Paulista. Seus dotes culinários eram tão admirados – e sua beleza e educação também -, que o patrão resolveu buscar um irmão fanfarrão que morava em Portugal para casar-se com a italiana.
   Pois no início ela não queria saber do gajo, que só gostava de curtição, mas acabou se rendendo e partindo com ele para a zona leste da cidade que não era nem sombra da metrópole que é hoje.
   O quintal da família ítalo-portuguesa era enorme e no início abrigava apenas a casa grande – mas que não era nenhuma mansão  -, onde pais e filhos dividiam poucas camas na hora de dormir. Minha vó lembra que dormia virada para os pés de uma das irmãs. Como tinham pouca diferença de idade, dividiam ainda roupas sapatos e brinquedos, que eram escassos.
   E a vó conta que além da horta com ervas e verduras, a nonna costumava criar porcos no quintal. Ela mesma os matava e conservava em grandes latões cheios de banha. Era como se eles morassem num sítio no meio da cidade. E eu só fico imaginando como seria o cheirinho do tempero  do arroz e feijão da minha bisavó e da carne com batatas que minha vó aprendeu a fazer com ela e que me faz salivar  só de lembrar do gosto.
   Os anos se passaram e o terreno abrigou as famílias de alguns dos  filhos casados. Minha mãe foi uma das netas que nasceram naquele quintal  da Rua Trapicheiro.
   Não conheci o vovô português e minha nonna  morreu quando eu tinha dez anos. Não lembro muito dela, só dos  seus  cabelos brancos. Mas lembro que aquela casa  antiga onde vez ou outra eu a visitava era enorme e tinha uma fachada linda. Na minha época, o pátio era todo cimentado e ficava difícil imaginar porcos fuçando por ali. Mas prefiro ficar com as histórias da vó, que sempre derrama  uma lágrima de saudade quando fala da sua infância dura, mas carinhosa (Texto escrito por MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, extraído da página 2, espaço  DEDO DE PROSA,  do caderno FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 28 de março de 2015).

TEM PAIXÃO


   1  “Li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios, quando alguém morria perguntavam apenas: tinha “paixão”?, escreveu em seu último livro o poeta português Herberto Helder (1930-2015). Herberto Helder tinha paixão. Criou um idioma próprio, orgânico e encantatório. O impacto de sua poesia sobre  o idioma é comparável  ao de Camões ou Pessoa.
   2, Nesta semana visitei a UTI Infantil do Hospital do Câncer. Digo sem hesitar: o Hospital do Câncer tem paixão. A paixão do bem, a paixão da esperança, a paixão do amor ao próximo.  Só essa paixão explica o fato de criar uma UTI para crianças com vista para a cidade.  É mais do que uma unidade de terapia intensiva, é uma janela para a vida. Mesmo nesse mundo em que se multiplicam a paixão pelo mal, a paixão pela morte, a paixão sem compaixão.
   3, Tinha paixão a Irmã  Nívea Bosignin, que desde 1954 educava crianças e espalhava simpatia no Colégio Mãe  de Deus. Ela partiu pouco antes do dia da Anunciação. As Irmãs de Maria cantaram a música que tanto ouvi quando criança: “Mãezinha do Céu/ Eu não sei  rezar! Eu só sei dizer/ Quero te amar”.
   4. Tem paixão os que foram às ruas no dia 15 de março e  voltarão às ruas no dia 12 de abril contra Dilma e o PT. Têm a paixão da verdade, a paixão da esperança, a paixão da justiça,  .Nesta semana, conversei com dois organizadores do Movimento Viva Londrina. Gente com nome e sem máscara: André Luís Elias e Fábio Martins. Gente séria, ponderada, corajosa.  Sem nenhum traço de golpismo, rancor ou arrogância.
    5. Londrina tem paixão. Por isso, foi a cidade que levou mais gente às manifestações  no Brasil inteiro, em termos proporcionais. E levará ainda mais no dia 12.
   6. Digo outra vez: Londrina tem paixão. Por isso, conforme editorial do JL, “a corrupção aqui não tem vida fácil”.  Vamos  a  fundo no combate do mal – não importa a ideologia, o partido, o governo.

   7. Digo uma terceira vez: Londrina tem paixão. Por isso, não aceitamos a  idéia de que impeachment e renúncia são  coisas que só servem para a direita. Aqui olhamos para a frente. Com paixão. ( Texto  escrito por PAULO BRIGUET, briguet@jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra  extraído da página  11, espaço Dia de crônica – PAULO BRIGUET,  publicação do JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 27 de março de 2015).

CASAMENTO OU UNIÃO ESTÁVEL?



   No meio jurídico se depara com todo e qualquer tipo  de manifestação de vontade, algumas até inusitadas. A título de exemplo dessas situações, um  caso interessante surgiu no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Uma determinada família contratou  uma cuidadora para o único filho do casal que é portador de esquizofrenia grave, com idade mental  compatível a uma criança de 7 anos. Com o falecimento dos pais, uma das tias do rapaz  moveu ação de interdição com a finalidade de gerir os bens  advindos do inventário que, à época, totalizavam aproximadamente o montante de R$1,5 milhão.
   A cuidadora, com o passar dos anos e após a morte dos pais de seu cliente, sabedora da condição financeira da família, da incapacidade de discernimento do rapaz e de posse dos documentos pessoais de seu paciente, iniciou os trâmites para habilitação do casamento e firmou pacto antenupcial estabelecido no regime de comunhão universal de bens.
   Ocorre que, após o conhecimento da ação de interdição movida pela tia do rapaz, a cuidadora desistiu do casamento e optou em acionar o judiciário para tentar o reconhecimento de união estável alegando relação afetiva, pois no decorrer dos  anos o convívio com o paciente que era estritamente profissional se transformou em uma linda história de amor.
   No processo de reconhecimento de união estável o juízo de 1º grau julgou improcedente a ação. A cuidadora recorreu ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e obteve êxito em sua pretensão. A reforma da sentença levou em consideração o depoimento do médico psiquiatra do rapaz que foi incisivo em afirmar que o paciente não tinha capacidade de gerir sua vida financeira, entretanto, tinha discernimento para entender relações conjugais e firmar  laços afetivos.
   A tia do rapaz recorreu da  decisão para o Supremo Tribunal de Justiça o qual não reconheceu a união estável pleiteada pela  cuidadora.  Para o ministro relator do caso “o rapaz não possuía nenhuma compreensão quanto ao ato que fora induzido a praticar”.
   Para que se reconheça juridicamente o instituto da união estável à condição de entidade familiar, são necessários alguns requisitos essenciais, quais sejam: relação afetiva entre homem e mulher de convivência pública, contínua e duradoura – no sentido de estabilidade – e com o objetivo de constituir família. Se faltar alguns desses requisitos na relação afetiva, não se vislumbra a hipótese de caracterização da união estável.
   Vale ressaltar que a diversidade de sexos para a caracterização da união estável, foi vencida pelo julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, ajuizada pela Procuradoria-Geral da República e pelo Governo do Rio de Janeiro, cujo mérito discutia a possibilidade de equiparação da união estável entre pessoas do mesmo sexo `entidade familiar. ( Texto escrito por EDILSON PANICHI, advogado especialista em Direito de Família, extraído do espaço  ponto de vista’,página 2, com publicação no JORNAL DE LONDRINA, quarta-feira, 25 de março de 2015). 

sexta-feira, 27 de março de 2015

LIGHT, MAS COM SABOR


  
                            Cardápio de spa, entregue em casa, ajuda perder peso ao mesmo tempo em que agrada ao paladar.
   Vivo me cobrando para fazer dieta. Mas, se tem coisa que me dá preguiça de cozinhar é comida “magra”. Não tenho criatividade para receitas  e acabo ficando naquela coisa de saladinha e bife ou filé de  frango grelhado. Resultado? Desisto no terceiro dia, porque quem agüenta comer isso diariamente? Até andei experimentando um dos restaurantes que prometem comida diet. Tenho de ser sincera: não gosto porque os nutricionistas por lá nunca ouviram falar de alho, cebola e sal.

   Comentando a situação com uma amiga, ela me apresentou a Frozen  Diet, uma linha de comidas congeladas, produzidas pela equipe do Spa Recanto das Figueiras, de Rolândia. A amiga já é freguesa antiga e fã do cardápio.  Como há  o serviço de entregas para Rolândia, Londrina e Cambé, resolvi provar. E, olha,  não me arrependi. É uma delícia.
   Refeições
   O primeiro passo é escolher o cardápio no site  da empresa. Essa é uma das maiores dificuldades, já que são cerca de 60 opções de pratos e lancinhos. Eu resolvi pegar oito refeições para provar, o que daria para quatro dias com almoço e jantar. Escolhi cinco pratos vegetarianos e três com peixes. Tudo junto ficou em R$146. No dia e horário marcados, recebi tudo. O mais difícil? Contentar-se com as porções que parecem pequenas. Se você faz o programa completo de emagrecimento, com certeza vai fazer uma alimentação balanceada – com café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e lanche antes de dormir. Ou seja, comer a cada duas ou três horas  sem passar fome com as porções.
   No primeiro dia, comi macarrão chinês. Gente, que delícia! O prato todo tem apenas 242 calorias e é preparado com macarrão de arroz, legumes, amêndoas e shoyo. Três minutos no micro-ondas e está pronto. À noite, escolhi moqueca de tilápia e, olha, o sabor é fantástico, de uma verdadeira moqueca,  mas com apenas 239 calorias. Todos os pratos, aliás,  são bem temperados e saborosos. Esqueça a comida insossa!
   No dia seguinte, perdi a cabeça e chamei a nora e o filho para irem almoçar comigo e degustar os seis pratos restantes. Eles vivem fazendo comida saudável e se preocupam com o peso, então nada mais justo que darem sua opinião. Comemos quibe com atum e legumes acompanhado por abóbora cozida (177 calorias), panqueca de milho (297 calorias)salmão ao molho de laranja (314 calorias) e canelone de berinjela  (241 calorias) – todos esses acompanhado por arroz integral  temperado com legumes (já incluído no valor calórico de cada prato (, além de uma sopa de creme de abóbora  ( 134 calorias) e a estrela  do da, na minha opinião, o peixe (tilápia) assado com banana e molho bechamel ( 285 calorias). Todos foram deliciosos, mas nós três concordamos que melhores foram os canelones  de berinjela, a sopa de abóbora (fantástica, mergulharia numa piscina cheia dela) e o peixe com banana, cuja  combinação ficou mais que excelente.
   SERVIÇO
Frozen  Diet (Estrada San Rafael, Km2, Fazenda Vaserola, Rolândia-PR. Fone 3256-2981). Aceita cartões, apenas com cadastro no site e pagamento na entrega. Site: http://frozendiet.com.br/loja/   ( Texto escrito  por TELMA ELORZA, telmae@jornaldelondrina.com.br  página 23,  publicação do JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 27 de março de 2015).


quarta-feira, 25 de março de 2015

QUÂNTICAS PROBABILIDADES


   Conforme a Física Quântica, quanto mais improvável  algo parece, mas é indício de que um dia poderá acontecer. Quem diria, por exemplo, que tantas imensas represas quase secariam? Ou que super-empresários  iriam para a cadeia?
   Então.   Aqui vão  algumas coisas que, pela lei das possibilidades improváveis, poderão ou estão prestes a acontecer.
Dilma renunciará, entregando à Justiça uma lista de corruptos que viu corrompendo ou sendo corrompidos, declarando-se em  auto-prisão domiciliar até ser chamada para depor.
   Profundamente impactado, conforme suas últimas palavras antes de  adotar o silêncio zen até o fim da vida, Lula rapará a cabeça, tatuará uma estrela amarela, e se internará em mosteiro (só para homens portanto), jejuando dia sim e dia não, quando comerá apenas pão sem sal e beberá apenas água morna.
José Dirceu, com capital comprovadamente de herança familiar abrirá pequena agência de turismo chamada Mensalet, especializada em excursões com duração de um mês.
   Isso estimulará Joaquim Barbosa a abrir a banca de advocacia especializada em recursos, apelações e protelações judiciais, mas correrá o boato de que seu sócio oculto será o ministro Lewandovski.
   Eymael  e  Levy Fidelix,  em ato conjunto, anunciarão que não mais se candidatarão à presidência da  República, mesmo que o povo isso exija em passeatas pelo país.
   Roberto Requião, humildemente seguindo o exemplo deles, abrirá uma empresa de relações públicas  chamada Mamonas Assadas.
   Ao lado, Beto Richa  abrirá a empresa de consultoria financeira  Professoricha.
   Marina Silva abrirá empresa de consultoria ambiental para assessorar grandes empreendimentos  multinacionais, com roupas de grife, dizendo que simplicidade um dia cansa e viajando em seu jatinho jabuti.
   Chitãozinho e Chororó gravarão disco de jazz e música erudita, enquanto Bruno  Marrone gravarão um disco só de Bossa-Nova.
   Londrina dará exemplo ao mundo com o Programa Lixo Zero, reciclando todo o lixo e transformando até em artesanato,  a custo zero, graças à total participação social.
   Xuxa anunciará sua ida para a TV Ibiporã,  dizendo que finalmente terá liberdade de criação e produção.
   Sílvio Santos comemorará  centenário jogando notas de 100 para o auditório de 100 colegas de trabalho também com mais de 100 anos, e apenas 10% delas enfartarão.
   As companhias aéreas encurtarão o espaço entre os assentos, entretanto fornecendo almofadas joelheiras para os passageiros.
   Os políticos e juízes reduzirão os próprios salários, anunciando que só aceitarão  aumento proporcionais ao aumento do salário mínimo.
   Em entrevista coletiva, com as renas pastando em volta, Papai Noel anunciará que não existe, os repórteres perguntarão como não existe se está ali, ele então resmungará que está com o saco cheio, montará no trenó e deixará o outro saco no chão.

   Como o Papai Noel estará na malha fina, o  saco será leiloado pela Receita Federal e arrematado por um pastor que o usará para coletas nos cultos, dizendo que só assim poderemos comprar o adiamento do Apocalipse. Quem duvidar,  verá.  ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI, extraído da página 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI   dpellegrini@sercomtel.com.br, publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 22 de março de 2015)

SOBRE ESSE MOMENTO



   Não há dúvidas, estamos em caos. E tudo agora é decisivo. Se continuarmos a agir como estamos acostumados, a  situação vai ser sempre essa. De tempos em tempos, enfrentaremos uma crise  de  proporções homéricas, onde os brasileiros,  consternados, falarão aos cotovelos  a respeito da  falta de ética e de respeito que assolam esta nação. E depois, virarão a esquina e voltarão pra suas vidas, sempre da mesma maneira.
   Precisamos  dizer N Ã O!  Precisamos aproveitar esse momento de queda livre do país e mudarmos. Não dá mais para acreditar no discurso demagógico da nossa presidente.  Palavras bonitas nem sempre são sinceras. Até quando vamos  agir como uma nação infantil?.
   Há uma frase passeando por aí, na imprensa, que devemos prestar atenção. A corrupção no nosso país não está sendo combatida, está sendo delatada.  E isso é  uma outra coisa. É um passo, mas não é o principal. O principal é o combate. É não aceitar nem por brincadeira que corrupção é “quase” uma coisa normal no Brasil. Como disse “humildemente” a nossa presidente no discurso de segunda-feira (l6 de março), por aqui a corrupção é uma velha senhora.
   Isso é ridículo! Uma velha senhora soa como algo respeitável  e quando ouvi esta triste figura de linguagem , quase tive a impressão de que a corrupção não é tão ruim assim. Pasmem! Está tudo errado! Melhor dizer que a corrupção é um verme de difícil combate por aqui. Seria mais conveniente.
   Nossa cidadania não deve, não pode ser praticada somente  em greves, passeatas e paralisações. Tudo bem, esses movimentos são legítimos. Só que não acontecem todos os dias, Temos que participar ativamente no nosso cotidiano, transformando-o para o mais próximo possível do que queremos. E como se dá isso? Com uma palavra, que escutei esta semana na Rádio CBN; ESFORCE-SE!
  
Esforce-se,  Brasil! Não podemos  aceitar os caminhos mais fáceis! Não vamos mais acreditar em discursos bonitos e mentirosos! Cada um de nós tem uma voz, uma atitude e um espaço. Faça sua parte, construindo um mundo melhor e lute,  todos os dias, por aquilo que acredita! Com todas as forças que temos. Porque somos um povo inteligente, capaz. Nós sabemos  dançar e nos divertir, mas  também sabemos trabalhar, construir, fazer ciência e espalhar cultura pelo mundo afora. Vamos mudar esse jogo! ( Texto escrito por KELLY SHIMOHIRO psicóloga em Londrina, extraído do caderno FOLHA 2, página 3, espaço  CRÔNICA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA            , quarta-feira. 25 de março de 2015).

terça-feira, 24 de março de 2015

A FUNÇÃO DO ARTISTA É OUSAR


   Que venham mais beijos gays nas novelas e menos filmes de super homens

   Às vezes acho que a ousadia aposentou-se. Digo isso pensando na vida, na arte  e até nos beijos de novela. De modo geral, as pessoas andam por aí mais preocupadas com suas rotinas, as contas a pagar e os compromissos sérios. As exceções acontecem nos momentos em que por alguma razão especial, como o amor, recuperamos  o fôlego de viver, sem tantas críticas, exigências e preconceitos.
   Neste momento o Brasil inteiro discute política, com direito  a arranca-rabos e muito mau humor, o que talvez justifique o cansaço de não ousar um pouco além deste território enfadonho. Mas a minha observação sobre a falta de ousadia já vem de tempos. Desde que observei que na arte está faltando o apelo da novidade, a vontade de fazer da música, da pintura, da literatura, do cinema, uma revolução.
   As revoluções culturais e estéticas têm o dom de fazer soprar o vento do novo. Ainda que às vezes se formem tempestades. Mas ainda prefiro mais excentricidade na vida e na arte do que apenas discutir se que tem razão é o PT  ou o PSDB,  porque aí  os debates caem numa pobreza suprema, numa indigência de propostas para além dos umbigos políticos e o mundo fica mais chato.
   Em algum momento fomos mais sonhadores, nossos artistas abriam caminhos com armas criativas, mesmo quando lideravam um protesto. Querem protesto maior do que o Surrealismo? Criado e construído entre duas guerras, num dos momentos mais graves do mundo, ainda assim firmou-se como um grande apelo à ousadia e ao sonho. O maior mérito deste movimento foi incitar a fantasia e para isso não havia limites. Salvador Dali que o diga com suas telas malucas, onde sua mulher Gala era representada com costelas de boi sobre os ombros.   O absurdo não era o limite. Desde os 20 anos, os dadaístas caprichavam nas exposições, nas quais houve até um artista escondido no armário insultando as personalidades que chegavam. Ninguém sabia de onde vinha a voz. Hoje, uma performance assim em Brasília exigiria uma trupe enorme para dizer umas  verdades  Mas no  Congresso Nacional  as performances são outras, os políticos parecem que apeiam de um cavalo e entram com as armas escondidas no paletó, puro faroeste. A graça é que ainda se chamam mutuamente de Vossa Excelência.
   Para não ficar apenas nos exemplos muito distantes, lembro-me também de Glauber Rocha, em plena ditadura, politizado e irreverente, fazendo a critica ao regime no cinema como um anjo da revolução estética. Emblemático e engraçadíssimo seu quadro no programa Abertura, na TV Tupi, em 1979, quando ele conclamava os pais de família a protegerem seus filhos do Super Homem, que era o filme sensação no momento. Assim punha  Cristhopher Reeve no chinelo.  Também detonava a Embrafilme e exaltava cineastas que admirava como Franco Zafirelli. Estava inserido em outro sonho e tinha um discurso menos marqueteiro.  Hoje, artistas e criadores pensam duas vezes antes de fazer críticas contundentes. Dependem da Lei Rouanet  e preferem bater continência aos editais de cultura, jamais insultariam autoridades mesmo escondidos em armários, nem desafiariam os super homens que controlam o dinheiro.
   Sinto informar mas vivemos a época da  cultura de ovelhas E nem sabemos direito como nos metemos nesse rebanho. Falta ousadia que, como eu disse no começo, parece uma senhora aposentada que se contenta em ver novela. O máximo de irreverência é um beijo gay na TV que, cá entre nós, chega tarde, mas provoca uma inquietação, uma crítica que mostra quanto nos tornamos conservadores. Excetuando-se alguns nichos no teatro, vão longe os tempos dos artistas que desafiam costumes. Hoje todos querem ganhar prêmios e para isso sentam-se bem comportados na sala de visitas. Eu sonho com uma arte fora da sala de visitas. Ainda que seja para embalar o sonho de sermos livres das amarras que colocamos em nossas próprias vidas. Que pelo menos na arte a porta permaneça aberta a uma luz escandalosa que nos tire do comodismo geral. Às vezes, a única coisa que salva é a fantasia. E que venha mais beijos.  ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI,  celiamusilli@terra.com.br    extraído da página  4, FOLHA 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 22 de março de 2015)

SABEMOS RESPEITAR AS OPINIÕES?


   A crise política que assola o País e que desencadeou as últimas manifestações  mostra que a população está atenta e disposta a lutar por uma nação mais justa e honesta.  Esse movimento, por sua vez, também desperta o olhar para outros pontos, como a intolerância, e nos coloca a dúvida sobre a capacidade de dialogar. Nós respeitamos a opinião do outro?
   Observamos que o uso das redes sociais tem ampliado a expressão de diversas opiniões de cunho político, econômico, religioso, entre outros, muitas vezes sem que sejam avaliadas as conseqüências disso. Atrás do computador, tablet ou celular, as pessoas se comportam de forma mais corajosa para emitirem suas idéias. O resultado, não raro, é a falta de respeito, de diálogo e compreensão sobre o ponto de vista do outro. Como seria nosso dia a dia se as pessoas falassem ao vivo umas para as outras tudo o que dizem nas redes sociais quando há divergência de opiniões?  Seria o caos.
   Estando a favor ou não, cada um tem o direito de manifestar o seu descontentamento, desde que isso não gere ódio, a irracionalidade e a exclusão, nem deteriore  o ponto de vista do outro.
   Sob a influência  das redes sociais, hoje é mais fácil as pessoas se juntarem àquelas que pensam da mesma forma, e isto faz com que estes grupos ganhem força e polarizem a discussão:  De que lado você está?
   Se  está do lado A, corre o risco de ser criticado ou aplaudido, assim como se você estiver do lado B. Se não há concordância com nenhum dos lados, será criticado por não ter um posicionamento.  Porém, a tomada de decisão sobre “de que lada está” deve acontecer com muito diálogo, reflexão e conhecimento sobre o assunto.
   Para o bem-estar coletivo, é importante estar disposto a ouvir todas as opiniões, independente da sua. Este procedimento é importante na medida em que, embora o outro possa divergir de suas idéias, poderá haver contribuições e entendimento sobre a  sua forma de ver o problema. Desta forma, é possível manter o respeito e o bom convívio, diminuindo a freqüência de comportamentos que incitam o ódio e a exclusão.
   Saindo das redes  sociais e vindo “para o mundo real”, estimular conversas difíceis ao vivo pode gerar desentendimentos, mas também é o caminho para aprender a respeitar a idéia do outro. É importante, sim, que as pessoas conversem mais ao vivo, frente a frente.
   Acima de tudo é conveniente que cada cidadão reflita que opiniões e idéias, sejam elas quais forem, são formadas a partir de uma  história de aprendizagem, e o que torna a opinião do outro diferente da sua são formas singulares de se relacionar com o mundo. A  cada história de vida, uma opinião a respeito de uma determinada causa é formada, e para entender a construção desta opinião,  o ouvir o outro se mostra essencial. Aponte seu ponto de vista, mas esteja aberto a ouvir críticas e elogios, e reflita que sua idéia está bem embasada por conta da sua história, e que sua experiência pode ser diferente da experiência do outro.
   Discordar é importante e válido e faz parte da nossa democracia. São os diversos pontos de vista que fazem nossa sociedade caminhar para frente. Uma cultura que preserva o respeito não é aquela em que todos os seus membros partilham das mesmas idéias, mas a que sabe conviver com as diferenças de pensamento, de valores de vida e de crenças.

   O filósofo Voltaire já havia dito: “Não concordo absolutamente com o que você diz. Mas lutarei até a morte pelo seu direito de dizê-lo”. Isso cabe muito bem ao momento que vivemos. ( Texto escrito por CARMEN RAZENTE CANTERO, psicóloga no Instituto de Psicoterapia e Análise do Comportamento  ( PsicC) em Londrina, extraído do  Espaço Aberto, pag 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira, 24 de março de 2015).

terça-feira, 17 de março de 2015

NÓS, O POVO



   Durante muitos anos, a palavra povo esteve nas mãos de seus seqüestradores.  Até bem pouco tempo atrás, só podia usá-la quem era companheiro da esquerda. Mas os escândalos do governo acabaram por destruir esse cativeiro semântico. Hoje as pessoas são livres para dizer:
 - Nós somos o povo. Não precisamos mostrar a carteirinha do partido  nem a estrelinha no peito.
   O povo somos nós. Somos nós que trabalhamos,  que estudamos, que criamos filhos, que amamos nossas famílias, que pagamos impostos, que fazemos compras no supermercado, que abominamos o roubo, o crime e a chantagem. Somos nós que não temos privilégios, que nunca tivemos  milhões ao nosso dispor, que não ajudamos as pessoas só para conquistar os seus votos e as suas consciências. Fazemos o bem sem esperar nada em troca. Somos nós, o povo. O povo é o comerciante que fechou as portas. É o trabalhador que perdeu o emprego. É o eleitor da Dilma que se sentiu enganado. É o eleitor do Aécio que se sentiu ofendido. É o eleitor da Marina que se sentiu violentado. O povo é o aluno que ficou  sem aula, é o funcionário público que trabalha com afinco, é o padre que tenta levar as almas  para o Céu. O povo é o advogado que defende a lei, o jornalista que diz a verdade, o engenheiro que constrói casas, o médico que salva vidas, a enfermeira que cuida dos doentes. O operário que opera. O camponês que semeia. A mãe que ama.
   Rita é o povo. Altas horas da noite, ela ligou para a nossa casa pensando que era p CVV. Chorou, chorou, chorou. Disse que estava sozinha no mundo, que havia perdido seus pais. E a Rosângela a ouviu com atenção. Depois ficou pensando nela. Rita e Rosângela são  o povo.  Elas não estão sozinhas.
   O povo não pertence a movimentos sociais, não está filiado a partidos, não acredita em promessas de campanha.  É formado por aqueles que sofrem o poder, não os que o exercem.  Quando penso em povo, penso no meu bisavô Costa, abandonado criança no Brasil, depois maquinista de trem. Penso no meu avô Briguet, juiz de futebol  e  pintor de carros. Penso em meu pai bancário e minha mãe professora.  Todos já se foram. Penso em quanto eles lutaram e sofreram para que eu estivesse aqui, escrevendo estas palavras e dizendo   - Eu também sou povo.  ( Texto extraído do espaço Dia de Crônica PAULO BRIGUET, página 5, publicação do JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira, 16 de março de 2015).   

segunda-feira, 16 de março de 2015

A DOR NÃO USA MÁSCARA


   Morte de filho de homossexuais expõe um preconceito secular

   Neste domingo ruidoso de protestos, peço um minuto de silêncio por Peterson Ricardo de Oliveira, 14 anos, morto, ao que consta, depois de ser agredido numa escola da  Grande São Paulo por ser filho de um casal homossexual.
   Peço um minuto de silêncio não só por Peterson, mas por todos os homossexuais agredidos e mortos. Vale também um minuto de silêncio por suas mães,  pais, amigos e namorados.  Vale ainda não só um minuto de silêncio, mas um constrangimento envergonhado, o fato de Peterson ter sido agredido por este motivo e o fato da homofobia não ser ainda criminalizada.
   No momento em que o Brasil se envolve em grandes movimentos populares, penso nos pequenos movimentos que poderiam contribuir para a criação de uma sociedade com base num humanismo em falta.  A violência é um fato cotidiano e dói saber que um garoto de 14  anos sofreu bullying, envolveu-se numa discussão e foi agredido  estupidamente por colegas da mesma idade porque seus pais são gays. Dói saber que, ao voltar para a sala de aula e começar a passar mal depois da agressão, ele ainda pediu que o socorressem porque não queria morrer. Dói saber que ocorreu uma hemorragia interna e que, provavelmente,  a  agressão sofrida foi a causa da hemorragia, uma vez que ele já era portador de um aneurisma.
   Num país onde partidos e governantes dedicam  pouco espaço aos direitos dos homossexuais – desde 2001 a criminalização por homofobia aguarda aprovação pelo Senado – o preconceito mata todos os dias. Um relatório do Grupo Gay da Bahia dá conta que um homossexual é morto no Brasil  a cada 28 horas.  Em 2013, 312 gays, lésbicas e travestis foram mortos no País.  Engana-se  quem acha que as coloridas manifestações que se repetem nas capitais a cada ano bastam para resolver o preconceito introjetado  numa sociedade que ainda rejeita beijos entre duas pessoas do mesmo sexo em novelas.
   Em minhas andanças, tenho visto demonstrações de carinho entre homossexuais nas ruas,  mas eu transito normalmente  pelo sul e o sudeste, e as estatísticas dão conta que os estados mais perigosos para os gays são Roraima, Mato Grosso e Rio Grande do Norte, só para citar os três primeiros, levando-se em conta o número de crimes cometidos.
   Mas a morte de Peterson ,na última semana,  mostra que na Grande São Paulo – considerada  capital cultural do País – ainda acontecem coisas inimagináveis  e que vai longe o dia em que as escolas estarão preparadas para educar para a diversidade de gêneros. A homofobia deveria ser considerada crime o quanto antes, mas no Brasil as políticas que levam em conta o debate em torno de tabus demoram a ser implementadas,  como aconteceu só agora com o feminicídio – crime e violência contra a mulher –  na semana passada sancionado como lei pela presidente Dilma Rousseff. A mesma presidenta, durante a campanha, só se apressou a dizer alguma coisa  consistente sobre c riminalização da homofobia depois do assunto ganhar vulto após ser retirado do programa da então candidata Marina Silva.
   Há uma versão de que Peterson Oliveira foi agredido numa espécie de “corredor da morte”, com adolescentes  formando um círculo para lhe dar socos e pontapés. Seu irmão que estuda na mesma escola diz ter testemunhado o fato. A diretora afirma que não houve agressão dentro da escola, mas apenas “uma pequena discussão em sala de aula”, o que deverá  ser elucidado  numa investigação, já que pequenas discussões não causam a morte de ninguém. Um delegado disse que “nenhuma hipótese está descartada” e chegou a afirmar que o menino sofreu mesmo uma agressão. O fato é que, nestas horas, a batata quente é passada de mão em mão.  Ninguém  quer se responsabilizar por acontecimento tão bruto e, alguns fazem vista grossa a uma situação que expõe todo preconceito de uma sociedade afeita a padrões comportamentais do século 16.
   A base de respeito às diferenças ainda precisa ser construída no momento em que a cultura caminha em direção à luz depois de tanto obscurantismo. O homossexualismo já foi considerado crime em séculos precedentes, em Portugal, em 1533,  eram previstas penas pesadas contra homossexuais em tribunais sob a influência da Inquisição.  A  exemplo de outros países, Portugal e Espanha disseminaram para suas colônias suas leis e preconceitos, uma ferida que sangra te hoje como no caso de Peterson.
   Embora haja registros arqueológicos de práticas homossexuais desde 1.200 A.C., a discriminação perdura  e foi avalizada durante longos períodos nos quais o homossexualismo, depois de deixar de ser crime, passou a ser visto como “doença mental”, o que perdurou até os estudos de Freud que ajudou a reverter o conceito. Mas o que interessa, neste domingo, é chamar a atenção sobre outros movimentos  em nome do humanismo e por valores arejados. No momento em que homossexuais ajudam na construção de uma sociedade mais justa, inclusive acolhendo filhos que ninguém mais quer – por preconceito de raça ou credo – eles também precisam contar com garantias legais que facilitem suas decisões e protejam suas vidas.
   Acima de tudo, resta refletir sobre uma questão ética: cada um tem o direito de ser o que é. Ou  para lembrar Oscar Wilde, poeta e dramaturgo inglês julgado e condenado no século 19 por ser homossexual: “Por detrás do sofrimento,  há sempre sofrimento.  Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara”. E dor é o que está sentindo a família de Peterson e outras vítimas dos algozes da diversidade. Não é possível que isso  perdure como uma ferida,  a dor da família  de Peterson diz respeito a todos nós.  ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI , celiamusilli@terra.com.br  extraído da página  4, FOLHA 2, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA,  domingo, 15 de março de 2015). 

domingo, 15 de março de 2015

COM GHANDI E COM KING



   Quem acha que marchas e passeatas não adiantam nada, pode lembrar que  a Revolução Francesa começou com uma marcha para a tomada da Bastilha, presídio onde havia oito presos mas era símbolo da monarquia  - e foi o começo de muitos levantes que mudariam não só a França mas também o mundo.
    O golpe militar de 1964, implantando uma ditadura militar para impedir uma ditadura comunista, foi antes  avalisado  popularmente pelas Marchas com Deus, Pela Família e Liberdade, dando a moral que os militares precisavam para tomar o poder com uma aura de legitimidade.
   Dez  anos depois, a ditadura começava a cair com o povo elegendo 17 senadores do MDB contra apenas cinco do partido do governo. Mas a ditadura só acabaria mesmo quando o povo saiu às ruas nas campanhas da Anistia e das Diretas Já.
    A segregação racial nos Estados Unidos só acabou depois que uma pacata professora, Rosa Parks , ousou dizer não à submissão, recusando-se a sentar nos bancos para os negros no fundo dos ônibus, e um pastor, Martin Luther King, para apoiar seu gesto,  convocou as marchas com que o povo norte-americano transformou aquele “não” num imenso NÃO.
   Os Estados Unidos perderam 55 mil homens na Guerra do Vietnã, enquanto vietnamitas perderam mais de milhão e 500 mil, ou seja, 30 vietnamitas mortos para cada americano.   Mas, militarmente, a guerra era um impasse. O general  Giap,  comandante dos vietnamitas,  sabia entretanto  que  a guerra seria decidida nos Estados Unidos, onde o corpo de cada soldado chegava com o impacto de uma bomba na opinião pública. E, quando o povo foi para as ruas em marcha pedindo o fim da guerra, ela acabou, deixando seus exemplos de fracasso imperialista  e autonomia nacional.
   Ghandi  liderou a luta pela independência   da Índia, contra o poderoso império inglês, sem levantar uma arma ou dizer uma palavra dura, apenas promovendo marchas. Numa visita a Londres,  mais de décadas antes da independência, hospedou-se longe do local das reuniões com o governo britânico, para onde ia a pé, transformando cada caminhada numa marcha caudal de repórteres e fotógrafos a transmitir para o mundo a força de sua fé.  Esperemos que esses exemplos iluminem as marchas de hoje.
   Esperemos também que a PM  saiba cumprir seu papel constitucional, que é manter a ordem pública, isolando e detendo rapidamente os desordeiros e vândalos. Para isso, claro, terá de sair detrás dos escudos, deixando de lançar bombas de gás e disparar tiros de borracha, que só servem para assustar e dispersar os cidadãos, e que  é exatamente o que pretendem os desordeiros e vândalos.
   Esperemos também que os políticos percebam que já passou o momento histórico de promoverem reformas  capazes de tirar a nação do pântano de corrupção e privilégios, burocracia e super-tributação, colocando os  governos  a serviço dos que trabalham e produzem os impostos que pagam os poderes  e serviços públicos, inclusive a `PM
   E que não sejam apenas marchas contra males e malfeitores, mas principalmente a favor – da  República.  ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINI,  extraído da página 21. Espaço DOMINGOS PELLEGRINI  d.pellegrini@sercomtel.com.br , publicação do JORNAL DE LONDERINA, domingo, 15 de março de 2015).

sábado, 14 de março de 2015

SOU DA ELITE



   Sempre que faço críticas ao PT, alguém me chama de elitista. E é verdade. Sou da elite que acorda às cinco da manhã e dorme depois das dez, trabalhando o dia inteiro. Pertenço à elite que vai de ônibus para o serviço, porque nunca aprendeu a dirigir. Sou da elite que come arroz e feijão todos os dias. Que conversa com os porteiros. Que lava a louça depois do jantar. Que assiste  desenho da Peppa com o filho.
   Sou daquela elite golpista e pernóstica chamada classe média, que faz das tripas coração para evitar o vermelho no banco. Elite que paga contas cada vez mais altas de água,  luz,  educação. Elite que luta para não se afogar em impostos e taxas. Elite que se espanta com os aumentos de preços no supermercado, no sacolão, na padaria, no shopping, no restaurante. Que os companheiros me desculpem, mas continuo preocupado com a situação do País. Um elitismo incorrigível da minha parte!
   Sou da elite que guardaria dinheiro na poupança – se tivesse dinheiro. Elite que anda pelo Calçadão diariamente, que já comeu muito pastel na feira, que não  vive sem tomar uma cervejinha sexta-feira no bar do japonês.
   Um de meus mais  irritantes hábitos elitistas é percorrer os sebos da cidade atrás de livros, que jamais encontro. Mas acabo achando outros livros e os levo para casa – meio escondido da mulher, porque já não há mais espaço nas estantes.
   Estou entre os 88% de londrinenses elitistas  que desaprovam o governo Dilma. Sou da elite que neste domingo vai sair às ruas contra a corrupção e a incompetência dos companheiros. Sou daqueles reacionários imperdoáveis que ainda acreditam em cosas antiquadas como moralidade, receitas e despesas, economia de mercado, liberdade de expressão, respeito à vida humana.
   O pior, no entanto, é ser um elitista cristão. Escandaloso! Faço parte da elite que acredita em Deus, lê a Bíblia, vai  à missa todos os domingos e reza o terço todos os dias. Só mesmo um burguês inimigo dói povo para fazer isso. E agora vocês me dão licença, que eu vou brincar de sabre de luz com o Pedro. Gente fina é outra c.oisa. ( Texto   extraído do espaço  Dia de Crônica  PAULO BRIGUETbriguet@jornaldelondrina.com.br   wwwjornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra  página 12, publicação do JORNAL DE LONDRINA, 13 de março de 2015)

A MÚSICA NA VIDA DA JUVENTUDE


Música e juventude, juventude e música, passos encontrados nos compassos que constroem a mesma história.
     O cosmo tem sua musicalidade própria. Portanto, desde sempre, a música esteve presente no mundo, antes mesmo que o homem o habitasse. Foi observando os sons da natureza presentes em seu meio que ele começou a reproduzi-los, dando início a música presente na vida da humanidade. Assim, é de cerca do ano 60.000  a.C. o vestígio do primeiro instrumento musical: uma flauta de osso.
    A sucessão de sons organizado ao longo de um  tempo, entremeados por outros períodos de silêncio, uma combinação de elementos sonoros que são percebidos pela audição foi que deu origem à música como a conhecemos hoje.
    A música  fez sua história marcando as diversas culturas espalhadas em nosso planeta. Não se tem registro de que houve  alguma civilização que não possuísse manifestações musicais próprias. A música presente no meio do povo. Desde sempre, teve seu valor.
    Na Índia, cujas tradições musicais remontam a ao século XIII a,C., acreditava-se que ela estava diretamente ligada ao processo fundamental da vida humana. Na China, acreditava-se que a música possuía poderes mágicos. Os antigos chineses acreditavam que a musica  refletia a ordem do universo. Na Grécia, Pitágoras, séc. VI a.C., achava  que a música e a matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo.
    Pode ver que, à medida que evolui a caminhada da humanidade, a música se expande. Hoje ele serve a diversas utilidades:  artística, militar, educacional e terapêutica. Ainda tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais. Existem as mais sofisticadas e as mais populares, porém todas desempenham sua função: proporcionar prazer a quem escuta. A música tem um valor universal. Em qualquer lugar que se vai, lá ela está.
    É impossível imaginar a nossa vida sem a música. Mais impossível ainda é encontrar um jovem que não goste de usufruir desse ato prazeroso. Por isso, onde há jovens, existe a música. A juventude se encontra na música. Esta é um veículo para fazer acontecer a aproximação, para criar laços e despertar para novos compromissos.
    O tipo de música que se ouve identifica a pertença a um determinado grupo, haja visto a enormidade de ritmos, estilos e tendências. Assim é a nossa juventude: múltipla, e que espalha e se achega onde é mais aceita, fazendo a diferença. Tem sonhos inusitados expressos em sons dispersos, que incomodam a todos, mas que os fazem sonhar. Jovens que se revoltam quando não compreendidos, porém, na própria revolta, mostram quem são.  E assim, continuam a caminhada com seus fones no ouvido, mostrando-se alheio a todos a tudo, mas atentos à  música que ouvem. Nela, eles encontram-se e se unem. Nela, vivem momentos  tão íntimo
que num pacto simbiótico se tornam como que uma só coisa: Música e juventude, juventude e música, passos encontrados no compasso que compõem a mesma história. A música na vida da juventude é elixir ora de estranhos e incompreendidos dias, intermináveis de viver, em meio ao caos da insegurança própria, mas que lhe dá conforto, ora da  abertura de perspectivas que a fazem alçar vôos nos horizontes dos sonhos, despertando esperança de viver dias melhores.
    Ser jovem e não curtir a música de seu gosto é como descascar uma laranja e não chupar, é ir ao rio e não nadar, é namorar sem se beijar. Que ruim! Não dá nem pra imaginar!
    A música está para a juventude assim como a juventude está para a música É uma união eterna. Assim, parafraseando o ditado muito  conhecido dos experientes: “ouça a música que escuto e saberá quem sou”. ( Texto escrito por PE. LUIZ PAULO FAGUNDES, SON (  Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, pároco de Alto Jequitibá, MG. Trabalha com oficinas de relação de mútua ajuda .E-mail:  fagundessdn@gmil.com  página 20 do jornal  O LUTADOR, ANO LXXXVI/Nº 3862 MARÇO 2015, www,olutador.org.br )

UMA HORA MUITO ESPECIAL



   No pequeno “largo” da cidade, assim chamado antes de ser praça,  aquela hora era muito especial. Ao lado da Igreja de madeira, uma senhora de vestido de pregas, muito comportado, geralmente escuro ou cinza, cabelos trançados ou presos, origem italiana, chegava para tocar o sino.
   A Igreja, o sino e a mulher formavam uma  paisagem  de desenho, ao cair da tarde, quebrando o silêncio preguiçoso com badaladas que eram um convite.
   Quase ao mesmo tempo  desciam e subiam , das várias ruas, outras pessoas, especialmente mulheres e  crianças e se encaminhavam para a pequena igreja.
   Era hora do Anjo! E eu gostava disso tudo! Chegava correndo para a oração à qual se seguia a reza do terço. E logo no início ficava meditando, não sobre a oração, mas sobre a parte que dizia: “...e o Verbo se fez carne...”   Verbo  para mim era o que se decorava na escola...eu canto, tu cantas, ele canta! E como era que virou carne?! Difícil para uma criança entender, mas não impossível para crer.
   Dentro da igreja as mulheres se sentavam de um lado e os homens de outro. As casadas usavam véus  preto na cabeça e as solteiras brancos. As crianças eram convidadas a ficarem quietas  mas eram puro movimento.
   Após a oração do Angelus,  uma das senhoras, com acentuado sotaque italiano, “puxava” o terço, desfiando as contas do rosário com muito carinho, numa espécie de homenagem à Mãe de Jesus, com a qual as mulheres tanto se identificavam em suas dores e amores pela família e os filhos, num tempo de velada submissão feminina  e intensa força interior.
   Para mim, os cinco mistérios do terço eram longos... Em vez de acompanhar as contas, iam contando quantas  Ave Marias  faltavam para acabar. Sabia de cor os cantos marianos que intercalavam a reza e ainda os guardo na memória com saudade.
   Terminava o terço e começava a Ladainha. Essa era um encanto à parte. Só não entendia porque as pessoas comparavam “ladainha” com um nome de reclamações. Nenhuma semelhança!
   Começava enaltecendo as virtudes de Maria como Mãe Rainha, Virgem e outras qualidades tão cheias de ternura. A mulher de sotaque italiano ia recitando a ladainha e os demais respondendo “rogais” por nós.  Embalada pela monotonia das  aclamações, eu ia cochilando...
   Num determinado momento a voz mudava o tom e exclamava mais alto : A Rainha da Paz! “Rogais” por nós! Eu despertava e sabia que estava terminando, só faltava umas poucas Ave-Marias pelas intenções da comunidade ( que não eram poucas ).
  Encantava-me aquele ambiente e gostava de observar principalmente a vida daquelas mulheres piedosas e lutadoras, em tempos difíceis, que sabiam onde encontrar a confiança necessária para enfrentar seus problemas e os dos familiares. Outros  tempos, outros contextos, mas uma maneira simples e  sempre atual de dar sentido à vida
   Ainda hoje, nas manifestações marianas da  Igreja católica, volta à lembrança aquela imagem : seis horas da tarde, o sino, o rosário e o canto da ladainha , a devoção dos  simples, dos puros e de todos aqueles têm  amor e vivem a sua fé.  ( Texto escrito por ESTELA MARIA FERREIRA, leitora da FOLHA, extraído do espaço Dedo de Prosa, página 1 da FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 14 de março de 2015). 

segunda-feira, 9 de março de 2015

BANALIDADE MUITO ALÉM DA MERCADORIA


          A FRASE “Vem Ni Mim Que Eu Tô  Facin”, estampada numa camiseta infantil, corrobora a falta de ética e a indigência cultural do País “


   Esta semana abriu-se outra polêmica em relação às camisetas vendidas no site de Luciano Huck. O apresentador do Caldeirão viu-se de novo no centro da fervura pelo anúncio de uma camiseta infantil com a frase “Vem Ni Mim Que Eu Tô  Facin, destinadas a meninas de 2 a 12 anos.
   A frase de inegável mau gosto fere toda a compreensão ética em relação à sexualidade feminina, sobretudo quanto aos cuidados que se deve ter com as crianças. Os casos de pedofilia e prostituição infantil no País são assustadores e acontecimentos recentes voltaram a nos assombrar, ainda mais quando sabemos que este tipo de crime é incentivado subliminarmente. A falta de ética também banaliza a relação entre os sexos e abre a brecha do desrespeito à infância.
   Uma saraivada de críticas fez o apresentador retirar a mercadoria do site com o usual pedido de desculpa. Não é a primeira vez que ele teve que ceder à pressão popular que tomou as rédeas sociais, com pessoas abominando a frase e o contexto em que foi aplicada. Em outra ocasião, a frase “Somos Todos  Macacos”numa camiseta, incitou protestos contra o racismo. Luciano Huck nunca soube discernir  humor  de ofensa, é mais um bobalhão televisivo, incentivador de desafios bregas e quadros repletos de sandice, fórmula consagrada na televisão brasileira.
   Completamente de acordo com os últimos protestos, não deixo porém de notar que esta medida paliativa de suprimir a venda de uma mercadoria de mau gosto é apenas a ponta do iceberg  de uma derrocada de valores  que está estampada não só em camisetas, mas nos comportamentos e nos  nossos sofríveis padrões culturais. A frase “ Vem Ni Mim Que Eu Tô Facin  foi o grito de guerra das mulheres dispostas ao beijaço no último carnaval. O desrespeito, portanto,  tem antecedentes, mais que isso, raízes numa cultura que desvaloriza a mulher num contexto de “pegá-las” pela facilidade.
   Um das maiores vergonhas do Brasil atualmente é a falta de ética, que é diferente de moralismo.  Ética implica em valores, moral em tabus e preconceitos. Uma vez derrubado os tabus que colocavam a mulher em situação  de subserviência, é fundamental fortalecer a ética e isso não se dá com censuras depois do estrago feito: o sentido de uso da mulher, colocada nesta frase de forma coisificada para o sexo , estava em milhares de bocas muito  antes da camiseta aparecer, era um chamado geral a um tipo de liberdade destrutiva  que não só arranha imagens, mas fere a delicadeza nos processos de sedução e conquista.
   “Vem Ni Mim Que Eu Tô Facin” é uma frase pobre que corrobora a desvalorização da mulher em outros contextos onde ela continua como a principal vítima de uma liberdade de araque. Uma frase que é a variação de “Vem Ni Mim Que Sou Facim”, refrão de uma música gravada por ninguém menos que Dado Dolabella, ator que ganhou fama mais por agredir mulheres do que pelo talento artístico.
   A letra confirma a indigência cultura do País a partir do que se oferece como “música” já na primeira estrofe: “Quando eu vejo uma mulher, viro o diabo/ Não tem uma que eu não fique apaixonado/ Mas se ela tem namorado / E pula a cerca mesmo assim/ Vem ni que eu sou facim”.
   Além da pobreza estética, trata-se da consagração do machismo pela fama do sujeito mulherengo, que não resiste a um rabo de saia. Não consigo enxergar sequer humor numa composição  tão baixa, tão massificada, feita para ferir ouvidos nestes carros de som que poluem as cidades em altos decibéis, obrigando a todos os cidadãos a compartilharem o mau gosto . A poluição sonora é crime previsto em lei, ainda assim há quem não se contente em ouvir sozinho este apanhado de besteiras vendido como “música”.
  No funk o conteúdo é igualmente agressivo, as mulheres são tratadas como “cachorras” perderam o senso de seu real valor, praticam com gosto a ostentação de ser objeto. Não sei se existem  saídas, torço pela educação dos sentidos, dos olhos, dos ouvidos. Retirar camisetas das prateleiras não basta. É preciso preencher o vazio cultural com sinais de inteligência. Numa sociedade acéfala, a sensibilidade sempre será um luxo. ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI,   celiamusilli@terra.com.br, extraída do espaço CÉLIA MUSILLI, pág. 4, FOLHA  2,  publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015). 

MEU PRIMEIRO CELULAR



   É  preto  e  luzidio feito uma pequena lápide.
É um nenetrônico que precisa mamar na tomada todo dia.
Fala,  fota,  filma, , edita  conecta e até dança,  vibrando e deslizando encima da mesa.
Mas tem me servido para nada, pois, quando lembro de levar, está descarregado, ou, quando está carregado, esqueço de levar.
E já me deu vexame. Eu voltava da cidade, cansado do inferno do trânsito, parei num boteco pertinho de casa para aquela cerveja sem culpa.
Aí toca a musiquinha do celular, fui tirar do bolso, deixei cair, peguei, tentei atender, procurando botão, é só tocar, então toquei aqui e ali, e nada.
Notei que todos estavam me olhando, tinha virado um teatreco, teatro de boteco, todos esperando o tal escritor atender o celular.
O sujeito da mesa ao lado estendeu a mão: - Posso ajudar?
Dei o celular, o samaritano fuçou daqui-dali, até descobrir.
- Tá descarregado, tio, - assim me botando no devido lugar, um velho antiquado e distraído.
Perguntei como podia estar descarregado se   tinha tocado. Então tocou de novo, e ele atendeu o celular dele, com musiquinha igual a do meu. O meu não tinha tocado.
Tomei a cerveja, cheguei  em casa, botei o danado na tomada e fui tomar banho, aí ele tocou. Me   enxuguei  depressa, atendi, era  a telefônica querendo me vender não sei o que. Acho que ele é programado pela telefônica para tocar sempre que estou almoçando ou tomando banho.
Mas celular é bom, é muito bom – para ser esquecido mais que guarda-chuva.
Já esqueci no banco,  no açougue, na farmácia e  no supermercado, até   aprender que ele não pode andar na mão, tem de andar no bolso.
Então ando com a carteira num bolso, no outro o celular , parecendo aqueles peões  que, nos anos 50, depois de meses derrubando mata, desembarcavam na rodoviária com maços de dinheiro tão grossos, nos bolsos, que os vigaristas viam de longe e iam atrás.
Mas fomos viajar e Dalva acionou o GPS do celular, que maravilha! Sair daqui e chegar lá onde for, com um mapinha em tempo real te indicando o caminho, uma voz te prevenindo  onde virar que saída pegar na rótula, eteceteretrans, cheguei a beijar o celular.
Mas os planos de entrar no Facebook , motivo pelo qual comprei o danado, esqueci. Simplesmente não tenho paciência para ficar falando de mim, postando banalidades e recebendo em troca trivialidades.
Dalva diz que há um mundo por  descobrir no celular se eu tiver um pouco de paciência e um mínimo de interesse. Então acho que nada tenho de paciência e interesse nenhum, pois continuo só recebendo e fazendo chamadas, para tão pouca gente a quem dei o número, que fico pensando porque tenho celular afinal.
Mas bati umas fotos. Estão não sei onde dentro do Pretinho, como passei a chamar o celular, Espero  que nenhuma sociedade de defesa dos direitos humanos me processe por e-racismo.
E descobri que ele é bom mesmo para anotar as idéias que me vem. Lembro de alguma coisa, pego o papel que sempre levo no bolso de trás da calça, e faço a anotação no papel sobre o celular a palma da mão, e ele que assim se torna uma mini-escrivaninha, a escrita sai legível e alinhada.
Mas às vezes a anotação é longa, idéia para alguma crônica, por exemplo. Então estou pensando em comprar um celular maior, mesmo que não caiba no bolso, pendurarei no pescoço.
Dalva diz que eu devo procurar um psicólogo. E eu nem sabia que já tem psicólogo especializado em celular . Vivendo e...Epa, ele tocou! Quem será? Só atendendo pra saber. Mas cadê o botão?  ( Texto escrito por DOMINGOS PELLEGRINId.pellegrini@sercomtel.com.br , pág. 21, espaço DOMINGOS PELLEGRINI, publicado no JORNAL DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015)

O IMPONENTE E SILENCIOSO URUTAU



   Ninguém percebeu quando, no começo da manhã, o urutau pousou silenciosamente no galho seco de uma árvore, num pesque e pague da cidade de Jataizinho,  às margens do rio Tibagi.  Ali permaneceu por várias horas e teria passado despercebido naquele dia  de verão, se o meu sobrinho Caio não me dissesse ter visto um galho se mover numa árvore, ao lado do nosso ponto de pesca.  Mas isso se deu no final da tarde, em torno das dezoito horas, creio que num momento em que o pássaro trocou de lugar ao se acomodar devido a posição do sol, para depois ficar estático camuflando-se de modo a parecer,  à primeira vista, uma autêntica extensão do galho.
   De início não dei muita atenção às palavras de  meu sobrinho, pois como qualquer adolescente ligado em  tecnologia ele estava mais concentrado no celular do que na pescaria, que naquela tarde não estava dando resultado.  Fazia duas horas que estávamos tentando pegar alguns peixes e, a exemplo da maioria dos pescadores, continuávamos com os puçás vazios, com exceção de um casal de idosos japoneses que já havia fisgado muitas tilápias.
   Disse ao Caio que os japoneses conseguem pegar mais peixes porque têm uma isca que os outros pescadores não possuem: paciência. Foi nesse momento que, olhando meio sem querer para o alto, acabei vendo o urutau: impassível,  imponente,  maravilhoso .  Fiquei mais de meia hora com o coração acelerado apreciando a descoberta  e só depois indaguei o achado para o Caio , pedindo que não contasse aos outros.
   Mas meu plano não deu certo porque ele, correndo para debaixo da árvore, passou a registrar o fato no seu celular e em seguida várias pessoas largaram a pescaria para admirarem o pássaro, É claro que muita gente não conseguia visualizá-lo, mas aqueles que o faziam ficavam eufóricos e, gritando, atraíam mais e mais curiosos.
   Pipocaram flashes de máquinas fotográficas e celulares , mas a estrela da tarde continuava do mesmo jeito:  sossegada, soberana, belíssima. Um homem querendo apontar o pássaro aos filhos bateu a vara de pesca no galho e ainda assim o urutau permaneceu imóvel, inabalável. Falei para as pessoas ao meu redor que o urutau tem hábitos noturnos, se alimenta de insetos, répteis e pequenos animais,  podendo ficar vários dias parado no mesmo lugar porque tem um terceiro olho em cima da cabeça que fica espiando tudo a sua volta.
   Ouvindo aquilo uma mulher puxou os filhos para perto de si, dizendo que a ave é conhecida como a mãe da lua e traz maus presságios. Outro senhor disse que fora criado na roça e desde pequeno ouvia as pessoas mais velhas contarem que se tratava do pássaro fantasma, um  bicho de mau agouro, e quem o assustasse ou o fazia abrir os olhos teria uma desgraça na família.
   Fiquei contente quando o gerente comunicou que todos deveriam ir embora porque o pesqueiro fecharia às vinte horas, mas minha alegria foi ainda  maior quando soube que no dia seguinte muita gente compareceu para ver a novidade, mas o urutau não estava mais naquele lugar. ( Texto escrito por  GERSON ANTONIO MELATTI, extraído do espaço  Dedo de Prosa, página 2, FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 7 de março de 2015)  

PAZ É DESARMAR-SE



   Não me refiro aqui ao desarmamento  bélico  tão necessário e tão desrespeitado pelas nações. Falo do desarmamento do coração. Sem abrir as portas do coração e sem a cura de suas feridas,  a paz não se concretiza. O desarmamento interior é o segredo do sucesso  da paz. Eis os principais desarmamentos interiores.
   Primeiro: desarmar a memória.  As recordações das injustiças, agressões, humilhações alimentam em nós a raiva, a vingança, o ódio. Essas recordações precisam de cura para não entrarem  em ação no nosso cotidiano. O remédio de cura da memória é o perdão, que requer humildade e compreensão.  Deus é o médico mais indicado para essa cura. Sua receita é a oração, o perdão, a compaixão para quem nos ofendeu. Assim, nossos algozes se tornam nossos artistas. Graça transforma o mal em bem.
   Segundo : desarme as emoções. O perdão emocional é um remédio amargo, mas tem o poder de curar e ordenar nossas afeições feridas e desordenadas. Sem a redenção das emoções, nossos planos, idéias  ideais  se quebram, fracassam,caem. A emoção, as paixões, os sentimentos nos movem e levam para onde não queremos. São estopim para a briga, a discórdia, a agressividade.
   Os remédios devem ser tomados a saber: oração, retiros, direção espiritual, acompanhamento, exame de consciência e outros. Quando, porém, tivermos paciência e usarmos palavras de ouro como: por favor, com licença, desculpe, parabéns, coragem, obrigado, estaremos criando condições  e ambiente de paz.
   Terceiro: desarmar as mentes. Só uma mudança de mentalidade e de estilo de vida poderá construir a cultura da paz. Submeter todo pensamento ao Evangelho é o que entendemos por conversão. O cristianismo é um verdadeiro humanismo. É urgente desarmar a mentalidade comunista, economicista, racista e antiecumênica.  O diálogo interreligioso, o ecumenismo, as religiões são forças de paz. Para construir a paz duradoura, é  necessário a superação da fome, do racismo, da intolerância, do analfabetismo, da idolatria do dinheiro. O preço da paz está na superação das causas da violência.
   Quarto: desarmar o estilo de vida e de mentalidade. O homem tornou-se inimigo da vida, criou a tecnologia da morte, já não é mais um homem sábio, mas demente. A demência, a irracionalidade, a perversidade impulsionam à brutalidade. Pela violência ironizamos a verdade, fazemos da guerra  um  espetáculo, adotamos o vale tudo , invertemos os valores, enlouquecemos. É urgente o desarmamento da mentalidade comunista e do poder econômico.
   O Ano da Paz nos leva a acreditar na força revolucionária da ternura, no poder da cordialidade, na potência da mansidão. Os mansos possuirão a  terra. Dom Pedro Casaldáliga, escreveu um belo e profundo poema sobre a “paz inquieta” que denuncia a paz dos lucros fartos, da rotina e do medo. A paz inquieta não nos deixa em paz porque ela quer a derrota das armas. Da fome, das desigualdades sociais.
   Shalom, ( paz ) é harmonia, perdão, abraço, ternura, convivência. Os povos andinos ensinam os sete caminhos da paz: o primeiro é a paz para trás,  aisto é, com nosso passado; o segundo ´´e a paz para a frente: com as gerações futuras; o terceiro á paz para o alto: com Deus; o quarto é a paz para baixo: com o ambiente onde se vive; o quinto é a paz para a direita: com os vizinhos; o sexto é a paz para a esquerda: com a família; o sétimo é a paz para dentro : consigo mesmo.
   Exímio profeta da paz é o papa Francisco. Ele foi o mediador da paz entre Cuba e os Estados Unidos. Na viagem  apostólica à `Turquia  e  à Ásia proclamou que Deus não faz distinção de raças, de credos, de tribos, de condição social ou religião. É fundamental para a paz o diálogo, a proximidade, a ternura. Para estabelecer o reino da paz, é preciso gritar: Não à exclusão; Não á indiferença; Não à desigualdade social; Não à idolatria do dinheiro;   Não à cultura da morte; Não à depredação do Meio Ambiente”. Eis o grito profético do papa Francisco pela paz.  ( Texto escrito por DOM ORLANDO BRANDES,  arcebispo de Londrina, extraído da pág 2,  ESPAÇO ABERTO, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 8 de março de 2015)

domingo, 1 de março de 2015

PENITÊNCIAS MODERNAS




     Quaresma é tempo de penitência, renovação, restauração. Proponho algumas penitências  próprias para quem vive e sobrevive na cultura moderna. São penitências libertadoras, saudáveis humanizadoras, necessárias.
     1. Libertação da dependência dos aparelhos eletrônicos.  Somos reféns e escravos do celular, da internet, da televisão, etc. Estes meios de comunicação virtuais são magníficos e realizaram uma revolução sem igual. Mas todos nós constatamos que o mau uso dos  mesmos oferece muita imoralidade, exploração, escravidão, dependência. Quem renuncia se torna livre. Renunciemos  ao que nos escraviza. Quaresma é libertação.
     2. Cortesia no trânsito. A tecnologia virou ídolo. Resolveu grandes problemas e trouxe estresse, depressão, doenças modernas e influenciou a cultura da morte. Penitência aqui significa desfazer-se de veículos desnecessários, usar os meios públicos de transporte, caminhar mais. Todavia a cortesia no trânsito é  uma possibilidade de humanizar, suavizar e solucionar problemas crônicos que nos adoecem, empobrecem socialmente e psicologicamente.
     3. Saber silenciar. O barulho, a agitação, a dissipação nos obrigam a viver uma vida fragmentada, agressiva, doentia. Até o sono, a afetividade, a sexualidade são significativamente  prejudicadas.  Saber parar, saber descansar, saber meditar é um remédio, uma solução prática, uma atitude sábia em favor da saúde, da paz, da boa convivência e da alegria de viver.
     4. Equilibrar família e trabalho. Somos portadores de doenças típicas do mundo  do trabalho. É o que se chama “síndrome da fadiga”, ou seja, esgotamento, apatia, vazio, desânimo, frustração. Sei que esta penitência é muito exigente.  Sem este equilíbrio nós podemos ter sucesso no trabalho e fracasso na família. O lazer é um dever. Sem mudança de hábitos e de mentalidade, seremos arrastados pelo consumismo que nos consome e desestrutura a família. Dá a impressão                 que enlouquecemos.  Que o Espírito  Santo nos ajude a discernir e decidir. Demos primazia à família
     5. Mudar o hábito alimentar e fazer exercícios. Convivemos com a fome, a obesidade e o desperdício. Sem  mudar hábitos alimentares seremos candidatos à internação hospitalar e celebrar com a cultura da morte. A tentação do consumismo e da gula, por outro lado, provocou a ditadura da “magreza que é outro problema grave. Quão sábio é Jesus quando nos ensina o jejum.
     6. Cuidar da mãe terra e da irmã água. O  homem inteligente passou a ser demente pela destruição do meio ambiente. Secas,  queimadas, desmatamentos fazem a gente morrer de sede e morrer afogado nas fúrias do mar. A vida virou cálculo, lucro, dinheiro. Resultado disso tudo é que somos uma geração emocionalmente desequilibrada e culturalmente depredadora. Com o escreve um grande teólogo: “O homem virou satã de si mesmo e da vida”. Temos mil maneiras de salvar a mãe terra e a irmã água e todas as criaturas. Façamos da terra nossa casa comum e o jardim desejado pelo Criador.
     7. A conversão pastoral. Eis uma penitência urgente e necessária. Não podemos  permanecer na mesmice e na acomodação pastoral. O papa Francisco nos convida à conversão pastoral através da Igreja em saída. São muitas as saídas. Primeira:  sair de si e ir ao povo, às  periferias. Segunda: sair de casa e visitar as famílias. Terceira: sair da sacristia e abraçar a realidade sofrida do povo. Quarta: sair da  diocese, da paróquia para outras regiões como por exemplo a Amazônia. Quinta:  sair para outros continentes , é a missão além fronteiras. Sexta: sair da cultura pessoal para a inculturação em outras realidades. Sétima sair da zona de conforto, para a doação de si, o martírio e a própria mort
e, ( Texto de DOM ORLANDO BRANDES, arcebispo de Londrina, extraído do  ESPAÇO ABERTO, página 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 1 de março de 2015).

DOS ARMÁRIOS INESGOTÁVEIS DE MÁRIO

       
  Nos  70 anos da morte de Mário de Andrade, suas realizações ainda dão um banho na cultura de terno e gravata.

   Eu o conheci lendo Macunaíma, ainda na infância, depois viria o filme homônimo de Joaquim Pedro de Andrade com o impagável Grande Otelo interpretando o “herói sem nenhum caráter”. Inesquecível a cena do nascimento dele  e todas as outras homenageando a preguiça, uma célula brasileira do ócio criativo em dimensão cinematográfica.   
   Esta semana,  no dia 25, completaram-se 70 anos da morte do músico, poeta , escritor  e pesquisador paulistano Mário de Andrade ( 1893-1945). Nome reconhecido do Movimento Modernista, ele extrapolou a revolução da linguagem e partiu para uma revolução da cultura nos tempos em que a burocracia imperava como impedimento à criatividade nos órgãos públicos que só tomavam  para si a incumbência de realizar saraus e concertos fechados.
   Em 2013, realizou-se em São Paulo, no Itaú Cultural, uma exposição que reproduzia a ambientação de uma Secretaria da Cultura – cheia de arquivos e gavetas – tomada pela cintilante imaginação de Mário de Andrade, que marcou gestões com uma modernidade de fazer inveja ou servir de modelo a tudo o que veio depois no Brasil, em matéria de combinação de cultura popular e erudita, em pesquisa e produção.
     Foi ele quem criou entre 1935 e 1938 – prestem atenção às datas – uma Biblioteca Circulante que consistia num veículo, criado especialmente pela Ford, para percorrer bairros paulistanos oferecendo livros à população.  Se hoje soa comum levar livros às pessoas  em vez de esperar que elas os procurem, nos anos 30 era inovador e ficam pálidas – ou totalmente vermelhas de vergonha  - as iniciativas dos governos de hoje que mal conseguem manter acervos em condições de conservação  adequadas. Matéria da revista BIBLIO, de 2013, dá conta de inúmeras bibliotecas que foram fechadas ao público em estados como  Rio Grande do Sul, Alagoas e Rio Grande do Norte. Sem conta que, até aquele ano, estados como Tocantins nem sequer contavam com uma  biblioteca.  E estamos no século 21.
   Não contente em divulgar cultura apenas na capital, Mário de Andrade também foi responsável por mapeamento em todo estado, assinalando locais de origem de cultura popular no âmbito da música, dança e outras manifestações. Na exposição, um mapa cravado  de alfinetes dava conta da riqueza que uma iniciativa como essa pode revelar à população dos grandes centros que ignorava a manifestação cultural através de artesanatos, trançados e catiras que hoje estão integradas ao patrimônio e à memória. Os anos 30 ainda eram a década do afrancesamento. Com mocinhas cultas insistindo em martelar Chopin ao piano.  Mário de Andrade proporcionou a São Paulo um choque cultural indígena/caboclo, uma voltagem caipira que influencia a criação até hoje, numa espécie de antropofagia  regional .
   Ele foi o criador da Sociedade de Etnografia e Folclore, enviando pesquisadores ao Nordeste para mapear manifestações culturais, e produziu o anteprojeto do Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (Sphan) , hoje conhecido como instituto através da sigla Iphan. De quebra,  deixou para São Paulo uma Discoteca Municipal, ainda em funcionamento, e a idéia da criação de parques infantis espalhados pela cidade.
   Tudo isso saiu das gavetas na exposição organizada em 2013, através de textos e fotografias que podiam ser manuseados, além de registros em áudio e imagem. Lembro-me da surpresa de meus filhos ao abrirem as gavetinhas e ouvirem vozes vindas de um tempo  que estaria morto, não fosse o registro de Mário, incansável em sua sina de músico, escritor, poeta e pesquisador que abarcava a cultura com todos os sentidos, com a fome de um intelectual sensorial que contrariava a perspectiva de tratar a cultura de terno e gravata.
   Do seu livro Pauliceia Desvairada (1922), o poma Ode ao Burguês mantém a atualidade. “Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,/ O burguês/burguês! / A digestão bem-feita de São Pulo!/O homem-curva! O homem nádegas!O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,/ é sempre um cauteloso  pouco-a-pouco!”
   O insulto era destinado àqueles que se contrariavam com a modernização estética e social . Soa ainda como  manifesto em tempos de políticas retrógradas e governos almofadinhas que não reconhecem o conhecimento e a cultura como os únicos meios de se processar mudanças sem privilégios e sem assistencialismo.  Fazem parte dessa amostragem governos que encolhem verbas para a educação. Burguês é o pensamento que não levanta as nádegas do gabinete e faz política a canetadas. (Texto escrito por CÉLIA MUSILLI celiamusilli@terra.com.br   extraído da FOLHA 2, página 4, espaço CÉLIA MUSILLI, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA,  domingo, 1 de março de 2015)

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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