domingo, 30 de novembro de 2014

GRAMADO, CANELA E CAFÉ


“Lave as mãos antes de sair”: o aviso, num sanitário de Gramado,  sintetiza a limpeza e a graça duma cidade que vive do turismo e vive o turismo
Conta lenda que tudo começou com as hortênsias, plantadas nos jardins, nas floreiras, nas varandas, nas encostas e até nas estradas, emoldurando uma cidade com cultura italialemã, compensando com cremes a friagem da serra, esquentando a alma com chocolates, enchendo os olhos com arquitetura, com comércio e serviços do melhor dos mundos. E com artesanato autêntico, quase -  quase – sem meidinchina.
Uma dúzia de museus numa cidade de 35 mil almas!  Com dois milhões e meio de turistas por ano, o turismo gera 90% da renda da população.  Sempre tem festivais e eventos, ou, como dizem,  Gramado flore o ano inteiro. Você compra pão artesanal aqui, feito na hora diante de você. Ali  toma um fondue caprichado como que. Aqui,  acoli e acolá se come em restaurantes charmosos, passeia-se em parques que parecem tirados  da Europa, as ruas são animadas de dia e agitadas à noitinha
A vizinha Canela é irmã gêmea de Gramado, também com talvez mais arquitetura alpina que muitas cidades dos Alpes. O comércio é fino, da decoração ao atendimento, e as ruas são bem cuidadas, as praças bonitas, os sanitários públicos limpinhos,  e em cada esquina belos bancos de madeira  esperam por conversa
Então volto a Londrina e vou ao recém inaugurado Museu do Café, que  beleza! Quantos objetos e utensílios a cafeicultura gerou ! E, no Cine Café do museu, que belos documentários sobre o ouro-verde! Que depoimentos emocionantes de quem viveu do café, mais que uma cultura, uma paixão! O bazar é uma beleza, com tantas lembranças artesanais para a gente levar,   cafeteiras, louças, bules, coadores de pano como o que coa café na hora ali no Bar Rubiácea
Mas o melhor é sentir no ar o cheirinho de café torrado na hora, em torradeira manual sobre braseiro, depois moído em moinho manual, os turistas fazem fila para cada um girar um pouco a manivela. E quantas geléias e doces e licores de café, além das cervejas com gosto de café, sorvetes e até chicletes de café
Depois saímos do Museu e já embarcamos em ônibus direto para uma fazenda histórica da cafeicultura, com sua sede reformada e decorada tematicamente, as casas da colônia transformadas em chalés para pernoite, e, no terreiro onde se secava café, agora dançam catira e cateretê, entre barracas de artesanato e comidas típicas  do colonato. Porco frigindo no tacho, pão saindo do forno de barro, doces de abóbora e goiaba borbulhando noutros tachos, e, quando sobe a lua, começa a Folia de Reis
Lá pelas tantas bate bumbo, vai começar o batuque, então acordo, estava sonhando no avião de volta para casa. A comissária (era tão melhor quando  eram chamadas de aeromoças)  oferecia bebidas, diz que o café está bom, peço só ág
- Sou de Londrina, café me dá muita lembrança.     ( Texto escrito  pelo escritor DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicado no JORNAL DE LONDRINA  pag 17 domingo, 30 de novembro de 2014).

sábado, 29 de novembro de 2014

LOUCURA



- Louca, eu ?
Quando rouca
De bradar que te amo
pelas ruas vago
Amargando a solidão
Que trago ?
De trago em trago
Te  ausentas  da vida...
Afugentas o amor
em espirais de cigarro..
Até nos passeios desconversas,
dizes palavras dispersas...
Se  me calo entristecida,
aumentas  volume do som do carro.
Em teu egoísmo esbarro.
É tão difícil compreender-te,
fazer-te feliz...
Mesmo assim, sempre te quis,
é   em ti que me amarro.
- Louca, eu ?
Nem tanto !
Não conheces o pranto
que  sufoco escondida...
Se amor é também loucura
sei que meu amor não tem mesmo cura :
- és a razão desta minha vida !
- Louca, eu?
Não...
- Eterna  mente  enlouquecida !  
    Escrito por nossa poetisa  LEONILDA YVONNETI SPINA, no livro de Poemas  GIRASSÓIS,  pag. 109, LONDRINA, 1998 )

O HOMEM DA CAPA



     Era comum, no interior, aparecer pessoas solitárias ou peregrinas que se instalavam na cidade e passavam a fazer parte do cenário. Cada uma apresentava uma característica própria, geralmente inusitada, e os moradores iam se acostumando e acolhendo aqueles indivíduos  tão singulares,   geralmente inofensivo
Lembro-me da Lucinda, do Guaraci,  do  Caveira ...  Porém  um.... o Homem da Capa, me marcou mais, talvez por ser criança, influenciada pelas histórias dos  meus avós, que  contavam do Saci Pererê – esta eles viram pessoalmente dando nó nas crinas do cavalo – da Mula sem  Cabeças e do Lobisomem.

     O Homem da Capa usava uma capa preta, de tecido grosso, daquelas usadas pelos tropeiros, com capuz estando frio ou calor. Dizima que ele virava Lobisomem  às sexta-feira, principalmente no tempo da quaresma. Não importava se era mentira ou verdade, o fato é que o Homem da Capa era o terror da criançada e acabava com qualquer roda de brincadeira.
     Era só alguém gritar: óia o veio  da capa” e a molecada sumia da rua e se enfiava mas casas. Servia até de pretexto  para os pais acalmarem seus filhos e mantê-los quietos, por algum te
     O Homem da Capa tinha nome, morava na cidade, tinha casa e tudo! Até sua mulher  era diferente: branquinha,  cabelos  encaracolados e curtos , pretíssimos , e o rosto empoado de Cashmere –Bouquet completando com um carmim bem vermelho colorindo os lábios finos
     Apesar do mito e do nosso medo infantil, nunca vi nada de anormal vindo dele. A vida continuou, eu cresci,  mudei--me para outra  cidade, esquecendo completamente essa figura misteriosa inventada pela nossa fantasia.
     Outro dia, depois de tanto tempo, ouvi  alguém dizer que o Homem da Capa havia morrido. Num instante, meu coração  se voltou para minha infância fantástica, as brincadeiras, as lendas e superstições  que foram se quebrando e desaparecendo com o passar dos anos.
     Então  imaginei, com certa nostalgia, o velho Lobisomem despedindo-se da lua cheia , numa sexta-feira da quaresma ...dando seu  último uivo! E depois, como acontece com os humildes e puros de coração, sendo carregado, suavemente,  para o céu. ( Texto escrito por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora DA folha. Extraído do especo DEDO DE PROSA, da FOLHA RURAL, publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, Sábado, 29 de Novembro de 2014).

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

VOAR


Voar! Ganhar o céu azul! 
Contemplar, lá do alto,
O que o homem conseguiu construir
E reconhecer que tudo é insignificante,
Diante da imensidão do infinito!...
Sentir mais perto a presença de Deus,
Soberano e onipotente!


Voar! Navegar em nuvens,
Participar das festas de luz da natureza,
Sentindo o quanto são pequenas as criaturas,
Para serem tão orgulhosas e mesquinhas!


Voar! Ganhar asas como os passarinhos!
Deixar aqui na terra as angústias,
Tensões e desamor
E se sentir superior a tudo,
Como se lá do alto
Nada nos pudesse atingir!


Não há maior sentido de liberdade
Que o vôo, rasgando nuvens, beijando o sol
Ou participando do espetáculo fulgurante
Das noites estreladas! ( Extraído do livro de Poemas de LEONILDA IVONNETI SPINA, Londrina 1995)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

NOTÍCIAS DA CHÁCARA

                                                     
PALMEIRA real  não tem a altura da imperial mas também não é fina como palmito. Plantamos meia dúzia rente ao muro da frente, e agora a mais robusta e alta delas soltou seu cacho de flores. Gente pare, plantas   florem,  mas crianças choram, flores perfumam.
BRANQUINHA   sumiu de novo, decerto escapando pelo portão eletrônico quando alguém saiu de carro. Mas desta vez voltou logo. Bravo latiu. Dalva falou  “será que é ela?”, e era, toda serelepe, chispando para dentro quando abri  o portãozinho ,e ela foi  esconder a culpa atrás de um arbusto. Depois chegou-se manhosa, o rabo  mal abanando, até receber o primeiro carinho e tornar-se a Branquinha de sempre , mais saltitante e feliz que bicho de desenho animado. Agora temos de olhar bem quando saímos com carro, para ver se ela não sai atrás, esperta que só. Deve ter saudade da rua, onde viveu antes de ser adotada. E voltou meio marronzinha , demos banho, voltou a ser branquinha.
BRAVO, cada dia mais velho (só ele?), só quer saber de descansar. Passa os dias deitado, mas basta alguém esticar o braço para tocar a campainha , ele já está correndo e latindo até o portão. Deve ter uma sensibilidade auditiva extraordinária. Rojão espouca longe, ele corre para dentro de casa.  Coriscos ainda no horizonte, mal a gente ouve os trovões, mas ele já está de rabo baixo e enfiado debaixo da mesa. Se aqui houvesse terremotos, Bravo  decerto seria o primeiro a saber.
RECEITA de bifão de pernil em chapa grossa. Pode ter até dois dedos de grossura. Deixe esquentar bem a chapa, só então unte com manteiga ou azeite. Deite o bifão, cubra com tampa de panela, fogo médio. Salgue só quando virar, podendo também temperar com pimenta-do-reino ou/ mostarda em grãos moída  ou com o que quiser. Volte a tampar, deixe assar bem, depois é só destampar e comer. Não fica ressecada e gasta-se muito menos gás e tempo  do que se fosse no forno.
ACEROLEIRA, plantada há um ano, já dá sua primeira carga. Tínhamos um pé de acerolas, que cortamos porque ninguém comia nem colhia, e também receosos pelos netinhos, pois os galhos e folhas,quando a gente colhe sem cuidado, dão uma coceira danada nos  braços. Agora colhemos, guardamos na geladeira e vamos fazendo suco com laranja e mamão, que delícia ( mas é preciso coar, a vida é assim, né, a delícia sempre vem  junto com trabalho. E os netos já tem  idade para aceitar o conselho e não trepar na aceroleira, até porque há tempos elegeram o caquizeiro como astronave. A vida muda, a gente muda, ou lembrando John Lennon , que disse  “o sonho acabou”. Pesadelos passam, ora/ tudo é bom, John/ ora tudo melhora “.
LIXO de cozinha, que enterramos aqui e ali como adubo, ressurge como pés de tomate, de abóboras e melancias. As sementes se recusam a morrer. Gente se recusa a não sonhar. Eu sonhava com o dia que a laranjeira-lima  daria suas primeiras frutas. Deu. Agora é só esperar amadurecer. Deus, obrigado.
POEMINHO:   Quem planta pode esperar / quem sonha pode alcançar / esperança é fruta / que se come  desde já.      ( Escrito por DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br  publicado no JORNAL DE LONDRINA, domingo, 23 de novembro de 2014)          

domingo, 16 de novembro de 2014

O POBRE GARNISÉ DO PADRE CHICO

     Todos os dias após o almoço  eu descia até a horta para beber água geladinha  de uma mina que ficava perto da casa onde morávamos. Esta mina d’água brotava em meio a uma pequena vegetação de chão arenoso. O fio d’água corria mansa e cristalinamente até um tubo de concreto enterrado no chão onde era armazenada.
    Esta mina abastecia  também um lago construído abaixo para aproveitar este recurso divino! Depois de cheio, o lago movimentava uma pequena bomba d’água que mandava o líquido precioso até nossa caixa  distante uns bons metros acima. Que espetáculo  ver a roda d’água e a sincronia de movimentos de suas peças bombeando água límpida para nosso reservatório.
     Bebíamos todos os dias água da mina! Tomávamos banho com água da mina – que luxo! Neste local já tinha escondido a minha caneca de alumínio, indispensável para apreciar esta maravilha  e sentir o líquido geladinho vertendo da terra!
     No pequeno lago que se formava abaixo da mina, criávamos gansos imperiais e marrecos. Os gansos eram lindos: plumagem  brilhante  e colorida e jeito elegante de caminhar. Enchia os olhos ver aquelas belas  aves flutuando na água – muitas delas também eram servidas como delicioso almoço aos domingos!  Uma iguaria!!
     Eu cuidava da horta dos padres, afinal grande número de seminaristas requeria uma alimentação e tanto Plantava de um tudo: alface, couve, beterraba, nabo, rúcula, alho, pepino, cebola, acelga, rabanete... o que ia para a nossa mesa era retirado da terra sem custo algum a não ser nosso trabalho!
     A parreira de maracujá era linda!Parecia uma árvore de Natal quando os frutos ficavam amarelinhos e caíam ao chão. Que bela  colheita fazíamos todos os dias! Mas... (tem sempre um mas) quando  chegava na horta para iniciar meu período de trabalho, me deparava com uma cena que me irritava demasiadamente:  algumas de nossas aves pulavam a cerca improvisada e comiam parte da plantação de hortaliças. O trabalho de meses era devorado em instantes  pelo apetite voraz dos bichos !  Comiam principalmente as mudas novas que deveriam ser transplantadas. Para espantá-las , gesticulava, gritava o famoso “xô” , jogava pedaços de galhos ou até o que estava à disposição, com o intento de vê-las  longe de minha horta.
     Numa dessas invasões  notei que havia sempre um em especial que parecia líder do bando de “ladrões”! Era um garnisé que um dos padres havia ganhado de uma senhora sexagenária. Vivia  como rei entre as fêmeas e demais aves. E o que era para ser apenas uma medida de afugentamento   acabou se tornando uma “tragédia”:  Um pedaço de tijolo arremessado a esmo  foi um golpe certeiro no galinho do padre Chico.
     Pobre galináceo! Tombou desfalecido! Não havia o que fazer! Desesperado, ao vê-lo inerte e constatando o óbito, tratei logo de providenciar o féretro bem longe da horta com direito a cruz de madeira e oração em latim: “ requiescant  in pace, amém”! – que Deus me perdoe por isso!!!
     Até hoje padre Chico não sabe qual foi o paradeiro de seu galinho de estimação. Sempre que ele descia na horta para ver nosso trabalho, perguntava se havia visto o seu “penoso”. Minha voz saía meio gaguejante e respondia que havia dias que não o via! E assim foi o triste fim desta pobre “alma” que furtivamente comia nossas plantas! Espero que o padre Chico, ao ler esta história, me perdoe pelo “crime”! Amém!  ( Texto escrito por VALDINEI  FRANCO. Leitor da FOLHA. Extraído da FOLHA RURAL, espaço  DEDO DE PROSA, publicado na FOLHA RURAL, FOLHA DE LONDRINA, sábado, 15 de Novembro de 2014).

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

TREVO DE QUATRO FOLHAs


O amor
é o trevo de quatro folhas
que busco em meu jardim.
Se encontrá-lo
irei colhê-lo só para mim!
Cansei-me de procurá-lo...

Será que me atrevo
a recorrer
à Lâmpada de Aladim?

( Do livro de poemas Rosa – dos – Ventos
LEONILDA YVONNETI SPINA )
                        

APRENDIZ

                             Compreendi
que para ser feliz
é preciso semear a felicidade,
pois tornei-me um aprendiz
da vida,
essa Faculdade
onde se passa sem vestibular,
porém... nos aprova
ou reprova,
conforme a saibamos
enfrentar. ( Do livro Rosa –dos – Ventos, da poetisa
LEONILDA YVONNETI SPINA-



VEM

             

Vem.
Mas não tragas o pó de outras andanças.
Não me desperte mortas esperanças.
Vem desarmado, solto, livre
Como pássaro, romântico trovador.
Traz-me tua voz, teu canto, teu calor.


Vem fatigado, descansar em novos prados,
Vem faminto, desprotegido, em busca de afeto.
Mas traze em tua mochila punhados de sonhos.
Nos lábios o mel que me adoçará o riso,
nos braços a quentura de muitos sóis
Nos olhos a chama de mil velas.


Vem...
E me olha me toca me abraça.
Ansioso me enlaça, faze-me estremecer.


Vem...
E te entrega por inteiro, no fluir das horas.
Não te inquietes,  não te preocupes em ir embora.
Vive o agora, o momento que breve passa...


Ou então... Não venhas!
Que não te quero parte, metade.
Não te quero migalha...
Quero um amor...  de  verdade!

(Do livro de poemas Veredas da Alma - da poetisa  LEONILDA YVONNETI SPINA. Londrina,2005.



segunda-feira, 10 de novembro de 2014

VALE A PENA

          
     Pena é uma de minhas palavras preferidas. Há a pena literatura; a pena punição; a  pena sofrimento;  a pena dó  e compaixão; a pena lástima ou desgosto; o peso-pena; a pena clemência; a pena esforço; o travesseiro de penas; a penalidade máxima; o êxito obtido a duras penas. Nunca se dirá pena com um sentido apenas.
     Mas a pena que entrou pela janela, enquanto eu fazia minhas orações matinais, era só uma pena de pássaro. Veio voando com o vento. Professor Google me disse que a palavra pena tem origem no latim poena, que significa punição, castigo. O termo latino deriva do grego poine, que por sua vez viria do sânscrito punya, com sentido de puro, limpo. Daí a relação que se faz entre pena e a purgação dos erros, crimes, pecados. A minha pena ficou ali no chão da sala, enquanto eu rezava. Camões gostava de usar a palavra pena. “Que a pena que com causa se padece,/ a causa tira o sentimento dela;/ mas muito dói a que se não merece”, diz uma de suas elegias. Mas ele não apenas falou com a pena, ele também sofreu. Pena do amor. Pena do exílio. Pena do naufrágio. Pena da miséria. Vida plena de penas.
     Na noite passada, eu estava voltando para casa quando vi um homem deitado na esquina da  Rua La Paz. Compadeci-me do homem e lhe dei uma nota de vinte reais. Ele aceitou o dinheiro, mas disse: “Eu tenho fome, preciso de comida, faz três dias que não como nada”.  Dez minutos depois eu lhe dei um prato de comida quente.
     Ele se chama Luís. Quando  trocamos um aperto de mão, disse: “ Eu hoje estou assim sujo, mas aos poucos vou me limpando”. Punyo. A pena no sentido purgação, purificação, limpeza. O  xará de Camões me olhou com os olhos do fundo do abismo e me fez lembrar a oração de Salve Rainha: “A vós bradamos  os degradados filhos de Eva/ A vós suspiramos, gemendo e chorando  neste vale de lágrimas!.
     O jornal anunciou aumento no número de miseráveis no Brasil – e Deus anda encontrando maneiras diferentes de falar comigo.  ( Texto escrito por  PAULO BRIGUET  WWW.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra  publicado pelo JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira, 10 de Novembro de 2014, espaço DIA DE CRÔNICA

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

“’TRAZ A PESSOA AMADA EM UM DIA’


     Domingo de manhã.  Minha mulher cantarolava feito um sabiá na cozinha. E na mesa, tudo preparado para mim... As delícias de ser casado... Com o eu a amava! Espreguicei-me e peguei o jornal. Primeiro vi as tirinhas, enquanto enchia a minha xícara de estimação com o delicioso café, passado do jeitinho que eu gostava. Depois de um tempo lendo, uma notícia, quase uma nota de rodapé, chamou  a minha atenção.
     O primeiro que vi foi a foto de um homem transtornado. Era  acusado de ter agredido uma mulher e ateado fogo à sua casa. O detalhe curioso era a explicação do ato. A vítima teria aplicado o golpe da vidente para ficar com todas as economias do homem. O caso é que ele amava uma mulher em segredo e queria que ela se apaixonasse por ele rápido. “Madame Samantha” prometia trazer a pessoa amada em apenas um dia!
     Mas passaram-se meses... o homem estava obcecado. Tanto que não viu todo o seu dinheiro, moto, carro e um terreno ir parar nas espertas mãos de Madame Samantha. Finalmente, depois de um ano sem resultados, o coitado surtou: acusou  a vidente de ser uma fraude e pediu todo o dinheiro de volta  Madame,  falsamente ofendida, não quis devolver nada, claro. Daí, tudo virou uma tremenda briga.  O homem tentou agarrar a vidente pelo pescoço, ela caiu e se machucou gravemente.  Ele, não contente com isso, aproveitou todos os véus, cortinas e penduricalhos do “consultório! Para começar um incêndio. Vizinhos chamaram a polícia e o homem acabou preso. A vidente, depois que se recuperasse dos machucados, também  seria investigada.
     Fiquei ali ,tentando entender a cabeça de um homem que pretendia que alguém o amasse na marra, pagando para que isso acontecesse... O que podia dar errado? Pois tudo!...Feliz ou infelizmente,  os sentimentos são indomáveis!

     Então, escutei a voz da minha esposa. Que ainda cantarolava pelos quartos, e olhei para a mesa que ela tinha arrumado para mim tão carinhosamente. Sim, ela me amava. Eu sabia, e não tinha oferecido dinheiro nenhum para   ninguém convencê-la a gostar de mim. Nesse momento, uma lufada de vento entrou pela janela e desarrumou as folhas de jornal. Quando parou, vi uma das frases clássicas de celebridades,  quando se tornam famosas e ricas demais e começam a sair dos trilhos:” O dinheiro compra tudo, menos o amor”. E nesse caso, acho que a frase poderia ser um pouco diferente: “O dinheiro traz tudo, menos o amor de alguém que não te ama, seja em um dia ou em um milhão de anos.! ( Texto escrito por DOMINGOS SANTOS, professor na Fundação Cultural de Ibiporã, extraída do espaço  CRÕNICAS,  no jornal FOLHA DE LONDRINA, FOLHA 2, quarta-feira, 5 de Novembro de 20l4.)

NA IGNORÂNCIA OU POR IGNORÂNCIA?


     Em  seu livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles diferencia o agir na ignorância do agir por ignorância. Segundo o texto, uma pessoa que age por ignorância, age sem ter conhecimento das conseqüências  de seus atos e, muitas vezes, age sem mesmo saber o que lhe motiva as ações. Já o agir na ignorância, é compreendido como algo proposital, uma ação da qual a pessoa tinha consciência das possíveis  conseqüências  de seus atos.
     Por exemplo, Londrina já foi um grande polo cafeeiro. Imaginemos um trabalhador rural  contratado para borrifar pesticida no cafezal. Os pesticidas são tóxicos, no entanto, muitas vezes, o trabalhador não tem essa informação. Assim, o trabalhador rural (se não souber dos riscos dos pesticidas) age por ignorância, pois não tem conhecimento daquilo que faz e suas possíveis conseqüências.
     Já no caso do proprietário que contratou o trabalhador para borrifar o pesticida, é provável que ele conheça  os danos que os pesticidas fazem à saúde humana e ao meio ambiente. Se ele escolhe utilizar o produto sem oferecer proteção adequada aos funcionários, age na ignorância, pois conhece os riscos envolvidos e, mesmo assim, escolheu fazê-lo.
     Nos últimos dias, nortistas e nordestinos vêm sofrendo uma onda de ataques xenofóbicos, principalmente da população do Sul do País e dos paulistas. Pois bem, é de se questionar:  esses xenófobos agem por ignorância ou na ignorância?   Nesses casos, acredito que  a maioria das pessoas age tanto na ignorância quanto por ignorância.
     Por ignorância porque desconhecem a própria realidade de seu país. Desconhecem as condições de vida da população nortista e nordestina. Não conhecem a importância dos programas governamentais  para oferecer o mínimo de condições dignas para aquelas pessoas. Assim, agem por ignorância, pois seus ódios não são apoiados em fatos reais. Ao mesmo tempo, agem na ignorância por saberem que seus atos, seus preconceitos, podem prejudicar aquelas pessoas a quem tal ódio é dirigido.
     Porém, é difícil analisar, muitas vezes, se a pessoa agiu por  ignorância ou na ignorância. A pessoa que transa sem usar camisinha o faz na ignorância ou por ignorância? Quem rouba energia  elétrica ou água  o faz por ignorância ou na ignorância? Quem utiliza softwares pirateados em seu computador  o faz por ignorância ou na ignorância?
     Para cada situação, faz-se necessário considerar o nível sociocultural dos envolvidos, sua escolaridade, acesso às informações,  conhecimento das conseqüências que suas  atitudes podem acarretar, enfim, há uma quantidade grande de variáveis que precisa ser analisada. Nem sempre é fácil concluir-se  se a pessoa agiu na ignorância ou por ignorâncias. Em questões envolvendo ética, a resposta nunca é preta ou branca, há uma infinidade de matizes de cinza que precisam sem analisados. ( Texto escrito por ANDERSON CHAGAS DE OLIVEIRA, geógrafo, mestre em Saúde Pública e graduando em Psicologia pela Unopar,  extraído do espaço  ponto de vista, publicado no Jornal de Londrina, quarta-feira, 5 de Novembro de 2014).                                

      

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
--------
Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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