quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

BIOMETRIA DE RECÉM-NASCIDOS SERÁ OBRIGATÓRIA

Ministério da saúde irá definir as normas de procedimentos que terão que ser adotados nas maternidades do Paí

   Imagem das mãos da criança irão constar na DECLARAÇÃO NASCIDOS VIVOS e terão que ser armazenadas no cartório em que o bebê foi registrado 

   O Ministério da Saúde publicou no dia cinco de fevereiro portaria que torna obrigatória a identificação palmar de todos os recém-nascidos no Brasil, que deverá ser feita junto com a identificação biométrica da mãe. As imagens das mãos das crianças irão constar na DNV (Declaração Nascidos Vivos). Elas terão que ser armazenadas no cartório que o bebê foi registrado. 
   As informações farão parte da Base de Dados da Identificação Civil Nacional. “A mudança é um passo importante a fim de começarmos a coleta de dados para a INC desde o nascimento, ampliando a nossa base de dados”, destacou Maria Tereza Uille, conselheira do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e membro do comitê gestor do ICN. O CNJ foi quem solicitou a alteração. Lançado no início de fevereiro pelo governo federal, o documento nacional de identidade eletrônico tem como principal dado em sua base a biometria da população. 
   A nova regra para os nascimentos não é imediata e será a médio prazo. As secretarias de Vigilância em Saúde e de Atenção à Saúde terão 90 dias para definir as normas de procedimentos que terão que ser adotados nas maternidades do País. Na Maternidade Lucília Ballalai, no centro de Londrina, as crianças já têm alguns direitos garantidos após o nascimento, com as certidões emitidas no local, em parceria com um cartório. A partir da entrega dos documentos necessário e da DNV, os servidores podem produzir o registro. 
   “Assim está garantindo vários direitos sociais do bebê e é uma maneira de evitar a adoção ilegal. A criança pode ser registrada somente no nome da mãe, caso não seja conhecido o pai. Se ela for menor de 18 anos é preciso apresentar os documentos dos pais dela. Já se o pai tiver menos de 16 anos é necessária uma autorização da Justiça”, explica Eduardo Cristofoli, coordenador médico da maternidade. Se as famílias ainda quiserem, desde que portando o que é exigido, ainda pode ser confeccionado o CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) na instituição de nascimento. 

   REGISTRO DO PÉ
Ainda não há informações sobre possíveis mudanças que a maternidade terá que passar com a nova determinação do Ministério da Saúde e a expectativa é que em breve elas sejam conhecidas, para que possam ser implantadas. “Hoje, quando o bebê nasce, é retirada uma identificação do pé, que é colocado em um documento e fica na folha de sala de parto, como se fosse a impressão digital. Com esta biometria palmar, vai acrescentar no histórico da criança e ser mais uma forma de garantia, com um dado legal”, apontou o coordenador médico.
   Por mês, a média é de 260 nascimentos na maternidade de Londrina. Quem entrou para esta estatística recentemente foi Taylor, primeiro filho de uma adolescente de 17 anos. Atenta aos direitos do bebê, ela aproveitou para registrá-lo na maternidade. Ainda sem muito conhecimento da nova portaria, ela gostou da decisão de ser informada. “É positivo termos o registro de nascimento na maternidade, porque é essencial para a criança. Agora, somando isso, será uma maneira extra de trazer benefícios para todos, seja mãe ou o filho”, ressaltou. 

   DESAPARECIMETOS
   Uma das justificativas da CNJ para pedir a identificação palmar é a possibilidade dela ajudar em casos de desaparecimento de crianças como forma de prevenção, pois a informação é disponibilizada eletronicamente para todos os órgãos nacionais. Para a delegada-chefe do Sicride(Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) do Paraná, Iara Dechiche, o serviço virá para somar no trabalho que é realizado. “Para nós será uma medida a longo prazo e boa. Muitos casos de desaparecimentos ou em que dizem que a criança desapareceu serão mais fáceis de identificar”, elencou.
   Segundo ela, o órgão, ligado à Polícia Civil, já vem atuando de forma educativa para a conscientização das famílias sobre a necessidade da confecção da carteira de identidade para a criança. “Vamos nas escolas e distribuímos cartilhas para os pais e para os filhos incentivando para que façam a carteira de identidade. É um documento que dá segurança, pois não tem como a pessoa dizer que não é ela, diferente da certidão de nascimento.”
   O Sicride está com seis casos abertos recentemente em investigações. Ao todo, são 32 casos, somando aqueles que continuam em aberto desde o início da década 2000. A delegada informa que têm surgido casos de desaparecimento de crianças na faixa etária de 11 anos. “São meninos e meninas que saem da escola e vão para a casa do amigo e não para casa. Também tem aumentado o número de crianças de abrigo que fogem, muitas para consumir drogas, infelizmente”, lamentou Dechiche. “Temos poucas situações de rapto ou sequestro no Estado”, acrescentou. 

   ETAPAS
   IDENTIFICAÇÃO BIOMÉTRICA DOS RECÉM-NASCIDOS 

1) Logo após o parto, ainda na maternidade, são coletadas a impressão palmar do bebê e a impressão digital da mãe para a DNV (Declaração de Nascidos Vivos) 

2) A DNV é levada para o cartório civil, onde se registra o nome da criança e demais informações que geram a Certidão de Nascimento. 

3) O cartório digitaliza os dados biométricos para criar o Documento Nacional de Identidade, que será usado por toda a vida. 
4) Os dados biométricos da criança e de sua mãe ficam disponíveis digitalmente na Base de Dados de Identificação Nacional. Folha Arte. FONTE: PEDRO MARCONI – Reportagem Local, página 6, caderno FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

HORÁRIO DE VERÃO: AINDA É CEDO PARA PENSAR EM ABOLIR


   O horário de verão chegou ao fim no último domingo (18) com especialistas da área de energia questionando sobre a sua eficácia, hoje, no Brasil. A dúvida é econômica: vale a pena manter o mecanismo para poupar energia elétrica. Há três meses, a população de dez Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal adiantaram o relógio em uma hora. No último fim de semana, os “ponteiros” voltaram-se ao seu lugar. Para quem sofre para acordar cedo, a notícia é uma festa. Ao contrário de quem gosta de aproveitar a luz do dia até mais tarde. Nos primeiros dias, há sempre um desconforto, pois o organismo tem que se acostumar. Mas vale o esforço no sentido de aliviar a demanda por energia no horário de pico, entre 18 e 21 horas. Segundo balanço do Operador Nacional do Sistema Elétrico, em 2013, o Brasil economizou R$ 405 milhões com o horário de verão ou 2.565 megawats (MW). O que está preocupando os especialistas é que a economia vem caindo ano a ano. Em 2014, baixou para R$ 278 milhões (2.035MW) e, em 2015 caiu ainda mais, para R$ 162 milhões. Em 2016, o valor sofreu uma queda, para R$ 147,5 milhões. O vilão, segundo os especialistas, é o aparelho de ar-condicionado, que teve o uso intensificado para aplacar o calor. Essa situação levou o governo federal a sinalizar com a possibilidade de abolir o horário de verão. Por enquanto, ele fica. Será apenas abreviado em 15 dias no período 2018/2019, a pedido do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para facilitar a apuração dos votos das eleições. Com isso, o horário de verão de 2018 passará a ser adotado no primeiro domingo de novembro. No Paraná, de novembro a fevereiro, houve redução de 0,5% do consumo de energia. A descontinuação do horário tem que ser muito avaliada. O drama da crise hídrica e os problemas ocasionado pelos apagões (constantes na década de 1990 e que persistiram, mesmo em menor escala, nas primeiras décadas do ano 2000) ainda persistem na memória. O Brasil precisa investir em fontes alternativas de energia, tem problemas estruturais e uma população que precisa ser sensibilizada ainda mais sobre economia de água e de energia elétrica. (FONTE: FOLHA OPINIÃO, opiniao@folhadelodrina.com.br página 2, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

domingo, 18 de fevereiro de 2018

CONVERSA DE VÉIO e RECICLANDO (coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI)


   Conversa de dois idosos na academia ao ar livre: 
   - Então, de novo aqui no estica-véio...
   -Pois é, enquanto a danada não chama, a gente vai ouvindo os sabiás. E o carnaval, pulou onde?
   -Na cama, na cadeira de balanço e na rede. Filha diz que cadeira de balanço é coisa obsoleta, falei então me pega todo dia no colo e balança, aí pode pinchar fora a cadeira. 
   - E obsoleto ficou o telefone fixo, javiu? Menino, eu via meu pai esperar dois dias para fazer um interurbano...
   Palavra que nem existe mais. Bisnetinha diz que com o tal uatsap a gente pode falar com Pequim de graça, mas eu não tenho nadinha pra falar com Pequim. Queria era falar umas coisinhas para uns e outros da política assim olho no olho, sacumé?
   Sei, mas eu tô me acostumando com o uatsap, mesmo sem entender como é que uma coisa funciona sem custo. Meu medo é que, quando estiver entendo direito, inventam um outro trem, é tanta novidade tão ligeiro que...dá medo. Nem enterram gente mais, só cremam. Aliás, lembrei de creme. Levei o bisneto na sorveteria, tinha sorvete de tudo quanto é tipo, menos de creme, perguntei porque, disseram ah, ninguém mais pede creme...
   - Mas daqui a pouco o creme volta com tudo, que nem lomplei, que quase acabou e agora é moda. Se eu tivesse menos de setenta, abria a Sorveteria da Saudade: só pistache, creme, morango, coco e amendoim. 
   - Amendoim não posso comer, minha véia reclama que eu fico muito assanhado...
    Devia ter me avisado que era pra dar risada  Meu genro é assim, conta piada tão sem graça que só ele ri.
   - Já o meu conta piada que ninguém entende. 
   - Meu neto contou esta: qual a doença que o pneu mais pega? Pneumonia. 
   -Que matou o Tico, vinha aqui todo dia, dizia que estava ótimo e...
   esticou de vez. E a gente aqui esticando a aposentadoria para chegar no fim do mês. 
   -Ganhando duas vezes menos que o tal auxílio-moradia de juiz. Será que a gente vai embora sem ver o Brasil criar vergonha?
   Pois é, no Brasil se cria desde zebu até avestruz, só não se cria vergonha. 
   - Porque o povo é muito pamonha.
   - Minha vó já dizia que falta berço, escola, terço e cachola.
   - Mas meu bisneto outro dia me pediu a bênção, pode acreditar. Chegou de mansinho e: a bênção, vô. Até marejou a vista. Aí ele piscou: amanhã é meu aniversário, me dá um tablete de presente? Dei um tablete de chocolate. Tô ficando esperto. 
   - E ele gostou? 
   - Me deu um pente de presente. 
   - Mas você é careca!
   - Entendeu? 

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   NOTÍCIA DA CHÁCARA 
     RECICLANDO 

   Seu nome é Marco Antônio Xavier, e a profissão ele fala de boca cheia: reciclador. Passa pegando os papéis, plásticos e vidros, e toma o suco com que retribuímos a lição que nos dá: leva o lixo, deixa alegria. Sempre sorrindo, sem reclamar, com disposição para tudo resolver de algum jeito inventivo. Leva mesmo o que não tem valor para reciclagem, encaminha para alguém que de algum jeito usará, com cabos de vassoura que vai enfiando num tubo “pra não atravancar o carrinho”. 
   Aliás, carrinho com estrutura metálica e guarda-sol, “pra trabalhar direitinho”. Exemplo a ser seguido num país onde tanta coisa mal funciona e – conceito a ser reciclado – o trabalho ainda é visto como castigo. Mas os catadores reciclam o futuro todo dia. (FONTE: textos escritos por DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br página 3, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, 17 e 18 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

PESSOAS QUE SÓ SE RELACIONAM COM MÁQUINAS


   O fenômeno cocooning – que significa “aconchego do casulo” – aponta um tipo de comportamento no mundo contemporâneo. Se parece poético falar de uma pessoa excessivamente centrada em si mesma – que tem pouco ou nenhum contato social, preferindo viver em casa – por outro lado, há quem aponte que isso pode gerar comportamentos esquizoides, levando à angústia, à frustração e ao medo de enfrentar a realidade. 
   O Japão, um dos países mais tecnológicos do mundo, criou outro termo para essas pessoas, geralmente trancada com seus computadores, apontando para uma mudança de comportamento que leva a relações extremas entre homens e máquina, como o abandono completo das relações sociais e de grupo. Lá, esses isolados se chamam Hikikomori, termo para o qual os britânicos também já têm uma expressão própria: NEET. 
   Os japoneses estão preocupados com o que já consideram um síndrome: o número crescente de pessoas, sobretudo do sexo masculino, entre 15 e 39 anos, que se relacionam basicamente com o mundo digital. Quem criou o termo foi o psicólogo japonês Saito Tamaki, nos anos 1990, ao observar que no Japão cerca de um milhão de jovens do sexo masculino sofre desse distúrbio que leva à extrema exclusão e isolamento social.
   Ao traçar o perfil dessas pessoas, notou-se que a maioria vive em ambiente de muito conforto e tecnologia, entre seus interesses marcantes estão os mangas, animes e videogames, embora isso não seja uma regra. Mas vivendo numa concha, eles não trocam esse tipo de entretenimento por coisas que seriam naturais para outras gerações: como a roda de amigos ou reuniões familiares. Essas pessoas quase sempre chegam também aos 40 anos dependendo financeiramente dos pais, mas o que pode parecer “vagabundagem” é, sobretudo, o medo de enfrentar o mundo. Na verdade, com o isolamento, eles têm um medo cada vez maior de contatos. Geralmente não param em empregos e desenvolvem baixa autoestima, vivendo de forma claustrofóbica, sem ligar muito para si mesmos ou para sua imagem, chegando a dispensar cuidados com a higiene. Afinal, tudo passa a não ter muita importância. 
   O serviço de saúde pública do Japão chegou a criar a figura das assistentes sociais que ajudam no tratamento do Hikikomori, uma espécie de confraria de “super irmãs”, formada por pessoas do sexo feminino que telefonam e escrevem cartas aos isolados, convidando-os para ir ao cinema, shoppings, festas, enfim, os estimulam a ter vida social. 
   Claro que o extremo isolamento não tem nada a ver com o fato da necessidade de algumas pessoas ficarem sozinhas para se dedicar a coisas de seu interesse. Em outra direção, existem pesquisas que afirmam que sem isolamento circunstancial, as pessoas não criam. Escritores, cientistas, intelectuais e artistas em geral, às vezes precisam de reclusão para desenvolver um trabalho, que não combina com um mundo ruidoso no qual a atenção é dispersada constantemente. É necessário um bom senso para perceber as diferenças e não sair tachando um comportamento singular como isolamento doentio. Mas em sociedades cada vez mais adaptadas a tecnologias, na qual sonda-se a possibilidade até da imortalidade com o implante de chips que clonam consciências, transportando-as para outros corpos – como na série “Altered Carbon”, literalmente “caderno alterado” – nada mais parece impossível, e nasce um estranho mundo novo que vai muito além das especulações de Aldous Huxley. Mas essa é outra história que vou contar outro dia. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com, jornalista em Londrina e escritora, caderno FOLHA 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 17 e 18 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O PODER DO JORNALISMO CONTRA AS FAKE NEWS


   As gafes se acumulam e já são cometidas por diversas personalidades, que compartilham em suas redes sociais as famosas fake news – notícias fantasiosas que enganam por seu caráter de veracidade e construção realizada conforme padrões jornalísticos – impactando milhares de pessoas. Algumas dessas notícias destoam por seu aspecto absurdo, listando fatos quase impossíveis de serem reais. Outras fantasiam sobre o cenário atual para causar reações, seja estranhamento e potencial revolta sobre o fato, ou ainda comoção, tristeza e empatia. Em qualquer uma dessas formas, elas são uma versão reformulada da verdade, uma contraversão sobre o papel do jornalismo que busca, acima de tudo, representar o real. 
   As mídias sociais viralizam o conteúdo. Sem fazer uma segunda checagem, os usuários apertam sem cerimônia o botão “compartilhar”, fazendo com que informações inverídicas tenham o poder de percorrer Estados, países e continentes. Num ambiente no qual o debate sobre o que é importante poderia ser ampliado, ele passa a ser distorcido. Uma versão moderna do uso da mídia para vigiar o meio, se utilizarmos como base as antigas teorias da comunicação. 
   Isso porque se, no início da utilização da internet as fake news que mais chamavam atenção eram as dezenas de lamentações sobre a morte de artistas que se encontravam vivos, hoje, elas têm impactado discussões muito mais importantes, como aconteceu com as eleições dos Estados Unidos e o Brexit (processo de saída do Reino Unido da União Européia). 
   Em ano de eleições no Brasil, onde o cenário comove o público por seu ineditismo, espera-se que as fake news sejam recursos utilizados como massa de manobra para conquistar votos e propagar opiniões com bases infundadas. A previsão é que sites “duvidosos” publiquem informações, que depois serão distribuídas pelo Facebook, Twitter e WhatsApp, como estratégia de manipulação para servir certos interesses políticos e econômicos. O Senado já se atentou a isso e propôs um projeto de lei que pretende punir com até três anos de detenção aqueles que fizerem a divulgação das fake news. Pode ser um começo, mas em um país onde a impunidade e a injustiça parecem fazer parte de seu DNA, não se sabe até qual ponto o perigo de reclusão será uma barreira para esses atos. Entretanto, o que poucos lembram é que a prática tem um oponente tão semelhante em aspecto, mas tão diferente em sua dinâmica: o jornalismo de verdade. 
   Hoje, também disponíveis em sua maioria pela internet, os jornais e os portais noticiosos são os grandes combatentes, das fake news. Isso se inicia pela própria característica do negócio, que é relatar o que acontece no mundo, de forma ética e imparcial. Se antes a quantidade de fatos e temas era restrito pelo espaço (quando o jornalista vivia mercê do tamanho de laudas para contar as histórias), agora é possível escrever sobre praticamente tudo no ambiente digital. Essa dinâmica pode ter alterado muito a forma de noticiar, mas não afetou de maneira alguma a essência da comunicação, que é trazer um apanhado do que acontece de verdade no mundo. 
   Teorias da comunicação, formas objetivas de comunicar, importância da ética e de mostrar múltiplas visões sobre o mesmo tema: durante o ensino superior, o jornalista é munido com informações para uma prática que entenda como seu papel é importante para a sociedade como um todo. Além disso, ele recebe instruções para entender como o trabalho mal realizado pode ter consequências catastróficas. Matérias sensacionalistas, mal apuradas e tendenciosas são apenas alguns desses exemplos. Nesse cenário, os meios de comunicação profissionais despontam como o relógio para visualizar se o que está circulando nas mídias sociais é verdadeiro. Pautados em princípios como a checagem das informações, eles voltaram a ser reconhecidos como fontes críveis para entender a realidade. Conforme pesquisa realizada pelas universidades de Darthmouth, Princeton e Exeter, apesar de um em cada quatro norte-americanos terem tido contando com alguma fake news durante as últimas eleições presidenciais, os eleitores também continuavam se informando com frequência pelos veículos de imprensa. Ou seja, o jornalismo sério passa a reforçar seu papel e sua importância na sociedade como fonte segura para ficar a par do que acontece pelo mundo. 
   A guerra contra as fake news ainda está no começo, principalmente quando o termo é utilizado por muita gente quando algo que afronta suas convicções é publicado – mesmo que seja verdade. Google e Facebook já estão nessa batalha, trabalhando com códigos que penalizam esse tipo de conteúdo. Entretanto, o jornalismo será uma arma imprescindível nesse processo, atuando com responsabilidade para que atinja seus grandes objetivos: informar e levar seu público a raciona sobre os eventos, criando suas próprias percepções sobre a realidade. Tendo como base um único ingrediente: a verdade. (FONTE: Texto escrito por LUCIANA SÁLVARO, jornalista e assessora de imprensa na Central Press, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opiniao@folhadelondrina.com.br).

SAÚDE ALERTA SOBRE CONTATO COM MORCEGOS


   Em 2018, secretaria de Maringá encaminhou 31 morcegos para exame para confirmar diagnóstico de raiva 

   Maringá – A Secretaria de Saúde de Maringá (Noroeste) orienta a população sobre o perigo do contato com morcegos. Em 2018, segundo informações da prefeitura, foram encaminhados 31 morcegos para o Laboratório Central do Paraná, em Curitiba, para fazer exame para confirmar o diagnóstico de raiva (doença infecciosa viral que pode ser fatal). Destes, apenas um animal teve diagnóstico positivo do vírus. Em 2017 foram recolhidos 237 morcegos e dois estavam contaminados. 
   O diretor de Vigilância em Saúde, Eduardo Alcântara, explica que a doença é controlada no Paraná e que é preciso apenas cuidado por parte da população. “O ideal é manter os animais, cães e gatos, vacinados contra a raiva”, diz, ressaltando que, ao ver morcegos em casa, a pessoa deve comunicar a ouvidoria (156) para o recolhimento, evitando tocar o mamífero com as mãos. 
   A vacinação nos animais domésticos previne a transmissão da doença, além de ser obrigatória quando o animal precisa viajar de um Estado para o outro. O vírus circula de morcego para morcego e pode ser transmitido no contanto com humanos ou animais domésticos. “As pessoas não devem tocar nos morcegos e também evitar que cães e gatos tenham contato”, comenta Alcântara. 
   Se ainda assim houve  r o contato, o morcego será recolhido para constatar a presença do vírus da raiva. O animal doméstico será observado e receberá uma dose da vacina para reforçar a prevenção. Caso o cão ou gato não seja vacinado, tomará três doses. Enquanto são observados, os donos que suspeitarem ter sido contaminados com o vírus, devem ir à Sala de Vacinas da Secretaria de Saúde para iniciar o esquema de vacinação. 

   ESPÉCIES 

   Existem três tipos de morcegos: insetívoros (que se alimentam de insetos), sendo esses os mais comuns em Maringá. Em 2017, foram encontrados 150 da espécie, dos 237 morcegos recolhidos. Os frugívoros (alimentam-se de frutas), pouco encontrados, e hematófagos (alimentam-se de sangue), não encontrados em Maringá. 
   Os morcegos são essenciais para o meio ambiente e protegidos pela legislação ambiental. “O fato de alguns apresentarem diagnóstico positivo de raiva não nos dá o direitos de exterminá-los. Eles são importantes para controle de alguns insetos, são semeadores, entre outras responsabilidades, que devem ser respeitadas”, define Alcântara. 
   Depois do primeiro morcego encontrado este ano, na Vila Operária, em 1º de fevereiro, os agentes de saúde ambiental e equipes do Centro de Controle de Zoonoses realizaram força-tarefa na última semana nas casas do bairro. Foram feitas orientações aos municípios sobre qual procedimento indicado pela saúde. 
SERVIÇO
   Mais informações na Secretaria da Saúde pelo fone (44) 3216-3145. (FONTE: REPORTAGEM LOCAL, página 3, caderno FOLHA SAÚDE, terça-feira, 13 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUE LIVRO VOCÊ ESTÁ LENDO HOJE?


   Há alguns anos, zapeando na tevê, parei num canal qualquer desses fechado, que exibia uma entrevista com o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O repórter perguntou: que livro o senhor está lendo hoje? Obama citou três títulos com a sinopse de cada um num ritmo rápido, televisivo, o programa estava quase no fim. Quando os créditos subiram desliguei o aparelho, no entanto, o questionamento e a resposta do entrevistado me puseram contra a parede. 
   Sempre fui uma leitora ativa, por vários motivos, - mas, essencialmente, pelo prazer que sinto na companhia de um livro bom. Isso não me livra dos momentos de abstenção, que acontecem com quase todos os que leem, pois as demandas da vida são tantas que nos perdemos de muitas coisas, inclusive das que nos agradam sobremaneira. Quando vi a entrevista estava imersa num desses hiatos. Sem um livro engatado para chamar de meu e, pior, sem expectativa para tal. O que é devastador tanto pelo ofício da palavra quanto pelo cotidiano simples. 
   Estou lendo nada. Esta era a resposta para dar se estivesse no lugar de Obama. Ou, num cargo de tamanho destaque como o dele, o provável é que eu mentisse recorrendo a um clássico, reforçando se tratar de uma releitura, por exemplo. Estou relendo Cervantes, seria uma boa réplica, a fuga conveniente. Parece que citando os autores pelo nome aparentamos proximidade com a obra prima e um suposto entendimento. 
   Sem pretensão política alguma, é claro, eu me encontrava mesmo era na berlinda da consciência. A primeira coisa que passou pela cabeça foi: será possível que sou mais atarefada que o líder da nação mais poderosa do planeta? Resposta rápida: não. Minha mente ainda girou um pouco procurando justificativas do tipo: trabalho, filhos pequenos, afazeres domésticos, trânsito, curso de pós-graduação, atividade física etc. Tudo uma tentativa de escapar fedendo, autossabotagem como se diz. Em linhas gerais, quem não lê livros com frequência não o faz por falta de um desses itens: oportunidade ou interesse. Quase nunca é tempo que falta. 
   Livros podem ser mercadorias caras ou sair de graça para quem tem acesso a uma biblioteca pública. Em Londrina, a sede da Biblioteca Municipal fica no centro da cidade, em cinco minutos é possível fazer o cadastro e estar apto a sair com até três títulos por vez. A poucos passos dela está a Biblioteca Infantil, um ambiente lúdico e acolhedor para crianças e adolescentes. Por lá, ótimas maneiras de se começar um leitor: Monteiro Lobato, Ziraldo, Ruth Rocha, Ana Maria Machado, entre outros. Há sucursais em outras regiões do município. O empréstimo pessoal, entre amigos, também é uma modalidade pulsante. 
   Há ainda no comércio local a opção dos sebos, com alguns preços de capas quase simbólicos. Esta semana estive num deles com meu esposo e filhos. Na fila do caixa, a nossa frente, uma senhora de cabelos alvos, trocava um vale-compras por uma quantidade exemplar de romances antigos, desses que a revelia de nós mesmos jamais envelhecem. Avisada pela funcionária que ainda lhe restava R$3,50 de crédito, a mulher abandonou a fila por alguns instantes para buscar mais um título e saiu satisfeita. 
   Alguém, olhando os cabelos brancos da senhora, poderia pensar: ah, ela é aposentada, tem tempo de sobra. Será que ela lê porque sobra tempo? Não sei, não interroguei-a. Bem, tenho uma hipótese: é plausível que leia porque pertence ao mesmo grupo que eu e leitores de jornais diários como este: o grupo dos que têm oportunidade – e pode ser que ela tenha lutado muito por isso. Mas, que dentro deste grupo, há o sub-grupo dos que aproveitam a oportunidade (aqui me reinseri desde o choque da entrevista) e os que deixam a oportunidade passar. (FONTE: ISOLDA HERCULANO, escritora e jornalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinio@folhadelondrina.com.br).

domingo, 11 de fevereiro de 2018

VETO AOS FICHAS-SUJAS


   A posse do novo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luiz Fux, sinalizou qual a orientação que a Corte Eleitoral pode adotar neste ano quanto ao registro de candidatos fichas-sujas. Segundo Fux, não haverá brechas na Lei da Ficha Limpa e os condenados em segunda instância não serão aceitos no processo eleitoral de 2018. Tanto que o ministro pretende discutir com os colegas da Corte o uso do veto automático a registros de candidatos fichas-sujas. Cabe ao presidente do TSE toda a parte administrativa das eleições (distribuição das urnas eletrônicas, segurança na captação segura e apuração correta dos votos) e também pautar as decisões da Corte. O entendimento de Fux quando o assunto é político ficha-suja acrescenta mais um pouco dd polêmica à pretensão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de retornar ao Palácio do Planalto. Lula tem condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá (litoral de São Paulo). Assim, em tese, está enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Levando em conta que o PT pretende registrar a candidatura de Lula ao Planalto mesmo se ele estiver preso, percebe-se que o processo será tumultuado. A Lei da Ficha Limpa define que serão considerados inelegíveis políticos com decisão de órgão judicial colegiado – como é o caso da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que condenou Lula. A posição de Fux é importante, principalmente depois que o seu antecessor, Gilmar Mendes, disse que a Lei da Ficha Limpa parede ter sido “feita por bêbados”. Fazer valer essa regra é aceitar e cumprir a vontade da sociedade, pois mais de um milhão de brasileiros deram respaldo ao projeto de lei de iniciativa popular que acabou se transformando na Lei de Ficha Limpa. Não se pode fechar os olhos para um dos maiores avanços no combate á corrupção no Brasil. (FONTE: FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br, página 2, 10 e 11 de fevereiro de 2018,publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

ENTRE A FOLIA E O DESCANSO



   Já sambei no asfalto e já fugi para as montanhas, nas quais só se ouvia os sinos de uma igreja de Minas 

   O carnaval tem o dom de provocar os desejos mais esquisitos, os excessos, a luxúria, a vontade de tomar porres homéricos. No fundo, o carnaval é a maior fuga da realidade que conheço, mas em vez de criticar, me divirto. Tenho amigos que já estão há uma semana bebendo cachaça só para “pensar na folia. “Tenho amigos que vão ao fundo do baú buscar as roupas para se vestir de mulher. Tenho amigos que já pegaram a vara de pescar e foram para a barranca do Tibagi, onde não se ouve um único alalauê. Tenho amigos que compraram livros e vão passar o carnaval entre as páginas. Tenho amigos que já colocar no seu kit básico algumas cervejas e o menu incrível das séries do Netflix. 
   Eu fico entre a cruz e a espada, entre a folia e o descanso, não radicalizo como quem vai sambar na Bahia, com aquele orgulho de suar um abadá no meio da multidão que transpira e se esfrega como se curtisse o Inferno de Dante. Tampouco me esquivo do ronco de uma cuíca porque acho o samba um dos apelos mais próximos da minha ideia de gozar o paraíso. 
   Por conta disso, já arrastei sandálias no asfalto e já fugi para as montanhas onde só se ouve o sino de uma igreja de Minas. Já me mandei para a Ilha do Mel e para Ilhabela, já fui a Paraty só para ver o artesanato e a praia. Já vi o carnaval de Pernambuco e o carnaval dos paulistanos quando nem se ouvia falar de blocos e a capital era quele “túmulo do samba” profetizado por Vinícius de Moraes que, pelo bem ou pelo mal, foi parceiro de Adoniran Barbosa. 
   Não me incomodo com a folia dos outros, nem com sua calma diante do furacão que assola o país quando chega fevereiro. Apenas peço a Deus que não haja violência e que nem uma bala perdida se confunda com o som dos surdos e dos tamborins. 
   Uma de minha aventuras no Carnaval se deu numa praia quase deserta quando, numa tempestade, estava no meio da mata e me senti como uma vietcong naquelas cenas do filme de guerra, era só lama e pânico. Este foi um dos poucos momentos em que desejei estar assistindo ao carnaval na Globo. 
   Neste carnaval, pode prevalecer meu desejo de sambar ou me acomodar na poltrona para ler contos carnavalescos de João do Rio ou de Clarice Lispector. Dele vem o espetacular “O Bebê de Tarlatana Rosa”, dela o inesquecível “Restos de Carnaval”, memórias de infância quando ela se fantasia de rosa. 
   A beleza do carnaval é fazer parte da cultura brasileira, uma espécie de flor de raiz profunda que nos liga a nossas sensibilidades e lembranças. De um alerquim guardo um dos melhores beijos de um romance que “não subiu a serra”. Outra boa memória foi ter sambado pra valer com um dos meus filhos, então com dez anos, a alegria do moleque, trançando as pernas, valeu as horas de suor na avenida. 
   Cada um tem o carnaval que merece ou que padece. A escolha é nossa. Entre a alegria e a tristeza, não dispenso uma boa fantasia, a de ser feliz nestes quatro dias de respiro, antes de começar o ano pra valer. Não devemos recursar a alegria , ainda que passageira ela nos sopra as feridas, o que é muito melhor do que ficar cutucando as cascas. O carnaval, no fundo, é um parênteses no baque surdo do cotidiano. Que cada um crie a sua própria bateria de desejos, no lugar de maldizer as frustrações. Bom carnaval! (FONTE: (Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmai.com caderno FOLHA 2 , ágina 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 10 e 11 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

RATIO DE BIBLIOTECA (coluna Aos Domingos Pellegrini ) e HELICÔNIA (coluna Notícias da Chácara)


   Eu tinha oito anos quando meus pais se separaram e com mãe e irmã fomos morar em Assis. Mãe alugou casa, mandou pintar e o pintor levou pilhas de revistas, O Cruzeiro para forrar o chão. Então me apaixonei pela leitura levado por Vão Gogo (Millor Fernandes, David Nasser e Raquel de Queiroz. Depois li Fábulas de Esopo, sem saber que o autor analfabeto de meu primeiro livro jamais escreveu uma linha, teve suas fábulas decoradas e escritas por ouvintes depois de sua morte. 
   Depois me apaixonei por outro escritor que nada escreveu, suas parábolas foram transcritas décadas depois de sua morte. Ele mesmo só rabiscou na terra, ganhando tempo para para responder aos que queriam apedrejar a prostituta: - Quem não tem pecado, atire a primeira pedra. Procurando saber mais de sua vida, ganhei gosto por pesquisa e, assim, dois escritores que não escreveram são meus patronos no mundo das letras. 
   Virei rato de biblioteca, expressão que decerto vem da fuçonice dos ratos, como são fuçadores de estantes os bibliotequeiros. Em Marília, onde fomos morar depois, de ir toda noite à biblioteca, onde o bibliotecário usava bota ortopédica. Eu escolhia livros de poesia no fichário, e lá ia ele procurar para me entregar, sempre claudicando. Até que, depois de muitas noites assim, sentou diante de mim: 
- Pelo jeito, o senhor vai acabar lendo toda nossa seção de poesia. Mas, pedindo livros avulsos, pode acabar esquecendo um ou outro. Se, porém, eu for lhe trazendo os livros das estantes palmo a palmo, o senhor com certeza vai acabar lendo todos e eu terei menos trabalho. Combinado?
   Me estendeu a mão, que apertei engrandecido por ele me tratar de “senhor”, rapazola de treze anos. Três anos depois, entrei na biblioteca e ele veio claudicando a meu encontro, para dizer que tinha boa notícia e má notícia. 
   - A má notícia é que não temos mais livros de poesia que o senhor não leu. A boa notícia é que assim o senhor se tornou o nosso maior leitor de poesia. 
   Décadas depois, estou como escritor discutindo na abertura de congresso nacional de bibliotecários, em Curitiba, e conto essa história, lamentando não saber o nome daquele bibliotecário. Mas logo recebo um bilhetinho: 
“Aquele bibliotecário era meu pai, e hoje tem seu nome a Biblioteca Municipal João Mesquita Valença”. Mal consegui terminar meu discurso, pois ratos de biblioteca tem curiosidade só menor que o coração. 
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         NOTÍCIAS DA CHÁCARA 
                                                         HELICÔNIA 

Heliconia rostrada – tal beleza teria de ter também um belo nome. Sua planta se assemelha à bananeira, daí o nome popular de bananeira-do-brejo. As flores propriamente são embutidas nas brácteas, envelopes florais que não impedem de serem sugadas por costumeiros beija-flores. 
Antes, eu olhava flores como quem passa por elas, ou seja, apenas olhando sem ver. Com Dalva, aprendi a ver flores, para prestar atenção em seus detalhes e, mais, sentir como enriquecem a vida. Conta a lenda que o mestre, andando à beira de precipício, parou para apreciar uma flor. O discípulo logo alertou que era perigoso parar ali só para isso. O mestre respondeu que perigo maior seria passar por tão bela flor sem olhar, seria um cego à beira de um precipício. (FONTE: Crônicas escritas por DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br jornalista e escritor, página 3, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, 3 e 4 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

domingo, 4 de fevereiro de 2018

CRÔNICA DAS COISAS PERDIDAS.


   Pedem-me uma “entrevista personalizada”. A ideia é selecionar itens que façam parte da minha história e sobre as quais eu posso falar mostrando porque são importantes. Ao todo, me dão a chance de escolher nove objetos afetivos. Desde que me chamaram para o jogo, já percorri mentalmente minha trajetória e meu pensamento foi parar nos pratos do antigo jogo de jantar da minha mãe. A maioria das peças está amarelada, mas uso as clarinhas em dias de festa. Ants de irem à mesa sempre lavo cada uma lembrando-me das mãos dela sob a água da torneira, com a eterna aliança de casada. Dos meus dedos escorrem também água e sabão, mas já usei tantos anéis quantos os anos de liberdade e penso que eles são acessórios importantes de algumas fases da vida em que lavei e enxuguei dúvidas, além das certezas. 
   O anel de elefante era uma espécie de talismã que um dia perdi lavando a louça quando o deixei sob o parapeito da janela da cozinha. Então o elefante voou, talvez tenha feito uma viagem à Índia, talvez tenha simplesmente escorregado para uma lixeira levando consigo uma partícula das minhas manias ou dos apegos que me levam a acreditar na sorte. A verdade nunca saberei, esse é o mistério dos objetos perdidos, ninguém sabe para onde vão. No seu silêncio de coisas inanimadas não fazem não fazem barulhos como animais e pessoas, não emitem sons nem pedido de socorro, quando muito dão um pequeno sinal quando caem ao chão. 
   Entre os objetos perdidos, aqueles que não farão parte da “entrevista personalizada”, tem ainda um relógio de meu pai, perdido numa mudança quando a falta de experiência deixou-me descuidar de algumas coisas que deveriam ir para uma caixinha fechada e guardada comigo, não nos embrulhos, nas caixas de papelão, nas gavetas que todos reviram. O relógio ainda deve funcionar e penso que essa sobrevida, longe dos meus olhos, tem o sentido de mostrar que algumas coisas existem mesmo sem nós. E elas existem com outros significados, dados por quem encontrou o relógio e se alegrou em achá-lo mesmo sabendo que faz parte de outra história. Uma das coisas que me doem foi ter perdido toda minha coleção de discos de vinil. Eram parte da minha festa particular desde a adolescência, quando a música tomava conta do meu quarto. Dos Beatles a Led Zeppelin, de Bob Dylan a Laurie Anderson, passando por clássicos como a “Fantasia” de Stravinsky e “As Quatro Estações” de Vivaldi, tudo me remete a momentos de solidão consentida, quando me trancava para ouvir o que quisesse, ou momentos de alegria compartilhada quando ouvia com os amigos as mesmas músicas como se fosse a primeira vez. Saudade mesmo tenho dos blues de B. B. King, aquele seu “Live In Cook County Jail”, gravado numa prisão em 1971, quando ele conseguiu “libertar” os detentos enquanto durou o show. Também sinto um aperto ao lembrar da malemolência de um vinil rodando com a poesia de Caetano Veloso. 
   Muitos dos objetos que fazem a minha história tomaram rumos imagináveis e disso deriva sua importância como memória. Posso dizer que aquilo que fica com a gente não é menos importante do que aquilo que se foi. E isso vale para anéis, discos, livros, casas e também pessoas. A história nem sempre é o que fica, mas o que se coloca longe do nosso alcance, perdendo a materialidade e fixando-se como lembrança que nenhuma perda apaga. Talvez, numa “entrevista personalizada” possa constar não só aquilo que se tem, mas o que se perdeu e ainda existe como a teimosia das coisas importantes. (FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI celia.musilli@gmail.com página 2, caderno FOLHA 2,lacuna CÉLIA MUSILLI, 3 e 4 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sábado, 3 de fevereiro de 2018

O AUXÍLIO QUE VIROU MORADIA

   Um país que está acabando de atravessar uma das piores crises econômica de sua história não para de se surpreender negativamente quando o assunto é concessão de benesses para o alto funcionalismo público. O auxílio-moradia para o judiciário, classe que ganha muito acima da média do trabalhador brasileiro, é um dos benefícios mais polêmicos, principalmente depois que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux concedeu, há três anos, uma liminar liberando essa “pequena” ajuda de quase R$ 5 mil a todos os magistrados brasileiros. Dias atrás, o tema ganhou um ingrediente amargo, difícil para a sociedade engolir. Trata-se de um levantamento feito pela Folha de S. Paulo mostrando que a cúpula do judiciário recebe o auxílio-moradia mesmo com imóveis próprios no Distrito Federal. A pesquisa revelou que 26 ministros de tribunais superiores, donos de um dos mais altos salários da República – R$32 mil – têm o contracheque vitaminado em mais R$4.378 como ajuda para morar. Um privilégio que já tirou dos cofres públicos R$5 bilhões desde que Fux concedeu a liminar. Lembrando que o déficit habitacional no Brasil é estimado em mais de 6 milhões de unidades, não há como negar que há direitos e direitos. Os juízes têm na liminar do STF a legalidade do benefício. Mas, é ético? E como ficam questões como a moralidade administrativa e a responsabilidade fiscal? A maioria dos trabalhadores, mesmo no funcionalismo público, precisa pagar pela moradia com o próprio salário. É correta essa diferenciação de tratamento entre magistrados e operários que tiram do salário mínimo o pagamento do aluguel ou da prestação da casa? O privilégio não combina com o discurso de ética e transparência adotado por representantes do judiciário nesses tempos de Lava Jato, principalmente quando falamos de autoconcessão de gordos benefícios. A contradição chama atenção no histórico do juiz responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, que entrou na justiça para receber o benefício, apesar da mulher dele, também juíza, já ser favorecida. O complemento duplo de renda no orçamento do casal causou revolta nas redes sociais depois que a família Bretas abriu a moradia, com bela vista para o Pão de Açúcar, para ilustrar matéria de decoração em uma revista de moda. Diante de toda essa polêmica, é urgente que o STF coloque a permanência do auxílio moradia em pauta no mês de março, como está previsto, e leve em consideração que não se trata apenas de um benefício, mas de um privilégio que virou complemento salarial. (FONTE: página 2, FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com , 3 e 4 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

SEM CONSCIÊNCIA NÃO HÁ VIDA DIGNA


   Existe o Outubro Rosa que alerta as mulheres sobre os perigos do câncer de mama bem como as incentiva a cuidar-se de maneira apropriada. Há o Novembro Azul que se atenta sobre o câncer de próstata, convocando os homens a serem mais conscientes com a própria saúde. São movimentos que visam chamar atenção sobre questões de saúde que podem e devem ser tratados para melhorar nossa qualidade de vida. Há agora o Janeiro Branco que coloca em cena a questão da saúde mental que, geralmente, é tão esquecida e relegada a segundo plano. 
   Quando alguém quebra um braço ou perna todos reconhecem que se faz necessário cuidados adequados. Se alguém desenvolve tumor ninguém duvida que tratamentos apropriados e específicos são de extrema importância. Mas quando alguém aparece que com algum distúrbio psicológico como depressão, ansiedade excessiva, compulsões, etc., não recebem um olhar compreensivo. Pelo contrário, é até capaz da pessoa que padece psicologicamente ser tratada como “sensível demais”, “fresca”, com tempo livre de sobra e por aí vai. O que se passa na dimensão da mente não é valorizado o tanto quanto deveria. 
   Essa desvalorização para com o sofrimento mental se deve ao fato de que não é algo que se confirma em algum exame de sangue, ultrassom ou raio-X. É algo que reside no subjetivo e não no concreto. No entanto, mesmo sendo subjetivo tem consequências sérias e variadas, inclusive concretamente levando a doenças físicas ou até à acidentes /ou tragédias. É um mal silencioso que, com frequência, é desconsiderado como algo menor e sem importância, mas que destrói a vida de muita gente. Tanto de quem sofre quanto de quem está próximo de quem sofre. O Janeiro Branco é um alerta para chamar atenção para a nossa saúde mental. 
   Como vocês podem ver não é muito conhecido. Talvez, até a grande maioria de vocês que estão lendo esse texto nem fazia ideia de que existia o Janeiro Branco. Pudera! Ele não é divulgado com tanta pompa justamente porque ainda existe preconceito para com os distúrbios da mente. “É coisa de gente louca e sem nada para fazer”. Mas, na verdade, o sofrimento psicológico está em todas as camadas sociais, econômicas, gêneros e idades. Hà inúmeros distúrbios e padecimentos que minam a vida, deixando-a empobrecida e intolerável. Que corrói os relacionamentos, destruindo-os. Que diminui as chances de crescimento, empacando os sujeitos em posições desconfortáveis. A coisa é séria e enquanto o olhar que temos para com nossa saúde mental não mudar, pessoas e sociedades vão continuar sofrendo de muitos males desnecessários. 
   Quando não cuidamos do nosso mundo interno adoecemos. É incrível o número de pessoas que cuidam de seus corpos, de suas dietas, de suas carreiras, de seu patrimônio e isso tudo é importante e vital, mas que se esquecem de cuidar da própria mante. Acabam tendo, externamente, uma vida confortável e cheia de recursos, mas vivem muito mal, cheio de impasses e sofrimentos. Não sabem ou não conseguem aproveitar os recursos que possuem e ficam em situações lamentáveis. 
   Que não se cuida e nem aprende a se responsabilizar pelas escolhas que faz ao longo da vida acabam por entrar em relações tóxicas e abusivas, coloca-se em riscos desnecessários e leva uma vida cheia de insatisfações. Ao não prestarmos atenção à nossa mente vamos escolher mal, porque escolhemos de fato, mesmo que sem saber, correndo o risco de escolher aquilo que faz mal e adoece. Quem aprende a cuidar da própria saúde mental tem mais chances de escolher aquilo que lhe vai fazer bem e não vai entrar em qualquer barca furada. 
   Sem desenvolver uma mente, não há a menor chance de haver vida. Pelo menos não uma vida digna. (TEXTO escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, 3 e 4 de fevereiro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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