sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015


                          ELEVADORES EM CASA

     Item ajuda na acessibilidade e traz mais conforto e praticidade para o dia a dia.

   Se antigamente eles eram itens de uso exclusivo em prédios ou edifícios comerciais, hoje em dia os elevadores podem facilmente ser encontrados em vários projetos residenciais. Segundo a arquiteta Ana Carolina Mazzarottto, do escritório AMR Arquitetura, o uso dos elevadores em casa  vem crescendo devido a uma mudança na sociedade. “As pessoas estão vivendo mais e buscando cada vez mais qualidade de vida e conforto. Elas constroem hoje já pensando na facilidade de não precisar usar as  escadas  no futuro”. Além disso, os  elevadores  podem facilitar muito o dia a dia da casa, seja com o transporte de compras e objetos ou na hora de receber uma visita.
   Os terrenos, cada vez mais caros e com metragens menores, também ajudam a impulsionar os  projetos com elevadores,  conforme a arquiteta. “ Com os terrenos mais compactos cria-se a necessidade de construir as casas com dois ou três pavimentos”, explica Ana Carolina. Para o gerente comercial da Daiken Elevadores, Fabrício Serbake, o uso de elevadores em residências já é uma tendência.  “ Com certeza esse é um mercado que está crescendo. Temos um aumento de 60% a 70% nas vendas de elevadores  residenciais a cada ano”.
   Segundo Sertake, o preço dos elevadores varia de acordo com cada modelo e parte de R$ 40 mil  até  R$ 75 mil. “A tendência, no entanto, é que o produto fique ainda mais barato, já que atingindo escalas maiores de produção o preço tende a melhorar”. Já o público que investe em elevadores é bem dividido. “A maioria das pessoas que estão construindo e que estão na faixa dos 40, 50 anos, colocam os elevadores já pensando em uma melhor acessibilidade no futuro, além do conforto atual. Já o publico mais velho, de 60, 70 anos, já tem uma casa construída e deseja reformar o imóvel para adequá-lo ao elevador”, conta o gerente.
   A arquiteta Ana Carolina Mazzarotto explica que uma boa solução para quem pretende instalar uma elevador em casa, mas não tem como arcar com os custos no momento,é deixar a estrutura pronta durante a obra. “É possível deixar a caixa do elevador já pronta no projeto e fazer a instalação posteriormente. Para  isso é preciso pesquisar o modelo que será instalado para não ter problemas com as dimensões .”  Bruna Quintanilha  Reportagem Local. Fotos: Celso Kruger, Marcelo Stammer, Eduardo Adura e Divulgação; ‘’As pessoas constroem hoje já pensando na facilidade de não precisar utilizar as escadas no futuro’’  FIQUE ATENTO * Elevadores residências têm normas próprias e diferentes dos modelos tradicionais.  *-   A velocidade desse tipo de elevador é mais lenta  do que a de elevadores comerciais ou de prédios.  * Eles podem transportar no máximo três pessoas  e 225 Kg.  * Os elevadores residenciais podem ser instalados em casas com no máximo 4 pavimentos  e ter um percurso de  12 metros.

EM HARMONIA COMA DECORAÇÃO

     Um dos maiores desafios dos arquitetos é fazer com que os elevadores residenciais fiquem em harmonia com o projeto arquitetônico de cada casa. Segundo a arquiteta Renata Mueller, há duas formas de incluir os elevadores no projeto. “É possível tanto integrá-los ao ambiente e ‘camuflá-los’ trabalhando a caixa conforme a decoração da residência, quanto transformá-los em monumentos e pontos de destaque da casa, como no caso dos elevadores envidraçados”.
Para isso, a decoração das caixas dos elevadores pode ser feita com diversos materiais como alvenaria, marcenaria, adesivos, vidros, entre outros.
Para a arquiteta Ana Carolina Mazzarotto, os elevadores se encaixam perfeitamente nos projetos arquitetônicos contemporâneos. “Além disso, eles já vêm com um ótimo acabamento interno”.
Conforme o diretor comercial da Daiken Elevaddores, Fabrício Serbrake, o interior dos elevadores também pode ser adaptado ao gosto do cliente. “Os revestimentos das cabines são os opcionais mais customizados pelos clientes, como a escolha do piso, teto e paredes.”
Outro fator importante e que deve ser observado , de acordo com Renata, é a iluminação. “A iluminação do elevador é bastante importante e pode ser usada de diversas formas, principalmente para não transmitir a sensação de um elevador comercial. Por isso, é essencial personalizá-lo com luzes mais quentes, versatilidade que os elevadores comerciais não oferecem “, explica.
Conforme Ana Carolina, o cômodo da casa que vai receberá o elevador vai variar de acordo com as necessidades dos moradores. “Porém, recomendamos que ele abra para uma área de circulação que esteja perto de acessos para espaços de serviço e sociais e que sirvam de ponte para as áreas íntimas.” Uma boa idéia, conforme a arquiteta, é concentrar a área de circulação , deixando os elevadores junto das escadas. “Unificando essa área é possível, por exemplo, circundar o elevador coma escada. Fica bonito e superfuncional”, aconselha. (B.Q.) FONTE: ESPECIAL VERÃO FOLHA DA SEXTA publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, 20 de fevereiro de 2015)


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

FANTOCHE DE DEUS



   Neste tempo de Quaresma, ouso pedir a Deus que me ajude a dizer só a verdade, a criar só a beleza e a fazer só  o bem.
   Dizer a verdade é muito difícil hoje em dia. Ela se tornou a  inimiga pública número um. Onde quer que apareça, é perseguida. Marqueteiros regiamente pagos a odeiam.  Professores universitários a relativizam. Empreiteiros se reúnem com ministros para ocultá-la a qualquer preço. A verdade não pode mais andar sozinha na rua sem o risco de ser arrastada e violentada. Mas não tenho outra saída: dizê-la é meu ofício, o meu destino, a minha cruz.
   Criar a beleza virou coisa feia. Dizer que um concerto de Bach vale mais do que todos os enredos de uma escola de samba é um crime contra a cultura popular brasileira. Um grafite de rua equivale a um quadro de Caravaggio. Para se criar beleza, é preciso antes admirá-la, mas o exercício da admiração hoje se tornou praticamente um ato clandestino.
   Fazer o bem não é nada fácil. Ajudar uma pessoa sem esperar nada em troca, dar uma esmola, conversar com um velho ou uma criança, conceder a atenção a um solitário – tudo isso costumeiramente é interpretado como demagogia ou hipocrisia.
   A crise que o País atravessa hoje é a do rompimento entre estes três valores fundamentais . A nossa doença tem origem espiritual: o coração do Brasil se parece com um templo incendiado com cinzas em forma de mentira, feiúra e maldade.
   Outro dia fui ridicularizado quando disse ser a favor de um capitalismo com compaixão e de uma democracia temente a Deus. Por conta de opiniões  semelhantes, um dia alguém me chamou até de “fantoche do títere”, Adorei essa alcunha! É exatamente o que eu sou. Em última instância, não passo de fantoche daqueles que procuro imitar  ( sem conseguir ): Padre Pio de Pietreicina , Teresinha do Menino Jesus, Maximiliano Kolbe, Edith Stein, José Kentenich. Eles, por sua vez, são títeres da vontade de Deus. Disseram a verdade, criaram a beleza e fizeram o bem. De que mais um homem precisa?  ( Texto de PAULO BIRGUET,   
briguet@jornaldelondrina.com.br   WWW.jornaldelondrina.bom.br/blogs/comoperdaodapalavra  , página 6, espaço Dia de crônica, publicação do JORNAL DE LONDRINA, segunda-feira,23 de fevereiro de 2015) .

BEIJA-MÃO



     1 . Meu amigo Chicó é inteligente e sabe fazer contas. Diante da dificuldade que nós temos de dimensionar o estrago que o PT fez na Petrobras, ele nos ajuda com a matemática. Raciocine com o Chicó: se você ganhasse um dólar por segundo, demoraria 32 anos para acumular 1 bilhão de dólares. Quase a idade de Cristo. E 1 bilhão de dólares é apenas uma pequena  parte do rombo da Petrossauro.  2. Oscar Wilde dizia que só as pessoas muito superficiais não levam em conta as aparências.  Basta  um rápido olhar para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o juiz federal Sérgio Moro, responsável  pela Operação Lava Jato, para saber que estamos diante de dois homens muito diferentes. Ambos são profissionais da área jurídica. Ambos dizem defender a lei. Ambos  são amados por uns e odiados por outros. Mas escolher entre Moro  ou Cardozo parece-nos ser uma questão decisiva para o Brasil atual. 3. Moro prende acusados de corrupção. Cardozo se reúne para protegê-los. Um é o juiz da Lava Jato. O outro é o ministro esconde-lama. Quem você prefere? 4. O Brasil é mesmo diferente. Enquanto outros países têm ministro da Justiça, nós temos um ministro contra a Justiça. 5. Quando Lula visitou a Guiné Equatorial, perguntou a Teodoro Obiang qual era o segredo para ficar mais de 30 anos no poder. Fez a pergunta em tom de brincadeira, mas logo em seguida ajudou as empreiteiras nacionais a fechar negócios muito lucrativos com o país africano, que tem uma das populações mais pobres e um dos governantes mais ricos do mundo. 6. A Guiné Equatorial é o país dos sonhos de Lula e do PT. Lá o mesmo presidente está  desde 1979 no poder. Há controle social da mídia. A oposição está o exílio ou na cadeia – onde as torturas não são mais com uns que as parasitoses. Nas eleições, Obiang nunca tem menos de 99% dos votos.  Chicó, de quantos anos nós precisaríamos para acumular a fortuna do presidente da Guiné? 7. Graças ao generoso apoio de empreiteiros nacionais e de Teodoro Obiang, a  Beija-Flor ganhou o carnaval do Rio com uma homenagem a Guiné Equatorial. A escola poderia trocar de nome. A partir de agora, vou chamá-la de Beija-Mão.  Beija-mão de ditador. ( Texto escrito por PAULO BRIGUET, paulobriguet@jornaldelondrina.com.br   WWW.jornaldelondrina.com.br/blogs/comopeerdaodapalavra  publicado na pág. 9, espaço Dia de Crônica, publicação do JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015).

domingo, 22 de fevereiro de 2015

DIÁLOGOS COM A CHUVA



    A chuva veio para a alegria geral dos que celebram muito mais do que vitórias no Carnaval. A seca que nos deu um susto não está resolvida ainda, porque a chuva é mulher e tem suas manhas. Cai hoje aqui, amanhã ali, muda de idéia como a Lua, um dia cheia, em outro apenas um fiapo,  no outro sumiço completo.
   Aprendemos com a  falta de chuvas os truques de gente distante, nunca no Sul e no Sudeste falou-se tanto em cisternas, coletores de vários tipos e economia de guerra. Tudo isso o Nordeste conhece de sobra, sua população pode nos dar aulas magnas sobre medidas de emergência na seca.  Se  pensam que por conta disso eles se livraram dos flagelos, estão também equivocados, estados nordestinos continuam padecendo com a falta d’água, testam a transposição do rio São Francisco aqui e ali, mas sabe-se que na sua nascente, o Velho Chico recuou, secou, agora voltou a renascer um bocadinho , não se sabe por quanto tempo. A natureza é sazonal, quando as estações se confundem e o clima muda de humor, não adianta construir reservatórios, a água não brota em canos, ela precisa das matas.
   Mas gosto mesmo é de poemas sobre a chuva, acho que eles têm o mesmo apelo da dança dos índios,. Quando a gente fala com a chuva com delicadeza, ela vem,  primeiro invisível, entre as nuvens, mas depois se senta num banquinho e vem ouvir poemas e orações. A chuva tem ouvidos sensíveis, escuta preces como esta: “Pai, faz cair do céu sobre a terra árida / a chuva desejada / a fim de que renasça  os frutos / e sejam salvos homens e animais”.
   Também acredito em chuvas que preferem o baião, são aquelas reverenciadas pelo grande Luiz Gonzaga. “Hoje longe muitas léguas / numa triste solidão / espero a chuva cair de novo / pra eu voltar pro meu sertão”.
   Ontem á noite, em diálogo com a chuva, eu dizia “obrigada” e ela batia uma vez na lata. Eu insistia: “Gostei de sua visita”. Ela batia duas vezes. E quando finalmente li em voz alta um poema de Joaquim Cardozo, autor do Recife que sabe muito sobre o clima, ouvi toques que pareciam um surdo tardio das escolas de samba: “Macaiberas chovendo / Cheiro de flor amarela;/ Cheiro de chão que amanhece./ Estavas sob a latada / Quando te abri a  janela”...
   Mas chorei junto com a chuva quando li para ela um dos poemas mais bonitos de Cardozo, um poema em que ele chove inteiro, reverenciando as frutas de sua terra :

CHUVA DE CAJU

Como te chamas, pequena  chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão
Molha a mesa e os livros
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vem dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e
mangabas.
Onde os coqueiros se aprumam  nos baldes viveiros
E em noites de lua cheia passam rondando os
maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chamar Teresa ou Maria?

   Com esse poema descobri que a chuva tem nome de mulher, coisa que eu pressentia na infância, nos quintais do Norte do Paraná, onde a chuva acompanha a maturação das frutas com zelo de mãe que dá banho nos filhos e os apronta para um carnaval sem datas. ( Texto escrito por CÉKIA MUSILLI,  celiamusilli@terra.com.br   pág . 2 do caderno FOLHA 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 22 de fevereiro de 2015)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

ARROZ DE TAIOBA



     No começo do ano passado minha esposa foi visitar parentes em Ponte  Nova,  estado de Minas Gerais, onde passou alguns dias na casa dos tios Sebastião e Maria.  Assim como muitos mineiros, Sebastião e Maria vieram para o Norte do Paraná na década de 1960 para trabalhar nas fazendas de café.  Naquela época era comum famílias  inteiras de mineiros virem trabalhar nas lavouras e algumas delas fincavam raízes na terra vermelha, outras voltavam para Minas  ou se dispersavam por outras localidades.
     Sebastião e Maria, mais conhecidos como Tião das Linguiças e Dona Tuca, depois de muitos anos  de trabalho árduo no Paraná, acabaram retornando para Minas.  Essa viagem aumentou o interesse da minha esposa pela comida mineira, afinal, quem pode fazer desfeita a uma canjiquinha, leitão à pururuca, bambá de couve, frango com quiabo ou feijão tropeiro, servidos com a cordialidade mineira? E resistir aos doces de mamão, ambrosia ou queijo com goiabada? A cozinha mineira é singular, tem um sabor de história, remete aos costumes dos índios, dos escravos e às tradições dos colonizadores portugueses, dos bandeirantes e tropeiros. Por isso se utiliza muito de produtos como milho, mandioca, carne de galinha e de porco, além de uma variedade de temperos, pimentas e plantas, inclusive algumas já esquecidas por grande parte da população, como o lobrobó  (ora-pronóbis)  e a taioba.
     Assim, para minha surpresa, ao retornar da viagem ela retirou da mala algumas mudas de taioba, planta muito consumida  pelos mineiros, dizendo que seus tios nos haviam mandado para que eu as plantasse no quintal de casa.  Fiz isso de imediato e dali a poucos dias as mudas já estavam firmes na terra rosa de Londrina.
     A segunda surpresa foi observar que após alguns meses a taioba havia se esparramado pela horta, tomando o lugar das outras plantas.  Não tive dúvidas, passei o facão nas folhagens e comemos taioba refogada por vários dias. Fiz isso sem saber que haveria uma terceira surpresa., a qual me trouxe muito trabalho, porque no final do ano, ao atender um telefonema, constatei com alegria que quem nos procurava  era o Tião das Linguiças: pessoa querida, simples e sábia, jeito mineiro de ser. E na sua mineirice relatou que viajariam ao Norte do Paraná para rever os parentes, beijar o chão paranaense e comer um lombinho de porco com arroz de taioba, pois sabia que as mudas haveriam de ter vingado, disse ele, na melhor terra do mundo.
     Conhecendo a cultura mineira, ficou claro pra mim que ele agiu como bom mineiro, dando mudas de caso pensado, ou seja, comer arroz de taioba quando viesse na nossa casa.  Como havia arrancado as taiobas da horta, lá fui eu  percorrer as feiras, falar com os amigos, e explicar para as pessoas o eu era taioba.  A tarefa foi difícil e só se tornou possível quando deixei a cidade e fui para a zona rural buscar uma ramada no sítio do Zilo no distrito de Guairacá, na beira do rio Tibagi. Quando o almoço ficou pronto contei aos tios sobre o ocorrido, o que foi motivo de muitas risadas. O arroz de taioba ficou delicioso e aprendi que não se joga fora um presente sem pensar nas intenções de quem nos presenteou. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da FOLHA RURAL, dela extraído, pág. 2, espaço Dedo de Prosa, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 21 de fevereiro de2015).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO DOS SONHOS




     Sentado e a folhear as extensas páginas de um jornal diário, sou, automaticamente, levado a relembrar do meu  mais recente sonho.  Em poucas horas,  visitei uma civilização onde a educação não era apenas uma prioridade, mas o bem mais precioso. Lá os índices de analfabetismo  beiravam  a zero, pagar para ter um ensino de qualidade era considerado crime. Ali, pude conhecer estudantes realmente conscientes, pois o principal objetivo girava em torno de uma formação  crítica.
     Eu estava em uma cidade em  que sempre imaginei, porém nunca, até o momento tivera a oportunidade de conhecer. Lembro que senti uma emoção inesquecível ao descobrir tamanha a qualidade do ensino. Via de longe o sorriso dos professores, que denunciavam a satisfação ao serem respeitados e valorizados por seu trabalho. Os estudantes acompanhavam vidrados cada palavra pronunciada por seu mestre que, como João-de-barro, que aos poucos vão construindo sua morada, ele, por meio do conhecimento, ia formando verdadeiros cidadãos.
     Diante daquela realidade, pude deduzir que, naquela civilização, jamais existiu greves de professores, insatisfação salarial, corte de recursos da educação. A palavra cotas tinha sido extinguida do vocabulário há muitos anos, pois os estudantes pobres, negros, ricos, tinham a mesma qualidade de ensino.
     Em frente às páginas do jornal, o meu sonho é  contaminado pelas mais recentes notícias dos descasos não só com a educação, mas também com professores e funcionários. É inacreditável que esses funcionários tenham de fazer uso de greves e de manifestações para exigir o que devem receber por direito. Fecho as páginas do periódico  com ódio, ressentimento e com verdadeiro desconforto; no entanto, carregando, no mais fundo do  meu ser, a esperança da renovação, torcendo para que a cidade que um dia visitei, em sonho, torne-se a minha, a sua, a nossa realidade. ( Texto escrito por LEANDRO BRITO, estudante de jornalismo em Londrina, publicado no caderno FOLHA 2, pág 3, espaço CRÔNICA, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015).
              

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

MEUS DESABAFOS



Tenho muita vontade de “desabafar, daí o título do blog. Mas penso na inutilidade dos mesmos. São por demais pessoais. Dada minha condição de “recluso” por não poder caminhar livremente sem as bengalas e, ainda mais, sem quase levantar con seguir levantar os pés por  causa da calcificação, abandono a idéia. Quero dizer, não o faço, mas ela- a vontade -  continua me perturbando.   Ao receber visitas em minha casa,  procuro ser otimista e passar a imagem de alguém “esperançoso”, como eu era mesmo na época em que escrevi “Januária de Londrina”.  Ninguém é de ferro, né! Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, não obstante reconheço minha culpa, por haver me abandonado. Cansei de ir a médicos e nada ficar resolvido. Vão deixando pra depois- alguns- outros alegam não há  recursos aqui em Londrina, alguns dizem que se eu comprasse as próteses eles me operariam na hora. Cadê nossa dignidade?  E a calcificação óssea continuando, já com as vértebras  da coluna  “coladas” impedindo-me de até me virar na cama. Não é fácil viver assim. Louvo a Deus ao olhar para trás e ver situações bem mais complicadas.  Mas uma pequena “chama de esperança” jaz  latente. Cofio em Deus porque nEle creio. Preciso criar vergonha na cara, ter mais humildade para me expor, e ir à luta. Só que meu mundo interior é muito bonito.Muito diferente de minha aparência física.  Vejo a vida por um prisma  que compensa as deficiências. Sou estimado e até “paquerado no sentido de ter sempre alguém querendo  me ajudar” como me disse uma amiga.Isto é ótimo , porém reconheço que também  me faz “ acomodar”  Fico constrangido por não postar com freqüência relativa algo pessoal em meu blog.  Já agradeci as visitas e vou prometer mais uma vez  deixar algo meu, mesmo que seja uma “coisa boba e se nada a compensar como este”.Obrigado mesmo! Quem sabe este 2015 seja o ano tão esperado para a solução acima exposta. Vou reagir. Torçam por mim.

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domingo, 15 de fevereiro de 2015

A FÉ NO SEU LUGAR



     12 de fevereiro  é considerado o Dia do Orgulho Ateu, nem sabia que existia esta data escolhida em homenagem a Charles Darwin , que nasceu neste dia. Não sou atéia, aliás, a minha crença é uma galeria panteísta – mas prefiro os ateus a Bolsonaros,  Felicianos  e Eduardos Cunha que hoje infestam o Congresso com preconceitos que parecem de origem religiosa, mas acho que não passam de limitação mesmo. Um fato importante sobre o movimento ateu é que ele luta pelo Estado laico, bandeira que em tempos conturbados serve de ponto de reflexão num mundo tomado por “estados islâmicos” que subtraem de Deus o que ele pode oferecer de melhor: o amor a todas as criaturas, que partilham ou não das mesmas crenças. A idéia de fé perde o valor se não houver amor, como ensinou São Francisco de Assis.
     Não aprecio muito esta história de datas, mas o Dia do Orgulho Ateu foi propício às pessoas se manifestarem contra o preconceito que sofre também quem não acredita em Deus.  Eu, como disse, tenho alma panteísta, acredito que os deuses se adaptam às culturas ou vice-versa. Tudo tem valor se for para reforçar tão somente o sentido de “humanidade”. De manhã, sou xintoísta, acordo em reverência total à natureza – à tarde, no intuito de perdoar as contrariedades, me torno cristã. À noite, sou tomada por compaixão budista depois de observar as falhas humanas. Minha fé é pluralista. Acham também que eu iria perder toda beleza e a bênção dos orixás?
     O Brasil tem 0,39% de ateus e agnósticos, segundo o censo de 2010 do IBGE. Eles reivindicam um feriado no calendário, o Dia do Ateu, porque se sentem discriminados  e querem sair do armário. Sim, há quem faça cara feia quando alguém declara que não acredita em Deus. Engraçado que não tem a mesma reação se alguém declara que não acredita no diabo.  Esta turma não compreende a dinâmica do pensamento dialético
     Falar sobre Deus e as religiões é tocar numa teia delicadíssima, mas acho importante como exercício filosófico. Pessoas livres não se esquivam de pensar sobre nada, não será com a repressão ao pensamento que ele irá evoluir. Então, acredito que é importante pensar sobre tudo, ainda que isso ameace os que não conseguem  pensar “fora da caixinha”. Uma onda de pânico se levanta quando a gente toca em determinados assuntos, pânico e resistência, com cada um defendendo aquilo que precisa acreditar.  Acredito mesmo que a fé é um pilar que sustenta  as pessoas. Mexer nessa estrutura é sempre  um risco, mas nada evolui sem ousadia.
     O filósofo americano Michael Largo, autor de “Lunáticos por Deus” (editora  Lafonte), participou de cultos e freqüentou todos os tipos de religião. Concluiu que a idéia das religiões teve origem no medo da morte. Na Antiguidade, a mortalidade era muito precoce, houve épocas em que as pessoas morriam em torno dos 18 anos, os parentes olhavam o corpo sem vida e perguntavam: “para onde vai este ser querido?” Criaram-se assim os cultos da morte – que derivariam para as religiões – como forma de consolação.
     Na verdade, não há como negar a idéia de que Deus  conforta, o que não é suficiente para convertê-la numa espécie de tabu. Há medidas para tudo, de valores e crenças até torcida de futebol. Cada um abraça a fé conforme as  necessidades. Talvez minha coerência seja manter a dúvida até o fim. Intrigante é saber que Charles Darwin, que revolucionou o cristianismo opondo-a ao princípio da evolução das espécies, tenha morrido abraçado a uma Bíblia. Não estranho, ele era um anglicano. Só que no meu pensamento cada um morre abraçado ao que lhe conforta. Sei de uma pessoa que morreu abraçada  a um instrumento musical. O que o homem não pode é achar que é superior pelo seu tipo de fé ou dogma. Há uma perspectiva, por exemplo, do pensamento indígena, que subverte esta ordem das coisas, considerando que a espécie humana evoluiu para espécies animais, o que inverte a nossa ótica. Não podemos ser vaidosos a ponto de cultivarmos a idéia de Deus, ou mesmo das religiões, para consagrar nossa “superioridade” sobre outras pessoas ou até mesmo outras espécies.  Como disse Darwin, invertendo a lógica da extrema importância que a humanidade dá a si mesma: “O homem, em sua arrogância, pensa de si mesmo como uma grande obra, merecedora da intervenção de uma divindade.” Coisas a se pensar. ( Texto escrito por CÉLIA MUSILLI,
celiamusilli@terra.com.br , extraído fa Folha 2, pag. 4, espaço CÉLIA MUSILLI, publicação da FOLHA DE LONDRINA, domingo, 15 de fevereiro de 2015).   

NOTÍCIAS DA CHÁCARA



     ABELHAS Jatay todo ano vinham fazer colméia num armário de madeira na área de serviços, e morriam aos montes, pois o armário é de guardar produtos de limpeza. Então colocamos caixa de madeira própria para colméia, comprada em apiário, elas adotaram e zanzanzunem feito doidas, voejando em volta, entrando e saindo da caixa. Veremos o que sai daí. Quem diria que um dia poderíamos ter mel de jatay.

BRAVO sumiu! Procuramos na chácara toda, até  que lembrei de olhar no meu escritório, ele estava  lá dormindo tranquilamente. É que saí fechando a porta e ele ficou lá. Estamos lhe fazendo muito carinho,  está com um tumor enorme numa perna, do tamanho de um melão. É benigno, mas não dá para extirpar com cirurgia. Então vai continuar assim, tranqüilo que só, e com a audição sempre perfeita: se alguém passa na calçada, ele levanta a  orelha E se alguém fala seu nome, até de longe, mesmo deitado ele abana o rabo. Cochila quase o tempo todo, treinando para o grande sono.

FLOR  de bananeira agora estamos  colhendo, só para comer picada e refogadinha. Vimos receita  na tevê, é delícia. Assim passamos a usar a bananeira inteira: as folhas secas recobrem o chão do bananal, os caules apodrecem em redor das mudas de frutíferas, adubando, e comemos as bananas e agora as flores. Frase de efeito: a bananeira é um boi vegetal.

MANDIOCAS estão quase no ponto de colheita. Aí iremos desenterrando uma a cada semana ou quinzena, já plantando outra na mesma cova. Cabral descobriu e a mandioca inventou o Brasil.

MARACUJAZEIRO  abriu a primeira flor! Fagundes Varela viu na flor do maracujá “coroa de espinhos/cálice de angústias”. Não tenho visão tão dolorosa. Acho só que mais bonita que a flor do maracujá não há. E é uma festa para as abelhas, que, além de sugar seu néctar, suponho que polinizam, para que venham os frutos. Beleza seguida de doçura, sem espinhos, ao alcance da mão. Obrigado,  irmão!

FRAMBOEZAS, ao contrário, são frutas miúdas e de casca fina, mas seus galhos têm espinhos mais agarrentos que roseira. Capricho da natureza, defendendo com garras cortantes a beleza ou a doçura. Mas não é assim na vida em geral? Tudo tem seu preço ou suas presas. O maracujazeiro mesmo, tão amigável, no entanto é trepadeira que vai subindo em árvores, vai se espalhando, se a gente deixar entra  pela janela do banheiro e toma banho com a gente. É preciso podar, eis seu preço.
 
DALVA queimando galhos no domingo de manhã é coisa de se filmar. De macacão, botas e luvas, ela ataca os montes de galhos secos e vai jogando no queimador,  tão feminina quanto firme, tão bonita quanto decidida. Seu macacão fica empapado de suor. Depois toma banho, senta no terraço enquanto estou terminando o almoço, e lhe sirvo uma cerveja gelada e cálice de cristal, ela diz que sou o melhor marido do mundo, e eu, até por ser seu único marido, acredito. Poeminho: Não procure longe/só se localize:/ felicidade se esconde/nas pequenices. ( Texto do escritor DOMINGOS PELLEGRINI, extraído do espaço  cultura/Crônica, pag. 21, publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 15 a 17 de fevereiro de 2015).

sábado, 14 de fevereiro de 2015

BEIRA DA ESTRADA


     No caminho de Curitiba para Londrina há um trecho em que você vê muito aquelas casas de sapé ou de madeira na beira da estrada onde se vende  tudo quanto é enfeite rústico e, que se couber no carro, se acaba comprando.
     O que mais chama a atenção são as gamelas de madeira. Aquelas enormes peças de um entalhe que deve  ter demorado  para fazer e  que ficam encostadas  nas grandes paredes do comércio  tomando sol e chuva até  que alguém se encante com tamanho capricho. E os carros param. As mulheres descem e namoram aqueles enfeites e demoram, pensam onde ficará melhor na casa, na chácara ou perto da churrasqueira,  enfim, levam e tem que caber no carro. Vi  também, da última vez, umas panelonas de metal batido. Brilhavam  como se fosse prata polida. Perto havia uns espelhos enormes, artesanatos e frutas.
     Depois, alguns quilômetros de poucas cidades e muito campo, onde as rádios já não pegam mais. Se você quiser ouvir alguma coisa pode por um pen drive ou um CD, mas o som do vento batendo no para-brisa e o barulho suave do motor convidam a apreciar a paisagem bucólica,  cheia de montanhas, plantações e áreas verdes mas, claro, sem perder a atenção na estrada.
     Algumas florestas para reflorestamento, com aquelas árvores altas e retas, todas muito juntas e simétricas. Lisas, até fazer uma pequena copa lá em cima. A estrada quente e o calor aliados ao intenso brilho do sol sobre a paisagem fornecem um dia cheio de alegria –quando chove ou tem neblina a história é outra, o cuidado deve ser redobrado.
     Nessa hora, as conversas  no automóvel  já não são tantas, a menos que as crianças vejam algo inusitado  como um animal selvagem atravessando a pista ou um rebanho de ovelhas pastando ou, claro, cavalos. Toda criança gosta de cavalos e  principalmente os pequenos, pois parecem que podem sempre montá-los.
     Depois a gente vem chegando perto de Ortigueira. O clima mais ameno. Paramos num restaurante que tem por ali. Coisas artesanais e outras que se parecem  com elas.  Tudo muito agradável e  logo mais um  outro  contorno para vir para Londrina.
     Fim de férias, e volta à rotina  mas, é claro, ainda faltam alguns bons quilômetros e atenção triplicada na via, porque ali é muito perigoso.
     Interessante que dali em diante você não tem nenhuma opção de lazer ou descanso ou turismo. Carecemos de uma cultura de maior integração entre o comércio e a agricultura. Um comércio bem montado numa rodovia deve ser bem pensado e é uma necessidade. Gera recursos para o comerciante e receita de impostos  para o município. Mas não se deve montar qualquer coisa. Deve-se ter uma estrutura básica para o turista sentir-se bem, para poder usufruir do local e gastar o seu dinheiro satisfazendo suas necessidades de bem-estar. E, depois, sair dali com boas recordações.
     Tem lugares que você  vai  em  beira de estrada que têm belas construções  (dá até para tirar fotos), boa comida e atendimento a contento. Acho importante o comércio na beira da estrada. Viajar não é só ir e voltar, mas também o caminho.  ( Texto escrito por DAILTON MARTINS, leitor da FOLHA,, pág 2, espaço Dedo de prosa, Folha Rural, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 14 de fevereiro de 2015).
   

domingo, 8 de fevereiro de 2015

PLANETA ÁGUA



              Numa das piores secas do Brasil, descobri os ritmos da chuva
     Outro dia ouvindo a chuva, que há muito não caía , percebi que ela tinha alma de blues. Chuva  assim dura mais tempo, toca noite inteira na janela,rega as plantas, molha a terra, entra pelas raízes, forma rios. Só quando o Brasil ficou sem chuva, começou a entender a chuva. Viu que as úteis são diferentes do pancadão, que lembra o funk, que faz muito barulho, perturba os moradores e vai sem deixar nada de bom, além de pessoas fulminadas por  raios e telhas partidas. O Brasil anda numa fase terrível de descarrego do clima  e descarrego da  música.
     Cada chuva tem um ritmo, gosto de todas, mas as blueseiras, as sinfônicas, as bossas-novísticas são melhores, se entregam de corpo e alma ao que fazem, levantam e abaixam poeira, inundam o chão.
     Ultimamente só se fala em crise hídrica, em crise de abastecimento, em rios secando. As autoridades medem os canos, quilômetros de furos e incapacidade administrativa, desperdício no campo e na cidade, desmatamentos, o país cada vez mais com cara de poço sem fundo, não bastasse o petróleo, que é bom nem colocar nessa conversa que é para não aprofundar mais ainda o cismo, a cizânia, o bate-boca entre os monarquistas e os inconfidentes.
     Então, pensando na água e só na água, lembrei de músicas que homenageiam o H20, essa matéria-prima da vida, este elemento líquido que lava nossos corpos, cozinha nosso alimento, apaga o fogo quando necessário.
     O país que detém 12% da água doce do planeta foi pego numa crise que transformou muitos governos em curvas de rio, da esfera estadual à federal ninguém se salva. Quem confia num administrador que não sabe se a caixa d’água de seu estado está cheia ou vazia? Quem confia num administrador que não sabe o quanto tem em caixa e, quando a embarcação faz água, empurra o prejuízo para os bolsos do povo? Lembraram-se  de alguns nomes? Ótimo. Assim não preciso identificar o que está na cara: vivemos a maior crise de administração política do Brasil. A incompetência veio à tona com os rios secos, governos movidos à vela e sem a energia do vento.
     Mas voltemos  à musicalidade da chuva, `marchinha de carnaval de  Marinósio  Filho, compositor que viveu durante décadas em Londrina e ensinava: “Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não”. Se vivesse hoje, o velho Marinósio teria que repensar essa  letra, água se transformou em artigo de luxo , em SP vendem-se garrafinhas a R$ 7 reais e já não se bebe  tanto ultimamente. Já vi quem diminuiu a água para copinhos de dois dedos, copinhos de cachaça, economia  de guerra em tempo de escassez.
     Bons tempos aquele do lirismo de Guilherme Arantes em Planeta Água: “Água que nasce na fonte serena do mundo/E que abre um profundo grotão/Água que faz inocente riacho/E  deságua na corrente do ribeirão”.
     Ou a belíssima Águas de Março de Tom Jobim, compositor que sabia tudo da Floresta da Tijuca quando se falava pouco em meio ambiente, mas não havia sombra de pessoas nefastas  querendo invadir fundos de vale: “È o vento ventando, é o fim da ladeira/É a viga, é o vão, festa da cumieira/ É a chuva chovendo , é conversa ribeira/Das águas de março, é o fim da canseira”.
     Água, água, água. Em seu nome deixo um poema oração. Livrai-nos da seca. Não nos deixe na mão. Que os deuses da chuva criem os blues que toca a noite inteira em meus ouvidos, deixo  a letra:
     “Água, orgasmo da terra, saliva, fluido, fluxo, poema. Sereia de prata, espelho de Oxum, a languidez  de um substantivo feminino. Água, a dança da gestação. Minha atração pelo profundo que corre se não como linfa, ninfa. Mãe da umidade entre as coxas, do sexo ao mar, livrai-nos da secura sem erotismo e da ciência sem H20. Amém” ( Texto da escritora CÉLIA MUSILLI  
celiamusilli@terra.com.br  pág 4, publicação do  jornal  FOLHA DE LONDRINA, domingo, 8 de fevereiro de 2015).

REPÚBLICA DO BARULHO


     Vivemos o auge da República do Barulho que criamos ou suportamos. Um momento de silêncio é mais raro que achar nota de 100.
     Temos cachorros presos em quintais pequenos e até amarrados, e por isso eles latem demais.
     Temos alarme que disparam até no meio da madrugada, aí você se pergunta  porque não nasci  minhoca.
     Em rodoviárias e aeroportos, o som é tão alto quanto ranheta.
     Em bufês de casamentos e festas, botam Tum-tum enquanto as pessoas comem, então para conversar é preciso falar alto, e, com todos falando alto, cada um precisa falar ainda mais alto, o ambiente visivelmente bonito torna-se sonoramente mais barulhento que um mercado de trocas ou uma indústria de molas.
     No centro, as lojas botam caixas de som nas calçadas, com locução de propaganda boca-cheia ou músicas sempre estupidamente irritantes ou irritantemente estúpidas.
     Nos bairros, passam carros de som de tremer vidraça, esses símbolos da impunidade e do desgoverno.
     (Será que melhoraria se eu devolvesse com Beethoven seu Tum-tum? Mas não acredito em justiça pelas próprias mãos...)
     Entretanto  som, ah, relaxe, vá ao shopping. Aquele templo de lazer e comércio, com ar condicionado, segurança, conforto e...barulheira!  Uma cocofonia onipresente, misturando a converseira e os mil barulhinhos, barulheiros e barulhons num amplo e alto ambiente fechado sem qualquer engenharia acústica. Custaria pouco  e ficaria tão melhor, a gente poderia conversar sem falar alto ou gritar.
     Então refugie-se no cinema. O som te pega pelo colarinho e sussurra  no ouvido: TÁ OUVINDO? E tome senssuround grave de tremer a parede e agudo de apunhalar o  tímpano.
     Ah, o Som. Parece Deus, está em todo lugar.
     O olhar pode escolher, desviar, fechar os olhos, mas o ouvido não, ouve tudo que soa, queira ou não queira.
     E eu quero ouvir é minha mulher ressonando a meu lado na cama. Os passarinhos ao alvorecer. O surronco da geladeira, mistura de ronco e sussurro, a dizer tudo bem, vá dormir que amanhã estarei aqui sempre cuidando da tua comida.
     Amigo conta que quase enlouqueceu na UTI, enquanto esperava alta, ouvindo todos aqueles barulhinhos naquele quase silêncio de morte.
     É só no quase silêncio que a gente ouve realmente.
     Tardinha, sento no terraço, com o companheiro Vinho e seu amigo Queijo, e escuto a Sinfonia do Poente, Cachorros latindo. Mães chamando filhos. Motor passando. Passarinho, Sapo, Grilo. Cochilo enrolado nesse tecido sonoro.
     Até que passa um carro de som.
     Chega! – decreto, enfiando tampões nos ouvidos e me exilo da República do Barulho.
     O último som que ouço é um bem-te-vi dizendo que volte aqui! Tiro os tampões, é, melhor ouvir que ensurdecer.  ( Texto do escritor DOMINGOS PELLEGRINI, d,Pellegrini@sercomtel.com.br, pág. 21, Cultura | Geral  publicação  do NORNAL DE LONDRINA, domingo, 8 de fevereiro de 2015).

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

VOCÊ É RESPONSÁVEL!



     Os tempos modernos andam turbulentos. A epidemia do desemprego ataca  todos os países, inclusive os ricos, sobretudo na  Europa. Os avanços da ciência nos deram mais vida: o brasileiro atualmente vive em média 71 anos, contra apenas 33 anos em 1990. Muitos já estão vivendo mais de 80 anos. Daqui a quatro décadas, o Brasil terá mais de 57 milhões de pessoas com mais de 60 anos. É uma alegria tanta vida. Mas com a dádiva vem o desafio. Como essa legião de pessoas viverá? Como você irá viver em sua velhice?
     O bem-estar depois  dos 60 anos enfrenta problemas. Anos de vida a mais geram novas demandas: saúde, cuidados pessoais, conforto, descanso. Tudo isso custa caro. De onde virá o dinheiro para pagar  a conta? Você já se perguntou com quem poderá contar na velhice ou de onde virá o dinheiro para sustentar uma vida boa quando lhe falta energia ou você resolver parar?
     Talvez, você não poderá contar com ninguém e não tem a menor idéia de que fonte sacará os recursos para uma velhice confortável. Pois a responsabilidade de  prover seu sustento é sua. Você terá que assumir o controle de sua vida, sua carreira, seus ganhos e sua poupança. Caso contrário a velhice pode ser dura e triste.
     Achar que alguém vai cuidar de você é uma aposta arriscada. No passado, os casais tinham muitos filhos, na esperança de serem  cuidados e sustentados por eles. Isto está acabando. Um relatório do IBGE diz que 64% dos idosos sustentam suas famílias, numa inversão da lógica. De alguma forma, a população entende esse fenômeno – e é cada vez menor o número de casais com dois filhos.
     Um dia, utopias bonitas, mas inviáveis, tentaram nos convencer de que o governo iria cuidar de nós. Você sabe de onde surgiu a idéia de aposentadoria aos 65 anos paga pelo governo? Veio de Otto Von Bismarck, presidente da Prússia, em 1889. Naquela época, a expectativa de vida na Europa não passava dos 45 anos e a proposta de Bismarck não ameaçava as finanças do governo. Hoje, com tanta gente passando dos 75 anos, a Previdência Social pode levar qualquer governo à falência.
     Depender do governo é uma furada. Havia uma ilha de pessoas imune ao problema: os funcionários públicos, beneficiados com estabilidade no emprego e aposentadoria integral. Mas até isso está sumindo. No Brasil, os novos funcionários públicos receberão do governo, no máximo, o teto do INSS; para terem mais eles deverão contribuir para um fundo de pensão próprio.
     Quanto às mulheres, no passado elas apostavam no casamento como uma apólice de seguros para a sua  vida. Essa fonte secou. Esperar que o marido (ou a esposa) vá prover seu sustento na velhice é como saltar do trapézio sem rede de proteção. Além disso, de cada dois casamentos, um vai acabar com o marido ou  mulher dispensando o cônjuge muito antes da terceira idade.
     Há a hipótese do segundo casamento, pois o IBGE informa que 50% dos novos matrimônios são recasamentos  para um dos dois. Ocorre que, como dizia o pensador Samuel Johnson, “o segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência”, e pode ser também que este acabe antes da terceira idade dos pombinhos.
     O fato concreto é: nem o patrão, nem o governo, nem a família irão cuidar de você ou pagar suas contas na velhice. Isso pode até acontecer, mas convém não confiar. É melhor acreditar em dois pontos: um,  você é o responsável: dois, cuide de  seu dinheiro e construa sua arca. Noé sobreviveu ao dilúvio porque não esperou que Deus ou seus pais lhe construíssem uma arca. ( Texto escrito por JOSÉ PIO MARTINS, economista e reitor da Universidade Positivo em Curitiba, extraído do ESPAÇO ABERTO, pág.2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015).

CRIATIVIDADE REDUZ DESPESAS



     Algumas pessoas defendem que ser criativo é algo genético, que a pessoa nasceu com esse dom. Outros pensam que é um processo e que, se houver dedicação correta, ela pode se desenvolver. Acredito que o ser humano é um misto de questões genéticas com  o  meio, misturando um pouco os dois conceitos.
     Certo ou errado, a manipulação do meio é fortemente utilizada pra se vender coisas ao consumidor nos mais diversos lugares, supermercados, shopings, feirões  imobiliários, etc. Cria-se um ambiente favorável aos negócios, espalham-se cuidadosamente estímulos ao redor. A música é sempre ligeiramente alta, agitada e o cheiro dos ambientes, em alguns casos, como concessionárias de veículos e quartos de hotel, é claramente manipulado para  que o consumidor  se sinta bem à vontade e consuma bastante.
     Dentre as saídas mais fáceis de serem utilizadas para a redução de despesas temos o uso da criatividade nas mais variadas situações: o fazendeiro que usa o estrume do boi para  alimentar  os peixes, o sistema de coleta de água usado em alguns aeroportos para os banheiros públicos; as telhas transparentes que aumentam a luminosidade  interna das casas durante o dia. Há milhares de outras situações que demonstram a força da criatividade como mecanismo de redução de despesas nas atividades do ser humano.
     Algumas saídas criadas pelas pessoas têm funcionado muito bem no tocante a redução de despesas: levar a marmita para o trabalho, trocar o carro pela bicicleta, trocar as saídas para  restaurantes por  receber amigos em casa, trocar equipamentos mais antigos por novos que gastam menos. Há ainda o compartilhamento de caronas, a mudança pra um local mais perto de ponto de ônibus ou metrô, compra de um imóvel  menor e mais bem localizado, troca da empregada doméstica por uma faxineira, entre outras.
     Não há limites para a criatividade humana. E quando pensamos em novas iniciativas que reduzem as despesas do dia a dia, podem os aproveitar as inovações tecnológicas, como  o Skype, utilizado por muitos para reduzir ligações internacionais e interurbanas. Outra tecnologia que vem se popularizando no intuito de reduzir as contas de celular é o WhatsApp, software de conversas instantâneas e gratuitas.
     Muitas coisas ainda irão surgir com o objetivo  de te  fazer você economizar , como os drones, que prometem revolucionar a logística, e os carros sem condutores. Enquanto elas não se popularizam, o jeito é analisar as despesas e buscar maneiras próprias para economizar, Fique atento aos pequenos gastos do dia a dia e descubra como buscar alternativas mais vantajosas. Faça esse exercício e poupe! ( Texto escrito por LÉLIO BRGA CALHAU, Promotor de Justiça de defesa do consumidor do Ministério Público de Minas Gerais e coordenador do site Educação Financeira para Todos. Extraído do espaço ponto de vista, pág. 2, publicação do JORNAL DE LONDRINA, quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015)
 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A TECNOLOGIA E O AVANÇO SILENCIOSO DA PORNOGRAFIA


     Há algum tempo estamos vivendo uma cultura sexualizada  ao extremo. Na literatura, no cinema, na televisão e principalmente na internet. O conteúdo sexual está cada vez mais explícito. A popularização do acesso à internet possibilitou um salto espantoso para as comunicações e, infelizmente, trouxe consigo a proliferação também espantosa da pornografia.
     Vemos em grande parte da mídia a exploração dos corpos de forma intensa, seja nos programas de televisão ou ações de marketing de forma velada ou escancarada. Mulheres seminuas,  e mesmo nuas, desfilam pelas telas sem nenhum pudor. A superexposição dos corpos provoca a desvalorização deles próprios, que passam a ser padronizados. A angústia por não possuir corpos “padrão”  levam mulheres e homens a engordar a indústria da beleza. Cosméticos, plásticas e regimes na busca do sucesso na vida  pela beleza, assim como preconiza o marketing.
     A sociedade tem criado uma legião de descontentes  com seus corpos, em especial entre as adolescentes.  Números  de cirurgias plásticas tem aumentado entre homens e mulheres de todas as idades e os motivos, geralmente, são estéticos.
     O sexo, ou o desejo pelo sexo, tem sido a tônica das relações sociais. Agradar o paladar sexual é a missão, e, nesse sentido os jovens têm sido o alvo mais fácil.  A pornografia  avança em todas as direções pela internet. Em diversos aparelhos, imagens e vídeos se propagam em velocidade alucinante. Fotos e vídeos de namorados em poses sensuais e eróticas são  trocadas entre jovens e quase jovens. Traumas adolescentes vão surgindo com essa exposição internet adentro e famílias, envergonhadas, tendo que mudar de cidade. Futuros comprometidos.
     Silenciosamente, a pornografia vai minando o caráter da sociedade. Tornam-se comuns as relações apenas sexuais e os casos de viciados em pornografia crescem vertiginosamente. Relações estáveis e sólidas têm sido destruídas e carreiras bem sucedidas maculadas pela pornografia e o anseio sexual.
     Trata-se aqui não de simples moralismo. Casos de abusos sexuais em ambientes públicos, cada vez mais recorrentes, como ônibus, metrô, aeroportos e parques, demonstram o que esse cenário pode suscitar. Difícil medir o quanto a pornografia influenciam os abusadores, mas é certo que potencializa os instintos.
     As relações sociais, em seus diversos campos, têm muito a perder quando a satisfação dos desejos íntimos a qualquer custo é buscada.  Educadores, religiosos  e pais, principalmente, mas também todos nós devemos atentar ao avanço da pornografia. O respeito ao outro enquanto sujeito de individualidade, antes de qualquer coisa, precisa ser ensinado e compartilhado.
     As relações precisam ser muito mais que pelas satisfações de desejos íntimos. Não é m oralismo barato buscar uma sociedade saudável e de respeito entre as pessoas. ( Texto escrito por WILSON FRANCISCO MOREIRA, professor de Sociologia em Londrina. Extraído do espaço ponto de vista, pág.2, publicação do JORNAL DE LONDRINA, quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015).
    

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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