domingo, 30 de setembro de 2018

GATO ANIMAL MAIS QUE PERFEITO



   O nome do animal elétrico com o qual convivo é Grafite com pés na nobre linhagem dos vira-latas 
   Em dia de tempestade, ele parece sentir um curto-circuito. Na velocidade dos raios, pula e se esconde embaixo da cama. Depois, num mergulho digno de um golfinho, o animal de quatro patas volta à superfície, arriscando um salto que passa rente à minha orelha e me faz proteger os olhos com as mãos. 
   O nome do animal elétrico com o qual convivo é Grafite, o gato siamês com pés na nobre linhagem dos vira-latas, o que não faz dele um bicho puro de raça, mas uma misturinha cabocla, ativo como quem recebe ordens de ondas elétricas, que recolhe o ar e se transforma em estripulias, no apartamento de 130 metros quadrados. O espaço é pequeno para um gato, parente de tigres, leões e linces, ele precisa de um quintal arborizado, com grama verdinha, esconderijos de aranhas, flores que destilam mel para as abelhas, o infinito da terra, a imensidão do céu. Mas se consola em ver as frestas de vida pela janela e se diverte no seu pequeno mundo, cada vez mais curioso e apertado. 
   Adotado depois de ser encontrado com uma ninhada de mais de dois gatinhos, a poucos quilômetros do centro de Londrina - na estrada que leva à Mata dos Godoy – o bichinho chegou em casa acomodado numa caixa de papel da qual saiu como um bebê, tirando do cerco de papelão uma pata de cada vez. Depois ganhou confiança, teve colo, subiu nas cadeiras, descobriu minha cama, aninhou-se no inverno entre as cobertas, até descobrir os armários com a gata Tattoo, habitante mais antiga da casa, bonita como uma tigresa de pelos dourados e andar sensual como o de Gisele Bundchen. 
   Hoje, a dupla anima minhas manhãs , revezando o humor de modo que nunca sei se vão acordar como gatos ou como tigres, se vão ficar em silêncio ou desatar a miadeira até que a ração seja servida, os vizinhos acordem, e eles se deem conta de que o dia finalmente começou, dispostos às aventuras de sempre.
   A “Ode do Gato”, de Pablo Neruda, celebra o felino como o bicho que chegou pronto ao mundo. 
   ”Os animais foram imperfeitos, compridos de rabo, tristes de cabeça. 
   Pouco a pouco se foram compondo ,
   fazendo-se paisagem, adquirindo pintas, graça voo.
   O  gato
   só o gato apareceu completo
   e orgulhoso:
   nasceu completamente terminado,
   anda sozinho e sabe o que quer “.
   Eu diria que tal perfeição combina com a suprema malícia. Já vi gatos cercando ratinhos em tijolos furados num jogo de pega-pega, já vi gatos caçando vagalumes em telas de computador, pegando bolinhas de papel para devolvê-las ao cesto e pasmem – acompanhando balés na televisão como se fossem eles mesmos o Nureyev.
   Com tanta vivacidade, concordo com Neruda sobre a perfeição do gato, em poses de pura elegância ou brincadeiras que me lembram malabarismos e saltos sem rede de proteção. Mas também concordo com o poeta sobre o mistério do gato, porque nunca sei se veem baratas ou espíritos nas paredes, quando estalam os olhos num ponto fixo. Nesta hora, confesso que fico com medo do gato que, além de bicho, é mago. (FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI celia.musilli@gmail.com página 2, caderno FOLHA 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 29 e 30 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sábado, 29 de setembro de 2018

UM SETOR QUE VAI BEM NO BRASIL


   Depois que a Embrapa instalou-se, no final dos anos 1970, a agricultura brasileira deu um grande salto de qualidade tirou o Brasil no atraso nesse setor. De importador, o país converteu-se em um dos celeiros do mundo. Reportagem da revista VEJA, citando informações do Ministério da Agricultura, demonstra que nos idos de 1968 produzimos 1.200 quilos de grãos por alqueire e agora chegamos a 3.750. Foi um crescimento várias vezes maior que no início. O cerrado foi ocupado por plantações, pela implantação da tecnologia em solo ácido, ao tempo em que a Embrapa desenvolvia sementes adequadas àquele bioma. Com o aumento da produção e da produtividade , intensificou-se a exportação de grãos, e também a população bovina foi beneficiada, convertendo o Brasil no maior exportador mundial de proteína animal. A revista se foca na modernidade que já pontifica, como o uso de drones equipados com câmaras e que podem detectar, por exemplo, a presença de ervas daninhas, e com isso os defensivos só são aplicados nesses pontos, sem necessidade de cobrir toda a área plantada. 
   Mas os avanços estendem também ao uso de maquinaria automatizada, que opera por controle remoto e, nos terrenos planos, dispensa o operador. Inspirada pelo regime militar, a Embrapa é um exemplo e excelência em pesquisa e fornecimento de resultados, e deles se beneficiam as culturas extensivas e também as dos médicos e pequenos produtores. É válido ressaltar, nesse campo, o ufanismo do Brasil que dá certo mesmo com as investidas de coloração ideológica contra o agrotóxico.
   Nestes tempo de turbulência política e de desesperança de atitudes cooperadoras dos governos, há uma legião de pesquisadores idealistas que não esmorecem, porque movidos acima de tudo pela consciência profissional. Pude conhecer ( não tão recentemente, mas sei que as coisas não mudaram) o que a Embrapa faz na região do cerrado, demonstrando que não há solo improdutivo com o uso da tecnologia e onde, “em se plantando tudo dá”, como relatou Pero Vaz de Caminha na carta ao Rei.
   Mesmo com problemas de infraestrutura ainda por corrigir e com o desencanto ante os frequentes casos de corrupção governamental, os brasileiros patriotas – que formam a maioria – acreditam nas potencialidades deste intenso território pátrio ainda por explorar, e, independente das regalias que contemplam os detentores do poder político, carregam o Brasil nas costas e seguram a barra, e, não contando com a esperada parceria dos governantes – mas apesar deles – marcham em frente, e resolutos. Poucos dias antecedem a eleição do Presidente da República, dos governantes, de senadores e deputados federais e estaduais, então esta é mais uma oportunidade de os cidadãos decidirem que tipo de governantes desejam. (FONTE: Crônica escrita por WALMOR MACCARINI, jornalista, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, 29 e 30 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br

VIOLÊNCIA NA SALA DE AULA


   A violência entrou de forma trágica no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira, no oeste do Paraná, na manhã de sexta-feira (28). Dois estudantes do ensino médio ficaram feridos, atingidos por disparos de arma de fogo. Segundo a polícia, o atirador é um adolescente de 15 anos, também aluno da escola. Dando suporte ao ataque, estaria outro estudante, da mesma idade. Depois de imobilizado pela polícia, o atirador alegou que sofria bullying. 
   Os feridos foram hospitalizados, sendo um deles em estado muito grave. O ataque provocou pânico e vídeos dos alunos fugindo do atirador se espalharam pelas redes sociais. Os dois agressores entraram na escola armados com uma garrucha calibre 22 e uma faca, além de bombas caseiras e várias munições. Em diligência à residência de um deles, a polícia localizou mais munições, duas espingardas e vários recortes de notícias similares à ataques que ocorreram nos Estados Unidos. A arma não era registrada. 
   A violência que chega às crianças e adolescentes nas escolas não é um fenômeno isolado. As agressões físicas e as diversas formas de bullying são um reflexo da violência que atinge a sociedade. O relato das testemunhas que assistiram ao terror do ataque a tirou em Medianeira lembram um caso de um ano passado, quando um adolescente de 14 anos também atirou contra os colegas de uma escola em Goiânia (GO). À época, a polícia afirmou que o menino sofria de bullying e teria se inspirado em outros eventos de vingança com armas de fogo. 
   Tragédias como a de Medianeira e Goiânia mostram que o bullying, essa prática de violência muitas vezes silenciosa, não pode ser ignorada. Em se tratando de ambiente escolar, a atenção deve ser total, pois é lá que os estudantes passam boa parte do dia. Familiares, professores, coordenadores e funcionários devem ficar atentos para, ao identificar situações de bullying, agir com sabedoria, equilíbrio e rapidez. (FONTE: Editorial da Folha de Londrina, página 2, coluna OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br página 2, 29 e 30 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

AVANÇA A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS

   O Paraná é o Estado brasileiro com maior número de doadores efetivos. 50,6 doadores por milhão de habitantes, de acordo com os dados do SET (Sistema Estadual de Transplantes) da Secretaria Estadual de Saúde. Em 2010, essa taxa era de apenas 6,8 por milhão de habitantes. É um grande resultado para os paranaenses, pois a Espanha , país que mais doa órgãos em todo o mundo tem o índice de 42 doadores por milhão. Em todo o Brasil, um levantamento do governo federal junto à ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) aponta que o País vive o melhor cenário de doação em 20 anos. Em relação à taxa de doadores efetivos, o País alcançou uma taxa de 16,6 doadores por milhão de pessoas no último trimestre de 2017. A previsão é que o Brasil consiga alcançar o índice paranaense (50,6) somente em 2030. 
   Em entrevista nesta sexta-feira (28) a médica e diretora do SET, Arlene Badoch, afirmou que as pessoas que vivem hoje no Paraná e estão em uma lista, tem grande chance de conseguir um transplante. É considerado doador efetivo o paciente que tem o órgão retirado em condições de ser transplantado. Em todo o Brasil, um levantamento do governo federal junto à ABTO aponta que os registros de transplantes subiram de 25 mil em 2016 para 27 mil no ano passado. 
   A reportagem mostra que uma série de fatores vem contribuindo para esta melhoria. Entre eles, o decreto assinado em 2016, determinando que uma aeronave da Força Aérea Brasileira permaneça em solo exclusivamente para transporte de órgãos para transplantes. Nestes dois anos, já foram transportados 512 órgãos. Outro decreto, assinado em 2017, regulamenta e detalha os critérios de notificação de morte encefálica. Dessa forma, a notificação torna-se atribuição de outros médicos capacitados, e não somente de neurologistas. O contado com a família do doador é uma etapa delicada e importante, tanto que neste mês (Setembro Verde) organizações que trabalham com a conscientização sobre a importância da doação de órgãos estão realizando campanhas em hospitais para que funcionários possam dar o suporte necessário aos familiares. 
   A sensibilização das famílias é um grande desafio. Muitos não querem falar de morte, mas é fundamental que as pessoas manifestem a parentes e amigos o desejo de ser doador. A vida é cheia de escolhas e o diálogo é o melhor caminho. (FONTE: Editorial da Folha de Londrina, página 2, coluna OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br sexta-feira, 28 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

domingo, 23 de setembro de 2018

E-MAILS NO LUGAR DAS CARTAS


   Sempre esconjurei mensagens prontas, principalmente essas que nos enviam insistentemente 
   Em tempos de e-mails falar em cartas parece obsoleto. No entanto, as mensagens pessoais sempre serão um estado de espírito, de modo que alguns e-mails extrapolam a funcionalidade e se transformam em cartas que chegam muito mais rápido. Imaginem o que não era escrever para um amigo que morava no Acre sem e-mails. Os correios subiam lentamente as serras, faziam curvas, atravessavam florestas, até chegar ao endereço do destinatário, de mão em mão. E lá se iam dias, se não meses. 
   Penso nas “cartas” que enviei a alguns amigos e que extrapolam as simples mensagens de Natal ou votos de Feliz Aniversário. Para isso, as redes sociais são muito mais eficientes, todos os dias sabemos quem faz aniversário e há uma verdadeira indústria de felicitações de Natal nas plataformas digitais. De minha parte, até para isso sempre preferi mensagens pessoais, com minhas próprias palavras, e uma imagem, de preferência artística, à minha escolha. 
   Sempre esconjurei mensagens prontas, principalmente essas que nos enviam insistentemente, com borboletas de glitter e frases de efeito. Ninguém tem a obrigação de gostar das mesmas coisas, mas um texto que corresponde ao que queremos expressar, feito por nós mesmos, tem o valor de algo muito pessoal que as indústrias de mensagem não suprem. Mas essas também valem para quem acha que não podem criar sozinho uma forma de expressar emoções. Meu conselho, se posso dar, é eu ousem sempre para expressar o que sentem e que querem transmitir. 
   As cartas já fizeram parte da vida das pessoas de modo a criar um arquivo particular. Tenho cartas de meu pai endereçadas à minha mãe quando ele morava em Londrina, nos anos de 1940, e ela no interior de SP, antes de se casarem. 
   No baú de autores consagrados, as cartas sempre funcionaram como parte do seu acervo. Em centros de pesquisa, já tive nas mãos cartas de Hilda Hilst ou Mário Andrade. Indescritível a emoção que esses papeis nos trazem, amarelados, finos como aqueles apropriados a cartas, ou improvisados como papel de carta em folhas de agenda. 
   Dia desses, li artigo sobre as cartas que Clarice Lispector enviou ao diplomata Maury Gurgel Valente, antes do casamento. Ela conta às irmãs que o noivo discutiu com ela porque as cartas eram literárias demais. Ele achava que Clarice se comportava como autora, não como namorada, e isso abalou sua segurança sobre o amor dela por ele. Ela então lhe explica que escreveu com “espontaneidade integral” , ou seja, aquele era mesmo seu jeito de se comunicar. Ela ainda reforça que queria “uma vida-vida”, uma vida em que literatura e relações pessoais não estão dissociadas, tudo isso era ela mesma, inteira. 
   Na carta à irmã, falando do acontecido, Clarice usa ainda uma frase irônica: “desde que estou namorando o Itamarati tenho ficado com gosto especial pelas palavras de gíria, bem vulgares...” Com perspicácia, esse era seu modo de expressar a rebeldia contra o “status quo”. 
   Cartas que vem e vão, hoje em forma de e-mails que podem ter a duração de uma correspondência. Tive uma experiência assim por uns quatro anos. O arquivo se foi no dia que perdi minha conta de e-mail, ela travou sem razão e cansei-me dos administradores americanos me enchendo de perguntas, sem oferecer solução. Às vezes é muito difícil provar que a gente é a gente mesma no mundo digital. 
   Foram-se as “cartas” todas arquivadas na pasta do e-mail. Sempre achei que dariam um livro. Mas agora o livro será sobre a perda das “cartas”. Até mesmo quando elas se vão, os sentimentos ficam porque assim foram escritos. (FONTE: Crônica escrita pela jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI, celia.musill.@gmail.com página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 23 e 24 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

terça-feira, 18 de setembro de 2018

A RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS PELO TRABALHO


   A ressocialização por meio do trabalho ganhou um forte aliado. Uma portaria publicada no dia 14 de setembro, no Diário Oficial da União, determina que empresas contratadas pela administração pública são obrigadas a utilizar a mão de obra de detentos e ex-detentos em contratos com valor anual acima de R$330 mil. Dependendo do gasto do governo, cota para egressos e presidiários varia de 3% a 6% do pessoal. 
   Em Londrina, a nova portaria ainda Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização já sugere a contratação de apenados. O contato mais recente do serviço de limpeza e varrição pede a contratação de 17 detentos do regime semiaberto. Os presos que trabalham recebem menos do que um salário mínimo e a contratação deles não implica em pagamento de encargos trabalhistas por parte do órgão público beneficiado pela mão de obra. O regime de trabalho dos presos é definido pela Lei de Execuções Penais e vantagem é a remissão de um dia de pena a cada três trabalhados. 
   Reportagem da FOLHA desta terça-feira (18) traz entrevistas com homens que cumprem pena no regime semiaberto, em Londrina. O preconceito é uma barreira enfrentada pelos ex-detentos, que buscam o mercado de trabalho. Se a busca por um emprego está difícil para muitos brasileiros, para quem acabou de sair da cadeia, a situação é mais dramática. Muitas vezes, a discriminação acaba por ajudar a levar o indivíduo novamente para o crime e, consequentemente, para a prisão. Sendo bem aplicada, a nova lei terá potencial de transformar a realidade de quem deixa a prisão sonhando em mudar de vida, além de auxiliar s reduzir o número de reincidentes. É claro que, para alcançar os resultados políticos esperados, as empresas contratadas pela administração públicas precisam tratar os funcionários presos como os outros colaboradores, sem discriminação, fornecendo a remuneração e os benefícios assegurados pela lei. A médio e longo prazo ainda significa diminuir a superpopulação dos presídios e as circunstâncias degradantes e violentas que ocorrem em decorrência dessa situação. (FONTE: Editoral do jornal Folha de Londrina, página 2, FOLHA OPINIÃO, terça-feira, 18 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

ALIMENTAÇÃO E SONO PODEM AFETAR FERTILIDADE MASCULINA


 Pesquisas na UEL investigam a relação de elementos, como privação do sono e ingestão de agrotóxicos através dos alimentos, com possíveis danos à vida reprodutiva. 

   Em busca de respostas sobre as possíveis causas dos distúrbios reprodutivos no sexo masculino, a bióloga Glaura Scamtamburlo Alves Fernandes coordena há sete anos uma série de pesquisas no Laboratório de Toxicologia e Distúrbios Metabólicos da Reprodução, da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
   Os estudos avaliam diversos elementos que podem, em um médio ou longo prazo, gerar danos à fertilidade masculina. As linhas de pesquisa envolvem desde a tecnologia, como consumo de agrotóxicos por alimentos até comportamental, como a privação do sono, consumo de álcool, entre outros.
   Para isso, o grupo de pesquisas do (CCB) Centro de Ciências Biológicas da universidade utiliza roedores machos de 40 dias de idade, que mimetiza a fase da adolescência (período peripuberal) dos seres humanos. A análise de roedores nesta faixa etária torna a pesquisa inédita. 
   “Com essas análises, consigo traçar um perfil de tratamento e provar que realmente há uma alteração devido a tal evento. O organismo do roedor é mais resistente que o do humano e, em relação à reprodução, a gente já constatou alterações, o que significa que a chance disso acontecer nos homens é maior”, afirma. 

   HORMÔNIOS SEXUAIS
   Entre os resultados, um ponto de atenção é com relação aos distúrbios do sono. O estudo conduzido pela doutora Gláucia Eloísa Munhoz de Lion Siervo mostrou que a privação do sono reduz a motilidade (capacidade móvel) dos espermatozoides em até 50%, mata as células dos testículos, o que reflete na produção dos espermatozoides, e provoca alterações na produção de hormônios sexuais, como testosterona, LH (hormônio luteinizante) e corticosterona. 
   “A gente sabe que os adolescentes têm um padrão de sono diferente. Eles chegam a dormir cinco, seis horas, enquanto a necessidade de sono deles é entre 10 e 11 horas por dia. Esse comportamento, lá na frente, pode afetar a fertilidade”, aponta Siervo. 
   Para chegar a essa resposta, o estudo intitulado “Efeitos de restrição de sono durante a peripurbedade sobre o desenvolvimento testicular e epididimário”, usou métodos para reduzir o tempo de sono dos roedores pela metade, A pesquisadora explica que eles precisam dormir 12 horas por dia.
   “Para privá-los de sono, nos os colocamos em um tanque com blocos de concreto e um pouco de água no fundo. Eles ficavam sobre essas plataformas, mas quando dormiam e entravam na etapa mais profunda do sono (REM), chamada REM, quando ocorre a atonia muscular, eles encostavam o focinho na água e acordavam”, detalha.
   O trabalho de Siervo já foi publicado em revistas internacionais e, futuramente, ela espera se dedicar ao desenvolvimento de uma droga contraceptiva masculina. 

   AGENTE TÓXICOS
Além do sono, Glaura Fernandes, que é responsável pelo laboratório, destaca também a investigação sobre o consumo de agrotóxico através da alimentação e o insucesso reprodutivo.
   Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, conforme o dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva). Para se ter uma ideia, a estimativa, segundo a campanha “Viva sem veneno”, é de que cada brasileiro consome, em média, 7,3 litros de veneno por ano. 
   “Estamos injetando uma dose mínima diária, na boca do animal, por um processo chamado gavagem. Utilizamos a via gástrica para mimetizar mais ainda a exposição do indivíduo a esses agentes tóxicos. São dois trabalhos. Um analisa um inseticida usado no combate do mosquito Aedes aegypti e outro em um herbicida utilizado nas lavouras”, explica. 
   De acordo com a bióloga, quanto menos dose é absorvida, mais efeito tem. “Quando um elemento vai chegando em menor dose e mais lentamente no organismo, a capacidade de defesa do organismo vai sendo driblada por aquele agente. E com isso, vai lesando um pouquinho de cada vez. E o interessante do nosso trabalho é que os animais não têm efeito de intoxicação”, diz.
   É o caso também dos humanos. Fernandes comenta que em doses pequenas os homens não sentem nenhuma alteração, mas quando se investiga, no caso a questão reprodutiva, os pesquisadores estão constatando uma diminuição da qualidade espermática, com alterações no tecido epididimário e testicular. 
   Além da alimentação e do sono, há ainda o uso de fármacos, o consumo de álcool, açúcar e gordura, sedentarismo, obesidade, disfunção tireoidiana, estresse e ansiedade, que podem interferir na saúde reprodutiva masculina. Vale lembrar que tudo isso está associado ainda ao processo de envelhecimento. 
   “Estamos trabalhando com vários elementos que podem desbalancear a morfofisiologia desse sistema reprodutor. Os prejuízos na fertilidade dos indivíduos podem ocorrer em qualquer fase, inclusive na vida intrauterina porque a mãe está sendo exposta à essas condições externas”, completa. 

   ‘A SOCIEDADE AINDA RESPONSABILIZA A MULHER’ 

   Além da descoberta de algumas causas dos distúrbios na reprodução masculina e do fornecimento de informações para tratamentos futuros, as pesquisas na UEL também colaboram para desmitificar a ideia de que a mulher é responsável pela não reprodução ou pelas alterações genéticas do filho (a). 
   “Falar sobre problemas reprodutivos na mulher, até por uma questão cultural, é normal, mas para o homem é como se interferisse na masculinidade. Na maioria das vezes, não há essa relação, pois os homens têm desempenho sexual e libido normais. A sociedade ainda responsabiliza a mulher. Tem que desmistificar isso”, diz a pesquisadora e professora do Departamento de Biologia Geral da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Glaura Scantamburlo Alves Fernandes. 
   De acordo com ela, “o homem contribui, e muito, para o insucesso reprodutivo do casal e ainda pode ser o responsável por alterações no descendente, como Síndrome de Down.”
   Em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 50 milhões de pessoas são consideradas inférteis (casal que mantém relações sexuais sem métodos contraceptivos durante 12 meses sem engravidar). No Brasil, a estimativa é que oito milhões de pessoas apresentam essa condição (M.O.) 

   CAMPANHA QUER ATINGIR JOVENS 

   No mês de Julho, Curitiba sediou o “Movimento da Fertilidade” um evento inédito da SBRA (Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida) para conscientizar jovens sobre a importância de preservar a fertilidade natural e as limitações do sistema reprodutivo. 
   O especialista em reprodução humana Álvaro Ceschin, membro da SBRA, explica que a idade também interfere na qualidade espermática em homens acima de50 anos, apesar dos espermatozoides serem produzidos de forma contínua. 
   Mas mulheres, o passar o tempo é ainda mais impactante, pois elas nascem com aproximadamente um milhão de óvulos e vão perdendo essa reserva ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, na adolescência, esse número cai para 300 mil e, desses, estima-se que a mulher vai utilizar cerca de 300 em idade reprodutiva. 
   “O marco é aos 35 anos, com declínio acentuado depois dos 40. Além da quantidade, há alterações também na qualidade. Então, o alerta é para que as pessoas tenham uma consciência da importância de adotar hábitos saudáveis”, ressalta. Para um prognóstico maior de engravidar, o especialista destaca a alimentação saudável, a prática de atividade física e a saúde emocional. 
   Ceschin cita ainda que cada vez mais as mulheres estão engravidando mais tarde. “Houve uma mudança social. No Brasil, o número de mulheres que optam por serem mães após os 40 anos aumentou 49,5% nos últimos anos”, aponta. 
   Dados do Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), do Datasus, mostram que entre 2010 e 2016 o número de mulheres que tiveram filhos na faixa dos 35 aos 49 anos, subiu 28%, passando de 299 mil em 2010, para 384 mil em 2016. 
   “Hoje, já existem alternativas como congelamento de óvulos para aumentar a possibilidade de engravidar no futuro, especialmente em jovens com alguma redução por conta de doença oncológica. Para o futuro, já se tem pesquisado muito o congelamento de tecido ovariano, visando a possibilidade de concepção natural”, conclui. (M.O.) (FONTE MICAELA ORIKASA – Reportagem Local, página 10, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 17 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).


O CAMINHO DA MUDANÇA PASSA PELA PARTICIPAÇÃO DOS JOVENS


   Há 30 anos, a Constituição Federal reservou aos jovens de 16 anos o direito ao voto. Infelizmente, poucas pessoas vão atrás de fazer o título de eleitor ao completar 16 anos. Em 2018, o número de jovens com idade abaixo de 18 anos aptos a votar nas eleições é de 1.400.617, sendo que no Paraná a quantidade chegou a 99.066. A lei brasileira determina que o voto é facultativo para quem tem entre 16 e 17 anos e acima dos 70 anos. A partir de 18 anos, é obrigatório. 
   Há muitos motivos que possam levar os jovens a praticamente ignorar o processo eleitoral e adiar ao máximo a hora de tirar o título de eleitor. Mas o desânimo dos adultos certamente deve ter influenciado. Crise econômica e os escândalos de corrupção envolvendo políticos levam à descrença em um momento em que a participação política dos brasileiros no processo eleitoral é de extrema importância. 
   Pensando em aproximar o jovem do debate político, a Folha de Londrina levou o tema para o Especial Transmídia de setembro, que circulou no último final de semana (15 e 16). A reportagem levou o coordenador da Comissão de Direito Eleitoral da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Alexandre Melatti, e uma funcionária da Vara de Justiça Eleitoral de Londrina para o Colégio Hugo Simas. Uma palestra sobre eleições e a simulação de uma votação ajudam a lembrar alunos do segundo ano do ensino médio que eles são fundamentais no processo de construção de um país melhor e mais justo. O coordenador da OAB lembrou aos adolescentes que eles são o futuro e, se não tiverem consciência de participação democrática, a corrupção continuará a fazer grandes estragos. 
   A baixa participação dos jovens brasileiros na política preocupa até mesmo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para as Crianças e Adolescentes), que colocou a necessidade de aproximar jovens e política em uma pauta de ações e desafios considerados importantes para o programa de governo de candidatos a Presidente da República e a governadores. Necessidade que ficou evidente com a queda de 230 mil eleitores de 16 a 18 anos aptos a votar de 2018 em relação a 2014. É preciso criar oportunidades para que os jovens possam participar da política ou pelo menos de interessar em votar. O caminho da mudança passa pela participação, engajamento, comprometimento e vigilância do cidadão. (FONTE: Editorial da FOLHA DE LONDRIA, página 2, coluna FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br segunda-feira, 17 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

CRÔNICAS E CRONISTAS



          Portal do Instituto Moreira Salles traz de volta cronistas que marcaram épocas
   Cronistas também precisam falar de crônicas. E, esta semana, soube que o Portal Moreira Salles (MS) acaba de criar um espaço especial para a crônica brasileira. Inicialmente, seis dos maiores cronistas brasileiros formam os pilares do portal: Rachel de Queiroz, Rubem Braga, Antônio Maria, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende. 
   Ao todo, já são 2.519 crônicas, o que dá a medida da produção intensa desses autores ao longo de sua vivência e colaboração com jornais e revistas. Cabe destacar que muitos dos textos estão publicados tal como foram vistos por leitores ao longo das décadas. O acervo é formado por vários recortes recolhidos na imprensa pelos autores ou por seus leitores. Isso me faz pensar que, mesmo com toda tecnologia digital, ainda é importante guardar o registro em papel dos textos que, mais que resgatar, ilustram uma fase do jornalismo. A ideia é que a plataforma seja sempre alimentada com novos recortes, segundo o texto de apresentação do portal que é editado por outro cronista reconhecido: o jornalista Humberto Werneck, que conta com a curadoria de Elvia Bezerra (MS) e Rosângela Rangel (Fundação Casa de Rui Barbosa).
   Já é possível acessar cerca de 816 crônicas de Rubem Braga, que começou a escrever profissionalmente aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro do Itapemirim (ES), firmando-se depois como cronista e uma das maiores expressões do gênero no Brasil, com seu estilo por vezes ácido, irônico ou bem humorado. O cronista oscilava, como muitos, entre os textos poéticos e as duras críticas que escrevia em forma de artigos. Fazia crítica social de primeira linha, sabia contestar governos autoritários e chegou a ser preso durante pelo Estado Novo pelo que escrevia. 
   Clarice Lispector também está no portal, através de seus textos profundos, na abordagem da realidade mais corriqueira. Conhecida pela sofisticação na linguagem, bem como pelo conteúdo psicológico de sua escrita, a autora consagrou-se não só como cronista, mas como romancista, deixando à literatura nacional obras que se inscrevem entre as mais destacadas da produção contemporânea, como “Perto do Coração Selvagem” (1943); “A Paixão segundo GH” (1964) e “A Hora da Estrela “ (1977), depois transformado em filme por Suzana Amaral. Além de Clarice, o espaço conta com as crônicas de Rachel de Queiroz, outro expoente da literatura de autoria feminina. 
   Otto Lara Rezende e Paulo Mendes Campos também estão entre os cronistas inaugurais do Portal, eles integram juntamente com Fernando Sabino e Hélio Pellegrino uma das gerações mais importantes de escritores mineiros. Paulo Mendes Campos – tido como o amor impossível de Clarice Lispector - foi um dos principais colabores da imprensa carioca, mais assiduamente em “O Jornal”, “Correio da Manhã” e “Diário Carioca”. Escreveu também durante anos para a revista Manchete. 
   O novo Portal traz de volta estilos díspares , dentro de um gênero que aproxima autores e leitores, através de temas cotidianos e linguagem coloquial que sempre revelam aquilo que os olhos do cronista registram de forma peculiar e que passaria batido aos olhos de um observador comum. O gosto pela crônica mostra que é possível registrar um outro cotidiano, às vezes de forma mais crítica, às vezes de forma mais delicada ou poética, do que aquele que o senso comum distingue, sem notar suas peculiaridades reveladoras ou potencialmente transformadoras da realidade. 
O Portal da Crônica Brasileira, que pode ser acessada no endereço cronicabrasileira.org.br, chega para reunir autores de gerações e sensibilidades distintas que nos dão uma visão geral da grandeza da literatura nacional. Ele conta ainda com crônicas quinzenais do editor Humberto Werneck e as ilustrações magníficas de Cássio Loredano. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 15 e 16 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sábado, 15 de setembro de 2018

O ALVORECER DE UMA NOVA IGREJA



   Apesar das turbulências que perturbam a paz, a ponto de muitos se declararem descrentes de um poder superior e de ritos e pregações de igrejas dominantes, a humanidade veio evoluindo na busca de caminhos da espiritualidade – que não significa o mesmo que religiosidade, porque esta se estriba na obediência a dogmas eclesiais e aquela é um estado de comunhão com Deus. A tendência é que os fieis passem a buscar também fora de seus sistemas de crenças as respostas para as dúvidas que muitas vezes seus pregadores não lhes sabem dar. A escrituras resultam em múltiplas interpretações, por isso muitos incursionam também pelo campo de outras revelações, hoje bastante disseminadas porque lotam as livrarias e as infovias. Serão então esses buscadores que reformularão fundamentos de suas próprias igrejas, porque também a iluminação divina opera na disseminação de novos entendimentos. 
   O papa Francisco, notável pela preocupação com a conduta de seu corpo sacerdotal e de posturas radicais, vem realizando um fecundo trabalho de conscientização, e é apenas o que ele pode fazer por enquanto, e assim mesmo encontrando resistência de parte de cardeais e de certos padres jovens. Diz-se por enquanto porque ele não ousou ainda incursionar por caminhos proibitivos pelos hierarcas da igreja e pela maioria dos fieis. A mudança será lenta e gradual. As igrejas dominantes já foram piores. Rememore-se a inquisição e as “guerras santas”, hoje inaceitáveis. 
   Outro tema que passa distante são os fundamentos das igrejas organizadas que não aceitam a existência de outros mundos habitados por seres semelhantes a nós, mais evoluídos ou menos evoluídos, porém igualmente humanos. E tabu maior ainda é a lei das oportunidades de redenção que a misericórdia divina nos concede, que é a das vivências sucessivas em diferentes corpos, com vindas e idas e assim quantas vezes forem necessárias, aí incluindo a transmigração para outras dimensões além de nosso planeta. Nos lembremos do que revelou Jesus que “na casa do Pai há muitas moradas”, e sobre isto as igrejas nada falam. O catolicismo dos primórdios cultuava o dogma dos retornos pelo renascimento. Mas depois, decretos de fora da igreja mudaram isto, e tal dificultou o entendimento dos cristãos acerca de certos fenômenos da vida humana aparentemente inexplicáveis. 
   De muitas coisas as igrejas dominantes ocultaram registros, e os Concílios de Trento e Niceia reduziram a quase nada os ensinamentos das verdades transcendentais, emanadas do próprio Jesus. Esse não alcance pleno das verdades eternas ainda persiste nas três grandes religiões, porque muitos escritos foram modificados ou destruídos. Houve por isso um retardo nos passos da evolução espiritual dos fieis, que foram convertidos mais em adoradores e ignoraram o poder divino em si próprios, por isso sofredores e com incertezas. Creia quem quiser e como quiser, mas imagino que no plano onde se encontra, Jesus está desgostoso com isso... porque os homens não entenderam por inteiro o sentido de muitas de suas palavras. (FONTE: Crônica escrita por WALMOR MACCARINI, jornalista, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, 15 e 16 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. *Os artigos devem conter os dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinao@folhadelondrina.com.br).


TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO: DISRUPTURA, INFLEXÃO E REDIMENSIONAMENTO


   Desenvolvimento, tecnologia, indústria, trabalho e educação permeiam o atual momento que é de mudanças e incertezas. A tecnologia advém do conhecimento e promove impactos profundos na humanidade que já passou por três Revoluções Tecnológicas, transformadoras da sobrevivência e convivência social. Revolução significa mudança de paradigmas, diruptura de conceitos e inflexões que redimensionam os recursos humanos e materiais de uma sociedade exigindo preparo e melhor educação. 
   A primeira, entre um milhão e 400 mil anos atrás, o domínio do fogo que aqueceu, melhorou e conservou os alimentos e sua absorção. Imaginam-se grupos humanos em torno de uma fogueira protegendo-se de predadores, conversando, trocando experiências, transferindo conhecimentos em um processo civilizador que moldou nossa evolução. A educação nasceu dessas interações. A segunda, há dez mil anos, protagonizada pela agricultura e pecuária, melhorou a alimentação, sedentarizou grupos humanos, erigiu cidades e o Estado, gerando necessidades e o desenvolvimento de novas necessidades e capacidades que, supridas eram ensinadas às novas gerações. Aprendeu-se a trabalhar o cobre, o bronze e o ferro. Produziram-se riquezas, guerras e destruição, mas a colaboração prevaleceu e a humanidade sofisticou-se material, social e intelectualmente. A terceira foi a industrial, surgida na Inglaterra no século 18. A produção a ser feita por máquinas, substituindo a força e as habilidades humanas. Suprimiu formas de organização do trabalho, fez surgir novas profissões, habilidades e necessidades. Transformações intensas que ainda não cessaram, dividindo-a em quatro grandes períodos, com outras revoluções rápidas, disruptivas, inflexivas, paradigmáticas, exigindo novas capacidades. 
   Da máquina de vapor da Primeira Revolução Industrial ao motor a combustão da Segunda em fins do século 19 e início do 20, com o uso intenso do aço, eletricidade, química fina, automóvel e linha de montagem. A humanidade aproximou-se com o telégrafo, telefone e o rádio. Mudaram-se conceitos, usos e costumes, a educação firmou-se como bem intangível dos povos. 
   O século 20 foi marcado por conflitos, guerras e divergências, intensidade é a palavra que o define melhor. Em seu final, a globalização impulsionou a Terceira Revolução Industrial, a tecnologia da informação e uma poderosa infraestrutura de comunicações. Investiu-se em áreas então impensadas: computadores, linguagem digital, comunicação via satélite, conexão de equipamentos, maior difusão de informações, inteligência artificial, etc. Chegou-se a Quarta Revolução Industrial ou 4.0, discutida em editorial desta FOLHA (19/7), melhor expressada pela internet, a rede mundial de computadores. 
   A Revolução 4.0 produz progresso, sofisticação, facilidades e gera angústias nas pessoas, a exemplo das revoluções tecnológicas anteriores. A rapidez e aplicação imediata de seus produtos faz com que uma parcela significativa da população mundial não consiga compreendê-la e encontrar o seu espaço nos cenários produtivos que se desenharam. A fragilidade do trabalho, da qualificação profissional e do conhecimento nunca foram tão intensos. 
   A desqualificação se combate com educação, cada vez mais necessária, no ritmo das transformações tecnológicas, em especial as da informação e comunicação. Educação, cujos problemas no Brasil foram mostrados pela FOLHA (GERAL 31/8), exige investimentos na formação de professores, capacitação contínua, redimensionando a prática docente e sua importância. Sem bons profissionais motivados, comprometidos e com recursos materiais, não haverá condições do País adentrar ao novo mundo que emerge tomado por máquinas que não possuem compaixão e emoções. O professor é um modelo e exemplo forte na formação das gerações que já nasceram conectadas e digitalmente aproximadas. 
   Investir em educação, qualificar professores, preparar o País, viver a Revolução 4.0, envolvendo a sociedade é o mínimo que se espera do Estado. Tecnologia, educação e desenvolvimento capazes de enfrentar a disruptura , a inflexão e possibilitar o redimensionamento adequado de nossos recursos humanos e materiais. Uma ação, um comprometimento mais que político, social. (FONTE: Crônica escrita por ROBERTO BONDARIK docente e pesquisador da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 13 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. Email: opiniao@folhadelondrina.com.br

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

UMA REFORMA POLÍTICA CONDUZIDA PELO ELEITOR


   Desde 2013, quando a população se expressou de forma enérgica nas ruas contra a precariedade dos serviços públicos, os escândalos de corrupção e contra os efeitos da perda do dinamismo econômico que se converteria em profunda recessão nos anos seguintes, o debate sobre as distorções da representação política ganhou força .Parecia ser um embrião da reforma política.
   Entretanto, as mudanças nas regras foram modestas e na atual campanha política podemos constatar que pouca coisa mudou de fato. O número de partidos na disputa é assustador e, em muitos casos, as conexões entre eles para a composição das alianças confundem o eleitorado. 
   A Acil e as principais representatividades do setor produtivo estão preocupadas com a distância entre o atual sistema político e as expectativas de mudanças dos brasileiros. 
   Esta é a principal motivação da campanha Melhor Pra Nós, que está nas redes sociais e que neste fim de semana ganha às com a distribuição de material informativo na área central de Londrina. 
   A campanha estimula a participação política, provoca reflexões sobre a importância do voto, sobre as pesquisas necessárias para chegar mais seguro às urnas e, sobretudo, ressalta que a escolha de candidatos da região melhora nossa representação política na Assembleia Legislativa e no Congresso Nacional. 
   Com mais deputados e congressistas da região eleitos, a população terá mais facilidade de ser ouvida em Curitiba e Brasília. Nossa história política conta que quanto mais representantes temos, mais facilitada é a busca pelos disputados recursos dos orçamentos federal e estadual. 
   As reflexões sobre nossa representatividade são reflexões sobre o que nós queremos para as futuras gerações. 
   A democracia tem se mostrado um duro aprendizado desde que os civis voltaram ao poder em 1985 e desde então nosso nível de cobrança é cada vez maior. 
   Já não basta apenas irmos às urnas para eleger livremente os homens e mulheres que vão ocupar os cargos mais importantes da República, não basta apenas termos apurações confiáveis ou pluripartidarismo, não basta termos liberdade de expressão ou a possibilidade de cassar mandatos dos gestores corruptos. 
   A evolução tecnológica e o volume de informações de que dispomos hoje faz de nos, dos nossos filhos e dos nossos netos, brasileiros mais conscientes de qual tipo de política se traduz em plenitude democrática. 
   A sensação de ser representado nas principais discussões da região e do país no Congresso e na Assembleia dá ao eleitor o nexo necessário para uma politização definitiva. 
   Com mais parlamentares de reconhecida conduta limpa, com mais parlamentares atuantes, com mais parlamentares lidando naturalmente com as cobranças diretas dos eleitores, certamente vamos acelerar a formação de nossos líderes para as eleições seguintes. Com novos líderes, a política se renova e se moderniza.
   É só deste modo que poderemos vislumbrar uma reforma política de verdade, de onde emergirão partidos mais fortes e mais sintonizados com a real agenda da sociedade. 
   A Acil e toda sociedade organizada acreditam que a campanha Melhor Pra Nós é, portanto, um pequeno, mas importante passo para que nos sintamos menos desconectados com o grande debate nacional e com as possibilidades de solução dos nossos problemas locais. 
   É pensar e refletir: sim, podemos fazer a diferença no próximo dia 7 de outubro! (FONTE): Crônica escrita por CLAUDIO TADESCHI presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, sexta-feira, 14 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).*Os artigos devem conter dados do autor e conter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opiniao@folhadelondrina.com.br

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ELEIÇÃO, CENÁRIO DA INDECISÃO


   A última pesquisa eleitoral Datafolha, divulgada na última segunda-feira (10) mostram resultados que contrariam as expectativas em relação ao candidato Jair Bolsonaro (PSL), depois daquele incidente em Juiz de Fora, na última quinta-feira (6), quando o candidato foi vítima de uma facada. 
Imediatamente após a ocorrência, muitos imaginavam que o candidato teria uma margem de preferência muito maior que os 24% apontados na pesquisa, que significam apenas 2 pontos percentuais a mais do que o último resultado que mostrava Bolsonaro com 22% das preferências. O candidato oscilou rigorosamente dentro dos 2% calculados como margem de erro, sem obter um ganho relevante. 
   Em segundo lugar, Ciro Gomes (PDT) obteve 13%, seguido de Marina Silva (Rede) com 11%; Geraldo Alckmin (PSDB) com 10% e Fernando Haddad (PT) com 9%. Abaixo desse patamar incluem-se os outros candidatos com números rarefeitos – que vão de 3 a 0% - para disputar uma campanha eleitoral visando a presidência da República, sem contar os votos dos indecisos. 
   A pesquisa Datafolha foi o primeiro levantamento desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a candidatura de Luís Inácio Lula da Silva (PT) que continua preso em Curitiba, condenado a mais de 12 anos por corrupção e lavagem de dinheiro. 
   Nesta quarta-feira (11), o PT anunciou oficialmente a substituição de Lula por Haddad pondo fim a um capítulo apontado por muitos como uma pedra no caminho dos partidos de esquerda e centro-esquerda no Brasil. Para alguns, a incerteza fazia com que os eleitores também oscilassem ainda mais. 
   Quanto a Bolsonaro, uma pesquisa anterior, feita pela XP/Ipespe, realizada entre 5 a 8 de setembro, chegou a apontar o candidato com 30% da preferência, abrindo cerca de 10 pontos percentuais em relação à performance antes do incidente em Juiz de Fora .Se num primeiro momento a condição de vítima de um atentado parecia favorecer o candidato , esse prognóstico, que chegou a ser considerado por alguns analistas apenas um afago dirigido ao mercado, murchou com a nova pesquisa Datafolha que mostrou um cenário pouco diferente do que já se conhecia. 
   O fato é que estas eleições seguem marcadas por circunstâncias graves – com um potencial candidato preso e outro gravemente ferido – sem contar os escândalos que aqui e ali abatem quase todos os partidos, desde que começou a Operação Lava Jato. 
   Num cenário ainda confuso, a 25 dias das eleições, nenhum candidato a presidente parece ter fôlego suficiente para ser eleito num primeiro turno. E, com a possibilidade quase certa de um segundo turno, ninguém imagina qual será o resultado que segue nebuloso, num tipo de pleito no qual nem mesmo a invocação de um vidente pode garantir ao Brasil quem será o próximo presidente. (FONTE: Página 2, FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br quarta-feira, 12 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O VOTO E O PUNHAL



   Quando pensamos em políticas nos dias atuais, raramente nos lembramos do sentido etimológico da palavra, que nos remete aos “politikos”, ou cidadãos, da “pólis”, as Cidade-Estado da Grécia antiga, aos quais cabia o exercício da civilidade, visando garantir o bem estar de todos. Basta este conceito superficial para refletirmos que essa concepção filosófica/social se tornou uma prática nefasta no passar do tempo e chegar até nós. Para os nossos concidadãos, infelizmente, política é apenas uma obrigação a se cumprir de quatro em quatro anos ao depositar o voto a alguém que se torna seus representante, mas por quem o eleitor jamais se sentirá representado. O termo política foi apropriado por uma categoria esperta em ludibriar o populacho – salvo alguns casos raros – que promete mundos e fundos, mas raramente entrega. 
   E aqui estamos novamente numa corrida presidencial, ou seja, em vésperas d eleições para dentre outros cargos, o de Presidente da República, isso após termos vivenciado um impeachment, a prisão de um ex-Presidente e de vários membros de sua corruptela política; acusações de golpe, delações premiadas, julgamentos duvidosos por instâncias superiores e muita, mas muita sujeira. 
   Onde estão aqueles que garantiram que nos representariam? Se bem que eu não quero ser representado por um embusteiro que depois de eleito irá defraudar o erário e rir da minha cara; não quero ser cooptado por crápulas que dilapidam o patrimônio público e entregam nossas riquezas aos seus aliados ideológicos, mentem e roubam sem enrubescer. Isso não é política, mas um câncer metastaseado em nossa sociedade. 
   Bem, movidos pelo senso do dever de cidadãos estaremos novamente nas urnas – também suspeitas – onde depositaremos nossos votos esperando o melhor para nosso país, para nossos filhos e para nós mesmos. A campanha está acirrada e como sempre é um bom período para aprendermos novos palavrões, ofensas, sofismas e calúnias. Os candidatos frequentemente são profícuos nessas matérias. O certo é que mais um vez teremos que escolher não o melhor, mas o “menos ruim”, o que tiver propostas razoavelmente coerentes, se ao menos tiver uma. Ouviremos discursos enfadonhos sobre acabar com a criminalidade, desemprego, miséria, alavancar a economia, melhor a educação, saúde, etc, etc... Só não ouviremos novidades.
   A sociedade se separa em segmentos que se identificam como representantes do conservadorismo, de um lado, os quais defendem a manutenção do status quo político/social e, de outro lado, os socialistas que aviltaram uma igualdade social, a correção das distorções entre ricos e pobres. Ambos desejam o melhor, mas nesse caldo indigesto vale tudo, ou quase tudo desde gordos financiamentos de campanha, muitas vezes advindo de fontes obscuras que comprometerão a liberdade de ação do eleito, aos debates em redes nacionais de tv com direito a gafes e ataques pessoais que são assistidos como programas de humor. Nas ruas, praças e favelas a estratégia inclui abraços e apertos de mãos generalizados. Nesse período todo preconceito se esvai e todos se tornam dignos de serem abraçados. 
   Enfim, a campanha segue e candidatos são levados nos ombros dos correligionários, até que do meio da multidão surja uma lâmina certeira e penetre em seu alvo. Quem prega a legalização do porte de arma de fogo, quase tem a vida ceifada por uma arma branca. O agressor, preto, pobre, aparentemente acometido por problemas psíquicos, expressa toda sua fúria contra o sistema que exclui e não lhe dá voz. No seu desequilíbrio usa o mesmo artifício odiento que condena.. .a intolerância. Não sabe ele que seu tresloucado ato não mudará o sistema. 
   O ideal democrático dos “politikos” continuará sendo nossa utopia. Se não o conquistarmos pelo voto, jamais o conquistaremos pela lamina do punhal. (Crônica escrita por JAIR QUEIROZ – Psicólogo especialista em Segurança Pública, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, terça-feira, 11 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br )

CABE ÀS FAMÍLIAS DEFINIREM OS VALORES QUE SERÃO TRANSMITIDOS A SEUS FILHOS


   A sessão ordinária da Câmara de Londrina desta terça-feira (11) deverá contar com galerias cheias e muitas manifestações tanto de vereadores quanto do público que certamente vai estar presente. O projeto que entrará em discussão proíbe atividades que concordem com a identidade de gênero das escolas públicas municipais. Assinado por sete parlamentares, o Projeto de Emenda à Lei Orgânica do município tem objetivo de impedir “doutrinação sobre assunto que são escolhas pessoais e individuais, devendo as instituições de ensino se aterem prioritariamente aos assuntos didáticos”.
   A polêmica em torno da ideologia de gênero ganhou grande repercussão no Brasil quando, em 2014, o Congresso Nacional votou o PNE (Plano Nacional de Educação). Naquela ocasião, a pressão popular foi importante e decisiva no sentido de que a ideologia de gênero não fosse incluída no programa que determina diretrizes, estratégicas e metas para a política educacional para a década (vale até 2014). O PNE acabou não fazendo menção ao gênero e orientação sexual e deixou a cargo de Estados e municípios a decisão de incluí-las ou não em seus planos. 
   Em 2014 foi muito importante o posicionamento de autoridades religiosas, principalmente católicas e evangélicas, criticando a ideologia de gênero, sendo que a CNBB (Confederação Nacional de Bispos do Brasil) afirmou em nota que a introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas traria consequências desastrosas para a vida das crianças e das famílias. 
   A FOLHA considera que a apreciação do projeto, nesta terça-feira, merece a atenção e a manifestação dos londrinenses. O poder público deve garantir a formação e instrução intelectual dos alunos, enquanto cabe às famílias definir os valores que serão transmitidos aos seus filhos. A educação brasileira aparece no fim das listas e rankings internacionais, com crianças e jovens tendo dificuldade de leitura e de conceitos básicos da matemática. A discussão em torno da ideologia de gênero não aponta para uma inversão de prioridades e de qual é realmente o papel da escola?
   Não se pode impor teorias controversas aos planos educacionais. Levar a ideologia de gênero para as escolas é levar para crianças e jovens valores que não, necessariamente, correspondem às convicções morais das famílias dos estudantes. (FONTE: Página 2, coluna FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br terça-feira, 11 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

domingo, 9 de setembro de 2018

UM CARROSSEL DE MEMÓRIAS


   Um conto e uma imagem me levaram de volta a circunstâncias que pareciam perdidas 

   Um livro de crônicas de Marco Aurélio Cremasco – “Onde se Amarra a Terra Vermelha! – me despertou lembranças. Bastou ler as primeiras linhas de um conto e me veio à memória a cidade natal: Cornélio Procópio ensolarada, onde desponta um Cristo Redentor na avenida que é seu ponto mais alto. Cornélio Procópio barrenta na época das chuvas, quando percorríamos a estradinha de lama atrás do morro do Cristo, escondidos dos pais que não queriam “nem saber de crianças perto da pedreira.”
   Os perigos na infância são tão sutis quanto podem ser trágicos. Mas vendo hoje uma infância que se expõe a riscos maiores, não os físicos, mas os mentais, com games violentos que se tornaram tão corriqueiros quanto tomar refrigerante, penso que os perigos da minha infância – esses de exposição à natureza , morros, pedras e água dos córregos – não eram nada e chegam a parecer ingênuos. 
   As lembranças doces sempre se sobrepõem à dor, coisa a se pensar a cada vez que nos sentimos tristes, arrasados por algumas circunstâncias que não podemos mudar. Esta semana, por duas vezes, depare-me com lembranças doces da minha cidade natal. Essa que descrevi que voltaram à memória pelos contos delicados de Cremasco. A outra veio pela postagem de um fotografia antiga de pessoas que foram as mais importantes da minha infância, além de meus pais e irmãos. 
   A família Alcântara era nossa vizinha, com ela passávamos tanto tempo que nos tornamos parentes, aqueles que elegemos por afinidade, não por laços de parentescos de fato. Vejo Seu José e Dona Sofia, o filho Pedro e sua irmã Lurdinha, com os filhos ainda pequenos. Uma fotografia que me levou de volta àquilo que julgamos perdido. Uma imagem congelada no tempo quando tudo era tão simples quanto abrir uma janela e se deparar com nossa “outra família”, suas risadas, dona Sofia eternamente iluminada com seu nome que significa “sabedoria”. 
   Foi com paciência e sabedoria que ela se expressou a vida inteira, cativando seus filhos e toda a criançada da rua com a bondade que tem as mães que sabem fazer bolo de milho e nos dar espigas cozidas. Já Seu José foi a pessoa da qual guardo memórias que se parecem com meus fiscos de vinil. Ele era dono de uma loja de produtos eletrônicos quando vitrolas e televisores ainda eram novidades Na sua casa, havia sempre um disco tocando, Nelson Gonçalves soltando a voz de encher o quarteirão, quando era o dono da casa que se punha a ouvir música. Mas havia os filhos que ouviam rock e convergíamos para a sala de visitas da família, crianças e adolescentes imitando passos e trejeitos de ídolos que pareciam até indecentes, mas eram pura liberdade expressada em requebros e movimentos de pernas e braços. Assim cresci ouvindo rock, mas sem desconhecer as serestas que fizeram parte da vida dos meus pais e da vida do Seu José e Dona Sofia. 
   Até que se mudou para a rua a família Arrebola, bem mais tarde, e seu Chico cantava tão bem quanto Nelson Gonçalves, além de ter a paciência de enfileirar as crianças para simular programas de calouros, assim nos desinibíamos e melhorávamos nossa autoestima. Ganhei alguns prêmios ali com minha voz infantil de soprano, imitando os agudos de Gal Costa e Elis Regina. Mais que isso, ganhei a segurança de poder me apresentar a um pequeno público de crianças e cachorros. 
   A leitura de um conto e a visão de uma fotografia são modos de voltar no tempo. Mais que qualquer ficção científica, mais que os filmes nos quais víamos a máquina de teletransportar personagens que embarcavam para se materializar em outra época, em outra vida. Tive essa impressão quando um conto e uma imagem me levaram de volta a circunstâncias que pareciam perdidas, mas que estão dentro d mim com a nitidez das coisas que nunca terminam. São as memórias tão intangíveis quanto eternas. A visão do que fomos e ainda somos porque o tempo é circular, um carrossel no qual os cavalinhos e as crianças se vão mas sempre retornam. (Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com jornalista e escritora em Londrina, página 2, coluna CÉLIA MUSILLI, caderno Folha 2, 8 e 9 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sábado, 8 de setembro de 2018

O ENCANTADOR DE SERPENTES: UMA METÁFORA DA VIDA


   Todas as tardes naquela mesma praça a cena se repete, a poucos metros da entrada principal da imponente catedral ele arma seu espetáculo cuidadosamente e mantendo a calma de sempre. Um senhor apresentando meia idade, com indício de calvície com alguns cabelos brancos, senta-se de pernas cruzadas de frente a um saco branco, igual aqueles que são usados para o transporte de café ou açúcar. 
   Mesmo não sendo possível ver o que se encontra dentro dele, é nítido que algo vagarosamente se movi a em seu interior e de posse de um porrete em uma das mãos ele minuciosamente o utiliza para desenrolar a boca do saco. Assim que a boca do saco é aberta aquilo que mexia lá dentro começa a ganhar a direção da liberdade. E não demorou muito a criatura misteriosa aos poucos despontava pela boca do saco, podendo ser vista por uma porção de transeuntes, que pela curiosidade se aglomeravam ao redor do homem. 
   A criatura que causava espanto, medo e curiosidade era uma cobra, uma serpente reconhecidamente como venenosa e cruel, capaz de matar seu algoz, sem dó nem piedade. Sua mordida cheia de veneno permitirá apenas mais algumas horas de vida. Mas o que deixava a todos atônitos é que aquele homem ficava sentado muito próximo dela, se fosse possível medir a distância entre os dois não passaria de meio metro. 
   Para deixar a cena ainda mais estranha, o homem, após deixar o porrete que estava em sua mão posicionado ao seu lado, pois de acordo com ele poderia ser usado caso a cobra o atacasse, começou a tocar uma flauta, emitindo um som melodioso. Neste momento a serpente, que já estava quase totalmente fora do saco, parou e começou um movimento de erguer a cabeça cerca de trinta centímetros do chão. Neste momento os que estavam ao seu redor observado, ficaram apreensivos, pois pensavam que a serpente estava preparando um bote fatal. 
   Depois de uns minutos, pois parecia que a cena estava congelada, a não ser pela melodia, o senhor lentamente aproximou-se da cabeça da serpente e de forma ligeira e ao mesmo tempo sagaz, tocou- a com os lábios. Nesta hora as pessoas pareciam delirar, pois não acreditavam no que estavam vendo. Voltando à sua posição de origem, parou de tocar a flauta, neste instante a serpente deita-se e com o porrete em mãos novamente ela a empurra para dentro do saco. Todos ficam encantados e como forma de retribuir doam algum dinheiro para o senhor, que agradecido, diz que no outro dia estará ali de novo, para repetir o feito. Pena que as pessoas não sabem que o encantador de serpentes tirou dela as presas, cegou-a e a mantém sempre muito bem alimentada. E através de uma falsa autoridade adquirida e admirada continua enganando as pessoas que insistem em propagar os seus feitos de herói, como se fossem verdadeiros. ( Crônica escrita por WALBER GONÇALVES DE SOUZA, professor e membro das academias de Letras de Caratinga, Teófoli Otoni e Maçônica do Leste de Minas, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, 8 e 9 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br).

POLÍTICA DE BOA VIZINHANÇA


   Se você deseja ter boa relação com seus vizinhos deve ter em mente que existem regras e atitudes concretas que vão a favor de uma boa convivência e que, muitas delas estão descritas no nosso Código Civil. 
   Não sabia disso? Então saiba que alguns assuntos como barulho, muros, árvores, animais, crianças, animais de estimação, etc., são contemplados no Código Civil, por se tratarem de principais focos de tensão entre vizinhos e por terem gerado conflitos.
   Vizinhança é assunto sério! 
   E as regras e leis não valem apenas para condomínios. Mesmo morando numa casa, porque as pessoas são diferentes, existem normas para o relacionamento de vizinhança residencial também. 
   Vizinhos são necessários e podem ser bons. Basta que você tenha com eles atitudes de boa vontade e tolerância, tão necessárias ao convívio comunitário. 
   Outras atitudes que podem aproximar vizinhos (ou até afastá-los caso não sejam praticadas) são, dentre outras, o respeito ao próximo, a cordialidade (desejar um bom dia/boa noite), a cooperação entre vizinhos no que for possível etc., enfim, buscar conquistar os vizinhos angariando simpatia. 
   Mas um convívio que se pretenda salutar implica muito mais do que apenas isso, devemos ter o telefone dos vizinhos – e até mesmo de familiares próximos – para ajudarmos em qualquer tipo de problema que precise ser comunicado imediatamente, como doenças, roubos, morte, incêndio, etc. 
   A questão do barulho é fato que exige bom senso entre vizinhos. Não é porque a Lei estabelece as 22 horas como limite para o som alto que não devemos nos preocupar se nosso vizinho tem alguém doente em casa ou se algum familiar seu acabou de falecer. Devemos proceder com empatia para não perturbarmos o sossego do lar vizinho com barulheiras em respeito às dores e repouso do doente e, também no que diz respeito aos sentimentos ao vizinho que perdeu um ente querido. 
   Você tem cachorro? Ah. Então cuide para que ele não atravesse a grade e invada os domínios dos vizinhos ou a rua. Se ele é seu, a responsabilidade legal também é! 
   A construção, conservação e manutenção dos muros também está normatizada e responsabiliza ambos os vizinhos por isso. 
   Outra questão que ocorre é que haverá momentos em que você se verá sujeito a cortar árvores de seu quintal porque sujam a calçada ou piscina do vizinho. Isso é o certo a ser feito. 
   E as frutas provenientes de árvores frutíferas que passam por cima de seu muro são do seu vizinho a não ser que ele as dê para você ou permita que você as apanhe. Ah! se elas caírem do seu lado passam a ser suas. 
   Caso haja alguma planta trepadeira que “teima” adentar o espaço do seu vizinho, o melhor a fazer é cortá-la para evitar conflitos. 
Não deixar quaisquer tipos de sujeira caírem no quintal do vizinho é norma de vizinhança também, mas caso caiam, procure limpar. Outro exemplo; se você construiu um cômodo ou mesmo um muro, e seu pedreiro exagerou no chapisco a ponto de ele atingir a parede ou outra parte da casa do vizinho, peça desculpas ao vizinho e permissão para seu pedreiro limpar a sujeirada. 
   Quando for molhar suas plantas procure não direcionar o jato d’água para o alto, para não molhar partes da casa do vizinho ou alguém que esteja passando. 
    Procure orientar seus filhos/ netos/visitas a não jogarem objetos – por menores que sejam – na casa dos vizinhos. Se acontecer, peça desculpas e procure evitar novas ocorrências e impasses judiciais. 
   Com essas poucas orientações se torna, basicamente possível, você se dar bem em qualquer lugar do mundo porque estará praticando a política da boa vizinhança. Assim, os tribunais ficarão sujeitos a menor número de processos sobre conflito entre vizinhos e você terá paz e sossego. (Crônica escrita por MARIA I. BEATRIZ POLONIO – leitora da Folha, página 2, caderno FOLHA RURAL, 8 e 9 de setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

domingo, 2 de setembro de 2018

SINAIS DO TEMPO


   Depois do almoço de família, estava na sala tentando conversar com meus sobrinhos adolescentes e concorrer com os smartphones. Era difícil conseguir a atenção deles, cada qual mergulhado no seu mundo virtual. Enquanto navegavam pela internet e redes sociais, fiquei pensando nas profissões que eles e seus filhos irão exercer no futuro próximo. Então me ocorreu uma ideia: falar com eles sobre meus avós, antepassados deles, mesmo sabendo que acham o século passado um período jurássico. De repente dei um grito na sala e consegui assustá-los, atraindo assim a atenção. Agi rapidamente e dirigindo-me a todos perguntei; 
- Vocês sabem quais eras as profissões do vô João e do vô Francisco?
   Ninguém respondeu, mas ficaram me olhando como se eu fosse um ser de outra galáxia. Aproveitei o momento e disse que o vô João, nascido em 1904, tinha saído “sapateiro” e o vô Chico, nascido em 1907, fora “ourives”. Não houve o efeito que eu desejava, mas a Jéssica e a Camila morderam a isca:
   Tio, a gente pode, tipo assim, pesquisar o que é isso? 
   Em menos de três minutos todos conseguiram informações sobre as profissões de seus bisavós e começaram a comentar que era muito estranho saber que antigamente alguém ganhava a vida consertando sapatos. Embora continuassem olhando primeiro para o celular e depois para mim, aproveitei a oportunidade dizendo que, segundo o último censo do IBGE, a cidadezinha onde nasci e morei até os dezenove anos possui em torno de vinte mil habitantes. Como fa muitos anos que deixei de residir naquele local, estimo que na época da minha infância a cidade deveria ter oito ou nove mil habitantes, sendo que mais da metade morava na zona rural devido ao fato de ser uma região que acolheu muitos imigrantes italianos e alemães, que tiveram como destino inicial o trabalho na agricultura. Tentando reproduzir no Brasil o modo de vida que tinham na Europa, se instalaram nas regiões do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que se assemelhavam às suas terras de origem quanto aos aspectos climáticos e geográficos. 
   Percebi que estavam dando ouvidos à mina história estiquei o assunto e salientei que o vô Chico era italiano e o vô João era caboclo. E que o vô João havia casado com uma italiana e o vô Chico com uma mulata. Isso porque com a introdução da ferrovia no sul do Brasil a mão de obra para os trabalhos mais pesados havia sido recrutada entre os negros, índios e caboclos, o que acabou favorecendo a mistura de povos que representa o nosso País. Depois, com a chegada da era industrial, os imigrantes, nativos e ex-escravos foram aos poucos deixando a lavoura e se fixando na cidade como ferreiros, sapateiro, alfaiates, barbeiros, costureiras, lavadeiras, pedreiros, ourives, carpinteiros e comerciantes, dentre outras ocupações. 
   - Então, de boa, véio, você tá dizendo que nós somos mestiços? Indagou Luan. 
   - Exatamente, respondi. 
   Em seguida a Gabi, que é esperta nos números, argumentou com espanto que não entendia como o vô João conseguiu criar oito filhos consertando sapatos e o vô Chico manteve onze filhos trabalhando com joias e acertando relógios. 
   Bizarro isso, falou Rafael, quem iria hoje em dia arrumar sapatos ou usar relógio?
   - Sinais do tempo, “era outra vibe e não existia a web”, finalizou. (FONTE: Crônica escrita por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 1 e 2 de Setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sábado, 1 de setembro de 2018

A INTERNET DAS ÁRVORES


   Uma rede subterrânea de raízes põe o mundo vegetal em comunicação, é o www das árvore

   Sempre que olho as árvores admiro primeiro as copas. Acho bonito o verde espetacular tocando o azul do céu. Mas quando estou dentro da mata, olhar para baixo, onde o tronco se ramifica em raízes, me dá a sensação de um mistério indevassável.
   Agora, os cientistas descobriram uma coisa que transforma o mistério em algo mais fascinante ainda. Eles dizem que as árvores ‘conversam’ através de uma rede subterrânea de micélios – ou raízes de fungos – que se comunicam para trocar nutrientes. O que ocorre pode lembrar um papo pelo WhatsApp ou um cochicho de comadres na intimidade do subsolo, onde a vida forma galerias que nos conduzem ao avesso do planeta. 
   Nas florestas, essas redes subterrâneas, a alguns metros da superfície, estabelecem uma relação de simbiose entre os fungos e as árvores. Dos fungos, as árvores recebem carboidratos, fósforo e nitrogênio, além d extrair com mais facilidade a água do solo. Já os fungos, que não fazem fotossíntese, recebem o açúcar produzido pelas árvores. 
   No toma lá da cá, os filamentos de fungos ainda estabelecem conexões com as árvores vizinhas e assim fazem trocas através de um processo que já foi apelidado de www (“wood wide web”), uma paródia do “world wide web”, origem do www da rede mundial de computadores. 
   Matéria do jornal Nexo, informa que Suzane Simard, da Universidade British Columbia (Canadá), foi a primeira pesquisadora a comprovar que as plantas ‘conversam’, em 1997. Mais que isso, ela demonstrou que as chamadas ‘árvores-mãe’ são capazes de alimentar as árvores mais jovens através do caminho de fungos, uma ponte mágica no mundo subterrâneo no qual a vida constrói caminhos que nem imaginamos ao ter contato apenas com a superfície. Por se tratar de um sistema corporativo, a pesquisador escolheu expressões da comunicação humana para melhor definir o que acontece num universo em que, além da transferência de recursos, ocorrem sinais de defesa e até o reconhecimento de parentes entre árvores da mesma espécie. 
   O pesquisador norte-americano Paul Stamets vai mais longe, ele afirma que as árvores podem se comunicar com parentes distantes através do que chama de “interne natural da Terra”, composta pelo sistema de fungos. Abre-se assim um mundo de novidades que parecem enredos de ficção científica e que corroboram com aquilo que os pesquisadores Peter Tompkins e Christopher Bird já haviam revelado em parte no livro “A Vida Secreta das Plantas”, coqueluche dos nãos 1970 que também deu nome a um álbum de Steve Wonder. O livro hoje pode ser baixado de forma gratuita na internet. 
   O que surpreende nestas árvores descobertas é que elas também se relacionam com o universo dos xamãs que sabiamente sempre acreditaram no potencial de comunicação dos homens com a natureza, aconselhando a harmonia entre os reinos e as espécies como uma espécie de chave da prevenção do planeta. 
Agora, à luz da informática, fica mais fácil compreender como se dá a comunicação das plantas através de outras fibras ou filamentos que se ocupam de trocas, defesa e cooperação. Sem dúvida, trata-se de uma nova lição para os homens. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com página 2, caderno FOLHA 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 1 e 2 de Setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

É PRECISO FALARSOBRE SUICÍDIO



   Questionada cada vez mais por especialistas e autoridades na área de saúde, a estratégia de evitar falar sobre suicídio para não estimular casos tem pouco apoio quando a intenção é a prevenção. Tanto que a campanha intitulada “Setembro Amarelo”, que ganha as ruas a partir deste sábado (1º), busca discutir o assunto e divulgar ações preventivas. Como a Folha de Londrina mostra em reportagem nesta edição de fim de semana, o suicídio é um grave problema de saúde pública e reuniu recentemente em São Paulo especialistas no tema. A FOLHA participou como convidada. Todos os palestrantes alertaram que é preciso falar, discutir, ajudar, previr e buscar ajuda adequada o quanto antes. 
   Muitas vezes é difícil buscar ajuda porque a depressão, maior fator de risco, é um estigma. Especialistas ouvidos pela reportagem comentaram que, apesar de a depressão ser bem mais aceita socialmente como transtorno de saúde, muita gente evita falar ou assumir o problema. No caso dos adolescentes, a questão é ainda mais delicada, pois há fatores específicos da faixa etária, como a baixa autoestima. O psiquiatra Teng Chei Tung, coordenador dos serviços de Pronto-Socorro e Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e da Universidade de São Paulo, explicou à FOLHA que, quando se fala em suicídio, é preciso pensar em um fenômeno que traz uma convergência de fatores, o que inclui aspectos fisiológicos, sociais e culturais, combinados, muitas vezes a experiências de trauma ou perda. Ele cita também o bullying e presença do transtornos psiquiátricos não diagnosticados adequadamente como fatores de atenção. 
   No Paraná, adolescentes e jovens entre 15 e 29 anos tiveram a maior taxa de suicídio no período de 2013 a 2017, representando 25,5% das 3.510 mortes por lesão autoprovocada, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Curitiba é a cidade com maior número, 109 mortes nesta faixa etária; em seguida, vêm Londrina (48) e Maringá (28). 
   O suicídio é uma morte evitável e, segundo o Ministério da Saúde, a existência dos Caps, os Centro de Atenção Psicossocial, reduz em 14% o risco de suicídio. Entidades como o CVV, Centro de Valorização da Vida, também fazem um grande trabalho. 
   Setembro é o mês escolhido para chamar a atenção sobre o suicídio, mas os pedidos de socorro de quem está prestes a tirar a própria vida não tem dia e nem hora para se manifestar. Estar atento ao menor sinal para apoiar ou pedir ajuda de especialistas é a atitude mais importante. (FONTE; Página 2, FOLHA OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br 1 e 2 de Setembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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