sábado, 25 de outubro de 2014

A GRANDE DESCOBERTA



     Desde pequena eu gostava de histórias. Fazia minha irmã ler um único livro várias vezes para mim e olhava as figuras deslumbradas, mas ainda não havia dado conta das letras.

     Brincando na rua esburacada, pés no chão e feliz como qualquer criança de uma cidade pequena, tinha   entre cinco e seis anos quando uma vizinha, Dona Ignez Bastasini, diretora do Grupo Escolar, me perguntou se eu queria aprender a ler.  Eu concordei  na hora. Ela me trouxe, ali mesmo, uma cartilha, chamada Cartilha da Infância, cuja  primeiras  letras eram as vogais e a seguir a consoante V.

     Fiquei  motivadíssima:   a, e, i, o ,u ,va,  ve,  vi, vo,  vu, ovo, uva, vovô viu a viúva, viva, Ivo... la, le, ma, me, ca, co, cu.  Macaco, mala, vaca... Meu Deus! Que descoberta ! O mundo  já não era o mesmo, havia mudado. A cidade havia se transformado, estava cheia de letras, de palavras... que   eu não enxergava:  bazar paris, bar do bigode, armazém  Fiorezi,  secos e molhados...

     Na minha casa as latas e caixas falavam: Toddy, Aymoré, Aviação, Óleo Zillo. A  máquina de costura tinha nome – Vigorelli, as telhas, o saco de arroz, de farinha, de sal...Com o é que eu não tinha visto tudo isso antes???

     Foi assim que mergulhei no mundo das letras,  das palavras,   das histórias. Que grande aventura em minha vida! Que alegria aprender a ler e a  escrever, que veio em seguida! Não parava mais, me empanturrava de letras, qualquer coisa, desde o jornal velho que servia para embrulhar as compras do armazém, o papel de balas, cartazes, bulas, maços de cigarro, tudo tinha vida e som,

     O local adequado para devorar meus livros era o paiol cheio de milho, o café e o algodão, a copa das árvores onde fazíamos bancos, as sombras das mangueiras, a grama onde deitávamos para ver os desenhos das nuvens no céu...  e,  víamos letras, com certeza..

     Aconteceu que no meio do ano minha  mãe começou a  lecionar numa escola rural e eu ia com ela, de companhia. É claro que não perdi tempo. Fazia o que os alunos de 1ª série faziam, os de 2ª, os de 3ª, enfim, ao final do ano letivo fui submetida aos exames finais, sendo aprovada, com sucesso, iniciando oficialmente minha jornada escolar.

     Sempre uma aluna muito  aplicada, destacava-me por ler muito e, consequentemente, escrever bem. Era chamada para participar de concurso de redações, para escrever discursos, homenagens, despedidas.

     Da Bíblia a livros históricos, romances, as fotonovelas, Contigo, Ilusão, Noturno, Sétimo céu, as revistas Manchete, Fatos e Fotos, O Cruzeiro, Gibis da Walt Disney, recortes de jornais, tudo era novidade nesse mundo tão maravilhoso.

     Na época, a cidade pequena oferecia  poucas opções. Não tínhamos bibliotecas, nem TV, nem bancas de jornais e revistas, o que não foi obstáculo para minha sede de conhecer o mundo das letras.

     Esse meu amor pelos livros foi tão marcante em minha vida que, quando adulta, ao tornar-me professora e depois supervisora pedagógica, era a maior incentivadora dos alunos e, como costumavam brincar minhas colegas de trabalho, ficava com água na boca de tanta alegria toda vez que a escola adquiria  novos livros de literatura infantil.

     Era a lembrança dos momentos mágicos de minha infância, da minha escolinha rural, da sala de aula modesta, da carteira para três, do guarda-pó, do Grupo Escolar Nossa Senhora das Graças, sua escadarias e alunos perfilados para cantar os hinos cívicos,  do cheiro de livros novos ou  velhos, que me proporcionaram uma das maiores descobertas da minha vida: o mundo mágico das letras. ( Texto escrito por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora da Folha Rural, espaço DEDO DE PROSA, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 25 de Outubro de 2014).

domingo, 19 de outubro de 2014

BAGAGEM DE MÃO


     Um dia a gente chega à idade de evitar carregar peso. Em viagem de avião então, malona pesada tem de ser despachada, sujeita a extravio e, quando chega ao destino, temos de esperar na esteira. E passa mala, passa mala, a tua não aparece e você vai ficando agoniado. Finge que não  mas, quando vê,  está com a boca azul  de roer caneta. Vai ao sanitário rapidinho, receando que enquanto lava a boca levem tua mala (há tantas iguais!), mas, lá está ela girando na esteira à tua espera.
     Você sorri, para mostrar   descontração, e te olham estranhamente,  você lembra que os dentes ficaram azuis da tinta da caneta. Mas isso passará, o importante no  momento é cuidar da mala, a tua vida empacotada fora de casa.
     Durante décadas suportei as reclamações da coluna, vértebra por vértebra, até me tornar o último ser humano a comprar mala com rodinhas. Mas, saindo do piso lisinho do aeroporto, nas calçadas da vida as rodinhas trepidam, saltitam, rangem, estralam, apanham mais que cachorro em escola de samba.
     Então resolvi levar só bagagem de mão, mochila com pouco peso, portanto portátil, e fui descobrindo truques e artimanhas.
     Levo só duas calças de jeans azul marinho, que “não sujam”. Se uma sujar tanto que a sujeira  apareça, lavo enquanto uso a outra.
     Meias e cuecas  levo três ou quatro no máximo, sempre lavando de noitinha as usadas durante o dia. A não ser que o ar esteja muito  úmido , secam até de manhã e voltam sequinhas para a mochila. Senão, embrulho em plástico e lavo no dia seguinte.
     Camisetas, vão enroladas como lingüiças de pano na  mochila. Uma só camisa social, pra o caso de algum jantar mais formal, enrolada também  ( para usar,  mando passar a ferro, ou passo eu mesmo, usando garrafa com água quente no quarto do hotel, truque que aprendi com camelô na Pensão Alto Paraná.
     Levo sempre tubo de pasta de dente já quase no final, para não levar e trazer de volta nenhum peso desnecessário.
     Detesto a palavra “nécessaire”. Parece meio gayce e meio madamice, deve ser preconceito meu, mas o fato é que nela levo o mínimo possível de coisas: um pente pequeno, uma pinça, fio dental,  escova de dentes. Embrulhada em plástico vai a folha de babosa que esfrego pedaço a pedaço na cabeça como creme para cabelo. Dalva acha que posso ser preso por contrabando vegetal, mas digo que, mesmo que não tivesse a babosa, já estaria viajando com uma flor...
     Uma jaqueta dupla-face va i no corpo, uso num dia sua face de couro fosco,  noutro dia sua face de couro liso, assim Dalva não enjoa de me ver sempre com a mesma roupa.
     Nos pés, os mesmos sapatênis  heróicos que já palmilharam as trilhas de Machu Pichu e as ruelas de Roma. Sandálias ficam em casa, até porque, assim, tenho para quem voltar – com a roupa fididinha de mal lavada, conforme Dalva, mas leve como um passarinho, enquanto ela espera sua mala na esteira.
     Até que me apaixono por um livro de 900 páginas numa livraria, a mochila passa do peso permitido e tem de ser despachada. Será que depois dos 60, terei de comprar  um tablet  para ler e-books?
     E tom o cuidado ao tomar café: se derramar terei de lavar as calças! Já aconteceu, numa viagem que fui só com as calças do corpo, e tive de lavar e gastar uma manhã no hotel esperando secar. Não é fácil a vida de escritor artimanhoso ou, conforme Dalva, teimoso que só.  ( Texto do escritor DOMINGOS PELLEGRIN I, d.pellegrini@sercomtel.com.br, publicado no JORNAL DE LONDRINA, domingo, 19 de Outubro de 2014).

terça-feira, 14 de outubro de 2014

HESITAÇÃO


  
     Já nem sei quantas vezes  tentei postar algo escrito por mim mesmo. Pelas pesquisas e visitas a outros blogs, percebo um contraste assustador entre os blogs por mim  visitados .  São de pessoas  com vida social ativa e que passam uma visão muito boa, bela e contagiante  desta vida que é realmente maravilhosa.  Continuo  em minha” clausura” sem poder deambular livremente e  sequer  ficar sentado.  É o que me faz ausentar-me  acrescido de dores contínuas e de uma artrose generalizada que vai limitando os movimentos de pernas, braços estando inclusive com minha coluna cervical já toda comprometida. Os médicos retardaram demais meu tratamento e a maioria me disseram que eu fosse caminhando enquanto eu pudesse. O que me deixa inconformado é estar ausente de fisioterapia, hidroginástica, e etc.  Sabemos dos malefícios do sedentarismo.  Há uns 10 anos desisti das tentativas. Sou professor aposentado com 1 padrão apenas, pago aluguel   e o SAS não fornece prótese.  Dos médicos particulares – dois – ouvi coisas que considero desrespeitosas. Parece que nossa dignidade foi pro ralo.   Agora,  com a evolução da ciência e tecnologia pretendo pedir que me operem e me deixem pelo menos ficar ou poder me assentar.  Suportava 10 horas ou mais em pé sem sentir dores nas pernas.  Hoje mal consigo algumas horas.  Perdoem-me o desabafo. Acontece que se não me justificasse, poderia passar  alguém que não respeita os visitantes ocasionais e aqueles que por alguma afinidade me dão a satisfação do retorno. Perdoem-me novamente pelo desabafo. Contudo, sou uma pessoa que olha a vida por um prisma muito bonito. Procuro solução e cuido de minha mente e emoção.  Tenho conseguido passar uma mensagem positiva e orientado meus amiguinhos  jovens dos 16 aos 35 anos. Fico assustado com a alienação de uma grande maioria deles. Todos muito carentes de informação. A estrutura familiar de nossos dias é muito diferente. E a fase transitória por que passam é realmente um grande hiato. O mundo virtual hoje rouba deles as experiências que as pessoas de meu tempo e de uma década anterior tiveram. Agora o que mais me preocupa é a enorme responsabilidade. Tenho muito medo de ser  referência. Tive meus ídolos. Procuro citar exemplos concretos. Pessoas que vieram do nada e se tornaram grandes seres humanos.  É isso aí, meus amigos virtuais. Espero contar novamente com a compreensão. Obrigado de coração pelas visitas e comentários. Torçam para que meu objetivo seja alcançado. Gostaria muito de poder caminhar outra vez e ter uma nova chance. Paz e amor para todos. Não posso deixar de agradecer minha professora e web designer Juju Passos. Visitem  seu blog. Não fosse ela eu já teria desistido. Fiquem com Deus!
                                               
x_3e7c0fc3 photo x_3e7c0fc3_zps1a29d061.gif                                             


sábado, 11 de outubro de 2014

FÉRIAS, FRIO E ROÇA


     Tempo de frio na roça é coisa que não se esquece. Na década de 1970, meu pai comprou um pequeno sítio em Tamarana. Na minha aventura em trabalho rural fiquei congelado. Sorte minha que havia mato para capinar, tinha amendoim para arrancar e outros serviços “leves”. Eu era adolescente  e meu pai não dava moleza. Mas para quem estava acostumado a trabalhar em padaria, a mudança foi  bem radical.
     Eu estava de férias e tinha que “descansar carregando pedra”. Bem à tardinha, quase de noite, descemos o carreador. Eu e meus dois irmãos mais velhos.  Desc i  pensando  numa janta das boas e dormir para esquecer que tinha serviço no outro dia. Mas tinha o banho antes, um banho de água fria, num frio de inverno, num banheiro sem teto, pois ainda não havia dado tempo de arrumar o telhado. Já se passaram muitos anos e a graça da lembrança desfaz um pouco o frio  mas não a experiência.
     Parece trágico, mas chega a ser cômico. Depois do banho, comi com meus outros dois irmãos uma janta simples  mas que parecia o mais lauto jantar.  Afinal, quando você está com fome você come melhor e tudo tem mais sabor.  Depois dormi cansado e acordei para mais um dia da semana em que eu iria ficar no sítio.
     Só faltavam cinco dias – no domingo estaria de volta para casa – e eu contava nos dedos das mãos, já cheias de bolhas d’água – coisa de gente desacostumada de enxada. É o que chamam na roça de “mão fina”.
     Naquele dia, comecei  a capinar em volta de uns pés de café e meus irmãos dizendo: “Pode voltar que aqui ainda tem mato”.  E tinha mesmo. Tinha mato que não acabava mais.  Acho que era o lugar que mais tinha mato no mundo. Já estava com saudade das aulas – até as de matemáti ca,  física e química. Mas as doces  férias me levaram àquele destino cruel.  Fatídica semana de roçagens   e  sol a pino.
     Ao meio dia, depois de uns sustos com cobras e aranhas que apareciam no meio do cafezal, enfim  veio o almoço. Ou melhor, esquentamos o almoço feito de manhãzinha.  Marmita na mão e garfo na outra. Comi com gosto. Depois do almoço, ficávamos conversando sobre o serviço a ser feito e eu pensava  na minha cabeça de adolescente: “Esse  serviço nunca acaba? E lá íamos de novo debaixo do sol com uns chapéus de palha e enfiando as enxadas nervosas no meio daquela quiçaça.
     Meu pai parecia que tiinha comprado um sítio  que tinha uma roça de mato e em volta alguns cafezais e não o contrário. Naquela época, ele se recuperava de uma cirurgia de glaucoma e havia vendido a padaria para pagar a cirurgia e com a outra metade do dinheiro comprou o sítio. Como não gostava de empréstimo, acabou comprando um pequeno sítio para não  descapitalizar e fazer alguma renda para a família.
     O sítio parece na ter sido dos melhores, mas como  naquela  época  havia inflação galopante, não quis correr riscos. Nós fizemos a nossa parte, trabalham os dia a dia, e deixamos aquele sítio rentável. Aprendi que a força do trabalho nos torna mais confiantes e cheios de esperança no futuro e a vida assim tem mais sentido. ( Texto escrito por DAILTON MARTINS, leitor da FOLHA, extraído do espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL. Publicado no jornaL,  FOLHA DE LONDRINA,  sábado, 11 de outubro de 2014).

PERDER PARA GANHAR


     A solidão é uma queixa que tem atravessado os  tempos  e hoje habita com freqüência  o consultório do analista. Desde Freud, ela é mote de sofrimento e trabalho na clínica, envolvendo a vida familiar, amorosa, profissional ou social. Sim, mesmo com um milhão de amigos nas redes sociais e com a sensação de poder encurtar distâncias em segundos, as pessoas se sentem e estão sozinhas.
     Os mais variados saberes atestam as dificuldades com o contato e o convívio social, mas também  são unânimes em afirmar que o homem não é uma ilha, e que sua existência depende da presença de outras pessoas. Tal condição é facilmente perceptível no início de nossas vidas, todos fomos pequenos  bebês  dependentes dos adultos no mais amplo sentido, mas é equivocado pensarmos que esta questão se restringe à infância. A autonomia que adquirimos à medida que crescemos  não exclui a importância de mais alguém em nossa vida. Certamente não se trata de qualquer pessoa, mas daquela com a qual podemos compartilhar idéias, desejos, afetos ou tempo. Com quem nos sentimos próximos.
     Entretanto, também não é difícil comprovarmos em nosso cotidiano o quanto nos custa o laço social: o incômodo causado pelas pequenas e grandes diferenças, a rivalidade e competitividade proveniente das semelhanças, a dor da indiferença, o desespero frente às inúmeras e diferentes demandas, o recuo necessário a alguns prazeres.
     Será que hoje, quando as pessoas se relacionam com “a menina do aplicativo” ou o “carinha da internet” e quando acreditam excluir,  deletar  ou bloquear alguém de suas vidas com um movimento do dedo, estariam tentando se proteger das inevitáveis dificuldades que a presença concreta do outro  impõe? E quando imaginam estar presentes e controlando a vida uns dos outros através de um aparelho celular, tratar-se-ia da produção de uma  ilusão de proximidade?
     Independentemente das respostas que possamos construir para estas perguntas, sabemos que não há combate à solidão sem presença e proximidade. Por mais paradoxal que possa parecer, aquele incômodo trazido pelo outro, o qual sempre está associado a algum tipo de satisfação,  é essencial para nossa existência. E mais, a proximidade se dá exatamente  quando a  presença   de  alguém é o suporte dessa perda de satisfação, o que nos permite um  encontro com os limites e com o vazio que nos habita.

     Tal encontro, ao contrário de produzir solidão e ausência de sentido, impulsiona a produção. Podemos nos pautar na sabedoria popular que diz “quem tudo quer,   nada tem” e afirmar que “quem tudo tem, nada quer”. No jogo da vida é preciso perder para ganhar e, neste caso, jogar sozinho, além de ser muito sem graça, é game over na certa.  ( Texto escrito por ZEILA  TOREZAN, psicanalista e coordenadora da Associação Livre- Psicanálise em Londrina, publicado no espaço PONTO DE VISTA, do JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 10 de outubro de 2014). 

DEFORMADOR DE OPINIÃO


     Se há alguma coisa que não sou e nunca serei é “formador de opinião”. Jamais conseguirei mudar o pensamento de alguém; se aconteceu uma vez ou outra, foi por acaso, o mesmo acaso que leva um relógio parado a acertar duas vezes  por dia. Acredito mesmo que externar minhas  opiniões levam ao efeito contrário: “se eu estou pensando a mesma coisa que o reaça do Briguet, então devo estar errado”. Para convencer, eu precisaria antes ser convencido.  Falta-me esse convencimento na maioria das questões terrenas. Se não sou capaz de administrar minhas contas pessoais, com o posso querer que alguém, por minha causa, mude de opinião sobre quem deve governar o País? Se a ruína da Petrobras, os preços do supermercado,  o vexame da educação brasileira e os 60 mil assassinatos por ano não fizeram a pessoa deixar de votar na Dilma, quem sou eu para fazê-lo? Vá lá, meu amigo, vote no PT e seja feliz. Só não diga que não avisei; o departamento de reclamações não é aqui. Se eu tivesse a cultura de um José Monir Nasser, a inteligência de um Olavo de Carvalho. As informações de um Reinaldo Azevedo, as leituras de um Rodrigo Gugert, a verdade de um Paulo Francis ou o talento de um Bruno Tolentino, quem sabe pudesse sair por aí tentando mudar as pessoas. Mas sou apenas um aprendiz mirim diante dessa turma; não serviria nem de criado-mudo para eles. Melhor ficar quieto no meu canto, contando minhas  historinhas e purgando minhas angústias. Certamente meus sete leitores já conhecem a  piada do mão-de-vaca que foi publicar um anúncio de jornal sobre a morte da mulher. Ele queria gastar o mínimo e ditou apenas duas palavras: JOANA MORREU. A funcionária da funerária disse que o texto era muito pequeno; o mão-de-vaca tinha direito a mais três palavras e mesmo assim pagaria o mesmo preço mínimo. Pois ele ditou: VENDO MONZA 86. Ainda tenho um espacinho na coluna. Mas não venderei um carro nem colocarei o nome do meu candidato,  que vocês já devem saber quem é. Digo apenas: fiquem com Deus. ( Crônica escrita por PAULO BRIGUET, briguet@jornaldelondrina.com.br   WWW.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra  publicado  no  JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 10 de Outubro de 2014, no espaço DIA DE CRÔNICA).

sábado, 4 de outubro de 2014

CADÊ OS VAGA-LUMES?


     No último verão passei uns   dias no sítio de um amigo na região de Tamarana, quase na beira do rio Apucaraninha. Mal deu tempo de chegar ao lugar e caiu uma tromba d’água. Eta chuva abençoada , pois fazia tempo que não chovia no Norte do Paraná . Fiquei admirando a chuva, sentindo o cheiro da terra molhada, até que a dona da casa chamou, avisando que a boia já estava servida. Só de contar dá água na boca: galinha caipira  com quiabo e polenta, além de uma boa porção de alho frito.
     Depois do almoço  ficamos um tempo conversando e bebendo um gostoso café, feito no coador de pano. No final da tarde fomos pescar traíras numa das lagoas  do sítio. Pegamos o suficiente para garantir a janta, deixando bastante  peixe para a próxima pescaria. Nesse momento começava a escurecer e foi então que observei que lá não havia tanto vaga-lume como em outros tempos, apesar de estarmos num brejo, lugar preferido desses insetos.
     Aquilo me causou tristeza e preocupação. Os vaga-lumes também conhecidos por pirilampos, fizeram parte de muitas  brincadeiras  de minha infância, pois costumava colocá-los dentro de garrafas escuras para vê-los piscar à noite ou esfregava-os nas minhas roupas para que elas ficassem com  traços brilhantes. O efeito era maravilhoso, mas acho que isso hoje seria considerado um crime ambiental. Recordo ainda de ter visto, quando criança, árvores cobertas por centenas de vaga-lumes e de perseguir os fachos de luz que eles emitiam quando passavam voando perto da gente.
     Enquanto o amigo terminava  de limpar os peixes e ajeitava os apetrechos da pesca, fiquei pensando sobre aqueles bichinhos , que são parentes próximos dos besouros  e das joaninhas. Lembrei que o meu filho tinha pesquisado isso n  universidade e havia me dito que vaga - lumes são insetos alados, possuem uma enzima conhecida por luciferase e uma proteína chamada luciferina, que produz uma luz fria (bioluminescência) usada para acasalar ou para avisar o grupo que tem predadores por perto. Eles se alimentam de néctar, pólen, vegetais  e de outros insetos, mas podem estar entrando em risco de extinção devido ao desmatamento, ao uso excessivo de inseticidas na lavoura e à forte iluminação artificial das cidades.

     Estava pensativo e distante, por isso  ao reparei que o compadre já tinha colocado os peixes Np embornal  e me olhava de modo esquisito. Então perguntei: “Cido, cadê os vaga-lumes? Ele disse:  “Não sei não, mas deve de tá  piscando por aí, onde ainda resta um capão de mata. É pena, mas nos últimos  anos não  se vê mais esse bicho por aqui”. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI  e DANIEL FRANCISQUINI MELATTI, que são leitores da FOLHA. Extraído  do espaço DEDO DE PROSA,  da FOLHA RURAL, sábado 28 de Junho de 2014, do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

UM PRATO CHEIO DE ESTRELAS


     Minha filha Clarice adora carambolas. Sempre que encontramos bandejinhas na feira ou no supermercado,  ela pede para comprarmos a  “fruta que vira estrela”. A menina de sete anos gosta de comer as carambolas fatiadas e empilhadas em um pratinho, como se fosse uma montanha de estrelinhas amarelas. No prato azul escuro onde ela consome frutas à tarde, parece mesmo um céu estrelado em uma noite de inverno.
     Acho bonitinho chamar carambolas de estrelas, mas confesso que tal associação foi uma novidade apresentada pela maternidade. Não que eu não conhecesse a fruta. Mas é que na minha infância lá no interior de São Paulo,, carambolas não vinham em bandejas, mas apanhadas no quintal. Na casa do meu tio Tonho, por exemplo, tinha um pé de carambola enorme. Eu colhia as frutas e comia ali mesmo, a dentadas, de modo que nunca cortei com faca para descobrir  o formato das fatias.
     Clarice nunca cogitou comer carambolas  apenas com os dentes. Eu mesma jamais ofereci essa possibilidade a ela, até por         que as frutas são caras e vêm normalmente em duas ou três na embalagem, envolvidas em papel filme. Bem diferente da fartura das carambolas da minha infância, que vinham em enormes bacias de alumínio que a gente ia enchendo com as frutas tiradas do pé.
     Fruas na bacia, aliás, é uma modalidade de consumir alimentos que minha filha desconhece. Goiabas, por exemplo, combinam demais com bacias de alumínio, mas atualmente a gente compra no mercado, em saquinhos plásticos pesados na balança.
     Nunca na minha infância eu imaginei comprar goiabas. Quando era época, Dona Mariia, nossa vizinha da frente, chamava as crianças da rua e entregava pelo muro uma bacia ceia de goiabinhas que a gente comia ali mesmo, sentado na calçada, entre uma brincadeira e outra. Quando acabava, devolvíamos  a bacia para Dona Maria,  que no outro dia repetia o ritual. E quando não era época, não nos apertávamos. Afinal, sempre tinha no bairro um pé de manga, amora, ou seringuela  disponível para aplacar a fome da criançada.
     Clarice não sabe a época das frutas. No supermercado, é possível encontrar de tudo o ano inteiro, mesmo quando o preço não é convidativo e o sabor é aguado. Enquanto escrevia este texto,  pensei  em convidar Clarice para colher frutas  no pé. Mas a verdade é que  não conheço nenhum pomar e tampouco tenho preparo físico para subir em árvores. Além disso, cada criança tem sua época, e a época da Clarice é a das carambolas transformadas em estrelas no sofá da  sala, o que não deixa de ser uma linda cena para uma coleção de memórias afetivas de uma infância feliz... ( Texto escrito por CAROLINA AVANSINI,  jornalista  na  FOLHA,  publicado na FOLHA RURAL, do jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 4 de Outubro de 2014).

Comente!

Comente!

.

.

.

.

Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
--------
Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

Postagens populares