sábado, 31 de outubro de 2015

GINASTA JAPONÊS É HEXA NO MUNDIAL



   GLASGOW – Há sete anos não há nenhum ginasta melhor do que Kohei Uchimura. O japonês conquistou,  ontem, o seu hexacampeonato ao vencer o individual geral do Mundial. de Ginástica Artística de Glasgow (Escócia). Desde a prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, o astro ganhou tudo, inclusive o ouro olímpico em Londres – 2012. Em Glasgow, já são duas medalhas de ouro para Uchimura, que levou o Japão ao título por equipes na última quarta-feira. Dois brasileiros também competiram: Arthur Nory terminou na 12ª colocação. Enquanto Lucas Bitencourt ficou apenas na 20ª colocação.  (AGÊNCIA ESTADO, página 8, FOLHA ESPORTE, sábado, 31 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

EDUCAÇÃO E BUROCRACIA



   Quando iniciei minha carreira docente na rede estadual de ensino, há 34 anos, não havia muita burocracia na escola.  Com muita  luta, nós, professores, conquistamos a hora atividade. Acreditava-se, então, que este tempo seria destinado para elaboração e correção de provas, leituras, pesquisas, preparação de material didático diversificado, elaboração de práticas pedagógicas inovadoras, cursos de capacitação, tornando assim nossas aulas mais dinâmicas, agradáveis e atrativas para o estudante. Mas, infelizmente, não é bem isso o que acontece. 
   A cada ano a burocracia aumenta. As atividades burocráticas são tantas, que nós passamos uma boa parte da hora atividade preenchendo formulários, fichas, pareceres relatórios, planejamentos, replanejamentos, propostas pedagógicas quilométricas e uma infinidade de papéis inúteis que, na maioria das  vezes, não são lidos e acabam engavetados. Muitos papéis e informações escritas são repetitivas  e desnecessárias e nada acrescentam na melhoria da educação. Essa, por sua vez, muda conforme o governo eleito e de acordo com a ideologia do partido político que representa o poder. Ficamos como baratas tontas tentando reformular, mudar e adaptar propostas educacionais o tempo todo. Não há continuísmo nem uma rotina escolar a ser seguida. Não quero dizer que a educação deva ser uma rotina e uma mesmice, ao contrário, devemos acompanhar as mudanças tecnológicas e a modernidade sim, mas sem muita burocracia, pois estamos sendo escravizados por ela, não só na educação mas em todas as áreas.
   Este excesso de atividade burocrática compromete a saúde dos professores e, consequentemente, a qualidade de vida desses profissionais que se sentem estressados, , descontentes e impotentes diante de tanta burocracia, sentindo-se fracassados por não conseguirem apresentar um bom trabalho e poder realizar-se profissionalmente. Não é à toa que a procura por cursos de licenciatura vem diminuindo a cada ano. A desvalorização profissional do professor e a papelada têm contribuído para isso. Percebemos também que o lado humano da escola está sendo deixado  de lado,  dando prioridade as funções burocráticas. Parece até que a qualidade da educação é medida pela quantidade de papéis que se produz. Sem falar que o excesso de burocracia também gera um grande desperdício de tempo, tinta e papéis, isso é, dinheiro público jogado fora, tornando-se ecologicamente incorreto.
   O excesso burocrático também pode ser fatal. Na saúde, por exemplo, mata pacientes que espera por uma consulta, um exame, um tratamento ou uma cirurgia de urgência que não acontece, na maioria das vezes, por falta de algum papel ( documentação insuficiente), aumentando o tempo de espera na fila. Isso pode levar um paciente à morte. É uma espécie de “burocracídio” (neologismo). Na educação não é diferente. Nesse setor, o excesso burocrático “mata”  a oportunidade do estudante ter uma educação “padrão Fifa””.
   Enquanto a burocracia imperar na educação pública, esta ficará comprometida e estagnada. Entra e sai governo e mudam-se as siglas partidárias, mas nenhuma mudança concreta, vinda dos nossos governantes, acontece para melhorar essa situação. A culpa da crise na educação é sempre atribuída ao professor e não ao sistema que também  contribui para o fracasso escolar. Como trabalhar numa “escola par todos”, atendendo a “diversidade”, com todo esse excesso burocrático?
   Tornar a educação pública mais eficiente, com menos burocracia, limitando-se apenas a papéis realmente necessários , dando a oportunidade para que o professor utilize a hora atividade para realizar um bom trabalho pedagógico pode contribuir e muito, para a melhoria da qualidade da educação pública paranaense. Cabe aos órgãos públicos a criação de mecanismos para promoção e desburocratização educacional ou pelo menos minimizar esse problema. Quem sabe um dia isso aconteça. Vamos esperar. ( APARECIDA VIEIRA REMES, professora da rede pública em Borrazópolis, página 1, ESPAÇO ABERTO, sábado, 31 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).


O FIM DA POLÍTICA DO FILHO ÚNICO



   O governo chinês decidiu acabar com a política do filho único que existia no país desde o final da década de 1970. Durante mais de 30 anos, a medida imposta pelo Partido Comunista da China, impedindo que os casais tivessem mais de uma criança, causou impacto na sociedade e na economia. A partir de agora, as famílias  estão autorizadas a ter o segundo filho. Quando foi implantada, a lei tinha o objetivo de tentar conter a explosão demográfica no país, que é o mais populoso do mundo, (1,3 bilhão de habitantes).
   A política do filho único deve ter impedido o nascimento de cerca de 400 milhões de pessoas desde que foi criada na China. Famílias que descumpriam as orientações do Partido Comunista estavam sujeitas a algumas penas, como multas. E quem seguia a regra recebia incentivos financeiros e profissionais.
   Durante todo esse tempo, entidades de direitos humanos denunciaram que muitas grávidas do segundo filho foram forçadas a abortar o bebê e que médicos ficavam encarregados de monitorar cuidadosamente os úteros usando dispositivos portáteis de ultrassom, identificando qualquer gravidez indesejada pelo governo. Há relatos também de esterilizações forçadas.  No decorrer desses 30 anos, foram abertas algumas concessões e minorias étnicas e populações rurais ganharam o direito de ter o segundo filho, assim como casais em que um dos cônjuges fosse filho único.
   A nova diretriz é uma resposta ao envelhecimento da população e ao risco de escassez de mão de obra para as próximas décadas.  De acordo com dados do Banco Mundial, em 2013, a taxa de fertilidade na China, de 1,17, estava abaixa do nível de substituição. A nova medida pode não ajudar a curto ou médio prazo no crescimento populacional do país, pois o filho único tornou-se uma norma social.
   A política do filho único não tem paralelo em todo o mundo. Trata-se de uma séria violação aos direitos humanos e das liberdades individuais. Há relatos chocantes de meninas que foram abandonadas ou mortas devido à preferência do tradicional chinês pelo filho homem aspecto cultural que também incentivou a realização de abortos seletivos por conta do sexo do feto. Mesmo que o objetivo de evitar o envelhecimento da população  demore  para ser atingido, a decisão tem um significado forte. É  fim de uma era. ( Página 2, FOLHA OPINIÃO opinião@folhadelondrina.com.br, sábado, 31 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).    

PARQUE DE DIVERSÕES




   Assim como os pequenos circos que volta e meia armavam sua lona na pequena cidade e eram motivo de alvoroço e alegria, havia também os parques de diversões. No mesmo estilo do circo, o parque chegava à cidade e era sempre bem-vindo. Uma atração principalmente para a criançada por causa dos brinquedos coloridos. Na verdade nem eram muitos e se fosse hoje, nenhum seria aprovado pela segurança, mas isso não tinha a menor importância. Ficava cheio de pessoas indo e vindo, principalmente crianças, rindo e brincando nos balanços, chapéu mexicano, cavalinhos, trenzinhos, roda não tão gigante, barraquinhas de tiro ao alvo, pescarias, laços, argolas e outras brincadeiras. 
    Havia ainda as barracas do espelho mágico que refletia a gente em formas diferentes, a barraca de mulher barbuda, do gorila falso, tudo fazia rir, gargalhar, gritar. 
   Em algumas noites, eram apresentadas peças teatrais, abrindo grandes cortinas de veludo vermelhas, como tinha o Parque do seu Piva, que corria as pequenas cidades da redondeza. Hoje, passando dos oitenta anos, seu José Aldenuchi é muito conhecido em um bairro de Londrina onde mora. Sem perder o charme e elegância de apresentador, está sempre com seu chapéu coco preto e quando se toca no assunto, é com muita emoção que fala sobre os bons tempos de parque.
   Muita musica enchia os ares, provocando grande agitação e uma alegria contagiante. Foi numa dessas noites que eu, acompanhando minha irmã e o namorado dela, fomos ao parque de diversões. Estava tão radiante que não me contive e comecei a correr, feliz, no meio da multidão, olhando os brinquedos que rodavam, balançavam, voavam, misturados aos gritos e às gargalhadas. E como havia muita gente, dei um encontrão numa outra criança, tão forte, mas tão forte, que nós duas caímos com o nariz escorrendo sangue.
   Aí que o rebuliço ficou maior ainda: foi juntando gente, nos acudindo, a hemorragia que não parava: sentia uma dor forte no nariz, muita vergonha e o pior: a tristeza de ter que ir para casa, quase arrastada, carregando no coração a dor maior de não poder ficar no melhor lugar do mundo, naquela noite: o parque de diversões. ( ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora da FOLHA, página 2, FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 3l de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

MULHERES SÃO DESTAQUE EM PREMIAÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS




Produtoras da região do Norte Pioneiro venceram nas três categorias do Concurso Café Qualidade

   Pela primeira vez, as três categorias da 13ª edição do Concurso Café Qualidade tiveram mulheres nos primeiros lugares. A cerimônia de premiação foi realizada nesta quinta-feira (29), em Mandaguari, e reuniu cerca de 350 participantes. Foram premiados produtores de café natural, cereja descascado e de produtores da agricultura familiar.
   A avaliação foi feita por oito degustadores que qualificaram atributos como aroma, sabor, gosto residual, doçura e acidez. 
  Na categoria café natural, a produtora premiada foi Ceres Trindade de Oliveira. Foi a primeira vez eu a cafeicultora se inscreveu no concurso. “Agora quero aumentar a produção para concorrer de novo no ano que vem”, conta. 

Mais doce

   Ceres produz café em Joaquim Távora, Norte Pioneiro. A fazenda fica numa altitude acima dos 650 metros, o que favorece a produção de um café mais doce – um dos aspetos avaliados pelos juízes do concurso. Nove dos quinze cafés premiados são de municípios daquela região. 
 Além de Joaquim Távora, a lista de áreas produtoras de cafés vencedores inclui Tomazina, Ibaiti, Ribeirão Claro, Japira e Cornélio Procópio. Em Londrina, só o produtor Luiz Carlos Bessa foi premiado. Ele ficou em 5º lugar na categoria micro lote , que contempla cafés especiais de agricultores familiares.
   O concurso é promovido pela Câmara Setorial do Café e Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). Os cafés especiais serão comprados pela Câmara Setorial por R$ 740 a saca de 60 quilos, quase o dobro do preço do café tradicional, que tem a saca vendida em média por R$ 400.
   Segundo o coordenador do concurso, Paulo Sergio Franzini, o objetivo é estimular a produção de cafés especiais “ A ideia é atestar que o Estado produz cafés aprovados em concursos de padrão oficial, legitimar a qualidade do café paranaense”, destaca. ( VINICIUS BESSI

jornalismo@jornaldelondrina.com.br página 8 , geral, CONCURSO, sexta-feira, 30 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

TERRA SEM LEI EM UM MAR DE PROBLEMAS



   Quem já não sentou à beira da praia ou até na frente da televisão para contemplar a imensidão do mar e toda a diversidade que o ecossistema marinho nos traz? Essa beleza e encantamento, contudo, enganam. Ao longo das últimas décadas, os oceanos foram transformados em um dos ecossistemas mais degradados e ameaçados do planeta. 
   Dados das Organizações das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que 61% das espécies de peixes comercialmente exploradas no planeta foram pescadas nos seus limites máximos de manutenção populacional. Os recifes de coral estão sob alto risco de desaparecer até 2050 e, segunda a União Internacional para a Conservação da Natureza (UNICN), diversas espécies de tubarão estão entrando em extinção. Somando-se a isso, há a contaminação da água, as invasões por espécies exóticas e a surpressa de habitats.
   No Brasil, o cenário não é diferente. Conforme o Ministério da Pesca e Aquicultura, a produção pela pesca extrativa marinha vem caindo desde 1980, quando atingiu 750 mil toneladas e caiu para 550 mil toneladas anuais, nos anos subsequentes, por conta da pesca mal gerenciada e ilegal. 
   O Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio) listou 19 espécies de peixes marinhos ameaçados de extinção. As cinco espécies de tartarugas marinhas encontradas no Brasil permanecem na lista de animais em risco de extinção, apesar dos esforços de vários projetos de conservação. Além disso, mais de 25% de nossos manguezais, importantes para o ciclo de vida de várias espécies de valor comercial e ecológico, já foram destruídos ao longo de nossa costa. 
   Mas, por que preocupar com isso? A resposta pe simples: os ecossistemas marinhos proporcionam serviços ambientais essenciais à sobrevivência humana como alimentos, medicamentos e lazer; e, no atual cenário de mudanças climáticas, são fortes aliados na manutenção do clima, no controle de inundações e proteção costeira. Também há vantagens econômicas, pois a atividade pesqueira segundo o Ministério da Pesca e Agricultura, envolve cerca de um milhão de pescadores profissionais e mais de 3,5 milhões de empregos diretos e indiretos. A pesca artesanal é responsável por 50% da produção de pescado nacional e importante fonte de renda e segurança alimentar para comunidades litorâneas. 
   Diante dos imensos benefícios ambientais, sociais e econômicos do mar para os brasileiros, e dos altos riscos desse ecossistema no Brasil, precisamos de maior e melhor tutela do Estado, uma vez que é sua obrigação constitucional garantir a gestão adequada e a repartição justa dos benefícios decorrentes da exploração desses recursos. Isso inclui o estabelecimento de unidades de conservação para garantir a proteção dessa rica biodiversidade. 
   Como esse cenário é amplamente conhecido por pesquisadores e gestores públicos, fui pego de surpresa pelas inexplicáveis rejeições pela bancada ruralista ao projeto que cria a Política Nacional para Preservação e Uso Sustentável do Mar Territorial Brasileiro – a Lei do Mar – e à Portaria 445 do Ministério do Meio Ambiente, para a gestão de espécies vulneráveis. Ambas as normativas buscam planejar e ordenar o uso sustentável dos recursos marinhos, aumentando a eficiência e a sustentabilidade dos setores produtivos e a manutenção da biodiversidade. 
   Será que falta aos senhores deputados conhecimento sobre o tema? Uma espécie de analfabetismo ambiental e estratégico? Será falta compromisso com nossa Constituição Federal? Ou simplesmente é o clientelismo com grupos econômicos fadados a se extinguirem junto às espécies e ambientes que exploram?
   É possível mudar esse cenário. Por meio de manifestos coletivos e pessoais aos parlamentares, a mobilização pública pode gerar comoção para apoio ao ordenamento responsável de nosso mar. É nosso papel. É da nossa conta. ( ARIEL SCHEFFER DA SILVA, doutor em Zoologia, diretor de Empreendedorismo Inovador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, página 2, ESPAÇO ABERTO, sexta-feira.30 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

A AVIAÇÃO MUDOU PARA SEMPRE O CURSO DA HISTÓRIA



   O último dia 23, foi celebrado o Dia da Aviação e do Aviador, porque, nesta data, em 1906, um brasileiro, Alberto Santos Dumont, deu asas ao mundo. A partir daquele dia, já muito distante, a aviação mudou o curso da História para sempre. Cinco anos depois, em 1911, o avião já era utilizado como arma militar e, oito anos depois, em 1919, alguns empresários já ofereciam voos comerciais.
   Sim, a aviação mudou o curso da História. A Segunda Guerra Mundial começou com um ataque de aviões bombardeiros à Polônia; os Estados Unidos entraram nesse conflito devido a um massivo ataque aéreo a Pearl  Harbor; e  a guerra terminou depois que uns poucos aviões lançaram bombas atômicas sobre o Japão, em 1945. Na década seguinte, os passageiros já voavam de jato, e não demoraria muito para voares mais rápido que o som.
   Embora voar seja hoje rotina, a aviação ainda exerce fascínio sobre as pessoas. Parece ser algo mágico que tira o avião do solo, mesmo que as leis da física sejam muito conhecidas. Para muitos, voar em um grande jato comercial tem o mesmo sabor de aventura que Santos Dumont e outros aviadores da época pioneira sentiram.
   Uma carreira na aviação é o sonho de muitos jovens de hoje, e nada parece desanimá-los. Muitos se interessam pela pilotagem, outros sonham em ser comissários de voos ou mecânicos de avião, e um número surpreendente deseja construir seu próprio avião e voar com ele. Mas como começar uma carreira na aviação?
   O primeiro passo é simples: procurar um aeroclube ou uma escola de aviação. É simples, mas exige critério e planejamento. Alguns aeroclubes e escolas têm vocação para formar profissionais, enquanto outros mal conseguem ensinar um aluno a pousar e decolar uma aeronave. Como o investimento é alto convém não arriscar, caso o candidato deseje não apenas voar com segurança, mas se tornar um profissional em condições de entrar no disputado mercado da aviação civil.
   Não é preciso ser um superhomem ou uma supermulher para operar um avião. Mas é preciso estudar muito, manter disciplina, planejar, abandonar certos vícios e cuidar da saúde. Dizem os aviadores que a aviação civil é um setor restrito, no qual todos se conhecem, e que se pode construir ou destruir uma carreira através de uma rede de relacionamentos mal construída.
   Uma coisa, porém, é certa: se uma pessoa que atuar na aviação, um dia ela vai atuar, nem que tiver de abandonar uma carreira de décadas, brigar com a família ou enfrentar os “abutres” de plantão.
   Em Londrina, temos o Aeroclube e sua Escola de Aviação Civil, que já formou cerca de 7 mil pessoas, entre pilotos, aeromoças, comissários de voos, entre outros profissionais, que estão voando pelo Brasil e pelo mundo.
   Estamos preparados e prontos para alimentar a paixão dos aviadores, continuando nossa missão de formar pilotos e outros profissionais, contribuindo para a expansão da aviação nacional. Viva a aviação! Viva o Aviador! ( JONAS LIASCH, presidente do Aeroclube de Londrina, página 2, espaço ponto de vista, sexta-feira. 30 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).  

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

PROFESSOR COMPLEMENTA AULAS COM VÍDEOS NO YOUTUBE




   Criado há um ano, o canal tem quase 11 mil inscritos e já dá retorno financeiro
   O Youtube é uma ferramenta que já faz parte da vida da maioria dos conectados à internet. Na rede social, é possível encontrar de tudo que possa ser filmado em vídeos: de novelas antigas a filmes recentes, passando por clipes de música, brincadeiras, dicas de games e, até, produção acadêmica de qualidade. É o caso do canal criado pelo professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) André Azevedo da Fonseca, idealizado para explorar novas mídias na produção acadêmica.
   Criado há um ano, o canal tem quase 11 mil inscritos e a última série apresentada, sobre a Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire, já somou mais de 130 mil visualizações. “Para quem está acostumado a falar para 30 pessoas em sala de aula e ter os artigos científicos publicados lidos por, no máximo, 40 pessoas, é uma marca assombrosa”, garante.
   Professor adjunto e pesquisador no programa de Pós-graduação em Comunicação do Centro de Educação, Comunicação e Artes (CECA) da UEL, Fonseca começou a se arriscar no Youtube depois de um estudo – provocação que fez a seus alunos no curso de Comunicação Social. “ Estávamos falando sobre novas tecnologias na comunicação, novas mídias e recursos digitais. E fui estudar o Youtube.  Fiquei tão animado com as possibilidades que meus alunos me pegaram pelo pé: se é tão legal porque não cria um canal?”, ri. Ele topou desde que os alunos também fizessem um. “Exercitamos algumas experiências bem legais”, conta.
   A paetir daí começou a desenvolver temas que não são propriamente aulas, mas servem como complementação, principalmente no mestrado, e ligados à produção e orientação de pesquisas com temas relacionados à Comunicação Visual, História Cultural e Imaginários Sociais. “Fui jornalista de TV e fazia um programa de entrevistas em Minas Gerais, então já tinha uma certa intimidade com a câmera”, diz. Com essa intimidade, resolveu mostrar assuntos ligados às ciências humanas.  “Apesar de desvalorizadas hoje,  as ciências humanas ajudam as pessoas a desenvolver uma reflexão ética. A técnica sozinha, quando não controlada pela ética, favorece o aparecimento de uma sociedade violenta, com paixões e ódios desenfreados”, aponta.
   O canal já possui vários vídeos de séries sobre determinados assuntos. A mais nova é sobre o pedagogo Paulo Freire e está atualmente no 16º capitulo  “Tem gente que ama, tem gente que odeia, e tem gente que nem conhece o trabalho de Freire. Com essa série, quero, pelo menos, apresentar um pouco desse trabalho”, explica. A ideia é que a série tenha cerca de 30 capítulos e possa ser vista em cerca de três horas.

   Vaquinha

Nessa coisa toda, aconteceu até uma vaquinha via Cartase, um site de crowdfunding (financiamentos coletivos) para que o professor pudesse comprar equipamentos digitais melhores para suas gravações. Por não ser um canal de entretenimento - que gera milhões desvisualizações – as aulas do professor chamaram a atenção até do próprio Youtube, que propôs a ele monetizar o canal. “Por enquanto, está rendendo só o suficiente com as despesas com a internet. Mas vai que um dia eu fique rico, né?”, brinca. ( TELMA ELORZA,
telmae@jornaldelondrina.com.br página 11, geral, TECNOLOGIA, terça-feira, 27 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

EDUCADOR LEVA A "PEDAGOGIA DO ABRAÇO" À CRACOLÂNDIA

   


    O ex-frade Fernando de Gois. Ativista social dos mais respeitados, prova a vida nas ruas de São Paulo. É escrevinhador da Praça do Patriarca, ativista no Brás, um profeta na Luz.

   “Agora sou um maloqueiro”, brinca o educador Fernando de Góis, 57 anos, sobre sua nova condição. Desde fevereiro, ele mora numa “maloca” – termo usado pela população de rua para definir um grupo que vive numa determinada quadra, uma espécie de condomínio sem teto munido de marquise. A turma do Fernando é formada por 80 miseráveis e se abriga perto de um estacionamento na Rua São Bento, Praça do Patriarca, Centro Velho de São Paulo. Seu banheiro – a estação de metrô que dá nome à via. Comparado a outros, é lugar bom, limpo e seguro. Não sai barato.
   Para garantir pouso na maloca de São Bento, Góis teve de ganhar a confiança do dono da circunscrição, morador de um prédio abandonado, sujeito dado a  distribuir catiripapos nos aventureiros que se assanham no território alheio.  “Tive medo. Quando cheguei, encontrei gente machucada mulheres chorando”, admite o criador da Chácara dos Meninos de 4 Pinheiros, ativista social dos mais respeitados, sobre as regras de convivência em seu novo endereço, o relento. Não faltou quem tentasse convencê-lo a sossegar a ideia. Em vão.
   Góis nutre atração pela rua desde os tempos de frade carmelita, na década de 1980, quando largou o convento para viver numa favela da Vila Lindoia, em Curitiba.  Pencas de religiosos à época fizeram o mesmo,  inspirados pela Teologia da Libertação. A intenção de Fernando, contudo, era radicalizar. Sua opção pelos pobres incluía dormir no sereno – chegou a flertar com a Praça Rui Barbosa. O plano durou até ser tragado pelo projeto da Chácara de Mandirituba, na região Metropolitana de Curitiba, a partir de 1992. Foram 22 anos de serviço prestados, tempo em que acolheu 800 crianças e adolescentes vítimas do abandono, da violência e do abuso. Não tinha quarto. Não tinha folga. Difícil quem entenda, mas a rua, agora, é seu sabático.

   TÍQUETES

   Nas imediações da Sé, não esconde a que veio – está ali para provar na carne o que o povo da rua sente. É experiência mística, à moda de Charles de Foucauld, o mendicante irmãozinho de Jesus, mas também ação política. Já bateu na porta do Ministério Público de São Paulo para tratar da truculência de alguns agentes públicos. E das filas que duram quatro horas. Sua fala diverte: acha as filas grandes  o bastante para consumir um dia inteiro, entre tíquetes para pegar toalha, tíquetes para banho, tíquetes para um prato de comida. A burocracia é tamanha que desistiu de dormir em albergues: calculou que gastaria o mesmo tempo para atravessar o Mar Vermelho e o deserto do Sinai. Outros moradores devem achar o mesmo – e permanecem onde estão.

   AFETO COMO ESTRATÉGIA

   Em quase nove meses de rua, Góis se tornou uma notícia fresca para a pá de movimentos sociais e igrejas que atendem os deserdados do Centro paulistano, algo como mil pessoas. “Descer” até a Cracolândia não estava nos planos. Ao chegar à Sé, dois moradores de rua, Luís Ricardo e  Franciso – o acolheram na Rua Boa Vista, por uma semana, com uma condição: que se alistasse como voluntário no projeto Restaura-me, da congregação dos missionários xaverianos, no bairro do Brás. Gostou do que encontrou e passou a desenvolver ali a “Pedagogia dos Sonhos”, dinâmica criada para os meninos de 4 pinheiros. Vai a pé, duas, três vezes por semana, e ali constrói um ninho, à revelia da decisão de que não iria se vincular a um único movimento. Quem sabe em visita ao bairro da Luz, onde grassa o crack, encontrasse um ponto de fuga. Foi sozinho. Desabou. Agora, parte dos dias da semana é passada na Cracolândia, onde Fernando de Góis se fez aprendiz. Sua única estratégia é sorrir, abraçar e beijar as pessoas – é o que se pode fazer.
   Logo no primeiro abraço que deu ouviu um solene não. Deu o abraço mesmo assim, a contragosto do freguês. A cena se repete com outros moradores da região, beneficiados pelos abraços de Góis. “Na Cracolândia, até os cachorros são tristes”, diz, sobre o local que desafia as lógicas.

   Registros

   Histórias irão para livro


O inquilinato na maloca tem lhe servido de escola. Diz: “Você sabe que os moradores de rua só falam a verdade depois da meia-noite?”  Ouviu isso de uma freira, acatou. Quando a cidade esvazia e não há mais razão de encenar dramas, para conseguir comidas e favores, os sem teto se dão a conhecer. Gostam de contar suas histórias – Fernando registrou até agora 30 delas, que pretende publicar num livro. Chega a formar uma fila, não para pegar a toalha,  mas para se sentar ao lado do escrevinhador e lhe dizer o passado. Cansa. As sessões costumam varar a madrugada, “mas enquanto tiver forças, vou continuar ouvindo.  Ouvir é o que tenho de fazer”, resume o cidadão que depois da “Pedagogia dos Sonhos”, desenvolve a “Pedagogia dos Ouvidos” e a “Pedagogia dos abraços”. ( JOSÉ CARLOS FERNANDES/GAZETA DO POVO, página 10, geral, PERFIL, terça-feira 27 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

PRESÍDIOS NA AREIA



   Nos últimos dias a população de Londrina esteve sob o estresse provocado por uma rebelião na unidade dois da Penitenciária Estadual (PEL 2), que deixou feridos detentos tomados como reféns e muita destruição do patrimônio público. O episódio é oportuno para trazermos uma reflexão sobre a prática penal do encarceramento e as implicações dela sobre a natureza humana que é propensa à liberdade desde o nascimento. 
   O descumprimento das regras de convivência social quebra a harmonia nos relacionamentos e desencadeia desrespeito, intolerância, violência e fomenta as diversas modalidades de crimes. Para corrigir essa situação, o Estado pune os criminosos aplicando-lhes a pena restritiva de liberdade, mantendo-os afastado do convívio social para que sejam reeducados e reinseridos no sistema após da conclusão da penalidade. Seria simples se realmente funcionasse como a sociedade espera, mas infelizmente o que constatamos é que se nada de bom entra nas cadeias, pior ainda é o que sai delas. Ocorre que a pena de reclusão como é aplicada em nosso sistema não é suficiente para mudar a realidade psicológica do apenado que, pela ótica da saúde mental, é uma pessoa que se encontra adoecida no sentido social/afetivo e emocional. Esse ser cindido é colocado entre outros nas mesmas condições e espera-se que por um processo simbiótico, através do sofrimento, se restabeleçam a ambos, resignados e arrependidos do mal que fizeram. 
   Um fenômeno comum observado nos presídio é o processo da aglutinação, a formação de vínculos sociais entre presos que se unem para garantir proteção contra grupos rivais – e até mesmo de atos do Estado, nem sempre tão legítimos – e realizar suas necessidades fundamentais para a sobrevivência. Esses vínculos são às vezes estruturados a tal ponto que formam uma sociedade paralela, com normas de convivência, comandos, leis, etc. São as chamadas facções. São fenômenos explicáveis pela ótica das necessidades socioemocionais da pertença e são proporcionais às lacunas deixadas pelo Estado no tocante à proteção e à dignidade do preso. As pessoas, em geral, ultrapassam os limites da privação da liberdade e usurpam do apenado a possibilidade de “vir a ser humanizado”, o que em verdade é seu principal objetivo. 
   O estresse proporcionado pela limitação das necessidades corpóreas, o medo, a angústia de morte acionada pelo instinto de sobrevivência perante os maus-tratos, ameaças, doenças e abusos de toda sorte, justificam no preso o desejo de libertar-se, o que é natural nessas condições. No ambiente caótico gerado no interior dos presídios nada dignificante pode acontecer, mas ao contrário, agravar a experiência auto e hetero destrutiva de quem se encontra em desordem intrapessoal e interpessoal. As condições físico-estruturais são importantes para amenizar os riscos de descontentamento que produzem as reações em cadeia, estopim das rebeliões, porém não são as mais importantes. O tratamento digno e respeitoso, necessário ao se lidar com pessoas, condição que – quer a sociedade aceite ou não, permanece no apenado apesar dos crimes que praticou – é que pode amenizar esse ímpeto. 
   Assim como no tratamento dispensado aos hospitais, urge que humanizemos os nossos presídios, através de estrutura adequada, profissionais qualificados, atenção à saúde, cultura, lazer, religiosidade, objetivando caminharmos rumo à redução dos índices de criminalidade e da afirmação de que as prisões realmente cumprem suas funções de reeducar e reinserir os detentos na sociedade, devolvendo-os como cidadãos úteis a si e a seus iguais. Até lá, no máximo, seguiremos construindo presídios na areia. ( JAIR QUEIROZ – psicólogo pós-graduado em segurança pública m Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 28 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

EU ME RECUSO A SER UM NÚMERO


     Desde nosso nascimento somos instigados a nos transformar em números. Começamos com o número da Certidão de Nascimento, depois RG, CPF, título de eleitor, carteira de motorista, esses números que foram feitos para nos marcar, semelhantes ao que fizeram os nazistas, ao tatuarem número nos pulsos dos judeus, esses números que muitas vezes somos obrigados a decorar, pois sem eles não somos “ninguém”, indigentes, não existimos. Esses números que foram feitos para nos distinguir, como marcam o gado a ferro quente, esses números que somos obrigados a carregar conosco até o fim, não é deles que quero falar, embora estejam relacionados com a minha tese.
    Somos incitados a ter boas notas na escola, há média a serem atingidas e as  notas altas separam os bons alunos dos maus, mesmo que o aluno nota 10 tenha apenas decorado o conteúdo para fazer a prova e esquecido pouco depois de termina-la, ele será melhor visto do que o aluno que realmente aprendeu, mas não atingiu uma nota elevada, porém ele carregará o conhecimento ao contrário do outro. Somos instigados a chegar em primeiro lugar, estar no topo do pódio, a marcar mais gols, mais pontos, é necessário tirar a maior nota para passar no vestibular, no concurso. As maiores notas na carteira, o maior saldo na conta bancária, para garantir o carro mais caro, a casa mais cara, a mulher mais desejada. A lógica é simples, mantenha os números elevados, quanto mais,  melhor. Adicione, não subtraia, divisão é comunismo, que levou a U.R.S.S. ao colapso e Cuba À estagnação. Esteja na moda, faça o que outros fazem, use, compre, cante, veja, ouça, coma, beba, sinta como a maioria. Porque a maioria não pode estar errada, justamente porque são a maioria, e quanto mais, melhor.
   A  maioria dos alemães apoiaram o nazismo, apoiaram a ditadura militar, (Deus, muitos ainda pedem sua volta), a maioria dos judeus e romanos mandaram Jesus para a cruz. A maioria dos norte-americanos apoiaram a guerra no Iraque.
   Eu me recuso a ser um número, a seguir a maioria. Não por ideologias de cartilhas, ou de livros que mentimos que lemos. Recuso por natureza, por não entender os números, sempre levar bomba em matemática, não decorar a tabuada, RG e CPF,  por não tirar extrato bancário, não saber onde foi parar o dinheiro na carteira, não fazer planos, não calcular estratégias, não contar vantagens, não saber o que está na moda, não ouvir qualquer FM, não assistir qualquer bobagem na TV. Eu sou de humanas, eu vejo tudo em letras, sinto cheiro de livros, novo e mofo, eu me recuso a ser apenas mais um número, em meio a tantos outros, em fila, em estatísticas, em índices e cotação. Tudo em mim são letras. ( RICARDO CHAGAS, orientador de atividades na biblioteca do Sesc, em Ivaiporã. Página 2, Folha 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira. 28 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO



   No último fim de semana tivemos as provas do Enem, assunto de que tratamos na coluna da semana passada. É normal que um  exame desse tamanho, envolvendo alunos do Brasil inteiro, cause alguma polêmica, mas houve um questão em especial que despertou discussões acaloradas nas redes sociais, ao citar um texto da escritora Simone de Beauvoir em que ela afirma que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”.
   Essa citação foi suficiente para incitar críticas por parte de alguns e aplausos por parte de outros, independente do que era cobrado na questão. O grande problema é que boa parte dos que criticaram (e dos que aplaudiram também) não levaram em consideração o contexto de tal afirmação, o que pode fazer toda a diferença.
   Independentemente do que era perguntando na questão do Enem, o maior erro de muitas pessoas que comentaram a afirmação da escritora francesa foi não levar em consideração a história de vida dela ( uma feminista veemente) nem mesmo o momento histórico em que ela escreveu isso (um período em que as mulheres lutavam por seus direitos). A mesma frase, dita por outra pessoa em outro momento, poderia adquirir um sentido totalmente diferente.
   O fato é que, seja no Enem, no vestibular ou em qualquer momento da vida, o contexto em que algo é dito (ou escrito) faz toda a diferença. Até uma citação da Bíblia, fora do contexto, pode soar como uma coisa totalmente distinta (“atire a primeira pedra” poderia ser uma incitação à violência, não acha?).
   Por isso, ao fazer a interpretação de um texto, sempre leve em consideração o meio em que ele foi produzido. Parece só um “detalhe”, mas vai muito além. Há muita coisa a ser considerada quando se lê (ou se ouve) algo.
   Primeiramente, há o contexto histórico: o que se fala ou se escreve em um momento pode parecer absurdo em outro. A escravidão, por exemplo, já foi “legalizada”, constando das leis  de diversos países (inclusive o Brasil). Sendo assim, um trecho da constituição de um desses países, naquele momento da história, vai parecer absurdo para nós, que vivemos no século 21. O mesmo vale para alguns trechos do velho testamento, que falam de escravos como algo natural.
   Há ainda que se considerar o contexto geográfico, pois a realidade de diferentes lugares pode influenciar (e muito)  o que se escreve por lá. Um autor africano ou asiático vai tratar de certas realidades que para nós podem parecer ficção, do mesmo modo que um nordestino pode “ver” muitas coisas de um modo diferente do nosso.
   Muitas  outras  variantes  podem ser levadas em conta, como o contexto social (um texto escrito por um morador de favela pode soar estranho a pessoas de classe alta e vice-versa) ou até mesmo elementos individuais, como levar em consideração o texto de uma criança ou de um idoso, por exemplo).
   O fato é que nunca se deve avaliar um texto baseando-se apenas nas palavras. Há muito mais para ser analisado. Isso vale para as avaliações escolares (incluindo o Enem e os vestibulares), mas também vale para a vida. Afinal de contas, até um palavrão, naturalmente ofensivo, pode ser algo natural e aceitável, dependendo do contexto.
   Vale dizer que isso tudo vale para textos verbais e não verbais, ou seja, nunca considere um imagem isolada de seu contexto, sob pena de acabar fazendo uma interpretação  “deficiente”. Apenas ao considerar tudo o que há (e pode haver) na origem desse texto, é que você poderá, enfim, formar uma opinião coerente (a favor ou contra).
   Se tiver algum comentário sobre o assunto (ou dúvidas), mande para nosso e-mail (bemdito14@gmailcom). Até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS e ESPANHOL, página 5, Folha 2, espaço BEM DITO, terça-feira. 27 de outubro de 2015.publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

MANTENHA O BRILHO DO PISO DE MADEIRA



   Opção clássica, piso de madeira exige alguns cuidados para manter a beleza


   Sinônimo de conforto e aconchego, o piso de madeira é um clássico na decoração que nunca sai de moda. Entretanto, eles requerem alguns cuidados, tanto na instalação quanto na manutenção para ter vida longa.
   É comum os pisos apresentarem problemas como perda de brilho, arranhões, trincas ou até mesmo deslocamento de rejunte. Para evitar as dores de cabeça, o principal cuidado é evitar contato com a umidade. A decoradora Angela Russi recomenda que os assoalhos madeirados não sejam utilizados em áreas molhadas. De acordo com ela, durante  a instalação é necessário ficar atento se o contrapiso está bem acabado e impermeabilizado.
   Para a limpeza também é necessário observar alguns cuidados. Por não danificar a madeira, as  vassouras com as cerdas macias e aspiradores de pó que não possuem tudo de sucção raspando no piso são excelentes opções.
   Fábio Valério, da Masterpiso Engineered Floors, empresa especializada em pisos de madeira multiestruturados e multilaminados, recomenda que sejam colocadas pequenas placas de feltro embaixo dos pés de móveis, para não riscar o piso, e tapetes na porta de entrada para diminuir o transporte de resíduos par adentro de casa. Ele aconselha evitar a incidência direta do sol no piso e o uso de cera, palha de aço ou água sanitária para não manchar a madeira.
   A escolha do assoalho também pode afastar o pesadelo dos cupins. Há produtos com acabamentos diferenciados que aumentam a durabilidade do brilho e facilita a manutenção. ( JONATHAN SERONATO/HAUS/GAZETA DO POVO, página 1, caderno imóveis, Classificados 3377- 3000, ASSOALHOS, domingo, 25 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

domingo, 25 de outubro de 2015

BENGALAS E BIGODES





   Churchill é quem mais símbolos usou para ornar a própria imagem: com o chapéu, mostrava-se britânico; macho com o charuto; com os dedos anunciando vitória. E ainda usava bengala, embora não tão bem quanto Ghandi. 
   Chamado a Londres para negociar a libertação da Índia, Ghandi hospedou-se em casa de indiano, recusando hospedagem oficial, e, para ir às conferências cruzava a cidade com bengala, manto e sandálias, simbolizando a pobreza e a resolução de seu povo. Com ele iam repórteres e fotógrafos de todo o mundo, fazendo de cada caminhada um comício global.
   Charlie Chaplin criou Carlito com chapéu côco, também bengala e fraque com botinas esfrangalhadas, traje nobre com calçados pobres, contraditória síntese visual do seu cativante personagem. 
   Já Sherlock Holmes usava tripé de símbolos: a nobreza da bengala, a introspecção, o britânico chapéu de camurça. 
   Temos bigodes famosos como o pontudo de Stalin, a simbolizar seu caráter ferrenho; o bigodão do líder polonês Lech Walessa, expressão visual de sua rebelde bonomia (bigode que Leminsk adotaria, a simbolizar a transformação que muitos socialistas recusaram). E, claro, há Hitler, que no quesito bigodes é até hoje invencível, mesmo diante mesmo diante dos bigodes surreais de Salvador Dali. 
   Há os que adotaram como símbolos peças do vestuário. O colete de Lênin, a indicar a origem burguesa da maioria dos líderes do socialismo dito proletário. A boina estrelada de Guevara, a indicar a sua maestria em criar frases de efeito. A farda de Fidel, a simbolizar o regime cubano sempre em guerra contra o futuro. O macacão-uniforme de Mao, símbolo da padronização mental do socialismo. 
   E há os gestuais. O aceno de Getúlo Vargas. O sorriso de Juscelino. O sorriso de Kennedy encimado pelo topete. 
   Recentemente, houve líderes políticos com o gesto de levantar o braço com o punho cerrado, mas depois passaram a andar cabisbaixos, até porque algemados nas costas. 
   Ao contrário, símbolo de alegria e confiança era a camisa colorida de Mandela, fora das calças enquanto ele se mostrava primeiro e único estadista a dançar em cerimônias públicas.
   Há também, nessa galeria de imagens, os belos e doces olhos de Jesus, que tanto vemos pintados e impressos – e que ninguém sabe como realmente eram; imagem pública feita não pela pessoa mas pelo público. 
   Os olhos de Jesus simbolizam nossa crença em melhorar a realidade. Não deve ser por outra razão que caprichamos nas roupas, usamos jóias e penteados, pedicure e manicure, tatuagens e piercings. Todos, menos os loucos, queremos parecer melhores ou únicos para os outros. Mas Einstein apenas botou a língua para fora. ( Crônica do escritor londrinense Domingos Pellegrini, página 18, cultura, espaço DOMINGOS
 PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br facebbok.colm/escritordomingospellegrini domingo, 25 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DELONDRINA.

sábado, 24 de outubro de 2015

MADRE LEÔNIA E A EXPERIÊNCIA DE dEUS


   Madre Leônia Milito, fundou a Congregação das Missionárias Claretianas, junto com dom Geraldo Fernandes, 1º Arcebispo de Londrina. Está em Roma o processo de sua beatificação. Ela é uma grande teóloga como confirma seus inúmeros escritos. Hoje vamos refletir sobre a experiência do amor de Deus na sua vida e nos seus escritos.
   Diz Madre Leônia que com Deus cada instante da vida é um instante de amor. Ele enxuga lágrimas, escuta os gemidos e dá força aos fracos. Deus é nosso repouso. Só Deus basta. “O amor de Deus é o meu bálsamo e consolação. Deus me ajudou a abraçar as provações, as ingratidões, as incompreensões. Elas se tornaram o caminho do céu”, escreve.
   Abandonemo-nos como argila nas mãos amorosas do oleiro, do artífice divino, Ele nos recria e plasma. O amor de Deus nos dá forças para beijar as mãos de quem nos faz sofrer. A fé no amor de Deus nos torna vitoriosos nas horas de miséria, de desilusão, de vazio. Com Deus nada nos perturba, nem a vacuidade dos bens, nem as decepções. Pelo contrário, conseguimos agradecer as cruzes. Onde há cruz Deus está perto. 
   Deus na sua bondade nos faz superiores a tudo que é caduco, falaz, enganador. Basta abandonar-se como criança nos seus braços. É o amor de Deus que nos mostra as chagas que não queremos ver, as culpas que não admitimos, os defeitos que escondemos, os desejos ainda ocultos. Deus nos dá a sede de querermos ser bons.
   Desejo é ver as coisas com os olhos de Deus e combater pela vitória do amor. Ele dissipa a fadiga, livra da banalidade, salva da mediocridade, Nele, respiro e por Ele suspiro. Eu sou apenas pó que Deus transforma. É na máxima humildade que fazemos o máximo bem. Quero irradiar Deus em todas as minhas ações. Como é bom e salutar descobrir que Ele é tudo e nós nada. Todavia Ele sabe fazer grande quem é pequeno. 
   Sem Deus nada é sólido, nada é forte, nada é fecundo. Não há nada mais belo, glorioso, elevado e grande do que ser filho de Deus. Antes da criação do mundo fomos concebido no seu coração para sermos seus filhos amados. Não somos escravos, nem empregados, somos filhos de Deus. A filiação divina é a nossa maior condecoração, a máxima honra, a suprema elevação. 
   Quero consumir-me onde Deus me colocou. Tudo o que recebemos de Deus é para os outros. O amor de predileção de Deus por nós é para que tenhamos amor de compaixão para os irmãos. Nossos atos não terminam em nós, chegam aos outros. Somos amados para amar. Sejamos pois peregrinos do amor Somos amados com o amor que circula entre pessoas divinas. Deus está em nós amando. Mesmo quando caímos como o filho pródigo estamos sempre no coração do Pai, que não esquece seus amados. 
   Minha ocupação na terra até a morte é glória de Deus. Quero consumir-me de amor sem reservas e sem rivais. Tudo é rico de valor onde há amor. Para mim, diz Madre Leônia, as pessoas são raios de amor de Deus. Quero que minha morte seja um ato de amor como desejo que minha vida seja também um ato contínuo de amor. Quero amar com o coração e com os olhos de Deus. O amor me permite sorrir quando algo não va bem e encontrar o lado bom de todas as coisas. 
   O amor de Deus me encoraja a perdoar o imperdoável, a crer no incrível, a amar quando e onde não sou amada, a esperar quando não há esperança. Quem não crê no amor de Deus abandonou o sol, está cego e anda nas trevas, não tem o pão da vida que é o amor. ( DOM ORLANDO BRANDES, arcebispo de Londrina, página 2, ESPAÇO ABERTO, sábado, 24 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

COMO DESCOBRI QUE EXISTIA PRECONCEITO



   Na década de 1950 morava em uma cidade pequena, que prosperava com a chegada de mais habitantes. A maioria vivia da agricultura em Adamantina (SP). O povo era muito simples, porém tinha fazendas e sítios. E cada família tinha seu bangalô com alpendre enfeitado de azulejos. Meu pai era uma pessoa aventureira e por intermédio de um amigo fazendeiro, o senhor Carlito Vilela, saiu de Marília, uma excelente cidade, para ficar rico em Adamantina e com certeza melhorar de vida.
   A cidade não tinha ainda clube de carteado, time de futebol e jogo do bicho; em Marília, já havia muitos. No início estranhei a cidade, era quase sem ruas, a não ser a avenida, com muitas lojas, a maior parte de japoneses e árabes, e os bangalôs dos ricaços. Um detalhe que achava engraçado  era o salão de beleza e a barbearia funcionarem no mesmo local: os donos eram mineiros e tinham uma clientela fantástica.
   Estranhei, mas pouco a pouco acostumei, principalmente na época escolar. Nossa escola era só para meninas  e ainda era particular. Para ir ao colégio, as crianças tinham que passar por um córrego. Quantas vezes tirávamos a meia e sapato e ficávamos brincando na água limpinha.
   Uma lembrança alegre e feliz foi brincar com o Chico, o macaquinho de dona Sebastiana, que morava em frente ao hotel. Às tardes, a meninada colocava boné e laços de fitas. As pessoas com quem mais tinha amizade, fora as colegas de classe, era o povo do hotel, da cozinheira aos hóspedes. Aprendi cedo a gostar de futebol, ia aos jogos com meu pai ver o Adamantino Clube.
   Uma das funcionárias havia deixado o emprego no hotel e às vezes eu escutava falar sobre o local onde ela tinha ido morar. Era um nome esquisito: zona do meretrício. Certo dia, em um domingo, eu vi minha amiga do hotel bem arrumada, chique e maquiada, com outras mulheres do outro lado do campo de futebol . Escapei de meu pai. Corri e subi no colo dela e dei um abraço. Ela me beijou e pediu para que eu não fizesse mais aquilo. Ela sentia muito, mas não podia voltar a falar comigo. Minha mãe, meu pai e até os donos do hotel falaram a mesma coisa. Passados uns três anos, já adolescente, entendi o que era a tal zona do meretrício e o porquê da distância. Aprendi na própria carne, muito cedo, o que é o preconceito. Hoje, com 74 anos, aquela lembrança, graças a Deus, me livrou e libertou de crescer preconceituosa e não escolher ou selecionar amigos por status. Porque quando criamos laços, não vemos cor da pele, profissão ou religião. ( MARIA APRECIDA MARIANO, leitora da FOLHA. Página 2,FOLHA RURAL, espaço DEDO DE PROSA, sábado, 24 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

OS MÉDICOS QUE QUEREMOS



   Os princípios fundamentais do Código de Ética Médica trazem em sua essência que a Medicina é uma atividade a ser exercida sem qualquer discriminação a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, em benefício dos quais o médico deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional, necessitando para isso boas condições de trabalho, autonomia e remuneração justa.
   Ao se fixar direitos e deveres no regramento de comportamento ético-profissional e de mecanismos de fiscalização, evidencia-se a necessidade vital da qualificação do ensino médico. Sem esse compromisso da sociedade, sob inspiração de gestores, professores, pesquisadores e profissionais de modo geral, fragiliza-se o controle da conduta moral, aproxima os futuros médicos dos desvios éticos e os distanciam dos princípios da beneficência, da autonomia, da dignidade, da veracidade e da honestidade. 
   Temos hoje pelos menos 257 escolas médicas, praticamente o dobro do que dispúnhamos há década e meia.  No Paraná são 15 cursos, agora com 1.400 ingressantes a cada ano. Os dados estatísticos, numa análise rápida, não deixa dúvida de que logo estaremos num proporção de médicos por habitantes comparável às nações mais desenvolvidas do mundo. Importante avanço se estivesse alicerçado sob o fiel e indispensável critério da boa qualidade formadora. A realidade é outra e expõe interesses divorciados da premissa de lançarmos no mercado médicos bem preparados. 
   O exame de recém-graduados do Cremesp, ao sinalizar “reprovação” da metade dos participantes, mostra a dimensão do problema que temos pela frente: médicos malformados em situação de conflitos éticos, acuados numa sociedade em que o cidadão cada vez mais tem acesso à informação e consciência das possibilidades legais de questionar o que lhe é oferecido. Não há espaço para buscar o conhecimento às custas de riscos aos pacientes. Bons exemplos, claro, não faltam a esses futuros médicos, mas é preciso oferecer – e exigir deles – muito mais durante o processo formador. Os desvios éticos, as intercorrências, as fatalidades, devem continuar sendo só exceções. 
   O ensino médico brasileiro tem mais de 200 anos. A primeira escola médica, da Universidade Federal da Bahia, foi fundada em 1808. No Paraná, surgiu mais de um século depois, com a hoje Federal, em 1912. Essa maturidade, porém, pode ter sido seriamente abalada pelo surgimento de escolas descompromissadas coma qualidade e, ainda, por iniciativas contrárias ao ordenamento mediador da boa prática médica. Ante à necessidade de se reverter esse processo, eis que surgem ações alentadoras, como a adoção do exame do Cremesp como um dos critérios para hospitais de excelência e empresas de saúde suplementar, de São Paulo, na contratação de médicos. Também renomadas faculdades de Medicina paulistas pretendem usar a nota do exame na seleção de seus programas de residência.
   É com o Sistema de Acreditação dos Cursos de Medicina (Saeme), cujo desenvolvimento e implementação uniram o CEM e a Associação Brasileira de Educação Médica, que se pode dar nova dinâmica aos compromissos com a formação de médicos competentes e éticos. Acreditação é o reconhecimento formal da qualidade de serviços oferecidos por uma instituição, sob avaliação padronizada de um organismo independente, comprovando que ela atende a requisitos previamente definidos e que tem competência para realizar seu papel de modo eficaz e seguro, dentro de um processo transparente. Está amparado em experiências de sucesso e, sem dúvida, tende a elevar na sociedade a confiança em seus médicos e os bons motivos para comemorarem juntos pela vida.
   Então, quais médicos queremos formar? Éticos, preparados, altruístas e conscientes de suas responsabilidades sociais. É muito? É o que sociedade espera. ( LUIZ ERNESTO PUJOL, presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, página 2, ESPAÇO ABERTO, sexta-feira. 23 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

O AMOR NOS TEMPOS DO BAND-AID



Dizem que só a lama cura. Quem nunca passou pela derrocada de um amor? Esperar em carne viva numa esquina quem não vem? Uma situação muito próxima de como os africanos entendem a saudade – a saudade, para eles, é o lugar onde uma criança chora e a mãe não escuta.
   O coração clama a presença do amado, mas o Eu não quer mais ouvir o coração. O que fazer para silenciar esse coração? Talvez seja esse um problema comum do amor no mundo atual, aprisionado na visão da ciência e atropelado pela velocidade cotidiana. Coitado do amor, foi colonizado por ditadores. O amor não é literal, o coração é uma metáfora. E a cicatriz é o amanhã. 
Um conselho aos psiquiatras: não tenham medo da lama, em nome dos pacientes – como diz Dalai Lama: “ame profunda e passionalmente. Você pode se machucar, mas é a única forma de viver o amor completamente”. Mas deixemos a autoajuda para os best-sellers.
   Um médico receitou. calmantes para uma amiga que atravessava tal lama, mas ele não percebia que na palavra lama tem ama, alma e mala. Ele via esse sentimento como um ralado de quem caiu da bicicleta, logo, pensou em Merthiolate. Até porque, hoje, Merthiolate não arde mais. 
   Aí o que aconteceu: o paciente percorreu o lamaçal com roupa de astronauta. Chegando ao outro lado do pântano, percebeu que a desilusão amorosa não foi sentida, como se tivessem roubado ela essa experiência. Como quem sai da anestesia pós-cirurgia sem saber o que foi feito nesse meio tempo. Ela continuava em standy. Pensou então que a cicatrização de uma ferida como essa precisava de sofrimento. 
   Outro caso. Após a dolorosa separação, o desiludido resolveu se engatar num novo romance. Aí apareceu o diabo da impotência. Resolveu tomar Viagra. Não deu certo. Eram brochadas extremamente sinceras.
   O senso comum alega que os subterfúgios para evitar a lama é tapar o sol com a peneira. Parece que o que faz sarar não é o Band-Aid no coração. ( FÁBIO BRINHOLLI, mestre de Psocologia e professor de Psicologia na Unopar, espaço ponto de vista, página 2, sexta-feira, 23 de outubro de 2015. Publicação do JORNAL DE LONDRINA).

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

SÓ HOJE



   “Só hoje”. Era assim que a professora Dalva escrevia na lousa todas as vezes que entrava na sala. Sempre carregou consigo tal filosofia. Lecionar matemática era sua paixão. Apaixonadamente também vivia cada dia como se fosse o último. Seu cérebro sempre estufado de números, mesmo quando dentro daquele alvoroço todo, era o que a mantinha viva, como às vezes dizia. Nunca lhe faltava ânimo. A disposição sempre era sua inseparável amiga; as equações, sua sorte. Vez por outra  se queixava da sala abafada e suja, mas logo se lembrava de que tinha que terminar com os alunos tal equação, esquecendo assim dos papéis que chutava no meio do caminho. Apenas pedia para abrir mais uma janela. Queria aproveitar seu dia e desfrutar de seus algarismos e, quando menos se esperava, seu rosto e sua roupa encontravam-se polvilhados de pó de giz.  Envolvia-se com tanta fluidez e lucidez e falava muito. Com sua voz vulcânica sempre em ebulição, ardia-se toda gesticulando e improvisando pequenos espetáculos em cada canto daquela tão esprimida e enfadonha sala de aula.
   Era assim a Dona Dalva, apaixonada. E apaixonava-se a cada dia, a cada aula e a cada gráfico que, abaixo da data de mais um dia extasiado que parecia ser seu último, introduzia a lousa. Talvez a matemática fosse somente uma consequência da sua paixão, pois gostava de estar perto de nós mais do que ninguém. Na verdade, preocupava-se conosco, com nossas circunstâncias, nossas decisões, nossa maneira de encarar o mundo, com o nosso tempo.
   “O ontem é história.  O amanhã é um mistério. O hoje é uma dádiva. Por isso é chamado de presente”, disse certa vez. Muitos não prestaram atenção. Outros deram ouvidos, mas não entenderam. Alguns desistiram, mas acho que hoje alguns ainda tentam entender. E assim transcorriam as aulas. E assim chegavam as notas baixas, os desentendimentos, o choro desesperado de algumas professoras, o salário magro, a solidão cheirando a giz e o abandono social. E, de repente, no corredor, sob vaias,  via-se um aluno estupidamente ser espancado. E logo adiante, apoiada à porta da sala vizinha, deparava-se com mais uma aluna grávida. E assim nossos dias padeciam, escorrendo pelos dedos. E nós nos banhávamos... de  acordo com a maré. (RODRIGO MORENO, jornalista em Londrina, página 3, Folha 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira, 21 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

MARIA, A MAIOR EDUCADORA DA HISTÓRIA (Introdução)



      Uma candidata para a mais completa tarefa

               INTRODUÇÃO

   Educar é viajar pelo mundo do outro sem nunca penetrar nele. É usar o que passamos para nos transformar no que somos.
   O melhor educador não é o que controla, mas o que liberta. Não é o que aponta os erros , mas o que os previne. Não é o que corrige comportamentos , mas o que ensina a refletir. Não é o que exagera o que é tangível aos olhos, mas o que vê o invisível. Não é o que desiste, mas o que estimula a começar tudo de novo.
   O excelente educador abraça quando todos rejeitam, anima quando todos condenam, aplaude os que jamais subiram ao pódio, vibra com a coragem de disputar dos que ficaram nos últimos lugares. Não procura o brilho, mas se faz pequeno para tornar seus filhos, alunos e colegas de trabalho grandes.
   O excelente mestre não é o que mais sabe, mas o que tem consciência do quanto não sabe. Não é o viciado em ensinar, mas o mais ávido em aprender.  Não é  o que declara os seus acertos, mas o que reconhece as suas próprias falhas. Não é o que deposita informações na memória, mas o que expande a maneira de ver, de reagir e de ser.
   Educar é a tarefa intelectual mais fascinante e, ao mesmo tempo, a que mais revela nossa  impotência. Se educar uma criança ou adolescente é uma incumbência dificílima, imagina educar a criança mais instigante que pisou nesta terra, o menino Jesus?
   Que educador daria conta dessa missão? Desde pequeno ele era especialista em perguntar.   Questionava, indagava, queria sber tudo. Quem estaria intelectualmente preparado para educar aquele que se tornaria o MESTRE  dos mestres? Que pais? Que universidade? Que teólogos? É tão fácil errar nessa área. É tão fácil transmitir nossos traumas, inseguranças, medos, manias para nossos filhos e alunos.
   Havia milhares de candidatas. Mas uma se destacou diante do olhar clínico apuradíssimo do Autor da existência. Seu nome: Maria. Maria é a forma helenizada do nome hebraico Miriã.
   Mas é estranho. Maria aparentemente era frágil, muito jovem e inexperiente. O que ela tinha de tão especial do ponto de vista psiquiátrico, psicológico e psicopedagógico?
   E mais estranho ainda. Antes de iniciar sua arriscadíssima e dificílima missão, ela previamente recebeu a notícia de que se tornaria a mais elogiada mulher da História. Receber o troféu antes de iniciar a corrida não contaminaria de orgulho o esportista? Não o distrairia de sua meta e frustraria sua jornada? Por que foi depositada nela tanta confiança?
   Sob o olhar da ciência é possível vislumbrar que muitas coisas no relacionamento de Maria com o  Deus Altíssimo e com o menino Jesus romperam o cárcere da rotina. Foi inusitado.
   Por que o Deus Todo-poderoso  descrito na Bíblia não escolheu um grupo de notáveis intelectuais entre os escribas e fariseus para educar seu filho? Por que não incumbiu uma casta de sacerdotes judaicos, que conhecia os rituais religiosos, para educar o menino Jeus? Por que não escolheu especialistas em filosofia grega para formar o homem que dividiria a História?
   Uma adolescente foi escolhida. Não era ria, não pertencia a uma linhagem de alta classe e possuía essa jovem no tecido intrínseco de sua inteligência que conquistou aquele que se diz ser Onisciente, que conhece todas as coisas? Sua escolha foi ao acaso ou criteriosa?

A MAIS ELOGIADA MULHER, A MENOS CONHECIDA


   Gastei um tempo significativo, dentro das minhas limitações, como psiquiatra, psicoterapeuta e pesquisador de psicologia, a estudar a personalidade de Maria. Debrucei-me nos detalhes das suas reações relatadas nas biografias de Jesus, os chamados evangelhos, em várias versões. Procurei não me ater a tetos sem credibilidade histórica.
   Muitos cristão não sabem que Maria é a única mulher exaltada no Alcorão, o texto sagrado do islamismo. Inúmeras pessoas exaltam Maria diariamente, mas não percebem que as áreas mais íntimas da sua personalidade permanecem desconhecidas. Raramente alguém saiu da esfera religiosa e procurou investigar seu intelecto.
   Ao ler este livro, os leitores devem ter em mente que não estudaremos o aspecto teológico ligado a Maria, pois ela esteve e está no centro de uma grande  polêmica religiosa entre centenas de milhões de católicos e protestantes. Os católicos exaltam Maria, enfatizam sua espiritualidade Os protestantes, pelo menos a maioria, embora a respeitem, não a valorizam adequadamente.
   Este livro respeita toda e qualquer religião. Entretanto, não sufoca a visão católica, a protestante ou qualquer outra crença. É um livro que analisa o lado humano de Maria, sua personalidade, sua inteligência, seu fantástico papel como educadora, sua capacidade de superar as intempéries da vida e de proteger sua emoção. Não tem uma visão teológica ou religiosa, mas a percepção de algunw ângulos da psiquiatria, da psicologia, da filosofia e da pedagogia.
   Maria foi escolhida por elementos intelectuais ou espirituais? Muitos valorizam os aspectos espirituais, mas sem suas características intelectuais seria pretérita.
   Se fosse uma mulher frágil, assaltada pelo medo e pelo estresse, teria condições de criar o filho de Deus, cuja história foi pautada por frustrações e rejeições? Se fosse insegura e superprotetora, não teria ela afetado o território da emoção do menino? Se amasse o exibicionismo e não a discrição, seu processo educacional não seria um desastre?
   Em tempos atuais em que a educação mundial, do ensino fundamental `universidade, está formando uma massa de jovens que não pensam criticamente nem sabem lidar com desafios existenciais, estudar a mulher que foi incumbida de educar o menino Jesus oxigena nossa inteligência.
   Não entrarei na esfera da fé, embora seja impossível não analisar textos ligados a Maria, principalmente os ligados à concepção de Jesus, que não entrem nessa área. Toda vez que abordar esses pontos devemos estar cientes de que crer neles depende da consciência de cada leitor.
   Pouquíssimos elementos confiáveis revelam a psique de Maria, mas o pouco que existe é de grande significado. Algumas perguntas sobre ela jamais serão respondidas. Outras terão respostas incompletas, mas as que encontraremos poderão nos fascinar.
   Desenvolverei este texto a partir da pesquisa dos dez princípios que Maria usou consciente ou espontaneamente na educação de Jesus. Esses princípios a transformaram, em minha opinião, na maior educadora da História, bem como na mais fascinante das mulheres.
   É provável que a Maria que descreverei nos deixe atônitos.  É presumível que sob os olhos da pesquisa ela seja mais complexa, sábia, serena, intrigante e interessante do que muitos católicos, protestantes, bem como islamitas, jamais imaginaram. ( FONTE;  páginas,7,8,9,10 e 11 do livro MARIA, A MAIOR EDUCADORA DA HISTÓRIA, por AUGUSTO CURY,
 2007, Editora Academia de Inteligência).  

LÁ VEM O ENEM



   Mais uma vez. Nos aproximamos do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, que dá acesso a um grande número de universidades por todo o Brasil. A cada ano, é uma prova que cresce em importância, com a adesão de mais faculdades e universidades, como a própria UEL, que reservou parte de suas vagas, em vários cursos, para serem preenchidos por alunos que fizeram o Enem ,através do Sisu, o Sistema de Seleção Unificada.
   Se você é um dos milhões de estudantes brasileiros que se inscreveu para as provas, deve ter estudado bastante ao longo do ano e, portanto, está preparado. Ainda assim, vamos ver algumas dicas importantes que podem ajudar na hora da prova.
   Em primeiro lugar, não se esqueça do básico: chegue antes ao local de prova, leve documento  e o tipo certo de caneta (preta, com corpo transparente). Descanse na véspera e se alimente bem no dia. Afinal, você não vai querer desperdiçar um ano inteiro de estudos por não estar bem no dia. Nervosismo é normal, mas confie em si mesmo, você se preparou para isso.
   Administre bem o tempo, ao fazer as provas, que são extensas. No primeiro dia (sábado), são 90 questões para serem respondidas em quatro horas e meia. Já no segundo, você terá cinco horas e meia para resolver outras 90 questões e ainda fazer a redação. Não é preciso ficar cronometrando os minutos de cada questão, mas também não dá para se distrair. Se ao fim de uma hora de prova, por exemplo, você ainda estiver na questão 10, é hora de dar uma acelerada. E não se esqueça de reservar um tempo para passar o gabarito a limpo, no mínimo 20 minutos.
   Trace uma estratégia para cada dia de prova, planejando antes por onde vai começar. Muitos especialistas sugerem que você comece pelas matérias que domina mais, pois assim já garantirá aquela pontuação, mas ninguém melhor que você mesmo para saber por onde começar e o que deixar para o final,  quando o cansaço começa a bater. Esse planejamento ajuda a dar mais segurança e diminuir o nervosismo.
   As provas do Enem valorizam muito a interpretação, sendo que a maioria das questões são baseadas em algum texto, verbal ou não verbal (como imagens, gráficos, etc,). Até as questões de exatas costumam se basear em alguma situação concreta, como um problema, por exemplo. Então, leia tudo com muita atenção
   Também é necessário ter bastante atenção com os enunciados de cada questão. Identifique o que está sendo perguntado ou pedido. É comum encontrar, entre as alternativas, algumas informações verdadeiras, que constam do texto, mas que não respondem ao que foi perguntado. Isso vale para os dois dias de prova.
   Finalmente, temos a redação, no segundo dia de prova. Você já deve saber a importância de saber fazer uma boa redação, cuja pontuação vai de 0 a 1000 pontos e é, sem dúvida, essencial para um bom resultado final.
   O tipo de texto pedido é uma dissertação argumentativa, a ser desenvolvida em até 30 linhas. É apresentado um tema, ou, como diz o manual do ENEM, uma “situação-problema” e uma coletânea de testos, que podem servir de base para sua argumentação. Os temas são sempre atuais, o que facilita muito sua vida se você for uma pessoa bem informada.
   Leia tudo com mjita atenção e capriche no rascunho. Pense bem nos argumentos que vai utilizar e tome MUITO cuidado para não fugir do tema proposto, pois isso pode zerar sua nota. Releia o seu rascunho e modifique-o o quanto for preciso antew de passar a limpo. Se você costuma ter opiniões meio radicais, cuidado:  qualquer proposta que desrespeite direitos humanos também leva a um zero na nota. Passe tudo a limpo com muito cuidado, observando detalhes como pontuação e ortografia.
   Boa sorte a todos e até a próxima terça! ( FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS e ESPANHOL). * Encaminhe suas dúvidas ou sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, espaço BEM DITO, Folha 2, terça-feira.  20 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

GUERRA E PAZ

 



   NUMA PALESTRA que fiz recentemente na série “como Viver Juntos”, promovida pelo Fronteiras do Pensamento, defendi a tese de que o ser humano prefere a paz à guerra, muito embora a história esteja marcada por inumeráveis conflitos, que datam desde as nossas origens até os tempos atuais.
   De fato, nos dias de hoje são tantos os conflitos que a minha tese, que pareceria óbvia, se torna quase inaceitável. Mão obstante,  insisto que o homem prefere a paz à guerra.
   Como se explicaria, então, que os conflitos armados sejam um fator constante, envolvendo os mais diferentes povos e países?
   A resposta, que pode parecer simplista, é que nem sempre fazemos o que consideramos certo e o que desejamos. Se isso vale para cada um de nós, individualmente, imaginem quando se trata de questões que envolvem interesses econômicos e políticos nacionais e internacionais.
   Refletindo sobre o tema que me foi proposto, logo me veio à mente os indígenas que habitavam o território nacional, antes que aqui chegassem os colonizadores. Viviam guerreando.
   É que, sendo nômades, alimentavam-se das frutas e dos animais que caçavam na floresta. Quando esses recursos se esgotavam na zona em que viviam, deslocavam-se para outra, já ocupada por diferente tribo, do que resultavam verdadeiras guerras de extermínio.
   Mas, com a chegada dos colonizadores e, particularmente, com jesuítas que os catequizaram, os índios se tornaram sedentários, e aqueles conflitos terminaram.
   Tal fato me leva a pensar na medida em que os homens conquistam condições estáveis de vida, o motivo de muitos conflitos desaparece, embora, claro, possam surgir outros, conforme se sabe.
   Se recordamos a história das nações, ao longo dos séculos, constatamos que o desenvolvimento econômico e social pesados os prós e os contras, em contribuído para maior acordo entre as nações.
   Certamente, os países têm seus interesses, que se expressam também no intercâmbio comercial, o qual melhor se mantém e desenvolve com o entendimento e não com os conflitos.
   É verdade também que esses mesmos interesses pode conduzir ao desentendimento, particularmente quando as disputas no plano econômico se tornam inevitáveis. Nesses casos, muitas vezes contribuem para o acirramento das contradições fatores ideológicos que tornam o entendimento inviável.
   Em alguns momentos da história – mesmo em épocas mais próximas de nós – vimos surgir conflitos deliberadamente suscitados por líderes políticos, e não por interesse real da nação.
   Ninguém desconhece que, em diversos momentos, fatores religiosos também conduziram a guerras, de que são exemplo as Cruzadas, na Idade Média.
   Hoje assistimos ao fanatismo do Estado Islâmico, cujo sectarismo ultrapassa qualquer explicação razoável. Por pura intolerância, tem assassinado milhares de pessoas e destruído relíquias artísticas, patrimônios da humanidade, simplesmente para afirmar seu fanatismo.
   Um dos casos mais lamentáveis de conflito irrazoável é  o que se mantém entre palestinos e israelenses desde a década de 1940, quando a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou a criação dos dois estados, o israelense e o palestino.
   Os palestinos não aceitaram a decisão e, com isso, iniciou-se um conflito que dura até hoje de que tem resultado a morte de milhares de pessoas.
   Duvido, sinceramente, que as mães palestinas e as mães israelenses queiram que seus filhos vão à guerra morrer. Que, na verdade, deseja as guerras são alguns poucos, seja por razões religiosas, ideológicas ou econômicas.
   E não são eles que vão para as linhas de frente pôr em jogo suas vidas. Por isso, insisto em dizer que as pessoas preferem a paz à guerra. É certo que, às vezes, se deixam levar por líderes belicistas mas,  no final, quase sempre se arrependem de o terem feito.
   Na palestra, mencionei um fato a que já me referi em outras ocasiões. Fui, certa vez, entrevistado por um jornalista israelense que perguntou o que eu achava do conflito entre Israel e os palestinos.
   Respondi-lhe: “Acho eu que devem sentar à mesa e fazer as pazes. Chega de ter razão enquanto milhares de pessoas perdem a vida.”
   Chega de ter razão. O que importa é ser feliz. ( FERREIRA GULLAR, Folha Ilustrada C8, domingo, 11 de outubro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE S. PAULO). 

ELIFAS ANDREATO, O TRAÇO DA MÚSICA

       


   Ilustrador de álbuns memoráveis da música brasileira, o artista plástico nascido em Rolândia está comemorando 50 anos de  carreira

   A vida, que parecia oferecer um futuro incerto e difícil , reservou boas surpresas a Elifas Andreato. Paranaense de Rolândia, nascido em 1946, já muito cedo teve de trabalhar. Aos poucos, entretanto, foi sendo conduzidos por caminhos que o levaram até grandes nomes da música popular brasileira, entre eles Paulinho da Viola, Martinho da Vila e Elis Regina. Este ano, Andreato celebra 50 anos de arte – uma exposição no Rio de Janeiro mostra o seu trabalho -, reconhecido e premiado (em 2011 recebeu o Prêmio Vladimir Herzog). Inquieto, está em plena atividade, tocando em frente muitos projetos.
   “Saí do Paraná e, chegando em São Paulo com 14 anos, tive o primeiro emprego com carteira assinada. Eu era torneiro mecânico”, lembra Elifas, que começou na fábrica da Fiat Lux. Filho mais velho de seis irmãos, sofreu revezes da vida.  “Meu pai adoeceu e foi para São Paulo com a família. Eu fiquei em Rolândia um pouco mais, com meu irmão Eurípides. Aí viemos para São Paulo e a vida foi um pouco pior”. Morando num cortiço, arranjou o primeiro emprego ao mesmo tempo em que nutria interesse pelo desenho.
   Era no banheiro da Fiat Lux que Elifas desenhava suas charges para o jornalzinho dos operários.  “Eu desenhava no banheiro escondido.  Aí fizeram um novo refeitório e transformaram em um baile para fazer uma caixinha para os operários.” O pequeno desenhista foi convidado para decorar o salão, pintando a parede com tinta a óleo. Mas o garoto foi dispensado porque havia pintado um painel importante e que agradou à diretoria. “Ele me demitiram porque ficaram surpreendidos que o cenário  tinha  sido feito por um garoto. E me deram um dinheiro para eu estudar arte.”
   Entretanto, o dinheiro foi usado pela família, que ainda passava necessidades. Mas, como tinha experiência no ramo da cenografia, estava ficando conhecido na região. Daí então trabalhou em alguns estúdios de publicidade. E no fim da década de 1960 foi chamado para trabalhar na  Editora Abril.  “Entrei como estagiário em 1967”. Ali sentiu o choque da alfabetização tardia.  “Eu tinha me alfabetizado tarde,  em cursos para adultos. E fui trabalhar com grandes jornalistas. Aí começou meu aprendizado sobre o país, sobre a cultura.”
   Elifas atuou na revista Quatro Rodas e na revista Placar, até que no início da década de 1970 lhe caiu o projeto da música popular brasileira. “Fiz desenhos até hoje muito bonitos,  na época inovadores. Era uma oportunidade muito interessante para conhecer novos artistas, foi quando iniciei a capa dos discos.”

   ESTREIA

   A estreia foi com Paulinho da Viola. “Foi o primeiro que conheci.  Fiz a capa do Dança da solidão, em 1972. “Depois veio  a famosa capa do disco Nervos de Aço, de 1973, em que revela as lágrimas do artista. “Sempre foi minha intenção traduzir em imagens um conteúdo grande,  porque antes do disco você vê a capa. E aquilo precisa traduzir o disco.”
   Ainda em 1972, Elifas conheceu e produziu uma capa para Martinho da Vila, no disco Batuque na cozinha. No currículo, acumula capas de disco de Elis Regina, Tom Zé (com quem tem trabalhos até hoje) , Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes, entre tantos outros.  “Muito c eu sabia que ia embalar obras maiores das que eu poderia fazer. Eu fui adotado como desenhista desta geração.”

ARTISTA TAMBÉM PRODUZIU CENÁRIOS, EXPOSIÇÕES, LIVROS, JORNAIS E REVISTAS


   Não foram apenas os discos que renderam reconhecimento. Elifas Andreato desenhou coleções de livros, fez cenários para shows e peças de teatro. Até contra a ditadura ele trabalhou. Foi quando fundou o jornal Opinião, ao mesmo tempo em que trabalhava na Editora Abril . “Com 25 anos eu era editor cultural,  mas eles ( Abril ) acharam que eu não podia acumular a direção de um jornal contra o regime ( militar ).”
   Como o artista, já havia realizado um sonho – comprar uma casa para a mãe -, deixou a ,nossa liberdade de expressão.” E tudo isso Elifas fez sem estudo, aprendendo com a vida e com as amizades. “É claro que senti a falta do estudo.  Fui fazendo por minha conta porque tinha interesse pelo conhecimento. Grandes cabeças do conhecimento estiveram na minha vida. Sempre estive junto de grandes artistas, atores, pensadores, comunicadores.”
   Hoje Elifas continua na área do desenho, mas também da animação e da música. Tem musical infantil com Tom Zé, disco produzido por Zeca Baleiro, além de letras e músicas compostas. Tudo com temática infantil. Um pouco dessa trajetória de cinco décadas está em exposição no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. Elifas Andreato, 50 anos fica em cartaz até 29 de janeiro, seguindo depois para o Museu dos Correios, em Brasília, e para o Centro Cultural Correios, São Paulo. (F.L.) ( FÁBIO
   LUPORINI fabiol@jornaldelondria.com.br  página 19, cultura, VISUAIS, quarta-feira, 14 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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