domingo, 14 de agosto de 2016

A FUNÇÃO PATERNA E A DELINQUÊNCIA


   Em várias pesquisas feitas no Brasil e em outros países foi visto que, mais ou menos, dois terços de jovens infratores e delinquentes não tinham a figura paterna presente. Dois terços é um número expressivo e que mostra que sem a função paterna muitas coisas podem desandar no decorrer do desenvolvimento das pessoas. Mas o que significa essa função paterna?
   Em primeiro lugar o que importa não é o pai em si apenas, mas a função paterna. Esta pode ser exercida por outros homens ou até por mulheres. A mesma coisa é válida para a função materna. Não é a mãe, pessoa concreta tão-somente que tem valor, mas a função materna. Pai e mãe, pessoas, são extremamente importantes, apenas enquanto exercem a função parental. Não ter pai ou mãe presentes implica, então, não ter a função presente. 
   Para a psicanálise, a função paterna é aquela que quebra alguns enganos que vão se criando e tido como verdades ao longo do crescimento, bem como ajuda a estabelecer a internalização da lei. Sem a função paterna, uma pessoa fica sem lei dentro de si e possuidor de uma ideia equivocada de si mesmo e de como o mundo funciona. 
   Bem no início da vida o bebê é o centro de todas as atenções. Todos os olhares convergem para ele, para as suas gracinhas, para as suas manhas e movimentos. Nem poderia ser diferente. Sem toda essa atenção o bebê teria o seu desenvolvimento comprometido porque não receberia investimentos afetivos e nem seria estimulado apropriadamente. Nos primeiros anos de vida a criança pequena e tida como um pequeno rei, cujas vontades e necessidades são prontamente atendidas. Não é surpreendente que o pequeno adora essa posição e não quererá perdê-la jamais. Contudo, a criança vai crescendo e ficar nessa posição de imperador não dá. Afinal, a vida também apresenta, e muitas, frustrações e limitações aos nossos desejos. Entretanto a criança só vai aprender a aceitar isso se houver contato com a função paterna
   Nesse momento, o pai ou alguém que exerça essa função introduzirá um corte nas ilusões da criança de que é um pequeno rei. A função paterna mostra que o mundo é vasto e que tem outras pessoas que também têm direitos e que vão muito além da criança. Mostra também que nem todos os desejos podem ou devem ser atendidos e que alguns deles é melhor, para si mesmo e para o mundo, refrear. É nesses instantes que se forma a noção de lei. E lei aqui não é no sentido jurídico, mas no sentido de que nem tudo nessa vida se pode porque assim queremos e que na vida há sempre um preço a se pagar. 
   Essa função que quando bem internalizada e vivida, com firmeza, amor e delicadeza, ajuda a criança a ser um ser humano. Ela entenderá que há limites os quais há como ultrapassar sob o risco de colocar muitas coisas em perigo e desenvolverá um sentido de respeito aos outros e a si mesmo. A lei se tornará interna e promotora de vida. O oposto, quando não há uma experiência de função paterna satisfatória deixará o sujeito entregue aos próprios impulsos e estes são primitivos e de natureza tirânica, que exigem ser atendidos prontamente, qualquer que seja o custo. Daí que se começa a delinquência. Todo delinquente não tem dentro de si a função paterna, não tem lei e apesar de não ser mais um bebê vive como se fosse um, cheio de vontades. Para eles, todo ato e desejo é sentido como lícito. Sem a função paterna, a civilização corre risco. (SYLVIO DE AMARAL SCHREINER , psicoterapeuta em Londrina, coluna ESPAÇO ABERTO, caderno FOLHA 2, página 2, domingo, 14 de agosto de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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