sábado, 11 de junho de 2016

PREVIDÊNCIA: SACRIFÍCIO DE TODOS, PRIVILÉGIO DE ALGUNS


   No Velho Oeste, os bares forneciam comida sem cobrar, desde que o cliente consumisse bebida. Era permitido refastelar com os alimentos, estrategicamente bem salgados. Os cowboys aproveitavam a cortesia com afinco. Os elevados gastos com bourbon e cerveja, contudo, eliminavam a suposta vantagem dos fregueses glutões, ao mesmo tempo que garantiam o lucro do dono do estabelecimento. A história, que está no imaginário dos norte-americanos, originou a expressão que ficou conhecida em português como “não existe almoço grátis”. 
   É exatamente esse raciocínio que cai como uma luva para resumir a questão do custeio da Previdência Social no Brasil. As despesas com pensões, aposentadoria e benefícios são superiores aos investimentos totais com saúde, educação e todos os programas sociais. É com este volume gigantesco de recursos que todos deveriam se preocupar.
   Para qualquer nação, prover seus inativos é um desafio mais difícil a cada geração. Há exemplos, entretanto, muito menos dramáticos que os nossos. Menciono apenas um deles: de acordo com um estudo internacional, o desembolso previdenciário no Brasil equivale a 11% do PIB, enquanto nos Estados Unidos esta proporção é de 6%. Com um agravante: a população norte-americana acima dos 60 anos (16% do total) é o dobro da brasileira. A urgência da reforma é, portanto, incontestável. 
   Igualmente indiscutível é o papel de líder que o governo deve exercer neste enfrentamento. A argumentação deve ser cristalina para convencer a opinião pública: frear a gastança com os inativos é a única forma do Estado brasileiro conseguir cumprir a essência das suas tarefas a médio e longo prazo. Caso contrário, estaremos condenados ao desequilíbrio nas contas, sofrendo com um eterno cobertor curto para nossas aspirações como contribuintes. 
   Como não existe almoço grátis, o pagamento de aposentadorias integrais (quando não maiores que a remuneração na ativa) para quem ingressou no serviço público federal antes da vigência da Emenda Constitucional 41 (de 19 de dezembro de 2003), é o ponto que considero mais relevante nesta inescapável reforma. 
   Observar as consequências disso traz um desconforto instantâneo: o Orçamento de 2016 prevê transferência de cerca de R$ 70 bilhões do Tesouro Nacional para preencher o rombo da diferença do que é recolhido e do que é consumido pelos servidores inativos. 
   Um dinheirão suficiente para duplicar 70% de toda malha rodoviária federal em apenas um ano (ou construir 2 mil UPAs ou ainda 7 mil escolas do ensino básico. 
   Também é importante lembrar que este “socorro” do Tesouro destina-se a um milhão de brasileiros, enquanto o deficit previsto para o setor privado – de R$ 125 bilhões - advém de 26 milhões de aposentados. Proporcionalmente, o desequilíbrio é 15 vezes mais no setor público. 
   O atual custeio dos inativos do funcionalismo público é um símbolo do Estado perdulário, que se deslegitima por dobrar-se à cultura do privilégio, herança do império defendida corporativamente por corporações e que fere os princípios democráticos. 
   Que democracia é esta que segrega os trabalhadores em primeira e segunda classes com as regras previdenciárias? Por que aceitamos esta distorção? Por que temos que continuar arcando com distorções descabidas que estão nos levando à bancarrota? Não estamos enjaulados pelo discurso eterno dos direitos adquiridos?
   O certo é que para manter esta “justiça” no funcionalismo, a sociedade é refém do dever adquirido de pagar mais, mais e mais impostos. 
   Nossa complacência com este assunto me faz lembrar aquele sujeito que não se importou com o tic tac de uma bomba relógio. 
   A sociedade brasileira deve exigir uma cota de maior de sacrifício dos privilegiados, por mais valorosos que eles sejam. Porque, para o bem comum, o senso de justiça deve sempre superar os interesses corporativos. O pacto de convivência nacional sempre dependerá do florescimento desta regra. (VALTER LUIZ ORSI, presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), página 2, ESPAÇO ABERTO, sábado, 11 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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