segunda-feira, 27 de junho de 2016

MINHA HISTÓRIA FERNANDO HENRIQUE DIAS MORAIS,23 DEVORADOR DE LIVROS



   De família carente, rapaz vendia jornais em semáforos para pagar cursinho, entrou na faculdade de medicina e se tornou campeão da biblioteca no interior de São Paulo
(...) Depoimento a MARCELO TOLEDO - DE RIBEIRÃO PRETO

   RESUMO Fernando Henrique Dias Morais, 23, foi premiado pela Famerp, de São José do Rio Preto, por ser campeão em retiradas de livros da biblioteca: 126 no ano passado inteiro. De família carente, vendia jornais em semáforos para pagar o cursinho, despreza a internet nos estudos e está no segundo ano de medicina. 

   Desde os primeiros anos na escola eu já tinha muito interesse por livros. Quando cheguei ao cursinho isso só aumentou, pois inclui as leituras obrigatórias do vestibular, além do que eu já fazia no meu dia a dia. 
   Na época do cursinho, trabalhava vendendo jornais nos semáforos e, no intervalo das vendas, quando o sinal estava aberto para os carros, eu aproveitava para ler o jornal e me atualizar.
   Sempre aproveitei esse meio tempo para ler. Aliás, qualquer tempo eu aproveito. Lia durante o dia e lia no caminho para o cursinho, além de ler muito em casa. 
   Hoje, na faculdade, faço um percurso de uma hora de ônibus e tenho duas horas para ler, contando a volta para casa. Nada me atrapalha, nem conversas paralelas ou lombadas nas ruas. Aproveito para ler tanto para algum trabalho exigido pelos professores ou assunto do meu interesse na área da saúde. 
   Na biblioteca da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, instituição pública mantida pelo governo de São Paulo) praticamente só há livros técnicos ou revistas de saúde. Busco nas revistas matérias sobre hematologia e oncologia e, às vezes, retiro um livro apenas para consultar dois ou três capítulos para um trabalho específico ou uma prova. Mas muitos eu pego e leio inteiro. 
   Sempre preferi os livros, não consigo ler algo no computador, numa tela. Tenho necessidade de pegar o livro e folhear as páginas, descobrir o encadeamento das ações. Fora a confiabilidade, pois é bem complicado achar algo confiável na internet. 

   DOMÉSTICA E PORTEIRO 

   Mas o caminho até aqui foi complicado. De família com dificuldades, no ensino médio eu nem pensava em faculdade. Estudei em escola pública a vida toda e, para gente na minha situação, o objetivo era no máximo acabar o ensino médio, pegar o diploma e procurar algum serviço. Não tinha o pensamento de prosseguir nos estudos. 
   Vendendo jornais eu ganhava um fixo mais bonificação, dava uns R$ 630 por mês. Era no limite para estudar, porque faria cursinho à noite, que era mais barato, e pagava R$ 400. O que sobrava eu ajudava minha mãe a pagar as contas de casa. 
   Minha mãe era empregada doméstica, mas engravidou da minha irmãzinha e o patrão não quis aceitar que ela voltasse, demitindo-a depois de sete anos. Meu padrasto era porteiro e foi demitido com a crise no país. Agora, para se manterem, minha mãe faz pães em casa e ele sai para vender. 
   Só fui pensar em vestibular no dia em que uma equipe da Unesp passou na sala de aula para falar disso. Nem sabia que existia a Famerp em Rio Preto. Foi a partir daí que surgiu o interesse, mas não sabia o que queria fazer. Prestar medicina era algo impossível, nem olhava para o curso. Parecia uma coisa tão distante, pensava que jamais daria. 
   Comecei a prestar exatas e também cheguei a cursar um ano de engenharia mecatrônica na USP de São Carlos, mas parei, porque não era o que eu queria. 
   O cenário, que já era apertado, piorou ao voltar para casa. Estava sem saber o que prestar e sem o emprego que tinha antes nos semáforos. Mas tive uma oportunidade de ouro. A diretora do cursinho sabia da minha condição econômica e me deu uma bolsa de estudos. A mensalidade era de R$ 600, era impossível para eu pagar. 

   NOME NA LISTA

   Quando passei no vestibular, logo na primeira vez que tentei, não acreditei. Na verdade, só fui acreditar quando estava na sala de aula e a professora chamou meu nome na lista. É impossível, está errado, vão me tirar daqui, eu pensava. Só depois disso comemorei que passei. Até cair a ficha é demorado, inacreditável, chega a ser impossível. 
   As condições continuam difíceis, principalmente por causa da situação familiar, mas estou em busca de um sonho. Consegui na Famerp uma bolsa permanência de R$ 100 e deram passe livre para eu me alimentar no refeitório do Hospital de Base, o que me ajuda muito. A leitura me ajudou a chegar até aqui, e pode me ajudar muito ainda. O prêmio que recebi foi consequência. 
   Não tenho muita noção da área que vou seguir, mas gosto bastante da clínica médica, de tratar o paciente olho no olho. A medicina tem de ter cuidado com o paciente, cuidar da pessoa, salvar vidas. A melhor forma de fazer isso é tendo contato maior com o paciente. (MARCELO TOLEDO – de RIBEIRÃO PRETO, página B4, caderno COTIDIANO,  Pierre Duarte/Folhapress, quarta-feira, 22 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE SÃO PAULO).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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