sábado, 25 de junho de 2016

BANHEIRO TRANSGÊNEROS


   VOLTA E meia surgem notícias de que uma travesti criou caso para ter acesso ao banheiro feminino, contra a revolta dos circunstantes.
   Isso não acontece somente aqui. Países em que o nível educacional da população é mais elevado convivem com o mesmo problema. 
   Nos Estados Unidos, Estados como a Carolina do Norte aprovaram leis para exigir que os usuários de banheiro público se dirijam às áreas femininas ou masculinas, em obediência ao sexo que lhes foi atribuído ao nascer. 
   Com o argumento de que essas leis contrariam a legislação federal que rege os direitos civis, a administração Obama abriu processo contra a Carolina do Norte. O presidente foi mais longe: assinou um documento no qual ressalta a obrigação legal das escolas públicas em garantir a estudantes transgênero o direito de usar o banheiro que corresponda às identidades de gênero individuais. Onze Estados entraram na justiça contra essa medida. 
   Os defensores de leis restritivas argumentam que são destinadas a proteger as mulheres, de eventuais ataques por parte de homens disfarçados com roupas femininas. Outros, colocam as travestis entre os predadores sexuais, os pedófilos e outras categorias moralmente condenáveis. 
   Essa gente faz questão de esquecer que as travestis e as mulheres transgêneros são abusadas desde a infância, xingadas nas ruas, alvo da violência policial, escorraçadas pela sociedade e assassinadas por psicopatas. 
   O último número do “The New England Journal of Medicine”, a revista de maior circulação entre os médicos, traz uma discussão sobre o tema. 
   A questão dos banheiros vai além dos direitos civis, porque afeta a saúde. Por interferir com funções fisiológicas essenciais, dificultar o acesso a eles aumenta o risco de infecções urinárias, renais, obstipação crônica, hemorroidas e e impede a hidratação adequada de quem evita beber água para conter a necessidade de urinar. 
   Repressão social e leis restritivas exibem o lado perverso de sociedades que consideram as pessoas “trans” depravadas, indesejáveis nas escolas, no trabalho e no convívio social. Na prática, justificam a violência diária cometidas contra elas. 
   Transgêneros são mulheres e homens com identidade de gênero em discordância com o sexo da certidão de nascimento, escolhido pela aparência dos genitais externos. Os autores do artigo estimam que 700 mil americanos adultos pertencem a essa categoria. Se nossos números forem semelhantes, haveria perto de 500 mil entre nós. 
   Discriminação, agressões verbais, sexuais e físicas e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde causam problemas que vão muito além do direito de usar banheiros: ansiedade, estresse pós-traumático, prostituição, doenças sexualmente transmissíveis, abuso de drogas, depressão e taxas altas de suicídio. 
   Nós, médicos, não temos preparo para lidar com esses transtornos, nem com as questões clínicas, cirúrgicas e hormonais que afligem essas pessoas. O que entendemos da administração de hormônios femininos para quem nasceu com genitais masculinos ou vice-versa? Quantos cirurgiões estão habilitados a realizar cirurgias de adequação dos genitais? 
   Embora existam protocolos internacionais para o atendimento de transgêneros, quantos médicos sabem da existência deles? Quantos estão preparados para orientar familiares assustados e adolescentes confusos com a identidade sexual? 
   Aliados ao nosso despreparo, o preconceito, a discriminação e a má vontade dos profissionais intimidam e afastam mulheres e homens “trans” dos serviços de saúde, dificultam diagnósticos precoces e o acompanhamento de doenças crônicas.
   Em pleno século 21, é ignorância inaceitável considerar distúrbios mentais transtornos de personalidade ou falta de vergonha as expressões de gênero que não se enquadram no comportamento da maioria. Quem escolheria a transexualidade se encontrasse alternativa?
   Quando formos mais civilizados, ser transgênero será considerado simples manifestação da diversidade humana, como ser destro ou canhoto. Até lá, a estupidez agressiva da sociedade causará muito sofrimento aos que não se enquadram nos modelos culturais previstos no binário masculino-feminino. (Texto do médico Dr. DRAUZIO VARELLA, colunista do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, caderno ILUSTRADA,sábado, 25 de junho de 2016, publicação do jornal FOLHA DE SÃO PAULO .Colunistas da Semana: domingo: Ferreira Gullar, segunda: Luiz Felipe Pondé, terça: João Pereira Coutinho, quarta: Marcelo Coelho, quinta: Contardo Calligaris, sexta: Vladimir Safatle).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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