MAIS CONSCIÊNCIA E LEVEZA

   Conceitos de fé, ética e amor ao próximo podem tornar o dia a dia de trabalho mais leve

      Manter-se calmo em momentos delicados, negociar ideias e pontos de vista, mediar conflitos, lidar com um cliente ou colega difícil. Independentemente da área de trabalho, cedo ou tarde, todos nós passamos por momentos como esses. Saber agir de forma calma e assertiva sem deixar que a situação nos afete mais do que o necessário é desejo de muitos, porém, poucos estão aptos a tal comportamento. Nesses momentos, o modo como cada um encara a vida e suas crenças espirituais podem fazer grande diferença.
   Foi buscando diminuir o estresse que a bancária Leila Carvalho começou a praticar yoga em 2006. Com identificação imediata, ela foi em busca de maior conhecimento e assim terminou sua formação em 2009. Atualmente, divide seu dia entre os alunos de yoga e as atividades no banco. São os conceitos do yoga , definido como uma filosofia prática, que guiam as atitudes de Leila.
 “O objetivo principal (do yoga) é o autoconhecimento, conhecer seu “eu” supremo, porque não nos conhecemos. Durante o dia sou  várias Leilas, vários egos – a Leila mãe, a Leila bancária, a Leila professora. O “eu” é o ator, os egos são os personagens. Hoje nós esquecemos que estamos atuando e, quando ofendido, um ator quer se vingar do outro ator”, explica.
   Com o autoconhecimento, Leila afirma que o estresse diminui, pois com maior consciência é possível perceber quando está entrando em um momento ruim e parar a tempo.  “Paro  e respiro corretamente. A maioria das pessoas respira inflando a parte superior do tórax, nem todos fazem a respiração abdominal, que é a correta. Quando fazemos uma respiração mais pausada e abdominal conseguimos entender o momento”, diz.
   Outros conceitos do yoga são a não-violência e a meditação. Leila se tornou vegetariana e aprendeu a parar alguns minutos do dia para focar em si. “É preciso ter disciplina, reservar 10 minutos para meditar.. Nem todo mundo consegue, mas quando começa a perceber que funciona, para para fazer”.
   Ela brinca ao dizer que é comum as pessoas pensarem que todos que meditam ou praticam o yoga são zen, no sentido de nunca se zangar ou ser sempre calmos. Leila explica que procura ser sempre exigente em relação ao que precisa ser feito, seja por parte de seus clientes ou colegas de trabalho. “ “Eu me irrito menos, encaro de outra forma a situação, mas não vou abrir mão do que precisa ser feito”, garante. (ÉRIKA GONÇALVES – REPORTAGEM LOCAL. FOTO: CELSO PACHECO.

   ESPIRITUALIDADE PRÁTICA

   Combinar espiritualidade e trabalho , assuntos em princípio antagônicos, é algo que vem aumentando e só  deve trazer vantagens, tanto para empresários como colaboradores, clientes, fornecedores e demais envolvidos no ambiente corporativo. Para o professor universitário e empresário Carlos Alberto Braile, a “ânsia que o ser humano tem do transcendente certamente contribuirá cada vez mais para que, em meio aos negócios, a fé e a vida nos levam a termos ambientes de trabalho cada vez  mais espiritualizados, para o bem de todos.”
   Por espiritualidade, ele aponta a tentativa de conexão com um ser superior, de acordo com a cultura religiosa a qual pertence cada pessoa.  “Quando  estipulamos uma metodologia própria de cada crença nós passamos a rotular ou tipificar essa prática. Aí podemos dizer que existe a espiritualidade da filosofia indiana, da chinesa, etc. Mas também posso não ter nenhuma rotulação ou tipificação e ser uma pessoa que pratica o bem, curte, respeita e preserva a natureza.”
   Braile explica que a espiritualidade no trabalho não precisa ser colocada pela empresa e sim “levada” por cada colaborador, na medida em que contribua para o bem-estar do ambiente. “Essa  é a melhor maneira de espiritualizar o ambiente, sem rótulos e sem momentos estipulados, formatados, engessados. A espiritualidade prática é essa, com a qual eu contribuo com aquilo que sou, já transformado pelos ensinamentos espirituais verdadeiramente adquiridos”, destaca.
   Para as empresas que desejam estimular a espiritualidade de seus colaboradores, o empresário recomenda essa mesma espiritualidade prática, sem partir da exigência de uma determinada regra, para não ferir nem constranger aqueles que comungam de outros ideais.
   Além de um ambiente mais harmonioso, o professor conta que pesquisas já apontam que na empresa onde há um tratamento mais ético entre todos  a produtividade é maior e, consequentemente, o lucro também. “ Esta lógica foi descoberta e vem ganhando espaço  no ambiente capitalista. Valores éticos como respeito, reconhecimento, valorização do ser humano, atenção aos problemas dos menos favorecidos, são maneiras de trazer Deus por meio de uma espiritualidade prática, sem proselitismo e sem interesse dogmático, o que pode nos levar a dizer que no trabalho fazer o bem faz bem para todos, inclusive financeiramente”. Finaliza. (E.G.)

   NATUREZA E MANTRAS CONTRA O ESTRESSE

                              

   Fazer sempre o bem, manter-se positivo a fim de atrair somente o positivo, acreditar que mesmo momentos ruins são importantes para o crescimento pessoal, ser sempre ético, são alguns dos conceitos que permeiam a postura e modo de agir do empresário Cristian Marques.
   Administrando sozinho uma empresa  de importação, ele não é poupado pelo estresse. Tratar com diversos fornecedores de culturas diferentes, atender clientes, acompanhar a logística de mercadorias e ainda administrar o dia a dia de marido e pai de família exigem paciência e atenção. Quem o conhece, porém, não acredita que em algum momento ele possa ter algum tipo de aborrecimento.
   Para lidar com a pressão do trabalho, o empresário recorre a vários conceitos do Movimento Vaishnava, de origem indiana e também de outros pensadores, como Confúcio. Ele conta que há muitos anos já fazia a leitura dos tradicionais textos e hoje traz consigo vários conceitos que o ajudam no dia a dia.
   “A  construção da fé é um deles.  Enquanto parte de um criador eu não tenho que temer a hostilidade do ambiente. Medo, insegurança, violência estão relacionados com algumas falhas na sua estrutura de fé”, acredita.
   Outro ponto importante, segundo ele, é o conceito de carma. Marques aponta que o carma baliza o seu relacionamento com o meio, com as pessoas.  “O  carma é norteador. Nem sempre conseguimos agradar a todos, mas procuro agir de maneira que o contrafluxo de cada ação seja o mais benéfico possível. Na medida em que você tem sucesso nas ações, têm retorno positivo. Tratar bem fornecedores, clientes e assim receber o bem de volta”, diz ele.
   Esse carma, inclusive, é visto por ele como um benefício, já que possibilita que a pessoa quite parte de sua “dívida” e assim fique cada vez  mais leve e livre. “Penso sempre que estou pagando menos do que devo”, ensina.
   Para manter-se tranquilo, Marques enfatiza o contato com  a natureza, a quem ele sempre recorre quando precisa recarregar as baterias, além dos mantras. “O som te organiza. Já as caminhadas, buscar (tranquilidade) nas sutilezas da natureza faz com que eu recarregue minhas forças, minha lucidez. Quando você aprende que sua força é infinita, o esgotamento é momentâneo. (E.G.) FOTO: REI SANTOS. (FONTE: FOLHA DA SEXTA,  COMPORTAMENTO, páginas 14, 15 e 16, sexta-feira, 20 de novembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).