quinta-feira, 20 de julho de 2017

O DESTINO DO CRONISTA



   Na mitologia grega, o Tempo (Cronos) é filho do Céu (Urano) e da Terra (Gaia). Implacável e devorador, mesmo sob comando do deus dos deuses (Zeus), o Tempo é onipresente e tem poder de definir quando as coisas poderão ou não ocorrer. De seu nome, nasce uma das mais interessantes façanhas da criatividade humana: a crônica, um tipo de texto que brinca com o tempo cotidiano, com os acontecimentos e as personagens mais simples, dando-lhes brilho e beleza. 
   O Brasil é berço de cronistas excepcionais, como só para citar alguns, Machado de Assis, Lima Barreto, Luís Fernando Veríssimo e Moacyr Sciliar, além do mestre Rubem Braga, de cujo “jardim do Alto”, construído de forma artesanal no topo de um arranha-céu em Ipanema, no Rio de Janeiro, inspirou várias gerações de escritores. A casa de Rubem Braga é o lar imaginário de todo bom cronista brasileiro. 
   A crônica não tem compromisso explícito com a objetividade. Ela é fruto de um espírito poético que arredonda letras e ideias, de acordo com o talento de seu artífice. Numa crônica interessante, realidade e imaginação se misturam, presente e passado se reúnem e se tornam indissociáveis. Pela pena do cronista, o mundo é reinventado e os leitores são agraciados com a oportunidade de perceber os acontecimentos por meio da poesia que lança luz nas trevas e imprime graça onde antes só havia a frieza indiferente dos fatos. 
   O cronista, nesse sentido, carrega a responsabilidade de informar e encantar, traduzindo a realidade marcada pela linguagem constituída para a imaginação alimentada pela linguagem poética, aquela que se abre para o novo e reacende esperanças. Uma crônica bem-composta é capaz de reorientar vidas inteiras, dar coragem e elevar a autoestima. Embora sua marca seja a singularidade de quem a redige, a crônica é um texto público, um predomínio do tempo sobre a existência.
   Para ser capaz de passar do monólogo ao diálogo entre seu ator e o mundo, a crônica necessita expressar as diferenças com as quais está em permanente processo de troca. No intercâmbio, surgem cenários, enredos e parábolas que podem encantar a realidade, emprestando à crônica aquele poder de dar formosura e poesia às coisas, engrandecendo sua proposta de melhorar a vida das pessoas que a leem. É nesse momento que a linguagem poética se instaura, combatendo o utilitarismo, o fatalismo e o ódio de quem espalha o maldizer por meio daquilo que pensa, diz ou escreve. 
   Há vitalidade e papel transformador em toda a palavra escrita. Na união da crônica com a poesia, entretanto, os fenômenos reais deixam de ser inevitáveis. Assim, a dor e a tristeza podem ser evitadas ou, no mínimo. Nesse sentido, para o bem ou para o mal, não é pequeno o poder à mão de um cronista. 
   Faz tempo que a crônica anda presente em jornais, revistas e até em atividades dentro das escolas. Em sala de aula, uma crônica pode ilustrar muitos temas de várias matérias, da biologia à sociologia, da matemática à filosofia, tornando tudo mais rico e afeiçoado à linguagem da juventude. O texto nascido do Tempo pode, pois, agradar ao Céu e à Terra, fazendo jus à sua poderosa origem. (FONTE: Crônica escrita por MARCO A. ROSSI, sociólogo e professor da UEL, página 8, FOLHA GERAL, coluna A CIDADE FUTURA – por Marco Rossi, quinta-feira, 20 de julho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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