André Luís Garcia leva os 20 mil litros produzidos mensalmente por sua microcervejaria a 15 cidades do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Aumento no número de empresas levou produção no Paraná a subir de 78 mil litros entre 2012 e 2015
O mercado das microcervejarias, que já parecida passar ao largo da crise, parece dar sua primeira cambaleada. Apesar do crescimento constante e consumo, as empresas do setor no Paraná não devem investir para ampliar a produção. A Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva) lamenta o fim de incentivos fiscais para a bebida por parte do governo estadual, que não foram renovados no fim do ano passado.
No Brasil, terceiro maior produtor mundial de cervejas em volume, o setor das cervejas artesanais - as pequenas fábricas, geralmente empresas familiares, nas quais o proprietário tem total controle sobre a produção – conta com cerca de 300 empresas e mais de 1,5 mil rótulos, de acordo com dados da Procerva.
O consumo de cervejas artesanais cresceu cerca de 36% entre os anos de 2011 e 2014 em âmbito nacional. Em 2015, foram produzidos 13,8 bilhões de litros, mas uma redução de 2% em relação ao ano anterior. No Paraná, subiu de 78 mil litros no ano de 2012 para 272 mil litros no ano passado entre as associadas da Procerva.
O presidente da entidade, Luciano Wengrzinski, atribui isso principalmente ao aumento no número de associadas: se a entidade representava 12 microcervejarias em 2012, o número pulou para 25 no ano passado e, até março deste ano, já chega a 39. “Eram cervejarias já fundadas que não faziam parte da associação”, explica. A expansão do mercado, portanto, está na soma de novas cervejarias.
No Paraná isso ocorre, segundo Wengrzinski, porque não houve renovação de incentivos fiscais que reduziam o ICMS sobre a cerveja de 29% para 12% e o fim da redução da pauta – valor calculado do produto ao consumidor final – em 10,34%. “Esse incentivo fazia com que sobrasse caixa para poder continuar investindo”, argumenta.
Entre 2012 e 2015, período de vigência do incentivo, as micrcervejarias paranaenses aumentaram a capacidade estática de 232 mil litros para 431 mil litros, um investimento de quase o dobro da capacidade de produção. A mão de obra aumentou de 57 pessoas para 154, mas deve haver redução em 2016. “Aqueles que antes consumiam mais de uma cerveja, hoje pensam um pouco mais antes de comprar a segunda. E as grandes cervejarias têm aparato fiscal maior que a nossa, assessoria e outras vantagens, que não conseguimos fazer frente a não ser pela qualidade do produto”, pondera.
A Secretaria Estadual da Fazenda (Sefa) do Paraná confirmou que o incentivo fiscal para bebidas alcoólicas foi encerrado no ajuste fiscal promovido pelo governador Beto Richa, (PSDB), mas que o pedido desta decisão feito pelas empresas do setor está sob análise. A FOLHA solicitou o impacto financeiro que esse encerramento trouxe para a arrecadação estadual, mas a Sefa não informou até o fechamento da edição.
‘BRIGA INJUSTA’
O empresário André Luiz Garcia decidiu fundar a cervejaria Queen’s há cinco anos, em Arapongas, depois de não conseguir comprar chope para comemorar o aniversário da esposa. “Toda vez, precisava ir até Londrina”, recorda. Nesse período, aumentou a produção de 8 mil litros por mês para uma média de 20 mil, mas já chegou, em época de festas como o Natal, a produzir 60 mil litros. A capacidade instalada é de 150 mil litros mensais.
Garcia afirma que a capacidade instalada existe porque fez uma previsão muito otimista em tempos passados, mas que não é viável produzir mais no momento devido aos tributos e pela “briga injusta” das artesanais com os grandes grupos. A produção da Queen’s chega hoje a cerca de 15 cidades do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Apesar de admitir que o preço das artesanais é alto em comparação com as cervejas industriais, ele acredita que deverá baixar pela concorrência natural à medida que os rótulos se proliferarem e para fazer frente às marcas que as grandes adquiriram – como o caso da Elsenbahn, de Santa Catarina, comprada pela Brasil Kirin (ex-Schincariol), e da Cervejaria Colorado, do interior paulista, adquirida pela InBev.
‘O HÁBITO DO BRASILEIRO ESTÁ MUDANDO’
Com dez anos de experiências na comercialização de cervejas e outras bebidas, o sommelier e empresário Viníciu Munhoz, proprietário da Santo Prazer , decidiu, em 2011, passar a produzir sua própria marca. Há cinco anos criou sua receita de bebida tipo pilsen e, hoje, também oferece os tipos pale ale e Weiss de fabricação própria, feitas em cervejarias terceirizadas. Porém, ele espera em dois ou três meses, inaugurar a própria fábrica em Ibiporã, com estimativa de produção de cerca de 20 mil litros até o fim do ano.
Ele que começou como representante de uma linha pre ium diz que resolveu entrar na produção própria por “oportunidade” do mercado, que vê em expansão. “O hábito do brasileiro está mudando. Ele está consumindo menos e o preço pode até influenciar, mas o que ele procura é a qualidade”, avalia o empresário.
Munhoz diz as microcervejarias podem deixar de investir por falta de incentivo do governo, mas acredita que a falta de um produto de qualidade diferenciada produzido localmente deve reduzir preços, incentivando o consumo. (L.E.W.) ( LUÍS FERNANDO WILTEMBURG – Reportagem Local, página 6, caderno FOLHA ECONOMIA, domingo. 10 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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