Sem medir consequências, crianças e adolescentes aceitam participar de jogos e desafios que podem causar a morte
Canela, desodorante, preservativo, talco, gelo, sal. Elementos comuns e presentes em qualquer residência, tem sido usados por crianças e adolescentes em “desafios”, que muitas vezes acabam em tragédia. Em outras vezes, buscando induzir um estado de euforia, inalam gás de buzina, desodorante ou até provocam desmaios no chamado jogo da asfixia, também com consequências fatais. Recentemente uma jovem morreu por parada cardíaca no interior paulista, depois de inalar gás de buzina.
A situação é bastante assustadora, já que os pais não podem estar o tempo todo junto aos filhos, por isso a melhor prevenção ainda é o diálogo, seguido do monitoramento da internet. A opinião é da psicóloga Fabiana Medeiros Vasconcelos, do Instituto Dimi Cuida, de Fortaleza. Criado pelos pais de uma vítima do jogo de asfixia, o Instituto se dedica a alertar e instruir pais e professores sobre os riscos dos jogos de não-oxigenação. Outros países têm grupos semelhantes, já que as brincadeiras não são exclusivas dos jovens brasileiros.
“A prática é desconhecida como algo perigoso e há um silêncio sobre o assunto. As famílias ( das vítimas) se resguardam por causa do julgamento. Essa crítica impede que a sociedade fale sobre isso”, diz. Outro ponto importante é que, segundo a psicóloga, os legistas determinam a morte como suicídio e, por isso, não há investigação. Desta maneira os jovens continuam praticando o jogo e os pais desconhecendo o assunto.
Fabiana diz que descobrir porque os jovens fazem isso é a grande pergunta. “ O processo de arriscar, de saber quem você é no mundo, não é novo. O novo veio da internet e da competição. Estamos em uma era onde não há espaço para todos. Não há três primeiros lugares. Os jovens querem se sobressair e a escola tem que retomar o trabalho de valorização humana, da convivência. O jovem precisa ter o direito de escolha de como será o seu sucesso. Por outro lado, temos uma sociedade sufocada, sem tempo. Os casos de ansiedade na escola estão aumentando e a criança não tolera falhar”, afirma.
A psicólogo também afirma que há dois extremos entre as crianças e adolescentes que participam das brincadeiras perigosas. De um lado estão aquelas que são introvertidas, com maior dificuldade de participar de grupos e por isso acabam se submetendo porque desejam fazer parte desse grupo. Do outro, as crianças muito extrovertidas, que aceitam todos os desafios, são curiosas e gostam de aparecer, que gostam de adrenalina. “Para esse pais indicamos direcionar o filho para atividades como skate, surfe e outros que têm adrenalina mas com mais segurança.”
A especialista chama a atenção para o fato de que as vítimas dessas brincadeiras não tinham perfil suicida, ou seja, não eram jovens em sofrimento psíquico, com a visão de que tudo em volta perdeu o sentido. “Muitos dos jogos são feitos em grupo, com todos rindo e brincando. O problema ocorre quando o socorro não chega a tempo ou o adolescente resolve fazer a “brincadeira” sozinho. Ele assiste o grupo fazendo e não quer fazer porque tem medo de desistir na hora. Resolve fazer sozinho em casa e pode não haver socorro a tempo”, alerta Fabiana. ( ÉRIKA GONÇALVES – Reportagem Local – Foto: Shutterstock.
PAIS DEVEM APRENDER A LIDAR COM A INTERNET
Uma das orientações da psicóloga Fabiana Medeiros Vasconcelos é que os pais aprendam a lidar com a internet e monitorem os filhos, bloqueando o acesso a determinadas informações, afinal é através da rede que muitos jovens aprendem como são os jogos e até compartilham seus feitos.
“A internet faz com que eles acessem a informação de forma rápida e que ela se espalhe rapidamente. Aí os país me perguntam sobre privacidade. Eu digo que não somos americanos, as mães e pais brasileiros são diferentes. Devemos avisar que vamos monitorá-los (o filho) porque gostamos dele. A privacidade vai vir quando ele pagar a própria conta de internet”, destaca.
Fabiana explica que um dos trabalhos do Instituto Dimi Cuida é com a educação digital, ensinando os pais como agir e como usar ferramentas de monitoramento. “Há programas que avisam aos pais sempre que o filho buscar termos pré-determinados, como ‘jogo da asfixia’ por exemplo, ensina. (E.G.). Foto Shutterstock . ( FONTE: FOLHA DA SEXTA, seção COMPORTAMENTO, páginas 14, 15 e 16, sexta-feira, 22 de abril de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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