sábado, 6 de maio de 2017

NOS TEMPOS DO PENSIONATO


   Em Bauru, interior de São Paulo, a Universidade Estadual Paulista Júlia de Mesquita, faz muita gente se mudar de mala e cuia para estudar, seja na graduação, mestrado e doutorado. Da capital ou de outros estados, a cidade universitária acolhe a todos. A mistura de sotaques e culturas só enriquece e, muito além de barezinhos e casas de show, Bauru possui muitos pensionatos, opção para muitos estudantes. Na quadra 2, número 19, funcionava um pensionato para 16 moças. Após uma tentativa frustrada de dividir um belo apartamento com uma moça já formada, mudei-me para o pensionato da turma de jornalismo, tão logo uma vaga foi aberta.
   Eram quatro quartos, com dois beliches cada. Para cada moça, um armário com chaves para roupas ou outros pertences, uma mesa de madeira ao pé da janela e um outro armário com divisórias para os livros e materiais de estudo. Eram dois banheiros, um dentro e um fora. Todos de piso vermelhão. Um tanque, Varal coberto e varal a céu aberto. No mesmo quintal, a dona da pensão, uma mulher jovem, dois bebês e marido, que as meninas da pensão chamavam de “Toiço”, não só pelo sobrepeso, principalmente por não gostarem de seu trato com a esposa. Batia na mãe dos filhos, maltratava os bebês e era de sair para beber e encher a cara. 
   De madrugada, a dona do pensionato entrava em um dos quartos, já era tudo combinado e a Miriam, estudante de Direito de Uru, deixava que Marta estudasse para o sonhado concurso. Treinava na máquina de datilografar, lia e, com a luminária bem focada nos livros, queria uma vida melhor. Passou no concurso, tornou-se oficial de justiça e cada uma das meninas da pensão sentiu-se um pouco vitoriosa com aquela conquista. 
   O entra-e-sai de meninas, a mistura de cheiros na cozinha são algumas lembranças. A cozinha era nossa área de convívio comum. Víamos TV, conversávamos , líamos o jornal e observávamos umas às outras. Era na cozinha que nos assemelhávamos ou não. A Lílian, uma estudante de arquitetura de São Paulo, lavava as folha de alface com bucha e sabão, a Harumi sempre com as suas algas, mostrava fidelidade à cultura oriental. Marian, formada em Bioquímica e Farmácia, pouco falava e trabalhava no banco há anos. Elenildes sempre tinha assunto, e a sua Oeiras, no Piauí, saiu do mapa para o coração de cada uma de nós, tão ricas eram suas histórias sobre o tempo em que viveu no Nordeste. A Carol era de Campinas e a Érica, de Judiaí, foi embora no segundo ano. Abriu mão do curso, disse que não conseguia ficar longe da família. E nos deixou. A Isabela, respeitada e divertida, também nos deixou, mas por conta de um AVC fulminante. Era de Amparo, SP. Nos feriados, sagrados ou não, era sagrado, pensão vazia. Formadas, cada uma seguiu seu rumo e Marta, a dona da pensão também. Virou oficial de justiça e na vida pessoal deu seu grito de liberdade e nos deixou grande lição de perseverança. (Crônica de WALKIRIA VIERA, repórter do jornal NOSSODIA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, 6 e 7 de maio e 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRNA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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