domingo, 29 de maio de 2016

'GOSTARIA DE SER RESPEITADO'

 "Já me incomodei com comentários que estigmatizam  os corintianos como pessoas honestas", diz o servidor público e professor Thiago Domingos

Debates apaixonados sobre futebol e religião muitas vezes resultam em ofensas e até rompimento de amizades

   Quem gosta de futebol e tem um time preferido sabe que acompanhar o esporte sem paixão não tem graça. Quando a rivalidade extrapola as preferências em campo, porém, a falta de cuidado no discurso pode terminar em ofensas pessoais e até rompimento de amizades. Os torcedores do Corinthians sabem bem como é defender um time odiado por todos os outros, afinal, quando os jogadores entram em campo, a torcida se divide entre corintianos e os ‘antis’ , ou seja, torcedores de rivais que se unem para torcer pela derrota do alvi-negro paulista. “Tem gente que fala que é o segundo time é o que está jogando contra o Corinthians”, observa o servidor público e professor Thiago Augusto Domingos, ele mesmo um corintiano fanático. 
   Domingos afirma que leva na esportiva as piadas após derrotas e também ironiza o rivais quando outros times perdem. “ É uma discussão completamente inútil, mas é divertida”, garante ele, que não acompanha futebol em geral. “Só acompanho o Corinthians. As piadas perdem a graça, porém, quando saem do âmbito esportivo e viram julgamento sobre o caráter do torcedor. 
   “Já me incomodei com comentários que estigmatizam os corintiano como pessoas desonestas. Tive vontade de julgar de volta, como se a escolha de um time de futebol dissesse algo sobre o caráter das pessoas”, critica . Ele afirma que até entende que a ironia tenha objetivo de ser uma “brincadeira” , mas o conteúdo dos discursos é ofensivo. “Já tive vontade de responder, mas aí pensei que era só futebol e a discussão não ia levar a nada”, pondera. 
   O fato da torcida ser muito apaixonada e dar retorno midiático, para ele, é uma das causas do “ódio” contra o Corinthians. “Aparecemos mais que os outros, acaba gerando ciúmes”, diz. A história do time, que ficou 23 anos sem ganhar um título e mesmo assim manteve a fiel torcida unida, também explica as razões dos ‘antis’. 
   O preconceito racial se materializa quando o adjetivo “favelado” é usado para caracterizar corintianos. Para Domingos, isso remete ao fato do time ter sido fundado por operários e, até hoje, representar uma camada de população mais pobre e oprimida. “O legal é que os próprios torcedores assumiram o fato de ser um time de favela como positivo e virou uma identidade”, avalia. 
   Ele revela também que a própria motivação para acompanhar o time é a paixão. “Não vejo motivos para racionalizar, até porque quando a gente pensa racionalmente sobre futebol, percebe que é apenas um comércio”, critica. 
   Na dúvida, para não criar inimizades, o torcedor precisa assistir a jogos importantes sozinho ou com um grupo seleto de amigos que entendem este “estado de espírito.” “Comecei a assistir sozinho justamente para evitar discussões. O bom é que, até hoje, a amizade voltou ao normal no fim do jogo”, brinca. 

   RELIGIÃO  

      O office boy Vitor Hugo Oliveira de Paiva, de 17 anos, que também cuida das redes sociais d a igreja evangélica que frequenta em Londrina, vive desde que nasceu em uma família que segue valores religiosos. Por conta de compartilhar os mesmos valores da família, tem que lidar com chacota e julgamentos dos amigos. “É normal me chamarem de “certinho ou de crente””, diz ele que também defende o casamento tradicional, mas não se sente à vontade para externar essa posição em alguns grupos. “Fora da igreja, muita gente acha absurdo eu dizer que pretendo ter uma família tradicional”, afirma ele, que garante respeitar outros tipos de união, como por exemplo o casamento homoafetivo, apesar de não defendê-los. “Assim como respeito outras opiniões, gostaria de ser respeitado”, pede. 
   O rapaz afirma que já foi ridicularizado por ser evangélico e perdeu amizades após expressar a própria opinião. “Sinto muito por não poder professar a minha fé”, lamenta. 

A estudante de medicina Mylena Lamônica Azevedo da Silva, de 22, sentiu na pele a intolerância e o preconceito na faculdade que frequentou antes de iniciar os estudos na atual instituição. Por ser filha de um pastor, ouvia todo tipo de piada sobre “receber o dízimo” e outros comentários que insinuavam que o pai ficava com o dinheiro da igreja. ”Levava na brincadeira, mas era bem preconceituoso”, diz ela, que também precisa se impor para conquistar o próprio espaço nos grupos que frequenta. “Meus colegas, por exemplo, não entendem minha opção de não frequentar ‘baladas’ e ficam insistindo para que eu mude de opinião!, acrescenta. 
   Convicta sobre os preceitos religiosos que segue, a estudante sustenta debates sobre o tema, mas diz que pensa bem antes de entrar em uma discussão. “Não me posiciono quando acho que a conversa não vai dar em nada “, comenta. 

   INTOLERÂNCIA NÃO POUPA CRIANÇAS 

   Nem mesmo as crianças estão livres dos discursos de ódio que permeiam os debates atuais. Foi com surpresa que a professora Juliana Martins ouviu o filho Artur, de 7 anos, cantar uma música ironizando a presidente afastada Dilma Rousseff após chegar da escola. Ao questionar onde o garoto tinha aprendido a música, ele respondeu que foi na sala de aula com a professora. “Fui questionar, pois acho que a sala de aula não é o local ideal para tratar do assunto com as crianças, até porque cada família tem uma postura diferente em relação ao tema, mas ela negou”, afirma. 
   Alguns dias depois, Artur chegou chorando da escola com as “provas” de que os amigos não estavam respeitando o ambiente escolar. “ Em uma atividade que ia usar recortes de revistas, várias crianças cortaram fotos da Dilma e jogaram na cabeça dele”, relata a mãe, que foi novamente conversar com a professora sobre a importância de incentivar a tolerância. “Acho que ela finalmente percebeu que a situação na sala de aula estava pesada”, diz. 
   Paralelamente, Juliana que dava aulas na mesma escola, comentou no grupo de professores e coordenadores no WhatsApp que aquele não era o local para compartilhar memes com viés preconceituoso. “A coordenadora disse que eu estava errada. Discordei e saí do grupo, deixando meu e-mail para comunicações sobre as atividades da escola”, relata. Algum tempo depois do episódio, Juliana foi demitida sem nenhuma justificativa pedagógica. “Disseram que eu não tinha perfil para trabalhar na escola, mas estou convicta que foi por causa das minhas convicções políticas. Até então, não tinha recebido nenhuma orientação ou aviso sobre qualquer reclamação em relação à minha atividade profissional”, lamenta ela, qe também dá aulas na rede estadual e nunca teve esse tipo de problema. “No entanto, a orientação é promover o discurso crítico sem manipular os alunos!, compara. 
   O fato trouxe consequências financeiras para a vida da professora. Além de ter perdido um emprego, ela matriculou o filho na escola por causa da bolsa de 50% oferecida aos professores. “Perdi a bolsa, estou tento que pagar uma mensalidade que não cabe no orçamento em uma escola na qual não acredito”, opina. (C.A.) (CAROLINA AVANSINI – Reportagem Local, página 8, FOLHA REPORTAGEM, domingo, 29 de maio de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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