segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

SALVE, CLEMENTINA! NO SAMBA E GORA EM LIVRO



   Clementina de Jesus ganha sua primeira biografia, livro foi escrito por quatro estudantes de jornalismo

   Clementina de Jesus está sendo descoberta por algumas gerações, reconduzida a um trono em que esteve com mais evidência desde que foi identificada com toda sua realeza em meados dos anos 1960, por Hermínio Bello de Carvalho, até sua morte em 1987. Ainda sem nenhuma publicação que vasculhasse as raízes de seu canto e aprofundasse o mergulho em sua história, Clementina acaba de ganhar sua primeira biografia. 
   “Quelé” – A Voz da Cor” é assinada por quatro jovens biógrafos que propuseram o tema como tese de conclusão do curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. Uma improbabilidade a mais quebrando os lugares-comuns na trajetória de uma mulher que se acostumou a viver fora de onde diziam que era o seu lugar: quatro estudantes de classe média paulistana se jogando na história da figura mais emblemática na fundação da música popular do século 20 no Rio e em seus laços com as reminiscências africanas. A maior prova viva, fora dos livros, da academia e de qualquer espécie de militância, da balizadora presença negra na formação cultural de um povo latino-americano. E uma voz de uma verdade assombrosa. 
   Os autores são Felipe Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa e Raquel Munhoz. Antes da própria história de Quelé (corruptela afro da inicial de Clementina), vale passar pela resistência dos quatro em manter o foco naquilo em que acreditavam. Ao sugerirem o tema como TCC na universidade, foram desencorajados por mais de uma vez em seguir adiante. Não por preconceito, diz Janaína, mas pela dificuldade de se encontrar material documental que cobrisse a vida de Clementina. Trabalho ia, trabalho voltava, os alunos refaziam algum detalhe e o apresentavam de novo. O trabalho tirou nota 10 na banca e o resultado virou o livro que acaba de ser lançado. 

   GARRA

   Outro sinal de resistência clementiniana: Hermínio Bello de Carvalho não queria dar entrevistas aos jovens estudantes. Foi uma luta. Hermínio não vive no Rio, disse não durante quatro meses. “Ligávamos para ele de duas a três vezes por semana. Acho que já estava irritado com as mesmas perguntas sobre Clementina”. Agora, ela diz, são melhores amigos. Hermínio é retratado como uma espécie de herói da história da descendente de escravos que foi mais que uma cantora de sambas. 
   Sem muito material que pudesse servir de base, como matérias de jornais ou documentários, os quatro estudantes foram a campo em busca dos livros vivos. Chegaram aos personagens importantes que passaram por Clementina, também com muito custo, depois de convencerem que queriam mais do que um simples trabalho de faculdade. Muita insistência fez Milton Nascimento baixar a guarda depois de dois anos de pedidos e concordar em receber os alunos por um tempo não maior do que 20 minutos. Eles embarcaram para o Rio e ficaram em frente do cantor por duas horas. “Depois disso, não aguentei. Chorei, pedi autógrafo, tirei foto”, diz Janaína. Ao todo, foram mais de 40 viagens ao Rio, pagas devidamente com dinheiro do próprio bolso. “Minha vida social foram as rodas de samba desde 2011.” 
   A despeito do ano de nascimento de Clementina, com o qual a própria fazia confusão, o livro crava 1901, comprovado pela reprodução de uma valiosa certidão de batismo. Armados para enfrentar um mundo sem vestígios, os quatro biógrafos foram na história do todo para chegarem à singularidade de Clementina. O Rio daqueles primeiros anos do século 20 é pesquisado e reconstituído minuciosamente, uma característica que vai aparecer por toda a história. Entender o mundo para entender Clementina. Quando chega 1965 e Quelé é escalada para o espetáculo Rosa de Ouro, é bom lembrar e dizer de novo que o ano é 1965. Ou seja, Clementina resistiu aos dois tratores que poderiam triturá-la em seu nascedouro: a Jovem Guarda, de Roberto, Erasmo e Wanderléa; e o início da Era dos Festivais. 
   A salvação de reconstituição de um tempo não documentado é feita, muitas vezes, pela própria dona da história. Clementina falava muito em suas entrevistas, com riqueza de detalhes e o encantamento de uma mulher que nunca entendeu muito bem qual era o seu tamanho. 

   SERVIÇO

“QUELÉ - A VOZ DE COR’ 
Autores: Felipe Castro, Janaína Marquesini e Luana Costa, Raquel Munhoz. 
Ed: Civilização Brasileira (384 págs. , R$ 49,90)
Lançamento: 6ª (10), 19h
Livraria da Vila (R. Fradique Coutinho, 915). (FONTE: página 8, caderno FOLHA 2, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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