sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

CARNE NA LATA: CONFIT À BRASILEIRA




   Técnica antiga de cozinhar carne e armazenar na própria gordura é utilizada na culinária goumert

   Quando nem se pensava em refrigeração e congelamento para conservar comida por mais tempo, técnicas foram desenvolvidas ou descobertas para manter a integridade dos mais variados alimentos, seja por necessidade ou até mesmo sobrevivência humana. Dentre eles, a cura (com açúcar ou sal) e a defumação são os métodos mais conhecidos por preservar, principalmente, as carnes. Nesses processos, cria-se uma barreira que dificulta a decomposição da proteína e proliferação de bactérias, fazendo que ela possa ser consumida por um período longo sem riscos de contaminação. 
   Mas existe uma técnica bem antiga, até hoje utilizada, que é o processo de confit (palavra que vem do verbo francês ‘confire” e significa conservar). Nada mais que a carne cozida na própria gordura e, depois, armazenada nesta gordura. Resumidamente, neste processo, a carne é cozida ou frita lentamente em sua própria gordura de forma que se retire a umidade excessiva. Quando a carne apurar é resfriada em recipiente com toda a gordura de maneira que fique totalmente submersa. Ao esfriar, a banha talha, e forma uma camada protetora, impedindo o contato com o ar e garantindo a conservação. 
   No Brasil, o confit é popularmente conhecido por “carne na lata”, muito comum na época em que não havia geladeira em casa, principalmente em cidades do interior do país. Essa forma de conservar veio para cá com os portugueses que chegaram ao país em navios carregando quilos e mais quilos de carne armazenadas dessa forma. Mas qual a diferença entre um e outro? O confit ou carne na lata são, basicamente, o mesmo processo de cocção. Mas esse nome ficou conhecido no país porque a carne, geralmente de porco, era comumente armazenada em grandes latas. 
   Depois de mergulhada na gordura talhada, uma espécie de uma pasta, é só pegar os pedaços, esquentar e comer. Quanto mais tempo submersa, mais sabor e maciez ela adquire, já que a gordura aumenta essas propriedades. Essa técnica pode ser utilizada com qualquer tipo de carne e qualquer tipo de gordura, até mesmo vegetal, com exceção da hidrogenada que não é recomendável. Muito comum na França com a carne de pato, a técnica do confit pode ser utilizada para qualquer tipo de conserva, incluindo frutas que ficam submersas em açúcar, mel, e legumes, no azeite. 

   GOURMET

   A técnica do confit, ao mesmo tempo em que não tem mais sua função original, ganhou um status gourmet. Ou seja, não existe mais o propósito de conserva, apesar ainda dele ainda ser válido, mas o fato de ficar armazenada por bastante tempo na gordura confere às carnes um sabor a mais que transforma receitas em iguarias. Hoje, pelas mãos de chefs, a técnica ganha releituras contemporâneas apoiadas, inclusive, em cortes mais modernos. O tomate confit também  tem feito muito sucesso nos restaurantes.
                         
Diego Trindade, chef de cozinha: "A carne na lata pode ser acompanhada de molho (vinagrete, agridoce ou tropical), além de farofa de mandioca na manteiga"
   O chef do Boussolé Gastrobar, Diego Trindade, diz que no estabelecimento há dois tipos de pratos disponíveis que são feitos com a técnica: a carne de porco na lata e o confit de cordeiro. “As técnicas são muito parecidas, porém, cada carne tem sua particularidade. Aqui usamos a gordura proveniente da banha de porco derretida. “Quanto à gordura, inclusive, pouco se fala sobre a característica da banha de porco: por ser disposta em uma camada, é mais fácil de ser separada da carne. O mesmo não acontece no boi, que tem a gordura entremeada. Já o pato é o preferido das aves por possuir bastante gordura. 
   No caso da carne na lata, a carne de porco é colocada na gordura ainda fria, de modo que ao esquentar, comece a cozinhar. “Ali fica por até seis horas. Quando a água toda evaporar e começar a fritar, é hora de desligar.” Tudo é despejado em pequenos baldes e colocado imediatamente na geladeira por exigências sanitárias. “Mas quem fizer em casa pode, perfeitamente, deixar fora de refrigeração atentando ao fato de tampar para não entrar insetos”, acrescenta. O chefe deixa a carne submersa por, no mínimo, 30 dias, a fim de maturar e adquirir mais sabor antes de ser servida. Para ser consumida, ele retira um pedaço com um pouco de gordura talhada e só aquece. “O prato leva a carne acompanhada de molho (vinagrete, agridoce ou tropical), de farofa de mandioca na manteiga. Essa carne também fica muito bem com polenta ou salada de repolho.”
   Já o confit de cordeiro é mergulhado na gordura fria e levado ao forno em fogo baixo. Lá também fica cozinhando por várias horas antes de começar a fritar. Este é o momento de desligar. “A carne é retirada e servida em seguida, mas pode ficar submersa na gordura e retirada apenas no momento do consumo.” No restaurante a carne é servida com cuscuz marroquino e molho de iogurte. O chef diz que também combina com pão RECEITA DE CARNE NA LATAsírio e coalhada seca. Ambas as carnes ficam maturando um dia em tempero a base de ervas e sal antes de serem cozidas na gordura. 
                  
O confit de cordeiro pode ser servido com cuscuz marroquino e molho de iogurte

   RECEITA DE CARNE NA LATA

   INGREDIENTES
   7 kg de carne suína (pernil). Lombo, costelinha) 
   4 kg de toucinho sem pele
   4 colheres (de sopa) de sal
   2 colheres (de sopa) de temperos a sua escolha (alho, pimenta)


   MODO DE PREPARO 
   Corte a carne em cubos de mais ou menos 5 centímetros. Tempere a carne com duas colheres (de sopa) de sal e os temperos a sua escolha. Deixe a carne temperada descansando por, no mínimo, 2 horas. Pique o toucinho e coloque em uma panela grande (ou tacho). Certifique-se que o volume de toucinho não passe da metade da panela, pois depois com a fervura e a carne dentro, pode transbordar. Na receita tradicional usa-se um tacho de ferro, sem risco de faltar espaço. Coloque 2 colheres (de sopa) de sal no toucinho e misture devagar. Coloque em fogo médio, até derreter bem e ficar dourado. Separe o torresmo formado. Coloque a carne temperada na panela do toucinho derretido e frite bem. Virando de vez em quando, até ficar bem dourada. Deixe a mistura esfriar na panela. Cuidado para não esfriar demais, porque a gordura vai começar a solidificar. Retire a carne com uma escumadeira e distribua num pote ou em vários, de acordo com sua preferência. Passe a gordura em uma peneira para tirar os pedacinhos que ficam da fritura. Derrame a gordura em cima da carne no pote (ou potes) até cobrir bem a carne. Se ficar um pedacinho da carne sem cobrir com a banha, vai estragar. Deixe esfriar muito bem, pra não condensar e criar umidade dentro, o que também estragará o alimento. Só então tampe. (FONTE: Site www.tudogostoso.com.br, página 3, SABORES, sabores@folhadelondrina.com.br caderno FOLHA 2, sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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