quinta-feira, 30 de novembro de 2017

sSUBINDO O TIBAGI


   A reportagem sobre o Rio Tibagi fez lembrar o inglês Thomas Bigg-Weather, que em 1872-75 percorreu o Paraná de burro e canoa, integrando missão de engenheiros a traçar ferrovia do Paraná para o Pacífico, sonho ainda hoje pulsante. 
   Seu livro – “Novo Caminho no Brasil: a Província do Paraná” – é estupendo em textos e ilustrações. A ilustração acima mostra grande canoa passando cascata rio abaixo, mas, depois de chegar a Jataizinho vindo lá de Tibagi, ele refez o caminho de volta – subindo o rio! – com duas canoas menores e mais leves (apenas 750 quilos cada uma...).
   No leme, Telêmaco Borba, ele mesmo que hoje nomeia cidade e erra o timoneiro. Seis índios caiuás empurravam – isso mesmo, empurravam – as canoas correnteza acima, com longos varões de pindaíba aferrados nas pontas. Nas suas próprias palavras: 
   “Cada dois homens enfiavam as varas até o fundo do rio, simultaneamente, e, voltados para o lado da popa, saem correndo para os suportes das arruadas, enquanto, com a tração muscular e o peso de seus corpos, a pesada canoa desliza entre os varões pesados. Os homens, chegando ao fim da curta corrida, retornam ao ponto de partida, equilibrando-se sobre o estreito suporte, daí repetindo a operação.
   “Subindo forte corredeira, dois homens seguram a canoa com seus varões, para que não desça o rio, enquanto os outros dois correm para a popa empurrando a canoa para frente, daí a seguram, para que os outros dois façam o mesmo e depois repetem a operação. Assim se pode ascender fortes corredeiras e até cataratas, contanto que a canoa tenha boas pegadas para os varões e que as ondas que batem na proa, não sejam tão altas que a alague.
   “Nosso trabalho diário pode ser resumido na simples afirmação de que, nas seis semanas desde nossa partida de jatahy (hoje Jataizinho) até a cidade de Tibagi, descarregamos inteiramente as canoas nada menos que 32 vezes e transportamos seu conteúdo nas costas, por longas distâncias, sobre rochas escorregadias e picadas espinhentas da floresta. Três vezes as próprias canoas tiveram de ser tiradas da água e arrastadas através da floresta, por caminhos feitos para isso, a fim de transpor cataratas intransitáveis. Desde vários dias que nos alimentávamos somente de carne de porco e arroz, terminadas as outras provisões.”
   Por que não pescavam? Porque subiam o rio o dia inteiro e, à noite, tinham de armar tendas e mosquiteiros, fazer fogo e comida e tudo mais. Peixes o rio tinha tanto que, em corredeiras rasas, os índios caçavam e sangravam macaco e então, atraídos pelo sangue, grandes dourados subiam a corredeira sequiosos, sendo abatidos pelos índios... a pauladas!
   Depois Bigg-Weather teve de esperar cinco meses pelo embarque para Inglaterra, num Rio de Janeiro assolado pela febre amarela: “A pestilência avançava, com espetáculos de caixões de defuntos, descobertos e disformes, em disparada através das ruas, na pressa cruel de chegar aos cemitérios”. E pensar que, depois de mais de século, a febre amarela continua por aí...
   Mas seu último parágrafo transpira amor pelo Brasil: “Sempre me lembro do tempo que passei no Império do Cruzeiro do Sul, com a íntima esperança de algum dia poder rever as suas grandes campinas e grandiosas e taciturnas florestas, e talvez fumar outro cigarro de palha de milho, com um camarada brasileiro, ao lado de uma fogueira de acampamento”. (Crônica escrita pelo jornalista e escritor DOMINGOS PELLEGRINI, página 3, caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINOGS PELLEGRINI, 25 e 26 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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