quarta-feira, 8 de novembro de 2017

BULLYING: MOTIVO PARA MATAR?


   Há poucos dias vivemos a comoção de uma tragédia que teve como cenário uma escola e como protagonista um de seus alunos, pior, um adolescente. Triste para as famílias das vítimas; triste para os que saíram ilesos fisicamente, mas que arrastarão por anos os fantasmas daquele momento. Uma desdita para os pais do garoto que que precipitou o tal ato e para ele próprio, pois mesmo depois de passado o sobressalto, silenciadas as vozes condenatórias, restarão em sua mente as cenas terríveis daquele momento de extrema fúria e descontrole emocional. O agressor não era um criminoso. Aliás, até o momento que disparou o primeiro tiro, segundo relatos de colegas, era ele a vítima de um crime silencioso que se apresenta disfarçado de “brincadeirinha”: o bullying. 
   Mas tiremos o foco desse episódio já explorado à exaustão pela mídia e nos centremos no problema em si que se caracteriza pelo assédio continuado, praticado contra alguém, um colega de turma, um vizinho do condomínio, do bairro, do trabalho, etc. por uma ou um grupo de pessoas. Pode envolver maus-tratos físicos, mas o mais comum é o assédio moral e psicológico que, pela frequência e continuidade em que ocorrem, neutralizam os recursos internos da vítima, minimizando as possibilidades de defesas, minando sua resistência, enfim, causando um dano irreparável à sua estrutura psicofísica. 
   Ansiedade, depressão, insônia, dificuldade de concentração, apatia, síndrome do pânico são muito frequentes nesses casos, além dos diversos sintomas fisiológicos. É um sofrimento silencioso que envolve a vergonha diante da própria impotência e, por isso, raramente é comunicado. Na maioria dos casos, professores, orientadores e nem mesmo os pais tomam conhecimento do problema, pois mesmo que percebam que algo não está bom e questionem o sofredor, ele negará, já que assumir revelará a sua própria impotência em resolver a questão que é oriunda de seus próprios pares, jovens como ele. Adultos não entenderiam isso, deduzem. 
   Feitos esses apontamentos já é possível entender que a vítima do bullying sofre onde a ferida mais dói: na sua personalidade; na essência de seu ser; ser dilacerado, ofendido, maltratado. Sente-se sucumbindo moralmente, psicologicamente e até fisicamente, e uma das possibilidades é desenvolver uma ideação de inversão do quadro, ou seja, sair da condição de vítima para agressor. Não deixa de ser uma reação do instinto de sobrevivência como a de um animal acuado que ataca a fera que o persegue. Por outro lado, se o objeto da “caça” for o seu próprio sentimento de fraqueza, a eliminação dele pode implicar uma ideação de autoeliminação. Os estudos sobre suicídios entre adolescentes aponta o bullying como uma das causas prevalentes, juntamente com as drogas, depressão e outros distúrbios. 
   Não é um fenômenos novo na sociedade. Nova é a dimensão que atingiu, especialmente na versão cyber, através das redes sociais, de onde se alastra e contamina os relacionamentos reais. Também não é um fenômeno exclusivo da adolescência, mas nessa fase se ambienta com maior crueza puxada pela necessidade de autoafirmação , típica do processo do adolescer. Estranhamente o “bully” possui das mesmas carências psicoafetivas das vítimas, mas por características pessoais as projeta para a heteroagressão.
   Voltando a citar o episódio acima, houve uma mãe que numa declaração afetada pela emoção do momento disse “Mas bullying não é motivo para matar!”. Realmente, não é, aliás, nada justifica matar. As gozações, as ofensas morais e o assédio continuado também não matam por si, mas seus efeitos sobre um adolescente singular, vulnerável emocionalmente, com uma história de vivências negativas, baixa autoestima, timidez, medo, etc., podem se tornar uma arma destrutiva. Cada ser tem seu limiar para a pressão psicológica e não há por que pô-lo à prova. (FONTE: JAIR QUEIROZ, psicólogo e pós-graduado em Segurança Pública em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 8 de novembro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).* Os artigos devem conter dados do autor e ter no máxima 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opiniaofolhadelondrina.com.br).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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