segunda-feira, 26 de novembro de 2018

PAULO UBIRATAN, JORNALISMO DE VIDA OU MORTE

   Esta semana, estreou em Londrina o documentário “Isto (Não) é um assalto”, dirigido por Rodrigo Grota. A Folha 2 publicou matéria sobre o filme no último fim de semana. Na foto principal da página, reféns saem de uma agência do Banestado, em 1987, formando um cordão. No meio deles o repórter Paulo Ubiratan, que se ofereceu para ir junto no ônibus solicitado pelos assaltantes para conduzir os reféns que serviriam de garantia para deixarem a cidade sem serem presos. 
   Vejo a foto e volta à memória a impetuosidade de um repórter polêmico com quem trabalhei nos anos de 1990. Ubiratan era gaúcho de Santa Maria, antes de chegar a Londrina havia trabalhado em vários veículos do Rio Grande do Sul. Trazia na veia a determinação de fazer dos fatos, notícia, gostava de trabalhar com algum estardalhaço, o que causava polêmicas. Além do jornalismo impresso, dedicou-se ao rádio e à TV numa versatilidade que lhe rendia dias cheios, o jornalismo era sua vida. Ele faleceu em outubro de 2010. 
   Nunca duvidei que ele seria capaz de ato heroicos como aquele de se oferecer como refém num assalto. Com isso deixou para a história a síntese de sua determinação de não só fazer notícia, mas ser notícia. 
    Na metade dos anos 90 a Folha me incumbiu de um projeto novo. Editora do caderno de cultura durante muito tempo, fui designada para editar o caderno Reportagem Especial., que trazia temas candentes, geralmente reportagens de denúncia sobre as mazelas nacionais. Era ainda uma editora relativamente jovem e trabalhava com dois pesos-pesados da reportagem. Paulo Ubiratan e o matogrossense Luiz Taques que, em 1981, ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com uma reportagem sobre o trabalho escravo nas carvoarias de Mato Grosso do Sul. 
   Ubiratan carregava a pecha de “repórter policial” num tempo em que as redações eram bastante setorizadas. Na condição de cobrir o noticiário policial ganhou tantos amigos quanto fez inimizades. Mas esta era a vida de Ubiratan que também se saía bem em outros temas, porque seu desejo era sempre de se atirar na notícia, como se as pautas fossem uma questão de vida ou morte. 
   Tudo ou nada era uma metáfora do jornalismo que, naqueles anos, ainda não tinha se burocratizado pelas imposições do tempo. Valia o cara a cara do repórter com o entrevistado, em matérias quase nunca apuradas pelo telefone, quanto mais pelo e-mail ou pelo WhatsApp. 
   Ubiratan tinha DNA de repórter. Eu me divertia com a gauchice explícita em cada pauta e, de vez em quando, amenizava seu cotidiano com temas mais tranquilos, como a entrevista que ele fez com Orlando Villas-Boas, o indigenista que também deixou seu nome na história. Um dia, Orlando apareceu em Londrina sem muito aviso. Fomos pegos de surpresa e pautei Ubiratan para entrevistá-lo numa missão que duraria uma tarde inteira e uma boa matéria.
   A gauchice também acompanhava Ubiratan em atos cotidianos. Lembro-me de uma vez que resolveu preparar para minha família uma galinha ao molho pardo. Apareceu em casa com a bichinha viva e a pendurou no varal para sangrar antes de preparar o quitute. A única coisa que consegui fazer foi correr de pavor, enquanto os gatos se maravilhavam com a cena da galinha se debatendo viva. No fim das contas, até isso entra para as lembranças ternas de um dos últimos repórteres românticos que conheci.
   Ao vê-lo ainda jovem no cordão de reféns da foto do assalto ao Banestado, só posso dizer que Ubiratan fez parte de um jornalismo perdido no tempo. Aquele que provocava tanta polêmica quanto sustos Alho assim como uma galinha ainda viva dependurada no varal, tão insólita quanto deliciosa depois de pronta. Eram assim as matérias que Ubiratan escrevia para a FOLHA, misturando o jornalismo à própria história, sempre como um caso de vida ou morte. (FONTE: Crônica escrita por CÉLIA MUSILLI, celia.musilli@gmail.com página 2, caderno Folha 2, coluna CÉLIA MUSILLI, 24 e 25 de novembro de 2018. Publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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