domingo, 18 de novembro de 2018

O CINEMA ITINERANTE


   Naqueles tempos, o trabalho na roça era muito intenso, não importando a idade das pessoas. A semana toda. Os mais velhos acompanhava o pai na labuta dos cafezais, das plantas de arroz, milho, feijão. Os mais novos ajudavam a mãe nos afazeres da casa, no trato dos animais domésticos, na horta, no retiro do leite da vaca, no preparo de queijo e pães, além de ir à escolinha rural à pé. 
   Os momentos de lazer eram poucos, simples, porém divertidos. Resumiam-se às festas na igreja – como a festa da padroeira, as quermesses -, os bailes nas vizinhanças e aos domingos à tarde todos iam à beira do campo assistir ao futebol. Outra alegria, o circo, que vez ou outra vinha instalar no vilarejo com seus palhaço ingênuos e divertidíssimos, e as duplas sertanejas. 
   Mas o que mais marcou na minha infância foi o “cinema itinerante” do seu Anastácio que a cada dois meses vinha até o vilarejo com um projetor de filme e passava várias sessões. Era a alegria do local, principalmente quando era filme do Mazzaropi, os musicais com Caubi Peixoto, Emilinha Borba, Ângela Maria, entre outros. 
   Lembro que certa ocasião minha mãe comprou um estojo de maquiagem para a minha irmã Nair, do turco-mascate, que vez ou outra descia nosso corredor com duas malas cheias de produtos. No domingo tinha o tal do cinema e Nair se aprontou, usou um rímel, comprado do turco-mascate e foi para o “cinema”. O filme era triste, Marcelino Pão e Vinho. No final minha irmã tinha o rosto todo borrado de preto, pois chorou durante o filme com o rímel correndo pelo seu rosto. Virou motivo de chacota entre os amigos e os irmãos. 
Como no vilarejo não tinha um local adequado para passar os filmes, era na máquina de café do seu Casagrande. Cada pessoa tinha de levar sua cadeira. Seu Barbosa, dono da “venda” de secos e molhados, um dia ao levantar um saco de açúcar machucou a coluna. Estava com dificuldades para ficar em pé ou sentar. Então, como queria ir ao cinema, achou por bem levar o sofá de casa. Chamou os meninos para transportar o bendito sofá pesado. Com uma carriola, levamos o tal sofá, mas com uma condição, teria de pagar nossos ingressos. E foi o que aconteceu. 
   Creozilda, uma menina mulatinha e bem bonitinha, certa vez, assistindo ao filme em cima da sacaria de café adormeceu.. Acabado o filme, retirado o material, seu Casagrande trancou a máquina e garota ficou lá dormindo. Foi um bafafá na cidadezinha. Será que seu Anastácio levou a menina? Onde foi parar a garrota? Ao anoitecer, ouviu-se a gritaria da menina no interior da máquina. Que alívio!
   São histórias que guardo de um passado distante, mas feliz. (FONTE: Crônica escrita por SIDNEY GIROTTO, leitor da FOLHA, página 2, caderno FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 17 e 18 de novembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!

Comente!

.

.

.

.

Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
--------
Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

Postagens populares