sábado, 17 de novembro de 2018

DEPRESSÃO ATINGE MAIS DE 5% DOS BRASILEIROS



Doença ainda é alvo de preconceito e desinformação; tratamento e acolhimento dos doentes são caminho para cura 

   “A depressão começa do insípido, nubla os dias com uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas formas claras são obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados, entediados e obcecados com nós mesmos – mas é possível superar isso. Não de uma forma feliz, talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o ponto de colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há como confundi-la.” O trecho extra[ido do livro “O Demônio do Meio Dia: Uma Anatomia da Depressão” é um relato pessoal de seu autor, o psicólogo norte-americano Andrew Solomon, sobre a doença. Ao dividir sua batalha pessoal através da obra- vencedora do National Book Awards 2001, na categoria não ficção – se tornou referencia no tema e a publicação, o um best-seller. Também pudera, o número de casos em todo o mundo só cresce. 
   Segundo os dados recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, Em dez anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4%. No País, 5,8% da população sofre com a enfermidade, que afeta um total de 11,5 milhões de brasileiros. Segundo os dados da OMS, o Brasil tem a maior prevalência na América Latina e a segunda maior prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos. “Os `fatores desencadeadores no País são muitos. Há uma situação de migração social grave e as crises política e financeira que atingem diretamente as pessoas com a perda da esperança e da fé. Isso tudo faz a ansiedade aumentar e, assim, se instala. É preciso levar essa questão a sério porque 25% das pessoas no País já tiveram ou ainda vão ter depressão”, alerta o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina e diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria. Imersas em preconceito e desinformação, muitas pessoas sofrem em silêncio, resistentes em aceitar que precisam de ajuda. Foi o que aconteceu com a veterinária Alice Marangon, 26. Na época que cursa a a faculdade, aos 20 anos, os primeiros sintomas começaram a aparecer. “Levantar da cama era um desafio. Não tinha ânimo. Queria ficar em casa, passei a ser compulsiva por comida. Ganhei dez quilos. Não aceitava que precisava de ajuda”, lembra. Da resistência ao consultório de um psiquiatra, foram seis longos meses de sofrimento. Com o diagnóstico e medicada, a melhora parecia distante. Um ano depois, já sem auxílio de antidepressivo, decidiu buscar assistência psicológica e, gradativamente, começou controlar os “demônios” que tanto a feriam. “Optei por mudar de vida. Abandonei o ambiente tóxico onde eu estagiava. Tudo começou a mudar e minha vida se abriu. Hoje, ainda continuo me tratando, mas voltei a ser quem eu era e consigo enxergar que o mundo é cheio de possibilidades”, afirma a veterinária, que é gaúcha de Trindade do Sul e se mudou para Londrina em 2015 para cursar o mestrado na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Em sua nova rotina, incluiu exercícios físicos e passou a valorizar atividades que aumentavam sua sensação de prazer. “Aprendi a ter empatia. Me interesso por psicologia e gostaria de ajudar as pessoas. A depressão não me serviu de bengala, mas consegui transformá-la num fortaleza e passar a lutar pelo que realmente importa para mim. Sei bem a importância que foi Na minha vida o momento que precisava de ajuda”, lembra. 
   Aceitar o diagnóstico e encontrar o tratamento adequado são grandes desafios para quem enfrenta a depressão. A doença envolve sérios descontroles químicos no cérebro, que provocam grande estrago no comportamento e no convívio social. As causas são muitas: hereditariedade em grande parte dos casos, passando por traumas e exposição a situações de estresse. Mais do que listar as possíveis causas, é importante observar os sintomas – tanto os próprios doentes quanto as famílias envolvidas. Os casos de forma geral são muito singulares e recebem tratamentos individualizados, mas basicamente todos os doentes apresentam mudanças de humor e no comportamento. Tendem a se fechar e a demonstrar falta de interesse por atividades antes comuns. “As causas podem ser compreendidas em três fatores. Uma tendência química causada por fatores genéticos, o ambiente e a cultura que o indivíduo foi exposto, especialmente num ambiente familiar, e aspectos trazidos pelo ambiente social. Mas, de forma geral, é um esgotamento, uma desistência do eu e de uma autoestima mínima”, explica Marcelo Castro, psiquiatra e psicanalista membro da Associação Internacional de Psicanálise e professor convidado da UEL. 
   Pelo aspecto de psicologia, a doença basicamente se resume ao estado de um sujeito que não tem estrutura emocional suficiente para lidar com as angústias, frustrações e perdas. “Muitas pessoas escondem que vivem em sofrimento, mas é importante não confundir uma grande tristeza com a patologia. A depressão é quando a pessoa chega a um ponto em que não consegue encontrar prazer na vida”, descreve a psicóloga Amanda Kenny, doutora em psicologia clínica e professora colaboradora da UEL. 
   Diante de um quadro multicausal, a busca por tratamento da depressão também envolve um combate por diferentes frentes. Nos casos severo a intervenção psiquiátrica é emergencial, além do acompanhamento psicológico. Há ainda pessoas que se interessam por métodos alternativos como meditação, acupuntura, além de outras práticas que alterem o estilo de vida, como hábitos e a inclusão de atividades físicas. Todas as tentativas são bem-vindas, mas o acompanhamento especializado é primordial. “Hoje, a discussão sobre saúde não permite mais segmentar. O trabalho deve ser multiprofissional com funcionamento multidisciplinar. Devemos contemplar o corpo através do físico, psicológico aspectos sociais e até espirituais”, explica Kenny.
   O tratamento basicamente feito através de remédios normalmente não funciona como uma solução. A psiquiatria tem como papel fundamental o diagnóstico e os cuidados para amenizar os sintomas. “O tratamento passa pela atenção do médico unido ao trabalho da psicoterapia. Sem essa junção, os remédios funcionam como uma anestesia para a dor e não têm a capacidade de resolver na maioria dos casos”, detalha Castro. Em casos mais graves, em que os doentes estejam correndo risco de vida, é necessária a internação. “São pouquíssimos casos. Em sua maioria o cuidado deve ser feito no seio familiar, mas, diante de alguém que está no limite, é preciso internação. Não existe um modelo de tratamento para uma doença tão complexa”, afirma Antônio Geraldo da Silva. 

          CAMPANHA DA OMS COMBATE PRECONCEITO 

   Parte fundamental do tratamento passa pelo apoio que o doente recebe das pessoas que o cercam, sejam familiares ou dos círculos sociais. Conversar é o primeiro passo para uma melhora. Esta inclusive foi a aposta da OMS (Organização Mundial da Saúde) na campanha apresentada no ano passado sobre o tema, intitulada “Depressão Vamos Conversar”. O objetivo do organismo internacional é incentivar que as pessoas procurem ajuda. O trabalho foi lançado na busca de derrubar tabus, até porque pode afetar gente de todas as idades, raças e origens. A ideia é combater frontalmente o preconceito. Apesar das informações sobre a doença serem propagadas aos quatro ventos, não é difícil encontrar quem acuse os doentes de fraqueza ou mesmo preguiça. “Vivemos numa sociedade em que tudo se torna descartável. O ideal hoje é definido em perfis de redes sociais, que tornam a convivência entre as pessoas ainda mais massacrantes e depressoras. E as pessoas têm preconceito por causa de uma psicofobia, o medo de encarar o próprio sofrimento”, opina Marcelo Castro. 
   É fundamental ainda lembrar que a depressão pode levar as pessoas ao limite e é uma das principais causas de suicídio. Ela aumenta o risco de transtornos de uso de substâncias químicas e outras doenças como diabetes e cardíacas. O oposto também é verdadeiro, o que significa que as pessoas como essas outras condições têm um maior risco de ficar deprimidas. Diante de tamanha complexidade, o princípio para a luta é a conversa. O socorro é possível com um simples oferecimento ou pedido de ajuda. (P.M.) 

          TRATAMENTO E UMA PALAVRA DE APOIO

     SAIBA ONDE ENCONTRAR AJUDA PSICOLÓGICA
UNIFIL - Rua Alagoas, 2.050, Centro - 3375-7551. Deve-se ligar para participar da triagem. As consultas custam entre R$ 9 e R#17-------------

FACULDADE PITÁGORAS  - Avenida Madre Leônia Milito, 917 - Gleba Palhano - Agendar a triagem - As custas têm valor simbólico de R$ 0,50 e R$ 5 - 3379-7329 e 99646-2307========
PUC LONDRINA - Avenida Jockey Club, 485 - Vila Hípica - 3372-6060 -  Marcar o atendimeno pelo telefone . As consultas custam R$ 15=====
UNOPAR - Rua Marselha 269 - Parque Residencial João Piza - 3371-7969 - Agendar a triagem. As consultas são gratuitas  e apenas são pedidas doações para a clínica.=============
CENTRO SOCIAL CORAÇÃO DE MARIA - Esquinas das avenidas JK e Higienópolis - 3324-4484 - As pessoas passam por triagem social. As consultas são grátis, mas é preciso comprovar a renda. 
CENTRO DE ATENDIMENTO SOCIAL ÁGAPE - Rua Luiz Dias, 393 - Vila Brasil - 3342-9008 - É preciso fazer cadastro com assistente social  e comprovar renda para obter o tratamento grátis.======================
INSTITUO DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO EM ESTUDOS E PSICOLOGIA - Rua Carlos Gomes, 35 - Jardim Petrópolis - 3029- 8001 - As pessoas passam por triagem marcada por telefone para atendimento voluntário. Apenas para quem tem renda familiar em até R$ 1 mil.================================
ASSOCIAÇÃO FLÁVIA CRISTINA - Avenida Saul Elkind 5000  - Conjunto José Giordano - 3348-8875 e 3327-4828 - Marcar a triagem por telefone. As consultas custam R$ 100...................
   Encontrar o tratamento ideal para cada caso é um trabalho hercúleo. O contado interpessoal entre o doente, o médico e o psicólogo é muito importante. Além da questão social, ainda é preciso achar o medicamento ideal e a dose correta. Todo o trabalho requer uma série de fatores que incluem paciência, disciplina e confiança por parte do doente, além da solidariedade e do apoio de quem convive. Existe o atendimento na rede púbica, assim como há oferta de tratamento psicológico gratuito. Os Caps (Centro de Atenção Psicossociais) são a referência pública para as doenças mentais. Em Londrina, as pessoas que apresentam os sintomas devem ser levadas ao Caps 3, na rua Alba Bertoleti Clivati, 186, no Conjunto Alto da Boa Vista (3378-0121). Já as crianças devem ser encaminhas para o Caps Infantil, na rua Joá, 46, na Vila Nova (3379-0739). A UEL tem sua Clínica Psicológica que, além de acompanhamento, oferece atendimento emergencial. As informações estão disponíveis nos telefones 3371-4237. A fila de espera para atendimento é grande, as últimas informações são de 800 pessoas esperando por uma consulta, mas as portas estão abertas. Não há cobrança, pede-se apenas que levem doações para ajudar no funcionamento da clínica. Somente em 2017, a clínica fez 9.220 atendimentos, sendo 7.722 individuais e 1.498 grupais. “Os atendimentos foram realizados prioritariamente por discentes de graduação, mas conta-se também com atendimento de alunos da pós-gradução, lato e stricto sensu, e colaboradores externos vinculados aos projetos de ensino, pesquisa e extensão.”, explica a diretora do serviço, a professora Maíra Bonafé Sei. Entre as principais queixas estão ansiedade/insegurança/medo (28,17%) e depressão/ melancolia (20,76%). 
    Outro apoio importante de caráter emergial é o CVV (Centro de Valorização da Vida). Atualmente o atendimento em Londrina é feito apenas pelo telefone 188, e mais informações podem ser obtidas no site www.cvv.org.br. O principal trabalho dos voluntários é ouvir quem precisa de acolhimento. Na cidade existem 37 voluntários que se revezam ao telefone e outros sete novos integrantes vão ingressar no time em janeiro. “Além do atendimento telefônico, estamos à disposição da sociedade para dar palestras e falarmos de prevenção ao suicídio. O CVV já faz o seu trabalho em Londrina há 38 anos e estamos prestes a ter uma nova sede”, explica o empresário Aparecido Carlos Beltrami, 68, responsável pela instituição na cidade. O novo imóvel deve ser cedido pela prefeitura na região da avenida Leste-Oeste. A partir da instalação, a CVV irá promover campanhas para equipar a instituição para que possa fazer atendimentos presenciais. Para marcar palestras com os voluntários, o contato é pelo e-mail londrina@cvv.org.br. “ Em 90% das ligações conseguimos que a pessoa se acalme, fale e procure uma ajuda. É gratificante fazer esse trabalho”, afirma Beltrami, ciente de que faz sua parte. (P.M). FONTE: PEDRO MORAES – Reportagem Local, FOLHA GERAL, página 8, sexta-feira, 16 de novembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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