Baixinha, gordinha, cabelos brancos parecendo flocos de algodão, olhar doce, 10 filhos, 21 netos, 16 bisnetos e está com 92 anos – disse que “está no lucro” há muito tempo. Ela é a minha querida mamãe. Seu nome Dorvalina, mas os amigos a chamam de Dorva.
Era de Cássia dos Coqueiros (SP), casou-se com o primo José Olegário e vieram para Cornélio Procópio na casa do Tio Antônio, com quem aprenderam a lidar no comércio. Seguiram depois para Sertaneja, um lugarejo sem água encanada, luz elétrica, muito pó, barro e com todos aqueles problemas de uma cidade que está começando.
Mamãe trabalhava muito. Não tinha empregada e quando ia lavar roupa, colocava o Dadá ( o Santana, taxista na Concha), eu e o Idivar amarrados naquelas cadeirinhas altas de madeira bem à sua frente, enquanto fazia o serviço em duas tábuas de bater roupa rodeadas por duas tinas de água. Tínhamos o quintal de dois terrenos para brincar. No final da tarde, colocava-nos naquelas tinas cheias de água para tirar a sujeira mais grossa de terra. Depois íamos para o banheiro terminar de tomar banho. Mais tarde, pôde ter ajudante na casa e foi trabalhar com o papai em nosso armazém de secos e molhados.
Aos 7 anos, entramos na escola sem saber nada: começamos do zero fazendo exercício motor, enchíamos páginas e páginas do caderno de “bolinhas e cobrinhas”. Também quando chegava lá por setembro, com o dedinho embaixo das palavras, meio gaguejando, já líamos para a professora as lições da cartilha Caminho Suave. A nossa mãe nos colocava ao redor da mesa grande da cozinha e nos ajudava nas tarefas escolares. Passava problemas usando os frangos, os porcos e os ovos da vovó do sítio para nós entendermos. Tomava a tabuada e a conjugação dos verbos. Contava histórias, lida gibis; quando entramos no ginásio, comprou coleções da Família do Tio Patinhas, de José de Alencar, do Machado de Assis e todos líamos. A mamãe cuidou bem de nós.
Periodicamente nos levava ao pediatra, o Dr. Nascimento, lá em Cornélio e também no seu Dito Dentista de Sertaneja. Quando um de nós fazia aniversário, era aquela festa! Uma semana antes, começava a fazer bolachas, palitinhos francês, beliscão, cajuzinhos e guardava em grandes latas. Na véspera, ela fazia as valas de coco, espichava, cortava e todos nós ajudávamos a embrulhar em papel de diversas cores. O bolo era feito pela Mitiko Nagano, a boleira de Sertaneja. Guaraná e sodinha não faltavam porque vinham da nossa fábrica de refrigerantes. Mamãe era muito dedicada à família, ajudava nosso pai lá no sítio no Mato Grosso. Dirigia caminhão, trator, ensinava meus irmãos a dirigir. Era parceira e companheira de papai em tudo.
Aqui em Londrina também foi muito ativa, fez parte do ramos das Mães de Schoenstatt, do Roupeiro de Santa Rita, Ministra da Eucaristia na Catedral , nos Sagrados Corações e Vicentina. Este ano, uns dias antes do seu aniversário, disse que gostaria que a data fosse publicada na FOLHA. Na hora, enviei um e-mail para o Militão, que foi meu diretor no Colégio São Paulo. Ele, gentilmente, atendeu. No dia, em destaque, lá estava a publicação do aniversário dela. De tão feliz que ficou, não largou o jornal o dia todo. Mamãe é assim, faz quebra-cabeças, palavras cruzadas, crochê em pano de prato, lê a FOLHA, a Veja e a Isto é. Esta é a minha querida mamãe, a Dorvalina, a Dorva para os amigos. (FONTE: Crônica escrita por IDIMÉIA DE CASTRO, leitora da FOLHA, página 2, caderno FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 24 e 25 de novembro de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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