segunda-feira, 13 de março de 2017

VOANDO MAIS ALTO

Eduardo Lyra, jornalista e fundador do Instituto Gerando Falcões


   Jovem empreendedor defende participação mais ativa da comunidade nas periferias, de forma a capacitar jovens e mudar a realidade

   O jovem Eduardo Lyra cresceu dentro de um barraco, em uma favela em Guarulhos, São Paulo. Viu o pai ir para uma penitenciária após se envolver em crimes, mas recebeu todo o apoio da mãe, que o inspirava a sonhar. Ele sonhou, e realizou. Se formou em jornalismo, escreveu o livro Jovens Falcões, que conta a história de outros jovens que como ele foram muito além do que a sociedade esperava. Também participou do roteiro do filme “Na Quebrada” e aos 22 anos fundou o Instituto Gerando Falcões, que tem por objetivo causar transformação social e mudar a realidade das periferias. 
   A ONG foi institucionalizada em 25 de junho de 2013 e já no primeiro ano recebeu financiamento do Instituto PDR, que profissionaliza projetos de entidades com potencial de gerar alto impacto social. Com o recurso, a organização conseguiu implantar sete projetos socioeducativos, que atingem mais de 100 mil jovens por ano. 
   Sediado em Poá, na Grande São Paulo, o Instituto trabalha com esporte, cultura e capacitação profissional. Segundo Lyra, atualmente são atendidas mais de mil famílias, com apoio de grandes empresas como Motorola, Microsoft, Vul e Guaraná Antártica. “Nascemos sem chance de sucesso. Mas acreditamos. Nosso projeto já empregou dezenas de ex-presidiários no mercado de trabalho. Temos fortalecido e capacitado centenas de empreendedores da nossa comunidade. E nossas crianças têm opções, como fazer aulas de dança têns, coral, boxe, skate e até mesmo aprender a fazer aplicativos, animação em 3D e, futuramente, ser o novo Bill Gates”, pontua. 
   Lyra foi selecionado pelo Fórum Econômico Mundial como 1 dos 15 jovens brasileiros que podem mudar o mundo, fazendo parte do Global Shapers. Saiu na Lista da revista Forbes Brasil entre os 30 jovens mais influentes do País, com menos de 30 anos. Recebeu o prêmio Jovem Empreendedor do ano pela LIDE e foi eleito Paulistano Nota 10 pela revista Veja, além de ter sido escolhido um dos “Rebeldes com Causa” , pela grife Reserva. 
   Ele esteve em Londrina nessa semana, à convite do Instituto Bom Aluno, para a palestra “Atitudes que Transformam Destinos”. Para ele, só falar não basta, é preciso “pôr a mão na massa”. “Todo mundo tem uma opinião sobre como melhorar a educação, sobre o que as pessoas devem fazer para vencer, mas poucas realmente estão agregando com tempo, valor e participação”, aponta. 

   Na sua opinião, a educação hoje no Brasil possibilita aos nossos jovens pensarem que um dia podem chegar a ser o que eles sonham?
   Vou dar um exemplo prático! Boa parte da população carcerária do País em algum momento já esteve na escola. No entanto, nosso modelo de ensino não é capaz de fazer nossos jovens sonharem em ser arquitetos, juízes ou presidentes de grandes empresas. Pelo contrário, muitos viram presidentes de quadrilhas, liderança do tráfico. Mas o Estado tem culpa também, porque não foi capaz de encantar, orientar e capacitar. 

   Qual a principal mudança a ser feita no sistema educacional brasileiro?
   Quase tudo no mundo mudou, desde o último século – menos a sala de aula. Mas além disso, a educação precisa ter metas ousadas estabelecidas, um modelo de acompanhamento e cobrança rigorosos. E quem chega lá, dentro do seu contexto e realidade, precisa ser recompensado. Precisamos também valorizar o mérito – dentro do seu contexto de dificuldade.

   Entre todos os fatores que contribuíram para a sua evolução, qual foi realmente o fator decisivo para você se tornar a pessoa que é hoje?
   O apoio da minha mãe, Maria Gorete, que me dizia dentro da favela: “não importa de onde você vem, mas pra onde você vai”. Outros líderes da comunidade, como o professor Ricardo, que implantou um projeto social na comunidade com esporte e me ajudou a desenvolver liderança, trabalho em grupo e sede de vitória. O exemplo do meu pai, que num dado momento da vida ingressou no crime. Ali eu tinha o exemplo do que não poderia ser. E na mudança de vida dele, eu vi o quanto as pessoas podem mudar. Eu vi o tamanho da força do espírito humano. E por último, eu adoro ser determinado. Ir atrás de coisas difíceis. Por exemplo, eu não falava inglês. O empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann me desafiou a aprender e me deu uma bolsa para fazer um curso de verão em Harvard. Eu vou em junho. Peguei isso como desafio e vou. Adoro essas coisas. 

   Como falar para uma criança que vive em uma favela brasileira, hoje, que ela também pode chegar lá?
   Só falar não basta. O Jorge Paulo me disse que eu poderia ir para Harvard, mas me apoiou com uma bolsa de estudo. Apenas discurso não basta. A sociedade precisa invadir as favelas, periferias, escolas, ONGs e levar inteligência trabalho voluntário, doar recursos. Caso contrário, a história de desigualdade só vai repetir! Todo mundo tem uma opinião sobre como melhorar a educação, sobre o que as pessoas devem fazer para vencer, mas poucas realmente estão agregando com tempo, valor e participação. Teoria não muda o mundo. Mão na massa muda. 

   Como a família pode ajudar nesse processo de formar novos “falcões”, considerando que muitas vezes ela é completamente disfuncional e também cheia de problemas?
   Existem famílias disfuncionais na favela e também na elite. Os filhos da elite também usam droga, têm depressão e desânimo. Lares arruinados. Estou dizendo isso só para gente criar o equilíbrio. O que eu acho é que nossa solução é quando a elite e a periferia forem capazes de andar juntas. Quando tivermos a coragem de interagir. Menos muros e mais pobres. Juntos somos capazes de encontrar soluções para os nossos problemas. Se você que está lendo esta entrevista nunca tiver levado seu filho a uma comunidade, não conhecer o outro lado da moeda, tem um problema social muito sério com você. Eu tenho feito palestras para muitas famílias da elite do País e lá eu tenho dito: “Vá mochilar na periferia”. Além disso, o que a periferia precisa não é de mais policiais e armas, precisamos de mais cabeças encontrando soluções inteligentes para capacitação de jovens, para o problema da habitação e do saneamento básico, para a transformação da educação. As escolas das comunidades precisam ser encantadoras, ao ponto de serem chamadas de Disneyperiferia. Ao ponto de viciar o aluno, num vício que salva. É isso que tentávamos fazer no Gerando Falcões. 

   De quais outras formas o Estado pode contribuir para que os jovens alcancem os seus sonhos, além de propiciar educação de qualidade?
   Vou te dar um exemplo. No Gerando Falcões, ONG que fundei na periferia, atendemos uma comunidade chamada Beverlehills, que fica em São Paulo. Quando você entra lá percebe que o Estado não está lá. É uma comunidade autogerenciada. Não tem saneamento, escola, creche, posto de saúde. Nem mesmo o Sabesp (companhia de saneamento básico de São Paulo). Nada. O que é isso? O Estado abandonou aquele espaço. É um problema histórico. O Estado precisa liderar. E liderança é ter a ousadia de assumir o seu papel social. 

   E como a sociedade pode contribuir?
   No Gerando Falcões a sociedade ajuda de algumas formas: como voluntários me apoiando na resolução de problemas da comunidade. Também doando recursos ou engajando suas empresas como patrocinadores. Tenho o exemplo de um amigo chamado Josmar Machado, ele é COO da Niteo, uma empresa de tecnologia, tem muitas responsabilidades, mas, semanalmente, ele doa quatro horas do seu tempo. Participa de reuniões, cria modelo de gestão para o Geraldo Falcões, me ajuda a elaborar estratégias e põe a mão na massa. Ele é um exemplo. 

   Quantas crianças e jovens são/foram atendidas pelo Instituto Geraldo Falcões? De onde vem os recursos atualmente para o Instituto?
   O Gerando Facões tem foco na educação! Trabalhamos com esporte, cultura e capacitação profissional. Atendemos mais de mil famílias. Temos mais de 40 colaboradores e somos auditados pela KPMG. Ao longo do tempo, conseguimos engajar marcas como Motorola, Microsoft, Vult e Guaraná Antártica. Nascemos sem chance de sucesso. Mas acreditamos. Nosso projeto já empregou dezenas de ex-presidiários no mercado de trabalho. Temos fortalecido e capacitado centenas de empreendedores da nossa comunidade. E nossas crianças têm opções, como fazer aula de dança, tênis, coral, boxe, skate ou até mesmo aprender a fazer aplicativos, animação em 3D e, futuramente ser o novo Bill Gates. (ÉRIKA GONÇALVES – REEPORTAGEM LOCAL, página 3, FOLHA ENTREVISTA, CIDADANIA, 11 e 12 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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