Miscelânea de temas estará distribuída entre oito tramas interligadas, com vários protagonistas, de Belém ao Rio
Início do folhetim ainda mostrará encontro místico de crianças com os índios da tribo ashaninka. No Acre
Ao som do carimbo da banda Curió, de Manaus (AM), mais de cem figurantes, entre dançarinos profissionais e moradores da Vila Acajatuba, dançam descalços com o pé na terra em uma festa armada ao redor da igrejinha de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que recebeu pintura e decoração nova para a novela.
O ator Marco Pigossi é Zeca, caminhoneiro que sofre com a incontrolável namorada Rita (Isis Valverde), e atravessa a festa atravessa a festa atrás de sua paixão.
Quando os dois se encontram, emendam uma sequência de dança por alguns minutos. O diretor dá OK para o material gravado e a coreógrafa comemora o desempenho dos atores, que fizeram várias aulas de dança regional.
“Acho que foi a cena mais difícil da novela até agora”, brinca Pigossi, sem fôlego.
“Fiquei tão feliz quando soube que a Glória falaria do norte do Brasil. Porque nós temos tanto folclore, tantas fábulas, e não sabemos fazer fábulas de nós mesmos, diz Pigossi à Folha, num camarim improvisado numa casinha de madeira. “Brasileiro tem síndrome de vira-lata, adora ir buscar fora histórias para contar. E não precisa.”
Entre outros regionalismos, “A Força de Querer” também falará da devoção à Nossa Senhora de Nazaré, com festas como a do Ciro de Nazaré, e mostrará um pouco dos costumes da tribo ashaninka, no Acre.
No início da novela, os dois personagens principais (Fiuk e Pigossi), ainda crianças, serão salvos por um índio que lhes entregará uma espécie de amuleto. Esse encontro “místico” permeará a trama.
Com estreia prevista para 3 de abril, a novela, segundo o diretor Rogério Gomes, falará de como as pessoas seguem buscando sonhos e desejos independentemente do que seja contra eles.
A autora pretende tratar dos limites éticos e morais que permeiam as escolhas.
Na miscelânea de assuntos do folhetim, ela falará de assuntos contemporâneos, uma de suas características.
Entre os temas que aparecerão estão segurança pública, tráfico e a questão de gênero, com uma personagem transexual.
“A Glória faz novela sem ter vergonha de fazer novela Respeita o gênero”, diz Gomes.
A novela terá oito tramas que se interligarão, com vários protagonistas (além de Ísis e Pigossi, Juliana Paes, Rodrigo Lombardi, Paolla Oliveira, Emílio Dantas, Bruna Linzmeyer e Fiuk).
Para o diretor, se a história tem qualidade, o público acredita no que vê, independentemente da fantasia proposta pelo autor. “Quando a novela é boa, você não precisa ir gravar em Belém, em lugar algum. O público acredita no que está vendo e vai.” (A jornalista LÍGIA MESQUITA viajou a convite da Globo).
‘ELA É UMA SEREIA E PONTO’, DIZ ISIS SOBRE PERSONAGEM
Ìsis Valverde para de falar e respira. Tira da bolsa seu celular com uma capa com desenho de sereia. “Como acreditar? Olha isso, vou te mostrar”, diz, respondendo à pergunta da Folha sobre como dar veracidade à fábula de que sua personagem em “A Força do Querer” é filha de um boto.
Ela aperta o “play” do vídeo. Com uma música ao fundo, mostra à reportagem as imagens em que mergulha com uma cauda de mais de 30 kg em um tanque com um peixe-boi. “É assim, olha. Ela é uma sereia.”
Para viver a personagem que em um determinado momento trabalhará em um aquário e nadará com cauda de sereia, a atriz fez aulas de apneia, o mergulho livre, durante três meses. E aprendeu a mergulhar com a cauda de silicone. Hoje, fica quatro minutos submersa, sem respirar. “O segredo é ter calma. Comecei a fazer ioga também. Se não tiver calma não dá para ficar debaixo d’água.”
Ísis, que visitou pela primeira vez o Pará e o Amazonas para as gravações da novela, falou à Folha durante um intervalo de gravação.
Folha – Rita acredita ser uma sereia mesmo ou é adepta do sereísmo [um movimento de pessoas que se vestem de sereia]?
Ísis Valverde – Ela acredita que é uma sereia. E eu também. Ela só não tem uma cauda ali o tempo todo.
E o que seria ser uma sereia?
Ela é uma menina livre, que age de acordo com os impulsos de sereia dentro dela. A sereia é o quê? É um animal selvagem, uma força da natureza, como o leão. O leao leoneia, a tartaruga tartarugueia, o pássaro passareia e a sereia sereia, vai sereiando. As pessoas vão se encantando com ela, até as mulheres. Ela causa encantamento. Entra no rio com roupa, nada com boto, tem jeito próprio de ser, distinto de quem mora ali. Mas é sem malícia, o que é o mais difícil. Ela não tem conhecimento do que é bom ou ruim.
Qual mensagem que ela irá levar. A Glória te falou?
Ela é uma força da natureza, tem uma energia livre de moral, de regras, e isso tem um impacto na vida das pessoas que cruzam com ela. Entra na vida das pessoas, sem amarras, uns se jogam, outros fogem. Ela é capaz de amar várias pessoas, é um coração livre. Ela lida com as situações de maneira anormal porque não é humana.
Você estudou o sereísmo?
Li, falei com adeptas, mas a Rita não é do sereísmo. Ela não tem essa noção de se preocupar em cuidar do mar, de comprar uma cauda. Essas pessoas emulam as sereias. Ritinha é uma sereia e ponto. ( DA ENVIADA A VILA DE ACAIATUBA (AM), página C3, FOLHA ILUSTRADA, domingo, 12 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE S.PAULO).
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