domingo, 5 de março de 2017

CONTRA A TENDÊNCIA DA URBANIZAÇÃO

 
O casal Lívia Trevisan e Samuel Cambefort com a filha Myla, de 3 anos: investindo no mercado de leite e queijos orgânicos


   Família de chefe de cozinha troca emprego na França por projeto de laticínio de leite orgânico em sítio em Jaguapitã. Mgração da cidade para o campo ganha adeptos no Paraná


   A chef de cozinha londrinense Lívia Trevisan e o marido Samuel Cambefort, ex-gerente comercial de uma empresa de informática, resolveram no ano passado que era momento de trocar os empregos na cidade francesa de Montpellier pela vida no campo, em Jatuapitã, a 55 km de Londrina. Com o nascimento da filha Myla, hoje com 3 anos, eles decidiram que era hora de buscar qualidade de vida e viram na Estância Baobá, do pai de Lívia, a chance de começar um laticínio orgânico e de ganhar a vida de forma sustentável. 
   O exemplo do casal não é único. Pesquisadores e agentes de extensão rural dizem que, por mais que não seja o bastante para reverter a tendência de urbanização, tem se tornado comum a migração da cidade para o campo em busca de qualidade de vida e renda, com maior destaque para o Paraná. 
   Nem sempre, como no caso de Lívia, trata-se de um retorno ao campo. Por mais que o pai dela tenha propriedades em Tamarana em Jaguapitã, ela passou 15 aos na Europa estudando hotelaria e trabalhando como chef. Cambefort dividiu uma república com agrônomos, em uma chácara dento de Montpellier, mas sempre teve o trabalho no setor comercial como ganha-pão.
   Lívia conta que decidiu voltar ao Brasil em 2012, quando retornava de uma visita à família com Cambefort. Na ocasião, ela estudava tecnologia de alimentos e teria de buscar emprego em multinacionais, o que significava mudar de Montpellier. “Disse, ‘quero uma vida mais tranquila, mais natureza’, e foram surgindo ideias, como abrir uma pousada no Nordeste, até que meu pai me ofereceu o sítio, que estava parado”, conta ela, que hoje está grávida de seis meses. 
   Em contato com uma consultora, pensaram em um projeto com carneiro de corte, que foi abortado quando tiveram mais informações sobre a realidade de baixo consumo e falta de matadouros na região. “Tínhamos as vacas porque queríamos ter um sistema sustentável, produzindo um pouco de cada, e comecei a fazer doce de leite e queijos, a vender para os amigos, e a aceitação foi muito boa”, conta Lívia. 
   Era a chance de unir a profissão que exerceu na Europa e o gosto pessoal por queijos. “Vi, que no Brasil, o mercado de leite orgânico e queijo orgânico está nascendo”, completa a ex-chef. Fiz então cursos para produção de queijos maturados e de variedades diferentes, em Ponta Grossa, e saiu em busca de financiamentos para comprar mais vacas, terminar a reforma do pasto e as melhorias para ter uma certificação de orgânicos, além de construir um laticínio.
   Foi aí que o negócio emperrou. “Começamos a pedir o financiamento em Londrina, mas vimos que as pessoas são mais competentes para ensinar a fazer investimentos. No entanto, para o agronegócio pequeno, não”, afirma Cambefort. Por um ano, o projeto ficou em um vai-e-vem, entre pedidos de mais documentos e busca por informações. 
   “Quando o financiamento estava pronto, a linha que conseguimos acabou. Ficamos em outra linha e, quando ficou pronto, deu errado de novo. Fomos para Jaguapitã, no Banco do Brasil, e encontramos uma pessoa que tem hábito de mexer com isso. Passados um mês, a progressão é maior que um ano em Londrina, conta o francês. 
   Dificuldades que não desanimaram o casal, que segue em viagens em busca de contatos e faz vendas de produtos em feiras. O campo, para eles, é um destino sem volta. “O bom de esperar o financiamento é que agora sabemos que o mercado aceita o produto”, diz Cambedort. “Já começamos a divulgar em Londrina e vai ser mais fácil para chegar em uma loja e negociar”, completa. 






FEIRAS SÃO O PRIMEIRO PASSO 

Enquanto o laticínio não fica pronto, Lívia Trevisan vende seus produtos em feiras em Londrina: doces de leite e queijos especiai

   Enquanto o laticínio não fica pronto, o casal Lívia Trevisam e Samuel Cambefort vende uma variedade de queijos frescos, de massa cozida, doces de leite e um licor de jabuticaba, em feiras de independentes em Londrina. Os dois se aliaram a coletivos como o Bazar Burburinho e o Bazar Ciranda, além da Rede Ecovida, que reúne produtores orgânicos para cursos, eventos e troca de informações. 
   Lívia diz que todos os produtos são feitos de leite integral, sem aditivos químicos, sem uso de antibióticos e somente com homeopatia para prevenção nas vacas. “Fazemos requeijão de corte, que é uma receita da minha bisavó, coalhada seca com zatar, creme de ricota temperado, queijo cottage, queijo boursin, que é uma receita de queijo de cabra francês que fiz com o de vaca, e que tem três tipos de temperos”, conta. 
   Entre os doces de leite, há o tradicional, o com flor de sal, o com fava de baunilha de Madagascar e o com fava de camaru. As sobremesas, ovos caipiras e um queijo frescal também são entreuges , sob encomendas para o projeto Cestas às Quartas-Feiras, do casal Gustavo Reis e Daiana Vetter, que Lívia conheceu pela Rede Ecovida. Por fim, ele vende ovos caipiras para intermediários. 
   “Queremos fazer queijo de leite de cabra e de ovelha, além de queijos com mais maturação, mais fortes, que precisam de câmara fria para equilíbrio entre temperatura e umidade”, diz Lívia. 
   Cambefort lembra que o leite de cabra e de ovelha não tem lactose, o que representa um grande mercado no Brasil. “Venho da Franca e, é incrível, nunca vi isso de tanta gente com intolerância ao leite de vaca”, diz. “É um grande mercado e, se você tem intolerância à lactose, não pode deixar de comer coisa boa, um bom queijo, um bom vinho, e nós vamos ajudar você”, brinca. (EG)

   ORGÂNICOS COMO PORTA DE ENTRADA 

   Até 2016, Gustavo Henrique Naves Reis, trabalhou com aretesanato, em um pousada e estudava Ciências Sociais na Universidade Estadual de Londrina (UEL), mas não completou o curso. Ele afirma então que decidiu investir na produção de alimentos orgânicos na chácara São José, em Guaravera, que pertencia ao pai, como profissão. “Pensei na necessidade de me alimentar bem e de fazer uma coisa com que pudesse me sustentar, porque o mercado de trabalho estava complicado.”
   O interesse veio de uma horta que o pai mantinha em casa. “Queria me alimentar de forma saudável e meu pai veio do sítio, então eu tinha um pouco de conhecimento e contei com a ajuda dele, de livros, palestras, cursos e jornadas de agroecologia”, diz. 
   Foram três anos em que precisou adaptar o estilo de vida aos ganhos com o trabalho rural, mas hoje, ao lado da esposa Daian Vetter, afirma que consegue viver bem e feliz com o trabalho. “A família se encaixou bem e queremos continuar, porque as pessoas estão começando a dar a devida importância aos orgânicos”, conta Reis. 
   Ele faz a venda direta pelo projeto Cestas às Quartas-feiras e está presente em feiras de produtores em Londrina, como a de sábado, na Vila Brasil, e de domingo, ao lado do Museu Histórico de Londrina. “Quem quiser encomendar cestas, pode me procurar lá.”

   BIÓLOGA NO CAMPO

   Formada em biologia e com mestrado em ecologia vegetal, Gabriela Oliveira Scolari, afirma que nunca havia trabalhado no campo até 2013, mesmo com a atuação da família no meio. “Busquei qualidade de vida e quis passar bons valores para os meus filhos, de 5 anos, e de 3 meses, além de tirar meu sustento do campo”, explica. 
   Ela pegou 2,5 hectares da área de 290 hectares da Fazenda Santa Rosa, do pai dela, para começar a plantar orgânicos por meio da sintropia, modelo que associa cultivos agrícolas e florestais com alta produtividade, sem insumos externos e somente com processos próprios da natureza. Apesar de patinar no início, ela afirma que começou a colher os resultados nos últimos seis meses. O que fez com que o marido dela, Eduardo Carriça dos Santos, largasse a atuação de dez anos como designer gráfico para trabalhar junto a ela. 
   Com a produção em somente 3 mil metros quadrados, ou pouco menos de um terço de hectare, o casal tira até R$ 6 mil líquidos hoje, somente com a entrega direta de cestas e a venda em feiras. “Ainda temos um bom espaço com árovores frutíferas, que são novas e não produzem”, conta. (EG). (FÁBIO GALLOTO – REPORTAGEM LOCAL, páginas 4 e 5, caderno FOLHA RURAL, 18 e 19 de fevereiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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