sábado, 9 de julho de 2016

ADAPTAÇÃO NÃO É ACOMODAÇÃO


   Precisamos olhar para os novos tempos com vontade de aprender mais e sempre. Essa é a verdadeira mudança. 

   ERA JANEIRO em Londres. O frio cortava, mas o dia estava bem ensolarado, combinação que costuma facilitar a vida dos turistas. Inclusive a minha, que sou quase íntimo da cidade, pois lá tenho família. É onde mora minha filha Melissa, que foi estudar e se radicou, e a minha neta Isabel, princesa que lá nasceu. Apesar disso, tenho comportamento de primeira viagem, pois a cidade costuma me surpreender.
   Naquele dia o programa era básico: visitar a Abadia de Westminster, a imponente catedral gótica, às margens do Tâmisa. Os séculos se passaram e a abadia sofreu incontáveis reformas e ampliações, foi o palco da coroação de reis e rainhas e, obedecendo a um rito anglicano, tornou-se mausoléu de importantes súditos que fizeram por merecer essa morada eterna. Westminster comporta cerca de 3 mil túmulos, que podem ser vistos, tocados, e até pisados, uma vez que muitos se espalham pelo chão dos corredores. 
   Eu não sou um necroturista, mas queria experimentar uma vez a sensação de estar perto de Newton, Dickens, Laurence Olivier e, principalmente, Charles Darwin. Todos fazem parte de meu panteão de heróis intelectuais, mas Darwin ocupa um lugar de destaque. Ele me impressionou no colégio e influenciou minhas escolhas, como ter estudado medicina, e ter sido professor de biologia por mais de 25 anos. Tinha planos de visitar sua casa, a Down House, em Kent, mas ela fecha em janeiro para reparos. Bad Luck ... Ir a Westminster era uma espécie de consolo. Belo consolo, aliás.
   No local, um fato curioso. Você olha para o túmulo de Newton ao mesmo tempo em que está parado sobre o de Darwin. Impossível não sentir uma emoção contida. Dois gigantes da ciência, tão próximos. Não há como admirar esses homens que, com os poucos recursos disponíveis na época, criaram teorias que se comprovaram pela observação e experimentação , e que viraram marcos da inteligência humana.
   Em minha formação, intelectual, entretanto, Darwin foi mais forte. Ele está para a biologia assim como Newton está para a física, só que sua teoria ultrapassou as fronteiras da ciência que a gerou. Quando nos referimos a Newton, costumamos dizer “Leis de Newton”. Quando nos referimos a Darwin, usamos a expressão Darwinismo. Não há um Newtonismo. Por quê? Porque a abrangência de Darwin é maior, saiu da biologia, e pode ser percebida em muitas outras áreas, como na economia, na tecnologia e no conhecimento em si mesmo. 
   Estou certo que você, que está lendo este texto, sabe quem foi Charles Darwin e reconhece sua influência sobre o pensamento moderno. Você o estudou no colégio, como eu. Caiu na prova, lembra? Como também estou certo que sabe pouco sobre a teoria do evolucionismo, pelo fato de que Darwin é mais conhecido por aquilo que nunca disse. Ele nunca afirmou, para começar, que o homem descende do macaco. Isso foi dito por seus detratores. Segundo ele, teríamos evoluído a partir de um ancestral comum, em uma linha evolucionária própria, o que é totalmente diferente. 
   Darwin também não negou a intenção divina, apenas explicou que havia fortíssimas evidências de que seríamos resultado de um longo processo evolucionário baseado na seleção natural. Ele também nunca salientou o tamanho ou a força como determinantes da seleção. O que ele disse foi que, na luta pela sobrevivência, venceu o que tinha mais aptidão. Apenas isso. 
   Entenda-se por aptidão a capacidade de obter alimento. A qualidade da relação do indivíduo com seu ecossistema determina sua sobrevivência e a perpetuação da espécie. Nada mais lógico, pensando bem. Aptidão – esta é a primeira palavra essencial para se compreender o darwinismo. A segunda é adaptação. 
   Como o ecossistema está em permanente mudança, seus habitantes terão que acostumar com isso e, de certa forma, mudar também para continuar vivendo ali. Terão que se adaptar, então. Adaptação é a capacidade de o indivíduo manter – ou recuperar – a aptidão, apesar da mudança do meio ambiente. Os adaptados sobrevivem, se reproduzem e se perenizam. Os não adaptados não conseguem competir pelo espaço e pelo alimento, diminuem sua taxa de reprodução e terminam, com o tempo, por desaparecer. 
   Interessante essa lógica darwiniana. Uma espécie nunca é exterminada por outra. O que a fulmina é sua incapacidade adaptativa. E o homem atual nisso tudo? Viver na sociedade contemporânea é um ato darwiniano? Sim e não. Longe de mim defender o darwinismo social. Spencer fez isso e foi criticado, com justa razão, pelo simples fato de ter esquecido que possuímos qualidades inexistentes nos bichos. A compaixão, por exemplo, nos estimula a proteger os menos aptos à sobrevivência. Não, não somos orientados puramente pelo darwinismo em nossa evolução social. Apenas o fomos enquanto espécie. 
   Entretanto, há um lado do pensamento do inglês sobre o qual precisamos prestar atenção total – a tal adaptação. Em um mundo cuja principal característica é a velocidade da mudança, quem não a percebe e não a compreende perde a qualidade de viver em harmonia com seu espaço. Uma empresa, por exemplo, é um organismo vivo que habita um ecossistema chamado mercado, e que está em constante transformação. Clientes mudam, tornam-se mais exigentes, concorrentes ficam mais competitivos novas tecnologias surgem, solavancos na economia e na política. Mudanças que exigem adaptação permanente. 
O mesmo vale para nossas carreiras. Difícil manter a performance profissional se não estivermos estudando, aperfeiçoando o que fazemos, nos transformando. Quase impossível viver sem o auxílio das tecnologias modernas. Não é dependência, sim ao uso racional e produtivo. Adaptação em estado puro. 
   Mas, cuidado, adaptação não é acomodação. Alguém acomodado apenas aceita as coisas como são, a vida como chega. O adaptado interage, entende, muda, mas não se acomoda. A adaptação ativa é protagonista, atuante. É a maravilhosa capacidade humana de acreditar e de mudar para melhor. Que nosso pacto com a evolução, principalmente da consciência, nunca tenha fim, antes, seja sempre um novo começo. (EUGÊNIO MUSSAK escreve para VIDA SIMPLES desde sua orgem, e diz que evoluiu, mas não se acomoda jamais. Páginas 48 e 49, Pensando Bem, REVISTA SIMPLES, Edição 167, FEVEREIRO 2016, IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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