quarta-feira, 16 de setembro de 2015

BRAÇOS LONGOS PARA OS ADEUSES




   Me apaixonei pela primeira vez aos nove anos. Juliana tinha os cabelos amarelinhos e os olhos esbugalhados,  pretos feito o breu. Anos mais tarde, por crueldade da memória visual, voltei a me apaixonar por olhos assim. Juliana não foi minha primeira namorada, mas foi minha primeira paixão.
   Penso que as paixões mais sinceras ocorrem entre os seis e dez anos. É quando não nos preocupamos em sermos felizes, e por isso somos sem saber.
   Quando eu tinha treze anos, conheci Gislaine. Achava o nome dela feio, mas os cabelos eram lindos. Tinha uma beleza de princesa de histórias encantadas. Lembro que a conquistei com balas de morango que comprava no recreio. Um dia ela preferiu as de mentade um outro amoriscado. Jamais a perdoei por isso. Nunca nos beijamos, não foi necessário.
   Aos dezesseis anos meu mundo pontacabeceou  - perdoe o neologismo. É  que só um verbo pode representar tanta ação. Bruna tinha ascendência italiana. Brigávamos o dia todo, até nos reconciliarmos quando o sol se punha. Eu a chamava de boneca. Amor sem breguice é qualquer outra coisa menos amor. Descobri isso com Fernando Pessoa.
   Bruna era (é?) a garota mais bela que eu já havia visto. Disse “amo” uma vez na vida. Foi para ela. Era maio de dois mil e oito.
   Dizem – e acho que há algo de verídico nisso – que as paixões mais intensas aparecem na adolescência. Talvez porque nela tenhamos que ancorar um navio no espaço. É o tempo do superlativo, o nascimento da hipérbole. É muito “ÃO” e pouco “inho”.
   Perto dos dezenove, encontrei Emily. Não tinha mais a ingenuidade da infância, nem a intensidade da adolescência. (Acho que todo mundo sente um pouco isso quando os  vinte se aproximam. É como se tentássemos repetir, sem sucesso, a leveza dos 10 e a  vivacidade dos 15). Mas Emily tinha uma vantagem sobre todas as outras, “Tocava”, “Tempo perdido no violão, num tempo em que Renato Russo era tão sagrado para mim quanto tos Beatles eram pro meu pai.
   Não me apaixonei por ela, mas aquele solo perfeito nos fez namorar por 42 dias.
   De lá pra cá, devo ter me despedido mais umas duas vezes. E é provável que me despeça mais, até chegar o dia em que despedir não seja mais sinônimo de adeus, mas de até breve , até o jantar, até amanhã, até domingo. Essa vida é uma eterna despedida de tudo aquilo que a gente ama, diria Vitor Hugo.
   Mas o que a memória ama, fica eterno, responderia Adélia Prado, Te amo com a memória, imperecível. ( DIEGO DE MORAES, estudante de jornalismo e professor de português em Londrina, página 3, FOLHA 2, espaço CRÔNICAS, quarta-feira. 16 de setembro de 2015, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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