sábado, 2 de maio de 2015

O ESPADA




   Desde pequeno fui acostumado a lidar com os bichos, pois em minha casa havia criação de galinhas, coelhos, patos, pombas, além de vacas e porcos. Algum tempo atrás as atividades de pesca e caça eram  bastante comum no dia a dia das pessoas, sempre com o intuito de alimentar as famílias, geralmente numerosas. Além de peixes, era costume de meus parentes e vizinhos trazerem caças ( perdizes, lebres, catetos e tatus) par fazer parte do cardápio.
   Os animais domésticos eram os gatos e cachorros, que viviam soltos pelos quintais. Os cachorros se tornavam íntimos, cúmplices de nosso cotidiano. Foi assim com o Fox  paulistinha chamado Banzé, com o perdigueiro de nome Companheiro e e o vira-latas Tango. Lembro quando meu pai chegou em casa e tirou o Banzé, ainda filhote, do bolso do casaco,colocando-o numa caixa de sapatos para se aquecer embaixo do fogão à lenha. Naquela noite,  demorei para dormir, entusiasmado com a chegado do novo membro da família.
   Igualmente aos homens daquela época, os divertimentos do  meu pai eram as carreiras de cavalo e as rinhas de galo. Em algumas épocas do ano ele ia assistir corridas de cavalo em localidades do interior e eu costumava acompanhá-lo nessas incursões. As corridas se davam aos sábados e domingos e consistiam num grande acontecimento daqueles vilarejos. As carreiras aconteciam em canchas retas, raias de terra, onde competiam dois ou três cavalos (geralmente crioulos, animais de trabalho) numa distância de 200 metros a 400 metros, sob a gritaria e apostas de um grande público. As apostas envolviam dinheiro, lotes de terra, máquinas e produtos agrícolas, relógios, jóias, armas e animais
   Numa dessas carreiras voltamos para casa trazendo um galo de briga, bem novo, quase um frangote. Como ficava aprumado, altivo, sempre com a cabeça erguida, meu pai deu a ele o nome de Espada, me incumbindo de tratá-lo e levá-lo para adestramento na casa de um de nossos vizinhos, onde havia criação desses animais.
   Perto de casa havia algumas vendas, onde os homens passavam os finais de tarde conversando e jogando bocha:  Apesar de ter sido preparado para brigar, Espada não participava de rinhas, pois o prazer de meu consistia em levá-lo nas vendas, onde eu o apresentava aos fregueses e fazia alguns exercícios com ele, como bater asas, correr e pular, deixando aqueles homens simples encantados com suas proezas.
   Meu pai ficava feliz ao ver os comentários sobre sua beleza, pois como autêntico galo índio o Espada  era muito bonito, devido às cores de suas penas vermelhas, pretas e brancas, além de tons de dourado e prateado.
   Acostumados à  cultura das carreiras e rinhas, os homens faziam ofertas pelo galo e nesse momento meu pai ficava pensativo e olhava na minha direção dizendo que nunca o venderíamos, pois era um bicho de estimação. Isso durou uns dois anos, até que numa noite de inverno o galo foi roubado do quintal de casa, certamente levado por alguém que conhecia suas qualidades. Depois daquele dia não mais se ouviu seu canto ao amanhecer e meu pai deixou de  frequentar  rinhas, alegando desgosto pelo ocorrido.
   Alguns meses depois eu reconheci o Espada lutando bravamente  no tambor de um rinhadeiro, debaixo dos gritos e apostas daqueles mesmos homens rudes que anteriormente haviam se emocionado nas vendas. Entristecido, não consegui ficar no local para ver o final da disputa, pois se dependesse de meu pai e de mim, o  Espada não deveria viver ou morrer brigando. ( Texto escrito por GERSON ANTONIO MELATTI, leitor do caderno  FOLHA RURAL, extraído do espaço DEDO DE PROSA, publicação do jornal  FOLHA DE LONDRINA, sábado, 2 de maio de 2015).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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