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| Maria Santa Barison Pieroli : receitas dos tempos das avós |
Produtores de Londrina comercializam mercadorias em um box instalado no Mercado Shangri-lá
Cerca de 70% da comida que chega às mesas das famílias brasileiras é oriunda da agricultura familiar. Em Londrina, são quase três mil estabelecimentos rurais que se enquadram nesse perfil. São produtores como Maria Santa Barison Pieroli, de 63 anos, do sítio Ouro Fino, no distrito de São Luíz (zona sul). A história de sua família com a produção rural remonta ao período áureo do café. “Meus pais tinham acabado de casar quando vieram de Minas Gerais na década de 1940 e começaram trabalhando nas lavouras de café. Meu pai conta que os dos não tinham dinheiro sequer para tirar as malas da estação. Com o tempo compraram um sítio de cinco alqueires em São Luiz e aos poucos foram aumentando essa propriedade”, relata.
Maria Santa conta que o café era a cultura da vida dele. “Depois da geada negra, ele arrancou e plantou tudo de novo. Agora a gente diversificou um pouco. Plantamos milho, soja, frutas e até hoje tem um pouco de café ali. Temos também gado de corte e gado leiteiro”, ressalta. “Há dez anos eu e minha cunhada fazemos geleias e licores com as frutas da época, porque elas estragam muito rápido. Também começamos a fazer biscoitos”, informa. Além das frutas, com o leite produzido no sítio ela faz os biscoitos de nata e os doces de leite.
A produtora conta que as receitas vêm do tempo de suas avós. O biscoitinho de pinga e o doce de leite, por exemplo, aprendeu com as avós Maria de Lázaro e Palmira Barison. “Eu era pequena e sempre via minha mãe e minhas avós fazendo alguma coisa na cozinha. A gente sente feliz em continua esse legado e isso não pode acabar”, argumenta.
Maria Santa ressalta que havia uma dificuldade para colocar esses produtos no mercado diretamente para o consumidor. Na última sexta-feira (25) foi inaugurado o Espaço da Agroindústria Familiar, localizado no box 33 do Mercado Municipal Shangri-lá (zona oeste). A proposta da prefeitura é fomentar e qualificar o desenvolvimento local, além de apoiar o agricultor familiar. Maria Santa é uma das cinco pessoas cadastradas a trabalhar no espaço – que pode abrigar até dez produtores. “Nós estamos conquistando esses espaços aos poucos. Aqui e nos espaços dedicados à Economia Solidária temos o apoio da prefeitura. Não compensa para a gente fazer isso por meio das feiras, porque tínhamos que desmontar a estrutura e levar o que não tinha sido vendido de volta”, aponta. Ela ressalta que é preciso valorizar esses produtos da agricultura familiar porque são da região e o dinheiro fica na cidade.
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| Adriano César Marcolino, do Distrito de Maravilha: plano para ampliar leque de produtos |
O agricultor do Distrito de Maravilha (zona sul), Adriano César Marcolino, de 38 anos, relata que seu avô e seu pai chegaram à região na década de 1960. “Quando vieram para cá do estado de São Paulo, aqui era mata virgem. Eles derrubaram a mata manualmente para poder produzir. Foi um trabalho pesado. Começaram com rami, mas aos poucos foi perdendo valor comercial”, conta. Segundo ele, quando o rami começou a ficar inviável, a família começou a fornecer produtos para a Ceasa. “Primeiro foi a bata doce, depois começamos a plantar cará, mandioca, abobrinha, milho verde, quiabo, etc. A gente aproveita a maré de cada produto”, destaca.
Marcolino já está comercializando no box do Mercado Shangri-lá produtos embalados como o milho verde, abobrinha, quiabo e jiló. E pretende aumentar o leque de produtos. “Eu estou preparando no sítio uma cozinha própria para preparar pamonha e bolo de milho para agregar mais valor à mercadoria”, projeta. Ele destaca que o milho verde é seu carro chefe. “A gente embala ou vende na palha para outras pessoas.”
Outra pessoa cadastrada é Márcia Spessato Kubo, das polpas Tropicálias. “Trouxemos polpas congeladas e suco próprio para consumir no local. Estamos esperançosos com o novo espaço. É uma oportunidade de colocação de nossos produtos no mercado. “Ela diz que a família investiu em máquinas que envasam, que separam a polpa , entre outros equipamentos. “É muito investimento para oferecer produtos livres de conservantes, sem adição de água. Somos agricultores, vivemos do cultivo. Percebemos que está havendo um retorno para produtos naturais.
INCENTIVO PARA REGULARIZAR SITUAÇÃO
Segundo o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Vitor dos Santos Junior, o Espaço Agricultura Familiar no Mercado Shangri-lá é um ponto de apoio para que o produtor possa comercializar seus produtos e conhecer o funcionamento de uma empresa. “A maioria tem dificuldades em comercializar os produtos, então este ponto vem para apoiá-lo e, a partir daí, ele terá mais segurança para dar continuidade em sua atividade”, disse.
A diretora de Abastecimento da secretaria, Maria Inez Passini, ressaltou que oferecer este espaço de comercialização valoriza a produção do agricultor. “Ganha o produtor, que terá um local adequado para escoar a sua produção e ganha o consumidor, que poderá adquirir produtos de qualidade”, disse. “Este projeto também será um incentivo para que novos agricultores regularizem a sua situação, para que possam atuar neste espaço”, completou.
Inicialmente o local será utilizado por cinco produtores que participaram de uma chamada pública. Entre os produtos à venda estão pães caseiros, derivados de café, polpas de frutas, geleia, bolos, abobrinha e milho verde embalados.
Como a chamada pública já foi encerrada, outros produtores que têm interesse em comercializar no local devem preencher um requerimento na secretaria. Os requisitos são: ser agricultor familiar, produtor da agroindústria, e estar com as documentações em dia. Mais informações pelo fone (43) 3372-4785. (Reportagem Local).
SERVIÇO
Mercado Municipal Shangri-lá (Rua Visconde de Mauá, 168), funciona de segunda a sábado, das 7h30 às 19 horas, e aos domingos das 7h30 às 12h30). (VITOR OGAWA – REPORTAGEM LOCAL, página 2, caderno FOLHA CIDADES, quinta-feira, 1 de dezembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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