quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

CRIANÇAS CONECTADAS


   Novas diretrizes indicam caminhos para equilibrar a quantidade e, principalmente, a qualidade das horas que os pequenos passam diante de tablets, celulares e companhia. ( por CHLOÉ PINHEIRO design e ilustrações EDUARDO PIGNATA, fotos SHUTTERSTOCK E LOUIS-PAUL ST – ONGE- ISTOCK
   Se até pouco tempo atrás os pais penavam para encontrar a dose ideal de televisão e videogame na vida das crianças, hoje ainda elas precisam incluir tablete, celular e computador na mesa de negociações. Definitivamente é impossível imaginar uma infância livre da influência dos equipamentos eletrônicos. Por isso, os limites recomendados de utilização dessas tecnologias não param de ser revistos, bem como a maneira com que os pequenos deveriam interagir com as telas. 
   Em outubro deste ano, a Academia Americana de Pediatria lançou um documento que afrouxa um pouco algumas de suas antigas orientações. O primeiro contato com o universo digital, por exemplo, que antes só deveria ocorrer após os 2 anos de idade, agora está permitido a partir dos 18 meses, desde que com supervisão e participação ativa dos pais. Já para os mini-internautas entre 2 e 5 anos, a tolerância caiu para apenas uma hora ao dia – antigamente eram duas. Depois, indica-se que a frequência seja personalizada.
   “Essa é uma questão de saúde pública, uma vez que as crianças estão cada vez mais expostas às telas. E isso em um momento crucial para o desenvolvimento de habilidades que serão importantes por toda a vida”, alerta a neuropediatra Liubiana Arantes Regazoni, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A entidade lançou em novembro último o seu próprio guia, intitulado Manual de Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital. A publicação segue, em grande parte, os posicionamentos da associação dos Estados Unidos, mas é um pouco mais rígida em relação aos que ainda usam fraldas. “O ideal é que o contato com eletrônicos não aconteça antes dos 2 anos, sobretudo nas duas horas que antecedem o sono e durante as refeições”, completa Liubiana, que preside o Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP. 
   Apesar de liberarem com restrições a utilização de telas nessa faixa etária, os pediatras americanos, assim como os brasileiros, enxergam poucos benefícios no hábito. “Os riscos são maiores do que as vantagens educacionais”, afirma o pediatra Jenny Radeski, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, e uma das envolvidas na elaboração das diretrizes de lá. “Até os 2 anos e meio, os bebês não conseguem transferir o que veem na tela para a realidade. Portanto, precisam ser ensinados sobre o que estão assistindo para que associem a experiências reais”, explica a pesquisadora. “É assim que o conhecimento se fixa.”
   Isso vale para todas as fases, mas, principalmente entre o primeiro e o segundo aniversário, o cérebro necessita de boas doses do mundo à sua volta para que se estruture como o esperado. “É um período em que, por causa dos estímulos recebidos do ambiente externo, aumentam as sinapses, ou seja, as conexões entre os neurônios”, explica Telma Pantano, fonoaudióloga e psicopedagoga da Universidade de São Paulo (USP). Os tais incentivos que podem ser palavras, toques, brinquedos, músicas ou livros, servem como uma espécie de asfalto para a construção dessas pontes cerebrais, que conectam novas áreas na mente em amadurecimento, como a formação da personalidade e o aperfeiçoamento da linguagem. 
   O tempo que o pequeno passa sozinho, de cara na tela, não ajuda em nada disso. Pelo contrário. “Ele dificulta o desenvolvimento da empatia e do autocontrole e a capacidade de lidar com relacionamentos”, diz o neuropediatra Erasmo Casella, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. Então, para garantir que o dispositivo não transforme a criança numa ilha, os especialistas consideram imprescindível, nos primeiros anos de vida, que os pais desbravem com ela ou os conteúdos oferecidos na tela e na rede. 

   PANE NO SISTEMA

   Confira a quais encrencas as crianças ficam expostas quando abusam do tempo em frente às telas

   · Sedentarismo e ganho de peso

   · Dificuldade de aprendizado 

   · Atrasos no desenvolvimento cognitivo

   · Sono prejudicado

   · Ansiedade

   · Hiperatividade

   · Problemas de concentração

   · Falta de noção de espaço

   · Irritabilidade. 

   Os impactos negativos do exagero não ficam restritos aos aspectos comportamentais e emocionais. Tem também a ameaça do sedentarismo. Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) avaliou os hábitos de 21 voluntários com idade entre 8 e 12 anos e constatou que 14 deles não praticavam nenhuma atividade física. “Quando perguntamos o que gostavam de fazer no final de semana, a maioria respondeu brincar com jogos eletrônicos, o que já acontecia nos outros dias”, revela a pedagoga Ana Lúcia Meneghel, autora do trabalho. E você sabe: essa moleza é um convite à obesidade.
   Para que o corpo e a cabeça da meninada valham por mil processadores, os especialistas dizem em uníssonos: brincar é essencial. “Os desafios trazidos pela brincadeira formam estruturas cerebrais ligadas à inteligência matemática e à noção de espaço, por exemplo”, justifica Ana. Para isso, é preciso olhar em volta, segurar objetos, movimentar-se... No estudo, as crianças que eram mais fãs dos aparelhos tiveram mau desempenho quando testadas essas habilidades. 
   Na sala de aula a história também desanda. “A luz emitida pelo visor reduz a produção de melatonina, hormônio indutor do sono”, observa Liubiana. Se a substância, fica difícil adormecer e há maior chance de despertares na madrugada. “O sono de má qualidade interfere na concretização de memórias e do aprendizado do dia”, aponta a neuropediatra. Fora que, após uma noite tumultuada quem consegue prestar atenção na lição? Há mais por trás do dever de casa incompleto. “Um game que dá pontos, por exemplo, libera no cérebro muita dopamina, substância ligada ao prazer”, detalha Casella. A princípio isso não parece ruim, certo? “A questão é que esse processo não ocorre de forma tão intensa em outras ocasiões, como na escola. Daí as crianças podem achar os estudos entediantes”, problematiza. 
   Para tornar essa realidade menos tecnológica ( e maléfica), não dá para esperar que os menores resolvam se desapegar dos aparelhos. Os adultos precisam dar o exemplo. “Inclusive pesquisas sugerem que há menos conexão emocional e até mais conflitos se os progenitores ficam totalmente absortos nos seus smartphone”, destaca Jenny. Portanto, o uso saudável não vale somente para os baixinhos. “Famílias que ficam só assistindo TV ou cada um com seu celular enfraquecem seus vínculos”, reforça a psicóloga Elisabeth Monteiro, autora do livro Criando Filhos em Tempos Difíceis (Summus). “Isso fará falta na adolescência, quando os pais perdem autoridade e os filhos se afastam”, completa. 
   Mas não dá para ser extremista, vamos combinar. Na rotina corrida, às vezes ligar a tela funciona como uma forma de “deligar” um pouco o rebento para, assim, poder cuidar dos afazeres domésticos. “Se o pai for lavar a louça, não vejo mal em deixar o bebe assistir a um programa educativo por alguns minutos”, diz Jenny. Uma saída para driblar os excessos é estabelecer períodos offline diários para toda a família. Entre os mais velhos, a preocupação vai além: a internet. “O perigo é a exposição a conteúdo inadequado e o bullying virtual”, ressalta Liubiana. Já o vício nas redes sociais, território que deveria ser evitado até os 13 anos, pode ser nocivo por fomentar ansiedade e baixa autoestima. 
   Qual seria, então, para dar um dispositivo eletrônico à criança? “Nunca antes dos 12 anos”, declara Telma. Até essa idade, a dica é deixa o pequeno emprestar o aparelho de algum adulto. “Esse comportamento ajuda a transmitir a mensagem de que o controle segue na mão dos pais”, justifica a psicopedagoga da USP. Também não adianta encarar a tecnologia como vilã. Até porque, em muitos casos, ela é uma baita mão na roda. Tanto é que as diretrizes citadas no início da reportagem dizem respeito apenas ao uso enquanto entretenimento puro e passivo. “Tudo aquilo que os pais fizerem com os filhos, como usar a videoconferência, tirar fotos ou jogar, não conta”, diferencia Jenny. O conselho é dar a mão ao rebento sempre. No mundo real e no digital.     DE OLHO NA TELA.
  Todos os aparelhos pedem limites. Mas eles têm suas particularidades. 
   (FONTE: Revista SAÚDE É VITAL, editora ABRIL – DEZEMBRO 2016, páginas 60, 61, 62 e 63).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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