domingo, 11 de dezembro de 2016

DE OLHO NAS RÃS

FOTOS: SAULO OHARA

   Com mercado certo em grandes centros, a ranicultura começa a atrair criadores no Norte do Paraná estimulados pela rentabilidade
   Elas são simpáticas, podem ser produzidas em pequenos espaços e, se trabalhadas de forma profissional, têm uma rentabilidade excelente. A criação de rãs, ainda é muito recente no País, com a cadeia iniciando na década de 1930, quando 300 rãs da espécie touro – ideal para o sistema de confinamento, chegaram ao Brasil oriundas do Canadá. Hoje, existem criadores espalhados pelo País, inclusive aqui no Paraná, mas que ainda esbarram na falta de informações sobre o manejo, gerenciamento, mercado e, principalmente, abatedouros regularizados para o processamento. 
   Os números sobre a ranicultura nacional são bem imprecisos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006 o Brasil produziu 160 toneladas da carne do animal, o que já coloca na segunda colocação atrás apenas de Taiwan, mesmo com o pequeno volume. O fato é que no País toda a criação é realizada em cativeiro, por se tratar de um animal exótico. Na Ásia, a criação é semi-intensiva. A rã-touro – nome explicado devido ao som característico feito animalzinho – se desenvolve ao longo de aproximadamente 8 meses dependendo do clima, e chega ao peso de 250 gramas para o abate. Os principais mercados consumidores são as capitais e grandes centros, sendo no Estado a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), onde o quilo pode ser vendido por R$ 90.
   O médico veterinário André Muniz é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua com ranicultura desde 1998. Ele está alocado em Palotina, região este do Estado e trabalha com rã e processamento do pescado. Segundo Muniz, a maioria dos produtores da região não tem a ranicultura como atividade principal. “Isso é um pouco negativo, porque acaba se tornando uma produção menos profissional. Muitas vezes é apenas uma complementação de renda. Além da RMC, temos uma proximidade com São Paulo, maior consumidor da carne de rã do País, e teríamos uma facilidade de escolar o produto para lá”. 
   O especialista explica que a rentabilidade da ranicultura não difere tanto dos peixes e varia entre 30% e 35%. O maior peso do nos custos de produção, como eu outras atividades que envolvem animais, está ligada à ração, que no caso é de peixe, porque não há alimento especial para as rãs. “A ração vai pesar entre 65% a 70% dos custos. Se estimarmos que cada rã vai para o abate com 250 gramas, o ranicultor gastará entre R$8 e R$ 8,50 para produzir quatro rãs (um quilo)”.
   A grande dificuldade em estimular a produção no Estado, segundo Muniz, é porque os produtores vão esbarrar na falta de entrepostos para abater os animais. A legislação só permite que peixes e rãs sejam abatidos no mesmo local em turnos ou dias alternados. Com a retomada da piscicultura paranaense desde 2013, poucos abatedores possuem espaço para a ranicultura. Ou seja, o produtor que tem uma rã para o abate acaba tendo que comercializar o animal vivo ou mesmo abatê-lo de forma clandestina. “Isso acabou sendo um desestimulo para os ranicultores. Estamos num momento em diversos estados estão retomando a atividade, mas carecemos de um local para processamento. Ou seja, a maioria dos produtores aqui do Estado processam a rã artesanalmente e vendem desta forma. Isso acaba sendo uma forma clandestina de comercializar o produto carne”, complementa. 

   PROJETO DE R$ 2,5 MI PREVÊ ENTREPOSTO ESCOLA NO OESTE

   Como bem destacado pelo professor da UFPR, André Muniz, o futuro da ranicultura no Estado passa pela construção de abatedouros para absorver a produção e realizar o processamento da carne. Pensando nisso, a universidade paranaense desenvolveu um projeto para a construção de um entreposto escola no município de Maripá, vizinho de Palotina, na região Oeste. A perspectiva é que a verba federal chegue em 2017. O projeto já aprovado no valor de R$ 2,5 milhões conta com espaço para abater peixes, camarões e, claro, rãs, com capacidade de produção de uma tonelada de carne por dia. “A verba já foi aprovada e agora estamos na expectativa de recebê-la e iniciar a construção. A capacidade de planta é o suficiente para atender a região e os produtores tranquilamente”. 
   Com o entreposto em funcionamento, Muniz acredita que será possível estimular a produção de rãs na região. “Existe uma preocupação nossa em relação a como essa carne chega ao consumidor. Abrindo essa porta aos produtores, vamos fomentar a cadeia e teremos uma segurança em abater o produto. (V.L)).

   PLATAFORMA DIGITAL PARA RANICULTORES E INTERESSADOS
Mesmo sem números precisos sobre a ranicultura  nacional, o Brasil aparece como o segundo maior criador do anfíbio atrás apenas de Taiwan 

   Apesar de ser muito promissora, a ranicultura ainda inicia a caminhada no País e quem se interessa precisa estar disposto a buscar informações de todas as formas. Cientes da importância deste Trabalho, a Embrapa Agroindústria de Alimentos e Universidade Federal do Paraná (UFPR) lançaram este ano o site Ranicultura em Rede, uma plataforma digital que busca compartilhar conhecimentos tecnológicos, troca de experiências e informações de negócios para os integrantes da cadeira produtiva de criação de rãs. 
   A Rede de Ranicultura foi criada em 2010 e atualmente conta com mais de 330 pesquisadores, extensionistas, fornecedores de insumos e serviços, produtores, comerciantes e consumidores na lista de discussão por e-mail. Aliado a isso, os realizadores do trabalho também montaram um grupo no Facebook chamado “Ranicultura”, que já possui 505 membros do Brasil e outros países da América Latina, como Chile, Peru, México e até Europa. Lá o pessoal troca informações, tira dúvidas sobre onde adquirir os animais, técnicas de manejo e solução de problemas que por ventura surjam ao longo do trabalho. 
   O professor da UFPR e cogestor da Rede, André Muniz, explica que a ideia é manter a página sempre atualizada e com informações confiáveis. “Além disso, vamos constituir uma espécie de ‘ponto de encontro’ para interligar pessoas que possam se unir em prol do desenvolvimento pessoal e profissional, atuando como uma rede cooperativa”
   O pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos e também cogestor da rede, André Cribb, explica que as ações iniciaram em 2010 e lá atrás já se percebeu a dificuldade de se encontrar informações sobre a ranicultura, tanto tecnológicas, como de mercado ou gerenciais. “A cadeia ainda não tem tradição familiar no País. Existem novos produtores que tentam ingressar no trabalho mas encontram dificuldades pela falta de conhecimento e pessoas especialistas para ajudar.”
   Nestes seis anos, foram formados 48 agentes multiplicadores para potencializar a ranicultura. Também foram treinados produtores para que se buscasse um padrão acerca das tecnologias utilizadas. “O perfil dos nossos ranicultores ainda é de pessoas aposentadas ou que buscam na atividade uma forma para complementar a renda. Ela não é uma atividade muito exigente e o cenário não precisa ser grande”, relata Cribb. 
   Outro desafio, segundo o pesquisador, está no fato de a ração utilizada pelas rãs serem de peixe, ou seja, não há um alimento especifico. Cribb afirma que as demandas fisiológicas dos animais são diferentes. “A ração utilizada pode gerar problemas de doenças e deformação física. Infelizmente, ainda será difícil encontrar uma empresa que possa investir em alimento para rã, pois não há produtores suficientes que possam gerar um retorno para este investimento. Na situação de hoje, precisamos de políticas públicas que incentivem um fornecimento de uma ração de qualidade por um certo tempo. O Estado poderá nos auxiliar neste sentido”. (V.L)
 
  SERVIÇO
   É possível solicitar cadastramento para se integrar à Rede, acessar notícias, eventos e informações relacionadas à cadeia ranícola pelo endereço: http://ranicultura.ctaa.embrapa.br. No grupo do Facebook, basta digitar “Ranicultura” na hora de busca. 

   EM NOVA FÁTIMA, UM AUTODIDATA DAS RÃS
   No Pesque & Pague do Otássio, em Nova fátima, a produção de rãs começa chamar a atenção de clientes e outros produtores da região. O proprietário, Otássio Rodrigues de Lima, conta à reportagem da FOLHA que quando era criança adorava caçar rãs e sempre teve vontade de criá-las. Em 2013, adquiriu o pesque pague e no ano passado resolveu realizar seu sonho de infância. Sem nenhum técnico ou agrônomo na região para auxiliá-lo, buscou conhecimento na internet sobre a espécie touro, foi até São Paulo e comprou dois casais por R$ 300 para iniciar na atividade. Agora, com a primeira produção no local, começa a estudar uma forma de comercializar os animais nos mais diferentes estágios. 
   No Facebook e na internet, o Ranário Nova Fátima é procurado por muitas pessoas interessadas na atividade. Otássio comercializa o milheiro de girinos de rã touro por R$ 650. Já o milheiro de rãs jovens é vendido por R$ 850. O casal de animais adultos sai por R$ 150 e o quilo da carne, R$ 60. “Gastei R$ 12 mil para montar a estrutura. Em cada estágio de desenvolvimento, elas precisam estar separadas. As rãs adultas se tornam canibais e acabei percebendo isso quando adquiri os dois primeiros casais”, relembra Otássio. 
   Hoje, com um espaço modesto mas bem estruturado, o ranicultor cuida de todos os estágios: desde a bandeja que coloca os ovos com os espermatozoides, evolução do girino, pequenos animais até a fase adulta, tudo isso em oito meses. “Quando se tornam girinos, transferimos para uma caixa onde ficam por três a quatro meses debaixo da água respirando por glândulas. Depois, passam a respirar por pulmões então é preciso sair de lá para não morrerem afogadas. Por cinco dias, ela fica numa fase chamada imago, na qual acaba se alimentando da própria cauda,.- ( na publicação consta “calda”). Por fim, se tornam pequenas rãs e precisam sempre estar em contato com a água, mantendo a umidade”.
   Como cada rã fêmea tem um potencial de desovar entre 20 a 25 mil ovos, logo é necessário um espaço grande para realizar todo esse processo. Por isso, já com cerca de 300 animais adultos, Otássio vai esvaziar um de seus tanques para piscicultura, cerca-los conforme as normas e colocar um milhão de girinos que chegarão agora no verão. Lá eles permanecerão até deixarem a água e, então, serão transferidos a outro local. “O que a rã precisa é de uma água limpa, de qualidade, sem cloro, que no meu caso vem da mina. Aliás, já era para eu ter mais animais, mas como aconteceu uma forte chuva aqui na região,, a água ficou suja e perdi muitos girinos”. 
   Otássio está tão animado que pretende expandir o negócio, com a construção de dois barracões para lidar com os diferentes estágios de produção com mais eficiência. O investimento, segundo ele, ficará na faixa de R$ 40 mil. “Para mil girinos são necessários mil litros de água e por isso o tanque foi a melhor alternativa. Agora, nos outros estágios, elas podem ficar mais concentradas”.
    No momento, Otássio não pretende trabalhar com o abate de rãs, mas vai auxiliar novos produtores e vender animais aos que vislumbram ingressar na atividade, inclusive ensinando todo o processo. “No futuro, quem sabe, posso iniciar o trabalho de abate com volume maior. Em 2017, terei muita rã devido a desova e começarei a investir com mais tranquilidade. É uma atividade que dá muito dinheiro, com uma margem de lucro muito boa. A carne é saborosa, dez vezes melhor que a de frango,”, considera.
   Quem quiser mais informações sobre a comercialização ou atividade, ligue para o Otássio nos telefones (43) 3552-2243, 99901-1564 ou pelo site www.ranarionovafatima.com.br (V.L)

   FAMÍLIA ENVOLVIDA COM A ATIVIDADE 

   No pesque pague do Otássio, numa área de 17,5 mil metros quadrados, o produtor vende em média de 400 quilos por semana, entre tilápia, pacu, matrinxã, piauçu, entre outros, totalizando quatro tanques. “Já vou deixar um dos tanques com rã, mas quem sabe no futuro todos viram rã”. 
    O prazer em cuidar dos bichinhos também foi transferido para a esposa Kelly e a filha Kessily, de 12 anos, que também auxiliam na atividade. “É algo simples e prazeroso. Elas quase não dão trabalho e precisam apenas de um local higiênico e água limpa. Como a ração é de peixe, quase não tenho perda, porque o que sobra acaba indo para os tanques”.
    Hoje, Otássio fala que todos ficaram tão envolvidos com a atividade, que as pesquisas acontecem por todos da família. “Já tem muita gente pedindo uma porção de rã aqui no pesque pague. Todos estão doidos para comer. Acho que vou vender aqui no estabelecimento uma porção a R$ 40. (V.L) 

   INTEGRAÇÃO ABRE CAMINHO PARA PRODUTORES


   Como acontece no setor de aves e suínos, a integração entre empresas processadoras e produtores pode ser uma ótima alternativa para que a ranicultura seja fomentada no Paraná. Em outros estados, como Santa Catarina, esse tipo de atividade já está mais difundido, a exemplo da avicultura paranaense. 
   Uma empresa importante neste segmento é a Ranac, localizada no litoral de Santa Catarina, a 35 quilômetros de Florianópolis. A empresa foi fundada há dez anos e nasceu com o objetivo de transformar a criação de rãs em um arranjo produtivo estruturado nos mesmos moldes da avicultura, com famílias de pequenos produtores rurais comprometidos com o negócio e com a qualidade dos produtos. Hoje, a empresa fomenta todo o processo produtivo da ranicultura de pescados com profissionais especializados em cada segmento do processo produtivo, atendendo inclusive os mercados dos Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio, Mercosul e Ásia. 
   O bacana é que a empresa começa a prospectar produtores de outros estados. Aqui no Paraná está um deles: Delmar Stunn, de Vera Cruz do Oeste, na microrregião de Foz do Iguaçu. Há cinco anos, o produtor parou de trabalhar como motorista de caminhão e iniciou na agricultura, num sítio de 0,5 alqueires. Ciente que o espaço era pequeno para diversas atividades, ele pensou na ranicultura. 
   Stunn entrou em contato com a empresa em busca de matrizes e ao longo da conversa viu que poderia se tornar integrado. Pegou um financiamento de R$ 350 mil para construir um barracão e hoje tem capacidade para engordar de 90 a 100 mil animais. Hoje, ele engorda em torno de 3 mil a 5 mil rãs por mês, que chegou na propriedade de três a quatro meses. “Minha capacidade é de 8 mil a 10 animais por mês, mas ainda não há esta demanda”, explica. 
    Hoje o ranicultor recebe em torno de R$ 0,75 por animal acima de 240 gramas, ou seja, a renda dele varia de R$ 2.250 a R$ 3.750 com os custos de ração todos realizados pela empresa. “O que tenho que fazer é trocar a água dos animais duas vezes por dia e ficar atento com a alimentação deles. É um animal muito tranquilo de mexer e estou com boas expectativas para os próximos anos, com uma demanda maior da empresa. Nesta área pequena, não conseguiria uma rentabilidade desta com nenhum outro animal ou cultura”, salienta. “Para pagar meu financiamento, preciso produzir hoje pelo menos 50 mil rãs por ano”, complementa. (V.L). (VICTOR LOPES – REPORTAGEM LOCAL, páginas 4,5,6 e 7 do caderno FOLHA RURAL, 10 e 11 de dezembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).   

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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