domingo, 18 de dezembro de 2016

À SOMBRA DE UMA CONVERSA



   Termino o ano de bem com a vida, não tenho tudo o que quero, mas o que preciso
   Nesta época do ano começam a aparecer depoimentos de amigos sobre perdas, danos ou desejos que não se concretizaram. As dores individuais me tocam muito, são demonstrações da sensibilidade ferida em planos íntimos, nem sempre visíveis nas camadas de "personas” que vestimos na rede e na vida social. Mas a face humana sempre perfura as camadas e aparecem as dores causadas pela falta daquilo que mais precisamos neste mundo cru: afeto, na falta do que já partiu ou, simplesmente, nunca existiu. 
Tenho amigas que não se casaram ou que esperam o grande amor. O grande amor talvez seja aquele que temos no momento e não a idealização de um relacionamento que não existe, a não ser nos filmes e romances. Olhando para trás percebo que talvez eu não tenha tido um grande amor, mas pequenos amores que fizeram minha vida melhor e dos quais guardo lembranças como um dia ensolarado no mar da Bahia, a euforia do primeiro encontro numa cidade desconhecida, as andanças por lugares que talvez não tivessem nenhuma graça a não ser naquele instnte em que comer num restaurante nos leva à Grécia ou desembarcamos em Tóquio quando estamos apenas em São Paulo e pisamos ali mesmo, no bairro da Liberdade. 
À amiga que lamenta que não teve marido nem filhos, como se a vida amorosa tivesse terminado, respondo que antes dos 40 anos todo sonho é possível e que depois também. Não lamento se meus amores acabaram ou alguns nem aconteceram. Uma dose de amor pode consertar a sensação de maus tratos quando somos abandonados, mas percebemos que aquele antigo amor nos deixou por coisa pior porque não suportava nosso alcance, nosso voo ou sensibilidade. Tenho histórias assim, nas quais percebi que, no fim das contas, era muita areia para o caminhãozinho deles e, rindo , vazei. 
Surpreendentemente termino o ano de bem com a vida. Não tenho tudo o que quero, mas o que preciso. E me sentindo assim, em estado de gratidão, abraço os que se sentem momentaneamente vazios. 
Com a maturidade coloquei meus pequenos problemas em seu devido lugar, há problemas maiores bem aqui ao lado. Outro dia acordei com uma voz feminina pedindo socorro, a confusão logo acabou, mas aquela voz foi a síntese de muitos pedidos de ajuda que tenho ouvido. Só posso dizer que tenham paciência com suas angústias e perdas, nem sempre se ganha. Mas a ansiedade e a dor são próprias da espécie que tem a consciência dos riscos, das perdas e da morte, sem nenhum controle sobre essas circunstâncias. Só posso desejar que tomem o barco e atravessem o rio, sem levar o passado na bagagem. O passado quase sempre machuca mesmo quando se apresenta como uma lembrança remota de felicidade. 
Viver do presente está sempre mais próximo da alegria, até mesmo quando estamos perdidos. Um dia vamos acalentar a sensibilidade sem doer tanto e sem enfiar punhais na angústia para que sangre. E desculpem-me a falta de saídas concretas para tantas coisas neste texto. A falta de saída demonstra que nem tudo é perfeito, mas podemos conviver com as imperfeições sem mágoas. A vida é mesmo um sopro. Melhor não ficar macerando a pétala da fragilidade demasiadamente humana. Às vezes amanheço como uma planta que se vê a luz e cresce. Nestes dias, quem quiser que se sente à sombra dessa conversa. (Crônica da jornalista e escritora CÉLIA MUSILLI celiamusilli@gmai.com páginas 2 e 3, caderno FOLHA 2, 17 e 18 de dezembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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