OLHAR DE CRONISTA

Wilhan Santin: "Preocupo-me muito em entregar ao leitor do jornal o melhor texto possível"

   O jornalista Wilhan Santin lança o livro de crônicas “Notícias Incomuns”, no qual lança um zoom sobre a realidade

   Escrever crônicas exige um olhar especial para a realidade. Os acontecimentos que podem gerar pequenas histórias passam pela maioria das pessoas sem serem notados, mas não passam despercebidos ao cronista. Talvez eles tenham antenas especiais ou um zoom adaptado aos olhos de forma que tudo se aproxima e, nesta aproximação, as coisas também se transformam em linguagem que se organiza entre o jornalismo e a literatura. Com zoom nos olhos, o repórter Wilhan Santin escreveu um livro que reúne trinta crônicas escolhidas. Nelas, ele vai para metrópoles ou a periferias de pequenas cidades. Fala de coisas triviais como o hábito de tomar café ou da filha Maria Eduarda, conta intimidades que só se revelam em crônicas, nas quais o leitor nunca sabe onde termina a verdade e começa a ficção.

   Jornalista, Santin já foi repórter da FOLHA onde trabalhou primeiro no caderno Cidades, em 2006, o tipo de vivência que pode ter lhe oferecido banquetes de realidade. Em 2012 passou a ser repórter colaborador da Folha de S.Paulo no Norte do Paraná. Mas foi na Folha de Londrina em 2008, que escreveu sua primeira crônica para a coluna ‘Dedo de Prosa’ da Folha Rural, migrando depois para um blog do Portal Bonde onde acabou escrevendo algumas dessas crônicas que reuniu no livro “Notícias Incomuns”, que traz também treze textos inéditos. A publicação primeiro saiu como e-book e depois na versão impressa da qual o autor bancou a tiragem inicial de 200 exemplares, depois ampliada para mais 500 pagos pelo amigo, músico e jornalista Eduardo Assad Sahão. Em versão digital ou impressa, os leitores podem agora se deliciar com essas histórias. O livro está à venda, o dinheiro arrecadado será destinado ao Lar Anália Franco. 

Em entrevista à Folha 2, Santin fala do livro, das suas fontes de inspiração e dos cronistas que admira. 

   Você publicou outros livros antes de “Notícias Incomuns”?

   Sim. Eu já havia escrito um livro empresarial chamado “Blacksmith”, em 2010, contando a história da AESA, uma empresa que produz molas automotivas, em Cambé. Em 2012, em parceria com Domingos Pellegrini , escrevi “Seo Elias: a mão estendida”, a biografia do senhor Elias Montosa, empresário de nossa cidade.

   Em que medida você usa a linguagem da crônicas também na reportagem?

   Sempre que possível procuro usar pelos menos um pouquinho da linguagem de cronista. Preocupo-me muito em entregar ao leitor do jornal o melhor texto possível, dentro das minhas limitações.

   Penso que, principalmente aqueles que assinam os jornais impressos, são pessoas que gostam de ler. Para eles, tenho o dever de dar o meu máximo. 

   Da mesma forma, para os que são leitores das versões digitais dos jornais, bons textos os cativarão, fazendo com que acompanhem sempre o jornalismo.

   No Brasil há grandes cronistas como Rubem Braga e Antonio Prata. Rubem é do tempo em que a crônica tinha espaços quase ilimitados e ele transformava os textos em peças elaboradas. Antonio Prata, mais contemporâneo, escreve também crônicas mais ligeiras. Na sua opinião, o que se perdeu ou não com a necessidade de se escrever de forma sintética para os jornais ou para a web?

   Você tem razão. O Rubem Braga escrevia crônicas que hoje ocupariam pelo menos meia página de um jornal standart. E muitas vezes as publicava em dois ou três capítulos, instigando o leitor a continuar a acompanhar o resto da história no dia seguinte. Quem escreve, sempre quer mais espaço. Porém, já ficou evidente que o leitor da internet não tem paciência, nem olhos e nem pescoço para textos longos. 

   Faço referência também aos olhos porque eles se cansam diante de telas de computadores, tablets ou celulares. E aos pescoços porque a posição ergonômica que adotamos para ler nos celulares e nos tablets é péssima, assim como a maioria das pessoas utiliza os computadores longe das normas que os fisioterapeutas recomendariam.

   Já nos impressos, tivemos nossa redução no número de páginas de praticamente todos os jornais do Brasil. Muitos até deixaram de circular. 

   Com isso, quero dizer que não adianta se lamentar redução de espaços para as crônicas nos jornais. É um processo sem volta. Eu poderia até reclamar, mas quando vejo que o próprio Antonio Prata, mais contemporâneo, e dinossauros , como Carlos Heitor Cony e Ruy Castro, escrevem crônicas maravilhosas com poucas palavras, recolho-me à minha insignificância e treino para fazer mais com menos. 

   Que tipos ou situações do cotidiano inspiram você para as crônicas?

   Inspiro-me muito com situações que vejo nas ruas, nos restaurantes, no meu ambiente de trabalho e também com situações familiares. Minha filha, a Maria Eduarda, tem três anos e é uma fonte inesgotável de inspiração. Em janeiro, nascerá minha segunda filha, a Laura, a qual, ainda na barriga da mãe, já me inspira.

   Você pretende publicar mais livros?

   Sim, pretendo. Ano que vem começo a escrever mais crônicas. Também quero tentar produzir um livro infantil. Invento historinhas e as conto para a minha filha. Ela gosta e pede mais. Talvez outras crianças também gostem. 

   SERVIÇO

“Notícias Incomuns”, de Wilhan Santin (edição do autor/2016)

   A versão impressa está disponível nos seguintes pontos de venda em Londrina. 

*Banca do Tito (Centro Comercial da Rua Piauí)

*Sebo Capricho 1 9 Rua Mato Grosso, 211)

*Banca Rodeio (Calçadão com Avenida Manoel Ribas)

*Livraria da Sílvia (Rua Belo Horizonte, 900)

*Banca Pernambuco (Rua Pernambuco com Rua Goiás)

*Livraria Curitiba (Shopping Catuaí) 

Os preços variam de R$ 10 a R$ 15

Já a versão digital pode ser adquirida em www.amazon.com.br (CÉLIA MUSILLI – REPORTAGEM LOCAL, caderno FOLHA 2, PÁGINA 3, sexta-feira, 16 de dezembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).