segunda-feira, 7 de novembro de 2016

MÚSICA CONTRA ALZHEIMER

 

   Em projeto, músicos criam canções sobre a vida de pacientes – sua infância, a família, os amigos – para ajuda-los a preservar a memória
   A medicina já sabe que a memória musical é uma das últimas que são perdidas por causa da deterioração cerebral provocada pelo mal de Alzeihmer. Ainda é difícil dizer, porém, se é possível usar esse conhecimento para prevenir a progressão da doença. 
   Uma iniciativa independente quer testar essa hipótese, sem a pretensão e a seriedade de um estudo acadêmico, unindo famílias e paciente com alzheimer a músicos. A proposta do projeto Músicas para Sempre é fazer com que os artistas conheçam um pouco sobre a vida dos pacientes e produzam músicas sobre eles. 
   A vida do empresário aposentado Hélio Queiroz, 65, foi a primeira que virou música. 
   Há três anos, Camila e Mariana, filhas de Hélio, acharam que havia algo de estranho com o pai, então dono de uma escola profissionalizante. “Elas perceberam que eu não estava fazendo coisas muito corretas, e eu não tinha essa noção. E começaram a procurar um médico para mim, sem eu saber”, diz. 
   No começo foi difícil, ele conta. “ Ninguém gosta de saber que tem uma doença como essa. Você diz para você mesmo: “não tenho isso!”
   Após o impacto do diagnóstico, Hélio conseguiu vender a escola com o auxílio das filhas. “A escola estava ruim, ruim mesmo. Demorei um ano para vender. Depois disso, até fiquei melhor”, conta. 
   Hélio responde bem aos vários medicamentos, que toma sem ajuda, segundo a filha Mariana. Ele vive sozinho, dirige e pratica exercícios. “Estou aqui, vivendo”, diz. 
   A ideia da homenagem no projeto Músicas Para Sempre nasceu como uma peça de divulgação para o filme francês “A viagem de meu Pai”, lançado neste ano no Brasil. O personagem principal tem alzheimer e o filme mostra a relação dele com a filha. 
   Retratar a vida de Hélio seria uma maneira de mostrar que cenas do filme também aparecem na vida real. 
   O ex-empresário não consegue esconder a felicidade ao se lembrar da música-homenagem que recebeu. “Todos os meus amigos, minha família e pessoas que me apoiam estavam lá. Tenho só a agradecer. Nunca em minha vida imaginei sentir 10% dessa emoção”, relata. 
   CANÇÃO 
   A música sobre a vida de Hélio foi composta por Lucas Mayer. Ela começa assim: 
   “Para começar a sua história/Na ladeira da Faap, rolimã/ Ia pedalando todo dia para a escola/ Pra sobrar aquela grana pro sorvete de amanhã/Seu nome misturou o nome do seu pai, com o do seu vô/E para nós/Desde pequenas era comum ouvir a sua voz/Meu nome é Hélio Elpídio Pereira de Queiroz”. 
   E segue com o refrão: 
   “Pai, estamos aqui pra te lembrar/Que onde o mar está/É aonde queremos ir/E você vai nos levar”. 
   Para o compositor, a parte mais difícil foi selecionar o que ia entrar ou não na música. Com menos da metade das histórias, a canção já tinha mais de cinco minutos. “Ter que escolher os momentos da vida de uma pessoa para encaixá-la na música é estranhíssimo, porque eu estava selecionando o que era mais importante do meu ponto de vista. Por exemplo, não consegui colocar o Chico, melhor amigo do paciente, letra”. 
   Apesar disso, o resultado foi aprovado por todos os envolvidos, inclusive pelo maestro João Carlos Martins, apoiador do projeto e entusiasta das propriedades terapêuticas e transformadoras da música. 
   “Vivi a experiência de ter uma mãe com alzheimer e um pai com memória de elefante até o fim da vida”, diz.
Que há uma relação entre alzheimer e música ele já sabe há tempos. “Quando a gente queria acalmar minha mãe, meu pai reproduzia minhas interpretações da obra de Bach e eu observava a tranquilidade que vinha do olhar dela, enquanto ouvia gravações do filho que ela já não reconhecia mais.”
   Quanto à memória, tudo indica que Martins, 76, puxou ao pai, que “quando morreu aos 102 anos, estava plenamente lúcido e sabia 200 sonetos de cor”. 
   A música habita regiões distintas da memória convencional. Uma música relacionada a fatos da vida passada da paciente, como uma estratégia de retenção, pode como uma “chave para o passado”, explica André Palmini, neurocientista do Instituto do Cérebro da PUC-RS. 
   A memória da melodia, principalmente, é bastante preservada, mesmo no Alzheimer, explica Wagner Gattaz, professor de psiquiatria da USP. De todo modo, diz o professor, as memórias autobiográficas costumam durar mais. “A música já é usada para tranquilizar, mas pode sim ajudar a guardar mensagens simples”, diz. (GABRIL ALVES – de SÃO PAULO, FOLHA SAÚDE + CIÊNCIA, domingo, 16 de outubro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE S. PAULO).   

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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