segunda-feira, 21 de novembro de 2016

LONDRIX MOSTRA O BRASIL EM LETRAS



   Em sua 12ª edição, o Londrix – Festival Literário de Londrina se firma como um dos grandes momentos da literatura brasileira. A partir de segunda-feira (21), serão sete dias de atividades intensas, realizadas no Museu Histórico Padre Carlos Weiss, trazendo grandes nomes como os premiados Ignácio de Loyola Brandão e Ana Miranda, escritores pioneiros como o poeta concreto Wlademir Dias Pinos (precursor do poema-processo), autores que estão na linha de frente do ativismo literário, como o poeta Sergio Vaz, da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia de São Paulo) ou ainda, o yanomani Daniel Muduruku, da Casa dos Saberes Ancestrais.
   O Londrix também renova sua atenção para a fusão da música e da palavra. Logo no primeiro dia de programação, a abertura do evento terá o show da cantora londrinense Simone Mazzer, cuja obra pela qual foi eleita revelação mostra, sobretudo, o trabalho de compositores de Londrina. A Apresentação acontece na Vila Cultural Cemitério de Automóveis, às 20h30, que, dentro da programação, recebe também atrações já consolidadas como o “Sarau Prosa e Poesia e Outras Delícias” ( com oficinas e performances ), o “Cabaré Londrix” (com banda da cidade) e o “Poesia in Concert” , com poesia e música. 
   Além de nomes já consagrados, mais de 20 autores regionais estarão autografando seus livros. Os “cafés literários” , marca registrada do Festival, reúne oito meses e 20 acadêmicos debatendo em torno dos escritores brasileiros. Neste ano, pela primeira vez, o Londrix realiza o “Café Com Elas”, focado na literatura de autoria feminina. Há, ainda, uma vasta programação para as crianças com diversas sessões de contação de histórias, lançamento de livros infantis e show de palhaços . A programação completa e os horários dos eventos podem ser conferidos no site www.londrixfestivalliterátio.com.br .
   Como muitas das atividades da programação acontecem nas dependências do Museu Histórico, no pátio e estacionamento haverá uma nova atração: o “Londrix Drive in Food Truck” com comidas de boteco e exibição em telão da série “Pássaros Ruins”, uma coletânea de vídeos com poetas paranaenses. Nos telões do Londrix estarão sendo exibidos também os doze vídeos poemas selecionados entre os 70 inscritos no concurso “Londrix Video Poemas”. A mostra de poesia digital chega à sua quinta edição batendo recordes. Neste ano, 55 mil pessoas participaram das votações . Clamor, do poeta Valdir Rodrigues, de Cambé, foi o vencedor.
   A primeira mesa de debates e palestras, na terça-feira (22), às 19 horas, será com Wlademir Dias Pinos. Na sequência, às 20 horas, Ignácio de Loyola Brandão conversa com o público. 

UM VETERANO INQUIETO

Aos 80 anos, Ignácio de Loyola Brandão, nascido em Araraquara (SP), é um dos escritores mais aclamados por críticos e historiadores , principalmente por possuir uma literatura que mistura neonaturalismo, realismo mágico fábula contemporânea e concisão jornalística. Com vários livros de contos, biografias, literatura de viagem e romances, o autor acumulou vários prêmios, incluindo o jabuti, e foi traduzido para diferentes línguas. Desde 2005 é cronista do jornal O Estado de São Paulo. Confira a entrevista que ele deu à FOLHA.

   Muitos consideram que você tenha trazido uma estética inovadora à literatura. Concorda com isso? Quais aspectos de seu trabalho apontariam para essa definição?
   Se você olhar para um romance como “Zero” verá que desestruturei a narrativa tradicional, a estrutura convencional, para fazer um livro que retratasse o caos em que o Brasil estava mergulhado. Cada obra necessita de determinada forma. Como disse Luís Rebinski, quando me entrevistou para jornal literário “Rascunho”, certas polifonias de narrativa ali usadas , estariam presentes nos meus trabalhos futuros. “Bebel que a cidade comeu” foi meu primeiro romance. Nele usei monólogos, cartas, entrevistas, noticiários, relatórios, tudo. Minha literatura sempre se permeou de realidade e fantástico, de absoluto e normalidade. O que é um e outro? “Cadeiras Proibidas” é pura metáfora. “Dentes ao Sol” é mesclas de surrealismo com realidade para retratar o vazio. 

   No que a internet e o novo perfil de leitor refletiram no seu trabalho?
   Nada. Ainda que a estrutura do meu livro, um romance, tenha muito do que a internet introduziu. É esperar para ver.

   Como é sua relação com os jovens? Consegue falar e escrever para eles?
   Quem é meu leitor? O que é escrever para jovem, para maduro, para velho? Quem escreve, escreve o que tem a escrever. Quando eu ia pensar que um livro como “Cadeiras Proibidas” fracasso nos anos 70, viesse a ser lido, adotado e adorado por jovens neste século, neste tempo? Os blogueiros e blogueiras escrevem para determinado público numa linguagem infantilizada, quando não imbecilizada, vazia e têm sucesso de público, com multidões correndo atrás delas nas feiras e bienais literárias. Será literatura ou apenas fenômeno ocasional, circunstancial, máquina de fazer dinheiro? De qualquer maneira, no meu caso, tenho falado para um bom público de jovens que perguntam muito. E atinjo adultos, maduros, idosos e já encontrei duas leitoras de 99 anos entusiasmadas com “O Beijo Não Vem da Boca”, um romance de amor que escrevi quando morei em Berlim. 

   Ainda sonha em concretizar algum projeto?
   O que nos mantém em pé, caminhando, são sonhos e projetos. É o maior lugar comum. Uma verdade. Neste momento enfrento as dificuldades de um romance, gênero que deixei de fazer por dez anos. O título é “Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento que Sopra sobre Ela”. Quero que o título ocupe a capa inteira. O tema não digo. Se conto ele se vai. Quero fazer outro livro sobre meu avô paterno, personagem de “Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos”, que demorei mais de 60 anos para pôr no papel. E ganhou o jabuti de 2015. Ele só me veio inteiro à cabeça em uma viagem pelo interior do Paraná. Posso contar isso na minha fala aí na cidade. 
Outra coisa. Uma virada na minha vida nesta idade. Há três anos escrevi um livro “Solidão no Fundo da Agulha”, com crônicas poéticas, tristes, dramáticas, divertidas, pitorescas, sobre momentos de minha vida, alguns fundamentais à minha carreira. Cada uma está ligada a uma canção que me marcou e me acompanha até hoje. O livro foi publicado com um CD e minha filha Rita Gullo, cantora, e eu decidimos montar um pocket-show. Fizemos mais de 80 cidades. Ou seja, nesta idade, 80 anos, viajo, faço palestras, shows, escrevo um romance e vou para o palco contar histórias. Rita canta a cada história. Ficar parado? Jogar dominó na praça com os aposentados? Eu? Bem diz a Rita Lee em sua biografia recém lançada: “Envelhecer não é para maricas”. No meu tempo de criança, maricas era um sujeitinho parado, bobão, meio tonto, meio gay não assumido, que esperava que a vida se resolvesse. Ela não resolve, a gente vaí atrás. E ela abre portas. Mas só uma vez. 

   Qual a importância em participar de eventos como o Festival Literário Londrix?
   Basta ler meu livro “O Mel de Ocara”, para ver o que acho de feiras e festivais. Nele, relato parte de minhas viagens ao Brasil. Só montei o livro depois de ter percorrido todos os estados brasileiros, com exceção de Roraima, Não há lugar onde não tenha ido. Basta dizer que em 2014 fui a 58 cidades brasileiras. Comecei estas odisseias, chamamos assim, junto com Antonio Torres e João Antonio, ainda nos anos 70, e nunca mais parei. Elas são fundamentais à formação de leitores. Elas existem em número cada vez maior, em cidades grandes ou pequenas, organizadas por lutadores valentes que lentamente ganharão a parada. Mesmo em um a crise como esta, acabei de chegar de Votuporanga, interior de São Paulo, onde a prefeitura montou um festival cuja programação ocupou 50 páginas. Mais de 100 eventos de todo tipo. A prefeitura investiu um milhão de reais, sem ficar chorando, e foi um sucesso. (M.T.) (MARIAN TRIGUEIROS - REPORTAGEM LOCAL, página 4, caderno FOLHA 2, 19 e 20 de novembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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