domingo, 13 de novembro de 2016

JOELHO RALADO


   Acolher a dor e a tristeza do outro é essencial para curarmos nossas próprias feridas e amarguras
   CERTA VEZ me contaram uma cena infantil que nunca esqueci: um menininho caiu e, na ausência da mãe, em um banquinho em frente à porta à sua espera, quando ela finalmente chegou, ele começou a chorar mostrando o joelho ralado, como se aquilo tivesse acabado de acontecer. O consolo dela era imprescindível, não importando o tempo que tivesse que ser aguardado. Lembro dessa cena porque acredito que nossa tristeza também precisa de alguém para acolhê-la. 
   Mesmo crescidos, estaremos dispostos a esperar para dedicar as lágrimas a quem possa recebê-las. É claro que também choramos sozinhos, nem todas as tristezas precisam de testemunho, mas há aquelas que são insuportáveis. A orfandade não é só a morte dos pais, é acionada e reeditada cada vez que perdermos a esperança de uma porta aberta. 
   Somos seres bastante queixosos, por vezes só queremos plateia, a dificuldade é saber quando necessitamos realmente uns dos outros. As mães de crianças pequenas têm um truque: quando os filhos caem, elas fingem não ter visto. O pequeno confere se ela está atenta, se o dano é insignificante não há público, provavelmente irá fazer outra coisa mais interessante. E uma espécie de “teste da manha”, já que se for grave sofrimento será expressado independentemente do ibope.
   Crianças que estão sentindo-se inseguras e frágeis farão cenas trágicas, exigindo a presença da mãe por coisas mínimas: o brinquedinho caiu, rios de lágrima; hora de ir para a cama, gritaria. Nesse caso, elas lamentam algo desligado do incidente, expressam uma angústia que está por um fio para desbodoar. Não é manha, é sofrimento psíquico. Provavelmente, o verdadeiro motivo sejam fantasias de abandono, ameaças imaginárias de privações terrores que as têm acuadas. Como temos uma nostalgia idealizada dos cuidados maternos, cujo aconchego seguimos buscando em todas as relações, talvez haja algo que possamos aprender a partir dessas cenas. 
   Por vezes, nosso joelho ralado é banal, já sacudimos a poeira e estamos orgulhosos da superação, só queremos contar a proeza. Mas há outras em que o olhar atento perceberá que é sério, dói muito, quer seja porque a pancada foi forte ou porque um pequeno incidente despertou grandes mágoas represadas. Só a escuta atenta descobrirá o calibre do que nos abala. Vínculos capazes dessa delicadeza são raros e preciosos. Só podem ser oferecidos por aqueles que não têm medo do contágio, pois é preciso baixar as defesas para oferecer uma verdadeira empatia. 
   Como as mães, aqueles que se importam conosco fingem distrair-se, desejando que a queda seja sem ferimentos, mas terão que abrir as portas quando nossas lágrimas precisarem deles. A metáfora da porta aberta não é banal: dar entrada à dor do outro provavelmente despertará nossas fragilidades. Acolher o desamparo é coisa para poucos: os que estiverem dispostos a lidar com o próprio. Convém não esquecer de que precisamos manter-nos uns aos outros, com a sutileza de diferenciar a manha do sofrimento. (DIANA CORSO,
autora do livro Tomo Conta do Mundo – Conficções de uma Psicanalista, página 50, EM ANÁLISE, Revista VIDA SIMPES – AGOSTO 2016, Retrato: Paulo Fabrizio, Impressa na Gráfica ABRIL- SP).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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