Frequentemente, quando estamos falando ou escrevendo, precisamos opor ideias. Esse, aliás, é um dos principais recursos de qualquer argumentação, para nos posicionarmos de forma contrária ao que outra pessoa pensa ou afirma. Isso pode acontecer em uma simples conversa com os amigos. (“Seu time ganhou a partida, mas o meu está melhor no campeonato”) ou em ambientes mais profissionais ou acadêmicos, como em uma redação de vestibular, por exemplo.
A maneira mais comum e usual de se fazer essa oposição é através do uso de uma conjunção (ou locução conjuntiva) adversativa: mas, porém, entretanto, contudo, no entanto, todavia, não obstante, etc.
O simples uso de uma dessas palavras ou expressões entre duas orações indica que a segunda se opõe à primeira. Mais ainda: indica que a segunda informação é mais importante que a primeira. Por exemplo: se alguém vê um novo modelo de telefone celular com um preço absurdo e diz que “é lindo, mas é caro”, você automaticamente deduz que a pessoa não pretende comprar o aparelho no momento, já que “ser caro” se opõe à beleza, com um peso maior. Por outro lado, se a mesma pessoa dissesse que o aparelho “é caro, mas é lindo”, poderíamos imaginar que, pelo menos para ela, vale a pena desembolsar o valor cobrado e comprar o aparelho.
Como foi dito mais acima, esse é um recurso argumentativo muito poderoso, pois, ao mesmo tempo em que reconhece que há uma divergência, com dois pontos de vista contrários, mostra que um deles é superior ao outro. Isso é algo especialmente útil em textos argumentativos, como as dissertações de vestibulares e concursos, principalmente quando tratam de temas polêmicos, em que se pede ao estudante que se posicione. Nesse caso, mesmo que você tenha claramente uma opinião definida ( a favor ou contra a questão apresentada), é muito importante que demonstre conhecer também o outro lado.
Para exemplificar, se o tema da redação em questão fosse a liberação de um porte de armas no Brasil, um adepto da proposta poderia usar o seguinte argumento: “é verdade que uma pessoa despreparada portando uma arma poderia representar um perigo à sociedade, MAS também é verdade que todos deveriam ter o direito de defender a si mesmo e à sua família”. Já alguém que fosse contrário à liberação poderia simplesmente inverter as duas orações: “é verdade que todos deveriam ter o direito de se defender, MAS uma pessoa despreparada com uma arma seria um grande perigo para a sociedade.”
Em uma argumentação, é importante mostrar que você tem conhecimento dos dois lados da questão. Caso contrário, passará a ideia de ser desinformado, perdendo credibilidade. Lembra o exemplo dado lá no início do texto, envolvendo futebol? Então, se o autor daquela frase ignorasse o fato de o outro time ter ganhado uma partida e apenas elogiasse o seu próprio time, daria ao interlocutor a impressão de ser um “tapado”, incapaz de enxergar a realidade. O mesmo aconteceria com sua redação.
Vale lembrar uma regrinha básica, qualquer que seja o contexto em que se use esse recurso: antes de uma conjunção ou locução adversativa, a vírgula é obrigatória, independentemente do tamanho da oração. Assim, a frase “é lindo mas é caro” apresenta um erro de pontuação, mesmo sendo curtinha.
Restou alguma dúvida? Mande um e-mail para nós.
Até a próxima terça! (FLAVIANO LOPES – PROFESSOR DE PORTUGUÊS E INGLÊS. *Encaminhe as suas dúvidas e sugestões para bemdito14@gmail.com página 5, caderno FOLHA 2, terça-feira, 20 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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