LAR, NOVO LAR

Arquitetos são cada vez mais procurados para renovar residências. O consenso é que mudanças no ambiente levam a uma vida mais prazeroso. 

   O filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu por volta de 540 e 470 anos antes de Cristo, pensava muito sobre mudanças. A ele é atribuída a frase “nada é permanente, exceto e mudança”. Foi o mesmo filósofo que cunhou o pensamento que diz não ser possível entrar duas vezes no mesmo rio. Pois, na segunda ocasião, as águas já não serão as mesmas. Também não será o mesmo quem mergulha. 

   Se a vida é um rio de águas corretes, é natural – e necessário – que se mudem também os ambientes em que vivemos. Foi o que sentiram a psicóloga Maura Glória de Freitas e o médico veterinário e professor universitário Júlio César de Freitas. 

   Quando eles se mudaram, há 20 anos, para a casa na qual moram até hoje, tinham duas crianças: uma menina de 4 anos e um garoto de 8. As crianças se tornaram adultos. Natália Glória de Freitas, de 24, formou-se em Administração. Júlio César de Freitas Filho, de 28, é advogado. A vida da família mudou. A casa também tinha que mudar. 

   Maura procurou ajuda de arquitetas para transformar o lar – que um dia foi um ambiente bacana para as crianças – em uma casa na qual agora vivem quatro adultos que gostam de receber visitas, de papos com amigos, de reunião ao redor de uma boa mesa. 

   “Conseguimos ter uma casa nova sem mudar de casa. Colocamos portas onde não havia portas. Uma antiga sala de televisão virou escritório. Caprichamos na sala de visitas e na sala de jantar. Reformamos toda a estrutura do lavabo. Com a arquitetura de interiores, mudamos cores, papéis de paredes, móveis. Tudo se modificou completamente, inclusive a nossa maneira de se relacionar com a casa”, relata a psicóloga. 

   Especializadas em mudanças de interiores, as arquitetas Mônica Nakabayashi e Silvana Bonafine relatam que casos como o da família Freitas são cada vez mais recorrentes. Em vez de mudar de lar, muitos preferem fazer com que o lar se renove. Há também aqueles que adquirem um imóvel e, imediatamente, querem promover alterações no mesmo. “Todos queremos um ambiente que traga conforto”, destaca Silvana. 

   As alterações podem ser simples, como troca de mobiliário e papéis de parede, ou mais complexas, como reformas envolvendo alterações nos pisos, nos revestimentos, nas partes elétricas e hidráulicas. 

   Atualmente, porém, com a modernidade de materiais e técnicas, é possível viajar na imaginação para conseguir uma transformação acentuada. “O lar tem um componente altamente afetivo. Dentro dele, é preciso sentir-se bem. Muitas vezes, mudanças ajudam a ter uma vida mais prazerosa”, comenta Mônica. 

   TUDO EM EQUILÍBRIO

                                                    

 Em uma tradução literal do mandarim para o português, Feng Shui significa “vento e água” e é muito empregado para equilibrar a energia dos ambientes. Pesquisando e estudando por conta própria é possível aplicar muita coisa. Mas a milenar prática chinesa é ampla, por isso, se possível, vale recorrer a quem é do ramo. 

   A arquiteta Tatiane Matsuo, de São Paulo (SP), utiliza profissionalmente Feng Shui em seus projetos há seis anos. Ela explica que os adeptos trabalham com o conceito de que o Chi, que é o sopro divino, a energia que está em todo lugar, naturalmente também está no lar. Diante disso, trabalha harmonizando cinco elementos: terra, água, metal, fogo e madeira, para que a energia esteja sempre equilibrada. 

   Para explicar, ela recorre a exemplos práticos. Tudo tem energia. Quando vou realizar o trabalho de mudança no interior de uma casa, pego a planta baixa e analiso como equilibrar o ambiente. Por exemplo, portas não devem estar alinhadas, pois propiciam fuga de energia. Pelo mesmo motivo, não é recomendável o alinhamento de portas e janelas. O banheiro não deve estar no centro da casa, pois interfere na saúde e na vitalidade. O sanitário leva embora as energias. O vaso sanitário e os ralos devem estar sempre tampado”, explica a arquiteta.       

   Outras cores, formas e direções também influenciam no Feng Shui, que tem base no taoísmo, mas não é ligado a nenhuma religião. “Aplicando-o é possível mudar o interior de uma casa sem grandes reformas. Percebo que é isso que querem os clientes que me procuram”, finaliza a arquiteta.(W.S.) (WILHAM SANTINI – ESPECIAL PARA A FOLHA, caderno FOLHA MAIS, 3 E 4 de Setembro de 2016,, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).