domingo, 25 de setembro de 2016

O AROMA DO CAFÉ


   Verdadeiro ouro da região Norte do Paraná nos tempos áureos de produção, o café sempre esteve presente nos meus dias. Por mais que não seja seu grande apreciador e raramente tome o “cafezinho”, que é sagrado para muitos, convivi com o grão desde criança, o que me remete a lembranças boas de que hoje ficam guardadas com carinho na memória. 
   Meu avô paterno, o seu Juca, era um devoto nato do café. De origem humilde, começou na lavoura a construir sua história, que ficou completa quando conheceu minha avó, mudando-se do Rio de Janeiro, onde morava, para Ibiporã, em busca de uma vida melhor por meio do cultivo cafeeiro. E foi o que conseguiu e manteve mesmo depois de aposentado. 
   Na casa do vô Juca, um extenso espaço do terreno, no fundo da casa simples e de madeira, era dedicado à plantação de café. Bonita e bem cuidada, a lavoura dava o toque especial ao quintal, juntando-se às bananeiras e aos pés de alface, cebolinha e salsinha. O lugar era o oásis dele, que encontrava ali o passatempo preferido após décadas de trabalho. 
   Pequeno, eu acompanhava tudo. Desde a plantação até a colheita, era o companheiro dele, mesmo ajudando menos do que deveria pelas limitações da pouca idade. Com o café já colhido, era a vez de colocar para secar. Na frente de casa, ele estendia uma grande lona preta na calçada, na qual esparramava todos os grãos. Com sua cadeira tradicional, sentava na área e dali cuidava para que ninguém mexesse, entre uma prosa e outra,  o rastelo. 
   Mas era o momento de torrar o café que eu mais gostava. Vó Leninha fechava todas as janelas e portas, para o cheiro da fumaça não impregnar dentro de casa, e ficávamos na parte de fora, junto ao forno a lenha, em que era colocado o torrador. Minha vó enrolava um pedaço de lençol em nossas cabeças e brigava se tirássemos, com um aviso de preocupação: “Não tira porque se pegar friagem faz mal”. E era ali que passávamos a tarde, conversando e vivenciando aquele momento. 
   Com os grãos torrados, chegava a hora de finalizar todo aquele ciclo artesanal. Com um moedor próximo à cozinha, era minha vez de trabalhar. Pelo menos até o braço cansar. O auge de todo o processo era no coador de pano, em que o café saía quentinho, levando o seu cheiro carregado de cuidado e amor para a felicidade dos vizinhos, que iam confraternizar todos juntos. 
   Hoje, alguns anos depois, não tenho mais meu avô, os pés de café tiveram de ser cortados e a casa passou por diversas reformas, mantendo pouco daquela época. As diversões já são outras e as preocupações, que não faziam parte do dia a dia, vieram. Porém, com tanta coisa diferente, o que não mudou foram as lembranças quando sinto o aroma do café. Mas agora, entre um grito e outro de que a garrafa está vazia no trabalho, um ingrediente mais exala em meio a tudo isso quando sinto o seu cheiro: a saudade. (PEDRO MARCONI, estudante de jornalismo, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 24 e 25 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!

Comente!

.

.

.

.

Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
--------
Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

Postagens populares