sábado, 11 de abril de 2015

DO SÍTIO



   Quando eu era pequeno meu pai comprou um sítio em Cambé. Nos finais de semana, a gente ia para lá. O nosso carro era uma Kombi bege e eu ia todo feliz acompanhando o trajeto. Lembro bem quando chegamos lá pela primeira vez. Como todo moleque curioso, fui ver o que havia de novo para mim. A casa, por fora, parecia um  daqueles casarões europeus. Do que se vêem em livros e que ficam em meio àquelas fazendas verdes. Mas estava um tanto danificada pelo tempo.
   Meu pai comprou o sítio de velhos poloneses  vindos  para o Brasil na época da segunda guerra mundial.
   Chegando no sítio, meu pai foi conversar com o caseiro. Fiquei ali a toa um pouco e decidi entrar. Subi os degraus da varanda  daquela casa de quase 40 anos. Haviam deixados alguns objetos na janela. Enfeites antigos e coisas sem valor. Depois entrei na sala: O chão de tábuas grossas ainda mostrava-se em bom estado, apesar da idade.  Havia alguns quadros esquecidos, vasos nos cantos das paredes, cortinas e outros velhos objetos ainda inteiros, mas sem valor.
   Peguei o corredor, passei por um dos quartos, por uma despensa e logo depois, a cozinha. Nela havia um fogão a lenha no canto da parede por onde subia um  chaminé. O chão era de cerâmica, já muito gasta. A pia era grande. Voltei pelo mesmo corredor e olhando para o outro lado vi o banheiro. Tinha uma pia de louça e uma banheira. Parecia ter aquecimento central. Abri a torneira para lavar as mãos  mas quase desisti. Saiu uma água suja de ferrugem. Depois fiquei sabendo que o encanamento era de ferro. Saiu também uma pequena  aranha  assustada  da torneira com o jato de água. Ela sumiu rapidamente pela parede e logo veio uma água limpa. Enxuguei as mãos nas pernas das calças e voltei ao corredor.
   Tratei de subir a escada para o segundo andar, fazendo pegadas na poeira. Cheguei ao topo e vi muitos quartos, entrei num deles e chegando perto da janela, logo vi um belo panorama: ao longe balançava uma plantação de milho que devia ser do sítio vizinho que fazia divisa bem perto. Uma passarinhada passeava sobre algumas  árvores e fazia festa  quando baixava ao chão.
   Em volta da casa só havia um celeiro de tábua soltas e destelhado, uma tulha, um forno para fazer pão e mais umas duas casas pequenas. Uma para guardar ferramentas e outra para algum depósito ou para defumar carnes dos animais ali abatidos. Além da casa do celeiro.
   Percebi que havia ainda uma pequena escada levando a um sótão. Subi e logo encontre uma porta emperrada.  Pelo jeito havia muito tempo que não se entrava ali. A limpeza  estava precária. Percebi um monte de papel perto da clarabóia. Eram fotos da época da segunda guerra mundial. Pessoas em pele e osso. Valetas enormes que aguardavam corpos amontoados. Eu só tinha visto aquilo numa série de documentários, na televisão. Mas ali era diferente. Era a  realidade nas minhas  mãos.  As fotos, acredito, teriam sido mandadas por parentes da Europa.  Datavam de 1943. Fotos de campos de concentração nazistas. Os meus dez anos ficaram mais sérios depois daquelas fotos.
    Mais tarde, enquanto voltavam os para casa, perguntei ao meu pai por que havia guerra no mundo. Ele me disse que eu não deveria me preocupar com isso tão cedo, mas a ganância, o desejo de poder e a falta de amor ao próximo eram as causas principais,  na sua opinião.  E sabe de uma coisa? Na simplicidade de sua resposta ele tinha mesmo razão. ( Texto escrito por DAILTON MARTINS, leitor da FOLHA, extraído da página 2, espaço Dedo de Prosa,  FOLHA RURAL, publicação do JORNAL DE LONDRINA, sábado, 21 de Março de 32015)     

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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