sábado, 17 de outubro de 2015

ESCAPADAS ESTRELADAS


             


   O relógio batia seis horas da tarde e as meninas já estavam impacientes. De repente, o barulho da chave na porta e o buona notte do pai, que ia direto para o banho, vestia a roupa de fim de semana, colocava o boné na cabeça e carregava as malas para o carro, enquanto a mãe terminava de embalar os lanches e guardava na sacola o cantil azul com água gelada.
   Devidamente acomodados, partiam rumo ao interior, para um feriado em família. Não sem antes enfrentar pelo menos uma hora de congestionamento da casa deles até o início da rodovia. Iam ouvindo as notícias do trânsito na tradicional rádio enquanto isso.
   Na estrada, a trilha sonora era previamente escolhida pelo pai e administrada pela mãe, responsável por virar a fita cassete assim que terminava um dos lados. Clássicos italianos, rock dos anos 1960 e músicas infantis animavam a viagem. Seriam longos 500 quilômetros até a lombada que indicava que o sítio do nonno estava perto.
   No caminho, conforme se afastavam da cidade, as estrelas começavam a aparecer no céu. E quanto mais perto da cidadezinha, mais estrelas abrilhantavam a noite. A paisagem trocava os prédios e fábricas por pasto e de repente, um cheiro ruim invadia o carro: era a cana que estava se transformando em álcool na usina. Mais um sinal de que estavam quase chegando ao destino.
   Já no primeiro trevo de acesso à cidadezinha, se deparavam com o milho alto, pronto para ser colhido. Certamente os tios e primos iriam trabalhar no feriado e enquanto o pai fingia entender de lavoura, a mãe e as filhas passeavam pela cidade sem semáforos.
   Não foram poucas as vezes que visitaram os tio no campo enquanto colhiam os grãos. Até no caminhão cheio de soja elas entraram, na companhia da prima do interior, com quem exploravam a cidade de bicicleta. Também comiam manga do pé, sujavam os chinelos de terra vermelha e esfregavam a sola dos pés durante o banho para tirar o cascão. Desciam até o riozinho para ver a roda d’água e os peixinhos minúsculos que nadavam naquele fio de água. Encantavam-se com a colhedeira barulhenta e subiam na caçamba da caminhonete a caminho de casa, encarando o poeirão da estrada de terra e o frio na barriga toda vez que o primo passava mais rápido por uma lombada, no fim de mais um dia de férias.
   De manhã, o barulho da tia preparando a mesa do café só não superava o cantarolar dos passarinhos. “Bem-te-vi, gritavam eles, despertando a meninada do sono justo.
   Os dias passavam com calma, dava tempo de comer o pão fresquinho com creme de amendoim e chocolate no café, brincar de tanta coisa, almoçar o macarrão gostoso da tia, enxugar a louça, descansar na frente da tevê, comer bolo no café da tarde na casa da outra tia e ainda  brincar de outras tantas coisas antes de guardar a bicicleta, banhar, jantar a sopinha e dormir de novo.
   Mas o feriado era curto: quando viam o pai arranjar as malas no carro, a mãe colocar o galão azul de água gelado debaixo do banco e a prima chorar tristonha num canto, já se sabia que era hora de ir embora.
   E no caminho de volta, as estrelas iam dando lugar às nuvens e a lavoura dava lugar ao pasto, que dava lugar aos prédios e lá estavam eles de volta à rotina no apartamento. A escapada ficava guardada na lembrança por uns bons dias e a saudade da família crescia para ser saciada só na próxima folga. ( MARIANA GUERIN, jornalista na FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, sábado, 17 de outubro de 2015, publicação do JORNAL DE LONDRINA).  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente!

Comente!

.

.

.

.

Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
--------
Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

Postagens populares