Ás portas de mais uma campanha eleitoral, que decidirá quem vai ocupar os principais cargos públicos no Brasil, boa parte da população na esteira de uma crise econômica e ética que vem castigando o País já há algum tempo, demonstra um misto de apatia, desencanto e até raiva canalizada contra a classe política. O quadro é compreensível. Muitos brasileiros sentem que a democracia os convoca mais para financiar os poderosos do que para desfrutar direitos de um Estado que se diz democrático e social. Além de não se sentirem partícipes do jogo, convivem com notícias cotidianas de corrupção, desperdício e ineficiência no uso dos recursos públicos. As sensações passam pela impotência diante do “mecanismo” instalado, indiferença ou desprezo pelo processo eleitoral (que se revela na intenção de volto nulo ou branco) até revolta que, por vezes, descamba para atos de hostilidade. Outra forma da desilusão se manifestar é a tentativa ingênua de encontrar salvadores da pátria, na esperança de que os problemas se resolvam por meio de bravatas.
Apesar de haver motivos para o desalento, o compromisso de quem compartilha o inacabável projeto democrático exige um olhar mais democrático. Se a democracia é o governo do povo, sua força e efetividade estão intimamente relacionadas com a responsabilidade ética de cada um de seus integrantes. Essa responsabilidade certamente passa pelo voto livre, bem informado e consciente, mas de modo algum se esgota nisso. Saber escolher é apenas o primeiro passo; após, vem o dever de acompanhar, fiscalizar e cobrar. Mas também não se limita a isso. Um dos fundamentos da república é a cidadania e esse termo vai muito além de criticar governantes em redes sociais. Cidadania pressupõe o entendimento de que os os bens públicos, inclusive os imateriais, como a honestidade, por pertencer a todos, pertencem a cada um individualmente e, portanto, todos devem compartilhar o dever de cultivá-los. Parafraseando John F. Kennedy, temos, sim, o direito de perguntar o que o país pode fazer por nós, mas, ao mesmo tempo, temos o de dever de nos indagar o que estamos fazendo pelo país, pela cidade, pela comunidade.
Muitos se sentem impotentes para mudar as estruturas viciadas da política brasileira, mas a democracia exige que se tente. E se não for exequível revolucionar o sistema político brasileiro do dia para a noite, é possível fazer uma revolução individual imediatamente .Se não for possível para um de nós sozinho obrigar os governantes a serem honestos, certamente é possível agirmos com honestidade em tudo o que estiver ao nosso alcance. É possível viver sem adquirir produtos e serviços piratas, é possível não estacionar nas vagas reservadas a deficientes e idosos, é possível não emitir, pedir ou suar recibos falsos para abater o Imposto de Renda. Democracia exige responsabilidade individual e a pior postura diante das falcatruas dos poderosos seria replicá-las no nosso cotidiano. Se o exemplo não está vindo de cima, que ao mesmo parta dos debaixo.
Se todos agirmos assim, certamente o Brasil, em poucos anos, figurará entre as nações mais desenvolvidas do mundo, tornando realidade as promessas constitucionais do projeto democrático. Se a maioria o fizer, o ganho será monumental. Se apenas uma minoria começar, demorará um pouco, mas assim como o desalento é contagioso o compromisso ético também pode sê-lo. Todavia, Se um único indivíduo assumir essa postura, já terá valido a pena. Se não para mudar a sociedade, certamente para mudar a si mesmo e influenciar positivamente aqueles que o rodeiam. Na pior das hipóteses, esse revolucionário poderá se orgulhar de ser exceção à terrível ideia de que, no fundo do abismo ético, existe apenas um imenso espelho. (FONTE; TERCIO ISSAMI TOKANO, advogado da União integrante do Grupo de Atuação Proativa da AGU (Advocacia Geral da União), página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, terça-feira, 14 de agosto de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.combr.
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