sábado, 13 de fevereiro de 2016

EPIDEMIA LETAIS


   A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou em janeiro o fim da epidemia de ebola na África. Em dois anos, a doença matou 11 mil pessoas, o que a fez ser considerada de grave letalidade. São números expressivos, condizentes com uma das mais preocupantes crises médica da história recente do planeta. Ainda assim, num comparativo com outra causa de mortalidade, o quantitativo é módico.
   No período  em que o ebola vitimou fatalmente 11 mil indivíduos, em diversos países africanos, apenas aqui no Brasil morreram mais de dez vezes mais pessoas em decorrência de outra endemia, muito mais grave, antiga e como tal já caracterizada pela ONU: a de homicídios. 
   Oficialmente, em 2013 o País bateu, pela quarta vez em cinco anos (2009 a 2013), seu recorde anual de mortes intencionais, alcançando a marca de 56.804 casos. Na média do período, as ocorrências aumentaram 2,6% a cada ano, o que nos permitiria considerar que, mesmo sem a divulgação dos números, também houve aumento nos anos posteriores (2014 e 2015). Ainda assim, como a área de segurança pública não comporta projeções, admita-se apenas que o quantitativo não sofreu alterações significativas, ou seja, que a cada ano seguem sendo assassinadas, aproximadamente, 56 mil pessoas no Brasil. 
   Com lastros nesses moderados critérios, conclui-se que, no período em que o mundo se alarmava com as mortes causadas pelo ebola, montando uma força supranacional de combate à doença, os homicídios brasileiros tiraram nada menos do que 112 mil vidas. São mais de dez vezes mais do que o vírus, uma frente de mais de 100 mil óbitos. 
   A disparidade não fica só nos números. Enquanto o vírus africano despertou grande mobilização mundial, a epidemia de assassinatos brasileira é tratada como natural. Não há qualquer movimento efetivo voltado à redução desse quadro. Ao contrário, aqui, há muitos anos vem sendo aplicada uma mesma fórmula fracassada, determinada por uma ideologia progressista, que insiste em encarar o fenômeno homicida exclusivamente como questão social, e não criminal, como de fato é. 
   É dessa ideologia que surgem políticas públicas que vitimizam agressores e culpam as reais vítimas pelos ataques, não raro a elas atribuindo a “grave” conduta de atrair a atenção dos criminosos. É também por ela que se condena a repressão e se mantém uma infinidade de benefícios a bandidos, perpetuando a sensação de impunidade que retroalimenta um ciclo no qual quem comete um crime não é efetivamente punido e, assim, segue delinquindo.
   Os resultados não poderiam ser outros, pois os mesmos ingredientes, com um mesmo modo de preparo, não pode resultar num produto diferente. Seguimos aplicando placebo contra uma patologia grave, enquanto seu índice de letalidade bate sucessivos recordes, sem que nem sequer as atenções sejam para ela devidamente voltadas.
   Nesse momento, o País está envolto em uma nova emergência médica: o zika vírus e as tenebrosas complicações a ele associadas. Já são mais de 4 mil casos notificados, com projeção de 20 mil no final do ano. Por conta desse quadro, alguns países estão emitindo alertas contra a vinda de turistas para cá e até as Olimpíadas já sofrem o risco de boicote de algumas delegações. O protocolo é semelhante ao gerado pelo ebola. 
   Contudo, se há uma epidemia que deveria manter os cidadãos de outros países afastados do Brasil, ela deveria ser, justamente, a de homicídios. É o de morrer assassinado o maior risco que se corre por estas bandas. E é isso que deveria causar medo – até porque usar um repelente é até bem mais simples do que um colete a prova de balas. ( FABRICIO REBELO, pesquisador em segurança pública, assessor jurídico e coordenador do Centro de Pesquisas em Direito e Segurança (Cepedes), página 2, ESPAÇO ABERTO, sábado, 13 de fevereiro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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