quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

REFLEXOS DE ALICE



   Passados 109 anos da morte de Lewis Carooli, sua obra-prima “Alice no País das Maravilhas” continua inspirando a literatura e a arte contemporâneas

   Aos 119 anos de sua morte, em 14 de janeiro de 1898, e 152 anos da publicação de “Alice no País das Maravilhas” – que se completarão em 4 de julho – Lewis CarrolL ainda figura como uma pessoa controvertida. O escritor britânico de imaginação profícua, considerado um precursor do surrealismo – mais relacionado especialmente à literatura fantástica – na verdade se chamava Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898) e tinha habilidade com as crianças para quem fazia números de mágicas inventando camundongos a partir das dobras de um lenço ou criando barquinhos de papel. Entre seus hobbies estava a fotografia e o fato de fotografar meninas, algumas seminuas, consta em sua biografia como algo perturbador. Se de um lado sua prática de só fotografar as meninas sob a estrita autorização dos pais não o comprometem – reforçado pelo fato de que jurava só fazer as fotos se as garotas não demonstrassem qualquer constrangimento – de outro, ele já foi visto como um artista com tendências pedófilas e, talvez, da mesma forma que o fotógrafo norte-americano David Hamilton – que faleceu recentemente, fotografava ninfetas e foi acusado de assédio sexual à garotas – poderia ser julgao de acordo com os parâmetros atuais em relação ao uso estético do corpo das mulheres, especialmente as crianças. 
   Mas é do universo mágico da sua escrita que mais se ocupam os biógrafos. Um dos aspectos interessantes de sua obra é o fato de ter usado a matemática para contar as histórias, disciplina na qual era um especialista, a ponto de ser convidado a dar aulas na Universidade de Oxford. Enquanto foi professor publicou livros de álgebra, geometria e alguns poemas, começava assim a mostrar a verve de escritor que o consagraria muito além da lógica.
   A primeira edição de “Alice no País das Maravilhas” circulou sem que se discernisse se o livro era dedicado a adultos ou crianças, embora a obra tenha nascido de um manuscrito que ele leu a um grupo de meninas que levava a passear num barco pelo rio Tâmisa, entre elas Alice Pleasance Liddel, que inspirou sua personagem mais famosa, além das outras duas que eram suas irmãs. 
   Foi Alice quem pediu ao autor para escrever a história que ele narrava de forma oral, uma “contação”, como se diz hoje, que resultou num dos livros mais apreciados da literatura mundial. “Alice no País das Maravilhas” teve cerca de 50 traduções em várias línguas, edições em braile, além de ter sido a primeira obra publicada como livro digital. 
   Outro livro famoso de Carroll é “Alice Através do Espelho”, publicado em 1871, no qual a heroína está numa festa quando atravessa o objeto mágico e, tal como quando cai na boca do coelho, na primeira história, começa a viver aventuras .
   Na verdade, as duas narrativas fantásticas de Carroli são um contraponto ao universo vitoriano e às relações moralistas e “edificantes” do período. Tudo nelas é fabuloso, abrindo a percepção a um sentido de liberdade e imaginação. 
   Em “Alice no País das Maravilhas”, a protagonista tem que ultrapassar obstáculos, entabulando soluções através de um jogo de xadrez que também faz dela uma garota esperta, que consegue chegar aos seus objetivos de forma inteligente. Na segunda história a astúcia se repete como uma qualidade necessária para se romper limites lógicos, o que só pode ser conseguido com uma certa insolência. Nos livros, o autor ridiculariza a compostura, criando, por exemplo, uma Rainha Vermelha, presente em “Alice Através do Espelho”, que exige: “Só fale quando falarem com você”. Algo assim como uma tia chata ou uma avó intolerante para quem os mais jovens têm que ser tratados de forma subalterna. O contraponto do “só fale quando falarem com você” é a concussão de que, ao seguir a regra à risca, a conversa correria o risco de se extinguir.

   INFLUÊNCIAS
   Por seu caráter mágico e de insolência, as obras de Carrol inspiram obras contemporâneas que podem ser relacionadas a um ambiente lisérgico como o da música “I Am The Walrus”, gravada pelos Beatles no álbum Magical Mistery Tour (1967), composta por Lennone McCartney. Segundo Lennon , a primeira parte da música foi escrita em duas “viagens” de ingestão de drogas. Ele também alega que ao saber que um professor utilizava suas músicas em sala de aula, escreveu versos sem sentido para a canção, a fim de confundir a análise da letra.
   Além disso, a obra de Carroll ainda teria influenciado autores contemporâneos como Allan Moore em “A Liga Extraordinária” e Neil Galman em “Sandman” . Os livros ainda pontuam peças contemporâneas funcionando como citações em desenhos animados, como os de Popeye. Mas é no cinema que Alice encontra seu habitat natural tendo em vista um universo predisposto à fantasia, dando origem a uma série de filmes, o primeiro um filme mudo de 1903 – de Cecyl Hepworth e Percy Stow = e um dos últimos o conhecido “Alice in the Wonderland” (2010), dirigido por Tim Burton, com John Deep como o Chapeleiro Maluco e Mia Wasikowska como Alice. O filme teria continuação em “Alice Através do Espelho”, de 2016, dirigido por James Bobin, tendo Burton como produtor.
   Abordada de diversas formas que incluem desde análise literária até a psicanálise, a obra de Carroll situa-se na contemporaneidade como objeto que ainda instiga leitores e espectadores, inspirando um estado permanente de juventude refletida na curiosidade, irreverência e imaginação sem limites. Trata-se de uma viagem no tempo que começa no século XIX e chega ao XXI como um jogo de psicodelia dialética que mostra por diversos ângulos as possibilidades de encantamento. 

   SERVIÇO

   No Brasil há traduções de ”Alice no País das maravilhas” consideradas excepcionais. Na lista entre outras, consta a primeira tradução feita por Monteiro Lobato em 193l. Há também traduções de Clarice Lispector, Nicolau Sevcenko, Sebastião Uchoa Leite e de Maria Luiz X, de Borges que ganhou o Prêmio Jabuti na categoria. Esta última tradução foi feita para a editora Zahar que, em 2015, lançou edições comemorativas aos 150 anos da obra: um livro de luxo com as duas obras de Carroll – “Alice no País das Maravilhas” e “Alice Através do Espelho” (cerca de R$ 79,00) – e uma edição de bolso, só com a primeira história, que conta com os desenhos originais de John Tenniel, o primeiro a ilustrar a obra (R$ 20,00 em média).

   FRASES DE CARROLL
                                                

   “A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível.”

   “Nesta direção, disse o Gato, girando a pata direita, “mora um Chapeleiro. E nesta direção”, apontando com a pata esquerda, “mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, são ambos loucos.”

   “Quando acordei hoje de manhã eu não sabia quem eu era, mas eu acho que já mudei muitas vezes, desde então.” (Alice no País das Maravilhas).

   “Está ouvindo a neve contra as vidraças, Kitty? Soa tão agradável e suave! Como se alguém tivesse beijando a janela toda do lado de fora.”

   “A Rainha Vermelha sacudiu a cabeça. – Pode chamar isso de ‘absurdo’ se quiser -, disse, - mas já ouvi absurdas que fariam este parecer tão sensato quanto um dicionário!”

   “O que é a vida, senão um sonho?” (Alice Através do Espelho). (CÉLIA MUSILLI – REPORTAGEM LOCAL, caderno FOLHA 2, quinta-feira, 12 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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