segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A ARTE EM XEQUE NAS RUAS

Carão, do coletivo CapStyle Crew, está terminando um novo grafite na Avenida Celso Garcia Cid, em Londrina: "O objetivo maior é levar a arte adiante para que todos possam ver e, também, se enxergar nela"


   Grafites de São Paulo foram apagados pelo novo prefeito ressuscitando a antiga polêmica sobre o valor da arte urbana e os limites da pichação

   Uma das primeiras ações do novo prefeito, João Doria, em seu mandato na cidade de São Paulo, na primeira quinzena de janeiro deste ano, chamou a atenção e levantou uma discussão no Brasil inteiro sobre a arte de rua. Grande parte dos grafites (ou graffitis) da Avenida 23 de Maio, no centro da cidade, foram apagados com uma tinta cinza, como medida do projeto “Cidade Linda”. Em declaração, o prefeito disse que os grafites seriam mantidos apenas em espaços definidos e “adequados” pela Secretaria Municipal de Cultura e que os demais, “envelhecidos” ou “mutilados por pichadores”, seriam pintados. A decisão, segundo ele, visa dificultar uma conexão com os pichadores que, em sua visão, não são artistas, mas agressores. O documentário “Cidade Cinza”, lançado em 2013, retrata outra ocorrência no mesmo local, em 2008. 
   Apesar de Londrina ter uma quantidade bem menor de grafites espalhados pela cidade, em dezembro de 2014 ocorreu uma situação semelhante. O artista londrinense Tadeu Roberto de Lima Jr., mais conhecido como Carão, teve um grafite de sua autoria apagado do muro do Bosque Central pela Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) pouquíssimo tempo depois de ser produzido. A imagem trazia uma mulher negra com olhar triste e olho roxo e, ao lado, a mensagem: “Não à violência contra a mulher”. Essa ação ocorreu nove meses depois do mesmo artista ter tido uma outra obram a imagem do piloto Ayrton Senna, classificada como propaganda de um estacionamento particular, dentro da lei 10.966/2010, popularmente chamada de “Cidade Limpa”, sob pena de multa diária o proprietário caso não apagasse. 
À época, a CMTU informou que a pintura dos muros fazia parte do processo de revitalização e padronização do bosque e de outros espaços públicos. Já com relação à imagem de Ayrton Senna, a alegação foi contestada e, como estava em propriedade privada, não foi apagada. Os ocorridos, no entanto, motivaram a inclusão do grafite na lei municipal 12.230/2014, que regulamenta a apresentação de artistas de rua em logradouros públicos, prevendo também o grafite como atividade cultural. Neste caso específico, regras foram estabelecidas tais como: solicitação junto ao órgão com descrição de local, dias e motivos para grafitar em edificações públicas, e que a arte não contenha elementos promocionais ou publicitários alusivos a comércios circundados. Já a píchação continua sendo considerada crime.

   VISÃO DO ARTISTA

   Grafiteiro, há 17 anos, Carão é figura conhecida na cidade com vários trabalhos espalhados pelas regiões. Junto com os artistas Napa e Huggo Rocha, cada um com seu estilo de traço, fundou o coletivo CapStyleCrew, uma espécie de assinatura para promover Londrina e a Zona Norte, onde cresceram. “Eu gosto de grafitar com autorização, seja em local público ou privado. Se o dono não deixar, não faço. Mas acontece de não conseguir identificar o proprietário e o local estar abandonado, fechado ou degradado. Não tenho patrocínio ou retorno financeiro. Então, nesses casos, o objetivo maior é levar a arte adiante para que todos possam ver e, também, se enxergar nela. Como toda arte de rua, o grafite está exposto à ação do tempo e a intervenção de terceiros é inevitável. Por isso, não tenho esse tipo de apego se a obra já cumpriu seu propósito”, diz ele, que aborda a temática racial, sobretudo a cultura negra, na maioria de seus trabalhos que já chegaram a países como França e Venezuela. 
   Com relação à pichação, o artista acredita seja mais polêmico por sua característica transgressora na medida em que, geralmente, é feito em locais não autorizados. “O grafite, hoje, é mais aceito porque tem cores, dá outro aspecto para os locais. No caso da pichação e suas modalidades, muitos consideram vandalismo. Mas não deixa de ser uma forma de expressão: um “soco” na cara da sociedade que tem a mente fechada para outras formas de arte. Essa questão, porém, é muito particular. Para mim, é muito mais agressivo, por exemplo, um outdoor gigante ou uma placa luminosa enorme de uma lanchonete que uma pichação. E há pessoas que não se incomodam com isso e ainda acham arte. O meu trabalho, inclusive, dependendo do ponto de vista, pode ser considerado vandalismo para quem não gosta, como já aconteceu.”
Napa : "Como o garfite acontece em locais autorizados , o preconceito é menor", mas a pichação também é uma forma de expressão" 

   CONCEITO QUE DESAFIA LIMITES 

   Ainda que exista muito preconceito, a arte urbana no Brasil, ou simplesmente de rua, se consolidou como manifestação artística, apesar de ser uma forma não institucionalizada em museus e galerias. Esta abrange diversas frentes que vão muito além do grafite, são diferentes técnicas e modalidades que interagem com a cidade como stencil, lambe-lambe, instalações, tag, adesivo, bomb, grapisco e, também, a pichação. Algumas, contudo, são bem mais aceitas que outras que ainda são consideradas marginais ou vandalismo. Especificamente sobre o fenômeno do grafite, nasceu nos anos 70, nos 80 consolidou-se embebido da cultura hip hop e depois mesclou-se com o mundo da arte por meio de Basquiat, Haring e Warhol, chegando ao século 21 com uma linguagem nova criada por artistas como Banksy, Blu, JR e os brasileiros OsGêmeros, Nunca, Speto e Nina Pandolfo e o mais recente Eduardo Kobra. 
   Espontânea, desordenada e de certa forma efêmera, a arte urbana desafia conceito. A artista plástica e docente aposentada do Departamento de Artes da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Iara Strobel, atenta que é difícil categorizar ou classificar este tipo de arte, pois trata-se de um universo grande e indomável. “Tudo muda conforme onde, quando e porque foi feito, pois essas variações se alteram conforme o período, as convenções sociais e padronagem estética de uma época. Escritas hieroglíficas egípcias, hoje, são parte da história, tal como as paredes da cidade petrificada de Pompeia. O fato de pessoalmente não gostar de um resultado não pode valer como critério, tampouco questões partidárias.”
   Diante disso, a avaliação individual de cada manifestação seria o ideal, porém, não baseada em subjetividades: “Uma intervenção em determinado espaço e comunidade pode carregar muito significado, inclusive afetivo. Em outro local, uma agressão, algo desagradável. Por isso é complicado estabelecer um limite até onde é arte ou determinar por um decreto com critérios comuns apenas de um grupo. Considero importante ponderar questões como se a intervenção coloca em risco a segurança pública ou o custo de tornar isso reversível. Mas manifestações em espaços tombados ou históricos, para mim, é crime. O Conselho Municipal de Cultura da cidade poderia aconselhar sobre essas decisões”, sintetiza. (M.T;)

   DA PICHAÇÃO À GALERIA
Festa para os olhos: em Londrina, há grandes coletivos em espaços como o Anfiteatro do Zerão, e trabalhos individuais como "O Poderoso Chefão", de Hugo Rocha, que surpreende os transeuntes da Rua Pio XII com a Hugo Cabral

   Com o tema DesconstruAção e foco na diversidade da arte, o grafiteiro Eduardo Diniz, conhecido como Napa, se prepara para iniciar uma exposição a partir do dia 1º de fevereiro no Centro Cultural Boulevard Londrina Shopping. Serão 15 telas feitas com aplicações de vários estilos e técnicas do grafite. “A essência do grafite é estar nas ruas interagindo com o ambiente e as pessoas. Nas telas, tento mostrar um pouco desse universo, despertar outro olhar das perspectivas conservadoras e críticas para essa arte que ainda hoje vive uma guerra”, diz. Além de grafiteiro, Napa atua como arte-educador , artista plástico e tatuador. Vivências que considero fundamentais para a composição de sua arte, criativa e inovadora. Assim como vários artistas, começou pichando muros, o que, ainda hoje, considera arte. “A diferença para o grafite é que ele, geralmente, acontece em locais autorizados. Então o preconceito é menor, porém existe. Mas a pichação também é uma forma de expressão, mais resistente, que tem sua beleza e estética. Se for feita em lugar autorizado, não é crime. Mas o estigma de vandalismo persiste”. (M.T.). 

   SERVIÇO

Exposição DesconstruAção 
Quando: até 31 de março 
Onde; Centro Cultural do Boulevard Londrina Shopping ( horário de funcionamento do shopping).
Quanto: Gratuito. (MARIAN TRIGUEIROS – REPORTAGEM LOCAL, página 4, caderno FOLHA 2, 28 e 29 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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