sábado, 4 de julho de 2015

NO INTERIOR




   A emoção ia aumentando, à medida que a charrete se aproximava da porteira  onde ficav a o sítio do meu avô materno, no interior paulista. Da cidadezinha para o sítio era a tia Maria que conduzia a charrete, lotada de primos, eu, meus irmãos e minha mãe, que chegávamos do Paraná  ansiosos para  avistar aquele lugar.
   Passando a porteira, que um de nós tinha que descer e abrir, já avistávamos a paisagem bucólica, uma casinha branca, no meio do pasto, tendo ao lado o mangueirão do gado, uns cavalos e os bezerrinhos que fascinavam nossa infância.
   Chegávamos pela porta da cozinha, com seu telhado baixinho, um fogão a lenha sempre aceso, uma escada que servia de banco e muitas peças rurais penduradas na parede. Lá  tinha um poço emoldurado pelas samambaias, um paiol, a  charrete e arreios de cavalo.
   Na sala, roseiras e um pé de manacá enchiam o ar de perfume. Do outro lado, majestosamente se erguia um pé de jatobá. Era um completo reino encantado, pois abrigava sob suas sombras desde plantas rasteiras a jabuticabeiras, uma charrete velha encostada, restos de ferramentas que mais pareciam relíquias abandonadas, o forno a lenha, galinhas, gatos. Ele completava a casa e ia se encontrar com as bananeiras, as mangueiras e outras árvores que se estendiam até o rio.
   Mas o mais interessante debaixo do pé de jatobá era a cama do meu avô. Feita de tronco de madeira, o travesseiro era uma pedra, meio desgastada, talvez por ser seu canto preferido, onde passava as tardes descansando, enquanto brincávamos ao lado. Sempre gentil, meu avô era simples e carinhoso. Tinha verdadeira paixão pelos ca valos e pacientemente nos levava a passear, puxando as rédeas e rindo com nossa alegria.  Me  chamava de cabocla.
   No sítio, não havia casas de madeira, a terra era branquinha, ao contrário da nossa, se cultivava tomate, mamão, laranja e se usava muitos produtos para o solo. Na reserva de mata nativa, para mim tão misteriosa quanto atraente, havia cobras e sapos, que causava rebuliço entre as galinhas. Lembro do mangueirão de porcos e de uma mina de água límpida e bem cuidada pela tia Lola, que era um encanto só.
   À noite também era uma maravilha. Minha avó costumava reunir os tios em volta de uma mesa bem comprida, com um banco de madeira, para ouvir músicas sertanejas no rádio ligado a uma bateria enorme. Pena que não podíamos ficar até tarde acordados. As muitas vezes que lá estivemos foram  de muita alegria e tudo era motivo para senti imensa saudade ao voltarmos para casa. ( TEXTO DE ESTELA MARIA FERREIRA, leitora da FOLHA, página 2, espaço DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA,sábado, 4 de julho de 2015),

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Comentários

Wanda Cobo

"Maravilha meu amigo, continue nos deliciando com suas ideias." W.D Londrina-Pr


Adilson Silva

Olá Professor José Roberto, Parabéns pelas excelentes matérias , muito bom conhecimento para todos. muita paz e fraternidade. Londrina-Pr

Marcos Vitor Piter

Excelentes e Sabias palavras parabéns Professor um Abraço dos Amigos de Arapongas - PR.

João Costa

Meus parabéns por vc e por tudo que pude ler continue levando este conhecimento p/ todos. Forte abraço! João Batista.
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Meu amigo continue contribuindo com a sua sabedoria. Forte abraço... João Batista 31/10/2013
Daiane C M Santos
Parabéns, muito criativo e inteligente!
Zeze Baladelli
Oi meu amigo,entrei seu blog,parabéns querido,voce é um gentleman,um grande amigo e muito inteligente,desejo que Deus te abençoe mais e mais...super beijo...



MARINA SIMÕES

Caro amigo Roberto, muito obrigada por suas sábias e verdadeiras palavras. Como é bom encontrarmos no nosso dia adia pessoas que comungam nossas idéias, nossas críticas, ou mesmo comentário sobre determinados assuntos. Eu procuro escrever e mostrar mensagens de
fé, de esperança, ou mesmo um alento carinhoso para nós que vivemos um mundo tão cruel, egoísta e caótico. Estou tentando escrever um comentário sobre seus textos. Parabéns, eu os tenho como que a "arquitetura" com as palavras. É um estilo totalmente seu, e meu amigo é simplesmente estimulante. Ele nos faz pensar e isto é muito bom. Um grande abraço. Marina.



JOÃO RENATO
Aqui estou eu novamente é impossivel não entrar aqui para vê estas maravilha por vc postada. Forte abraço do seu amigo hoje e sempre...........

ADALGISA
Parabéns! meu amigo querido!!!Adorei seu blog, mensagens lindas e suaves como a tua persoalidade e seu jeito de ser!!!Abraços e beijos.
TIAGO ROBERTO FIGUEIREDO
Parabéns professor José Roberto seu blog está divino..abs !
JAIRO FERNANDES
Olá, Querido Professor José Roberto! Fiquei muito emocionado com suas mensagens postadas, gostaria muito de revê-lo novamente após muitos anos, você fora meu professor e tenho muita saudade, gostaria que enviasse-me o seu endereço.ʺ Deus te ilumine sempreʺ Pois fazes parte de minha história de vida.
ALICE MARIA
Oi tio.Muito lindo seu cantinho na internet. Tô de olho. Lembro também de algumas coisas lá da Serra, principalmente da venda do vô Rubens. Beijo ,Alice Maria.

WANDA COBO

WANDA COBO

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